Monday, August 31, 2015

O COMBATE DOS ALGARISMOS

Os "Destaques - Informação à Comunicação Social" do INE são, agora que a guerrilha partidária se excita com o aproximar das eleições legislativas, cada vez mais utilizados pelos blocos em confronto como armas de destruição lenta. Lenta, porque cada parte lê da forma que lhe convém, de modo que o cidadão comum acaba por ficar sempre confundido, salvo se for crente acredita piamente no que lhe dizem os seus pastores. 

Hoje sairam dois desses comunicados.
Um sobre o comportamento do desemprego, vd. aqui, que desceu para 12,1%, uma descida de 0,2 pontos percentuais. Quase nada, portanto, mas uma descida.
Outro, vd. aqui, sobre o crescimento de 1,5% do PIB no segundo trimestre deste ano, relativamente ao valor atingido no fim do período homólogo do ano anterior. Um crescimento que fica muito aquém daquilo que o país precisa para recuperar do tombo da crise, mas crescimento. 

Saiu, entretanto, vd. aqui, outro comunicado. Este, do PS. 
E sairão outros: 
do lado dos partidos do Governo para enfatizar as proezas em que poucos, há um ano atrás, acreditavam serem possíveis; 
dos lados das oposições para desvalorizarem os valores publicados quase em vésperas de eleições. 

O comunicado de Mário Centeno tem o mérito de esclarecer de forma sucinta aquilo que tem sido dito e repetido sobre a ilusão dos números estatísticos isolados. O desemprego desceu, mas também desceu emprego, e bastante. Houve crescimento económico, pois houve, mas decorreu sobretudo do aumento da procura interna, muito sustentada no aumento do crédito bancário ... para a  compra de automóveis. 
O que é verdade.

Mas também é verdade que a crise, que irrompeu em 2011, foi engordada durante anos pelo crescimento da procura interna - privada e pública - pela importação desmedida e irresponsabilizada de dívida externa. E que o Programa Eleitoral do PS, onde Mário Centeno tem contributo relevante, cf. Estudo Sobre o Impacto Financeiro do Programa Eleitoral do PS, recorre à dinamização da procura interna como mola mestra para animar o crescimento económico. 

Se houvesse mais honestidade intelectual e menos ânsia de poder pelo poder, poderiam concertar-se os rombos do barco com menos chinfrim.

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