Monday, July 10, 2006

A GAVETA DO SOCIALISMO E A OUTRA


O socialismo e a gaveta

A discussão sobre se o PS quando chega ao Governo vira ou não à direita é tão velha como a democracia portuguesa. Independentemente da sua bondade e adesão à realidade, na sua versão actual traz duas questões politicamente relevantes, que resultam menos do enquadramento ideológico da governação e mais da postura governativa (i.e. o enfrentar dos “interesses corporativos”). Uma primeira que tem a ver com a própria eficácia das políticas implementadas contra os interesses organizados sectoriais. A este propósito, recomendo vivamente o artigo que o Pedro Magalhães escreveu no Público há umas semanas. E uma segunda que remete para os riscos eleitorais de uma estratégia de governação que enfrenta a base social que tradicionalmente apoia o PS. Sobre este tema, escrevi um artigo na Revista Atlântico de Junho. “O Governo enfrenta um importante dilema: saber se deve continuar a fazer o que o realismo obriga a que seja feito, fragilizando a relação com a sua base social ou, pelo contrário, governar consolidando a sua ancoragem partidária e eleitoral. Enganar-se-á quem pensa que há uma solução win-win, assente num futuro de sucessivas vitórias eleitorais. O país ficará um pouco mais sustentável, mas quem vier depois terá como principal missão “juntar os cacos”. Está em jogo um trade-off entre realismo e sustentabilidade futura do PS, um trade-off que é também entre governabilidade e institucionalização da democracia. A opção tomada, sendo acertada, é de enorme risco. Um risco talvez apenas superado pela tentação para fingir que ele não existe.”

inserido por pedro adão e silva


A GAVETA DO SOCIALISMO E A OUTRA


Há uma condição incontronável para meter qualquer coisa numa gaveta: é a de que essa qualquer coisa exista. Uma outra, corolário desta, é a de que só pode tirar-se qualquer coisa de uma gaveta desde que essa qualquer coisa lá esteja.

De modo que, muito prosaicamente, a questão primordial é esta: o socialismo, enquanto altar de comunhão igualitária, vivifica-se sempre pelos votos da maioria emulada pelos seus princípios, ou, lamentavelmente, porque os fins justificam os meios, são tortuosos os caminhos para o socialismo?

O dilema de Sócrates é ter encontrado a gaveta vazia, não a do socialismo mas a dos tostões. Nenhum governo, nenhum PM, se for socialista, acha grata a tarefa de mandar apertar o cinto.

De modo que o PM não teve alternativa se não redefinir o Estado. As dificuldades financeiras têm algumas vantagens; os períodos de abundância, por outro lado, tendem a cobrir o lodo do cais.

Se não tivesse encontrado vazia a gaveta dos tostões, teria este PM aberto de par em par a gaveta ao socialismo, descurando o perímetro do cinto?

Talvez sim, talvez não. Mesmo que fosse essa a sua índole, seriam mais que muitas as vozes que clamariam contra o aperto e o risco da pressão partir a loiça...ainda que haja sempre alguém à espera da oportunidade de juntar os cacos.

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