Tuesday, February 07, 2006

CONTOS DA ÁGUA TÓNICA


A história é antiga mas repete-se a cada passo: um amigo dos copos costumava desdobrar os chutos com água tónica, bebia gim com água tónica, ficava bêbado, bebia vodka com água tónica, idem, bebia whisky com água tónica, bêbado ficava, bebia rum…, bebia tudo quanto era álcool com água tónica, mesmo que o casamento nem sempre fosse feliz, e embebedava-se. De modo que concluiu que a água tónica embriaga mesmo.

Conclusões semelhantes extraem alguns comentadores e atentos observadores da realidade circundante seja ela política, económica, ou qualquer outra.

Alguns exemplos:

Lucros da banca portuguesa explicam-se por ser o único sector do país ao nível do topo mundial, disse ontem o Presidente do MillenniumBCP em entrevista na Antena 2, Público e Rádio Renascença.

O Presidente do BES, em entrevista dada antes no mesmo programa dissera, sobre o assunto, praticamente o mesmo. Em outras ocasiões ouvimos convicções parecidas. Os banqueiros deste País, e só eles, bebem de uma água tónica qualquer que os transmuta em génios de gestão empresarial. Os outros, bebem qualquer água tónica e não passam de Pedro.

Porque ninguém pergunta: Como é que todos os Bancos são altamente rentáveis, porque é que todos os Bancos são superiormente dirigidos, porque é que todos eles são casos de sucesso, porque é que, até hoje, nenhum falhou, porque é que o BCP subiu como um foguete no meio de uma economia de caracol, porque é que o BPI, o BANIF, Financia, o Banco Privado Português, todos, crescem, crescem, crescem, e os seus presidentes são sempre tão bem sucedidos, como é que o BPN fulgura e até a Caixa, imaginem a Caixa! um banco do Estado, um paquiderme, arrecada milhões e deita foguetes independentemente do Presidente e vogais que o Governo nomeia. Até hoje, nenhum banqueiro falhou, ou se falhou, falhou tão pouco que não se deu por isso. São todos excelentes. Acaso? Tanta competência num contexto em que ela é tão rara deve-se à ingestão de alguma rara água tónica.

Em contrapartida os gestores da indústria neste país são geralmente pouco espertos porque não bebem o que deviam. O próprio engenheiro Belmiro, malgré lui, tem tido mais problemas do que contava com o seu sector industrial e é sobejamente sabido que não foi nele que fez fortuna, quanto muito deu-lhe um pouco de altura inicial, assim uma espécie de banquito parecido com aquele de onde as pessoas se esticam para ver as marchas passar. Dá a impressão que o engenheiro bebe o que deve mas tem fases de hidrofobia.

Se os seus negócios da distribuição do engenheiro não se situam a nível do topo mundial, na opinião do presidente do BCP, os seus proveitos, segundo tudo leva a crer, não se ficam atrás dos seus pares banqueiros. Hoje mesmo ficámos a saber que o engenheiro está novamente a atirar isco para o charco, e se não é desta que apanha a PT, alguma coisa vai, certamente, ganhar o engenheiro com a jogada. De que água se saciará o engenheiro? Terá, também ele, acesso á poção mágica e os banqueiros não sabem?

Mas há, seguramente, mais gente a beber do fino. O sector de construção civil e obras públicas, por exemplo, está recheado de casos a merecerem teses de doutoramento. Na PT, a tal água tónica é certamente dada a beber aos presidentes e vogais nomeados, porque todos eles, sem excepção, têm desempenhado as suas funções com brilhantismo que só os desígnios governamentais não reconhecem quando alternam. Se os deixarem lá chegar, os Azevedos, excederão todos os que os antecederam a beber da tónica com que a PT conta.

Noutro lado, alinham aqueles que não bebem a tónica que deviam beber: geralmente nos sectores primário e secundário, aonde só vão parar, aparentemente, gestores incapazes ou, quanto muito assim-assim.

E, contrariamente à versão dos banqueiros, o sucesso de uns e o desastre dos outros, não é uma fita recente, é uma história antiga. Industriais com I grande estão para aparecer em Portugal, alguns deram um ar da sua graça, mas, seguramente, nenhum bebeu da tal tónica ou não bebeu o suficiente.

Se nas telecomunicações sabem do que bebem nas comunicações, geralmente, não bebem do que deviam. O actual CEO da TAP parece ter dado meia volta ao texto mas não escapa ao contexto. Definitivamente, á CP, à Carris, ao Metro, e a outras artes equiparadas só arribam lázaros.
Porque é que ninguém lhes diz onde se bebe a tal água tónica?








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