Thursday, May 21, 2015

O ESTADO DOS OUTROS

Materialmente, o assunto não é relevante.
Se apreciado do ponto de vista do comportamento cívico já revela bastante acerca da atitude dos portugueses (muito provavelmente, da grande maioria) perante as contribuições prestadas e as responsabilidades exigidas á função pública.

Hoje, depois de ter colocado 50 cêntimos na ranhura do parquímetro, constatei que alguém que desconheço e me desconhece, tinha deixado um talão com um prazo de validade superior aos que os meus 50 cêntimos consentiam. A impressão era diferente, tinha sido emitido pela máquina do outro lado da rua, não se tratava, portanto, do esquecimento de um apressado. Alguém terá estacionado deste lado, pagou no outro, e quando saiu ainda lhe sobrava tempo. Decidiu oferecê-lo a um desconhecido. Neste caso, a mim. Por quê? Só encontro uma explicação. O benemérito entendeu que, entre dar uma vantagem ao Estado ou cedê-la a um desconhecido preferiu beneficiar o desconhecido, inconsciente de que da sua decisão resultava um prejuízo (embora infinitesimal) para ele próprio e para todos os outros cidadãos contribuintes. Uma decisão, certamente inconsciente, porque geralmente ninguém decide conscientemente contra si próprio, que decorre de uma animosidade subconsciente contra o Estado ... dos outros.

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Ontem anotei neste caderno de apontamentos a recorrente relevância dada aos impostos que pagamos e a quase ausência da crítica aos resultados obtidos. Com os impostos pagamos serviços prestados pela função pública e o que deveria estar em causa não era o nível dos impostos pagos mas a relação entre o preço desses serviços e a sua utilidade para a globalidade dos utentes. O que conduz a uma questão, também recorrente, sobre a concorrência entre sector público e sector privado. Também ontem, transcrevi um comentário feito dias antes onde afirmava que "os países escandinavos têm cargas fiscais máximas e índices de desenvolvimento que os colocam em lugares do topo do ranking do PNUD." Já não é assim, e o gráfico transcrito contrariava a minha afirmação. A crise, ou a estratégia de combate à crise, alterou bastante o ranking da carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho nos países membros da OCDE. A progressão da carga fiscal em Portugal nos últimos anos coloca agora os trabalhadores portugeses entre os mais tributados.

Voltarei ao assunto.


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