Aproximam-se as eleições para o PE e perspectiva-se que os níveis de abstenção suplantarão os, já normalmente elevados, observados nas eleições europeias anteriores. Pela diferença se medirá o voto de protesto, com ou sem razão, contra as medidas do governo e a conivência, por acção ou omissão, ou impotência, dos partidos da oposição.
O voto de protesto, alegam alguns - e Saramago romanceou à volta do tema em "Ensaio sobre a lucidez" - exprime-se pelo voto em branco. Talvez. Mas será uma expressão nítida? Não é. A relevância é assumida, pelos media e pela opinião pública, pelos níveis de abstenção. O destaque é dado aos quarenta e muitos por cento da abstenção e não aos quase cinco por cento de votos nulos ou em branco.
Mas mais relevantes que a inconsequência da magra dimensão do voto em branco como voto de protesto são os efeitos inversos dos propósitos desse voto. Os partidos recebem por cada voto expresso 3,1 euros, repartindo-se o valor total atribuído por lei proporcionalmente aos votos conseguidos por cada um deles - vd. aqui. O voto em branco dilui o nível de protesto ao reduzir a percentagem de abstenção acabando por ter um efeito contrário do pretendido.
Não se recomenda, com isto, a abstenção. Apenas se reflecte sobre os efeitos contrários de um propósito mal equacionado.
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Apontamento revisto (11/3)
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