Um artigo publicado no Financial Times de hoje - Leading Briton´s business links with Russians under spotlight - e uma notícia publicada no Negócios online - Merkel recusa mais sanções sobre a Rússia - são muito esclarecedores de que a reconquista russa da Crimeia é irreversível, e que o reconhecimento internacional desse facto é agora uma questão de tempo. Mais do que as intenções dos EUA para conter as ambições de Putin de recuperação do terreno perdido após o desmoronamento do muro de Berlim, estão a prevalecer os interesses económicos cruzados entre russos e europeus, nomeadamente britânicos e alemães. O gás que Obama prometeu ontem em Bruxelas não se equipara aos interesses envolvidos em outros múltiplos negócios.
Por um lado, são boas notícias, ainda que as razões possam não ser consideradas as mais louváveis. Se à carga de fissuras apresentadas pelas estruturas da pouca união europeia se juntasse agora um confronto bélico, ainda que localizado, a leste, o esconso edifício europeu desmoronar-se-ia de vez por uma razão historicamente errada: a população da Crimeia é hoje maioritariamente de origem russa e a evolução recente da União Europeia não lhe cativou o interesse em aderir a uma outra união imponderável.
Por outro lado, e essa é, supostamente, a questão que Merkel mais pretende ver resolvida pela via diplomática, as ambições de Putin, muito provavelmente, não se limitam à reintegração da Crimeia no império dos czares porque se alargam a todo o espaço perdido a partir de 1989. A ameaça do abraço de Putin está esboçada desde o momento em que o ex-coronel do KGB tomou conta das rédeas do governo da Federação Russa. Ambições essas que as contradições internas da União Europeia favorecem e que só as conveniências dos negócios poderão travar.
7 comments:
Quando em plena crise económica se levantam hipóteses de confrontos bélicos é porque a crise económica está para além daquilo que parece ser a sua solução. Outros sinais podem ser lidos como é o caso deste texto produzido há pouco e que parece muito pertinente - " O que acontece é que a crise financeira vai chegar agora aos grandes bancos europeus.
A crise financeira (que não tem nada a ver com a crise das dívidas soberanas, que é a consequência direta do Tratado de Lisboa) resulta de o enriquecimento bancário se ter feito através de processos especulativos que estoiraram quando as pessoas, por efeito desses mesmos processos que aumentaram a desigualdade, começaram a empobrecer - a especulação alimenta-se do enriquecimento das vítimas, se estas empobrecem, morre. Os bancos pequenos não tinham como fugir às consequências da crise e estoiraram; mas os bancos grandes estão exatamente na mesma situação, ou pior, porque a sua capacidade especulativa é muito maior.
Eu já escrevi há anos que o Deutsche Bank deve ter um buraco tão grande que a Lua cabe lá dentro; até agora, têm conseguido esconder esse buraco, mas isso não vai durar muito mais; e quando ele estoirar, quem o vai assumir? A Alemanha vai fazer o mesmo que Portugal fez?
Claro que não! A Alemanha vai chutar o problema para a Europa, para o BCE, para nós!!!
Nós ainda vamos ter de contribuir para tapar o buraco do banco da Alemanha. Já estamos a contribuir, este processo das dívidas soberanos está a ser usado para tapar esse buraco à nossa custa; mas não chega, é preciso mais, muito mais.
Portanto, já sabem: o processo em curso, o trabalho apresentado pela Elisa Ferreira, não é o resultado da ação dos deputados em defesa da Europa, é o resultado da ação das instituições europeias ao serviço da Alemanha."
Anonymous,
Obrigado pelo seu contributo.
Concordo em grande parte com o que afirma.
Diz: "Escevi há anos que o Deutch Bank ..."
Podemos saber onde escreveu?
sábado, Julho 28, 2012
Política de Terra Queimada
Há alguns anos, tornou-se público na Dinamarca o plano da NATO em caso de tentativa de invasão Russa; segundo esse plano, alguns países, nomeadamente a Dinamarca, seriam “terra queimada”. Plano muito “lógico”, havia que defender o coração da Europa, portanto destruía-se a periferia para estabelecer uma terra de ninguém onde fosse mais fácil combater os russos e proteger os cidadãos do coração. Estranhamente, os Dinamarqueses não gostaram nada do plano.
A Europa, e não só, embarcou numa perigosa e desajustada teoria económica (de que falarei noutro texto), de uma particular escola. Em consequência, os grandes bancos europeus, nomeadamente o Barclay’s e o Deutshe, devem ter um buraco financeiro de dimensão apocalíptica. Isto pode parecer surpreendente mas não é, o buraco não é decorrente de “incompetência” ou “corrupção” mas a necessária consequência da referida teoria económica. Quanto maior o banco, maior o buraco.
Qual é a estratégia para resolver esta situação?
A mesma de sempre: sacrificar a periferia.
A política de “empobrecimento” não é para os funcionários públicos, ou para os portugueses empregados, é para toda a periferia europeia. Na verdade, o buraco central será tão grande que o “empobrecimento” é para toda a Europa à excepção da Alemanha e da Inglaterra. A ideia é sacar todo o dinheiro que seja possível sacar para tapar esse buraco. A política de empobrecimento é apenas um nome para uma política de terra queimada, que vai abranger toda a gente com atividade nos países envolvidos, ricos ou pobres.
A medida mais recente é recusar um mecanismo de suporte aos depósitos bancários; isto é um convite aos depositantes para correrem para esses dois bancos, vistos como “sólidos”. Na verdade, é uma armadilha: um banco pequeno pode ser muito mais seguro do que um grande porque está muito menos envolvido nas práticas financeiras agora ditas de risco – basta que saiba gerir a bolha imobiliária com inteligência, o ponto frágil dos bancos pequenos.
(um banco cujo presidente atribui o mau momento à Constituição Portuguesa não dá garantias de uma gestão inteligente; um gestor para a crise tem de ter um entendimento oposto aos gestores que conduziram a ela e que agora só sabem encontrar culpados em todo o lado menos neles – ele é o Sócrates, ele é a Constituição, ele é...)
Até ao fim deste ano vamos decidir o nosso futuro. Por acção ou omissão
Há algo de premonitório nesta sua análise de há quase dois anos mas também, do meu ponto de vista, de excessivo.
Não me parece que a NATO tenha algo a ver com as situações observadas hoje, e há dois anos, nos países do sul da Europa.
De qualquer modo, escrevi hoje um apontamento tentando esclarecer melhor o meu ponto de vista sobe o assunto.
E obrigado, mais uma ves, pelo seu contributo.
Considere-se "sobre" e "vez" em vez do que lá está.
A questão da Nato é só um exemplo de como os maiores se protegem perante uma ameça pondo de permeio aquilo que é tido de carne para cahão. Vale na guerra como vale na economia
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