Saturday, September 21, 2024

FLORESTA: ESTADO A MAIS? ESTADO A MENOS

João Miguel Tavares,
jmtvares@oulook.com
 
Escrevo-lhe porque, lendo o seu artigo de hoje, discordo em grande parte, para não dizer em quase tudo, o que escreve sobre a floresta em Portugal. O que, para mim, destoa da assertividade que, geralmente, observo nos seus textos.

1 - Ir a Aquilino Ribeiro para sustentar as causas do flagelo dos incêndios em Portugal é usar um argumento requentado invocando uma rebelião dos povos na Beira pela florestação dos baldios nos finais de 40 do século passado; portanto, há mais de oitenta anos.
Li o Quando os Lobos Uivam há sessenta e seis anos e o texto integral da acusação e defesa de Aquilino Ribeiro, Editora de Liberdade e Cultura de São Paulo, prefaciado por Adolfo Casais Monteiro.
Se escrevo isto é para que saiba que me documentei há muitos anos sobre o assunto da florestação dos baldios, circunstância que também ocorreu nas redondezas da aldeia onde nasci.
Acrescento, para salvaguarda de presunção de interesses próprios, que trabalhei no sector da produção de pasta e papel até há mais de 20 anos e nenhuma ligação pessoal ou outra mantive com o sector depois de então.
 
2- Depreendo do que escreve que o excesso de florestação em Portugal tem as suas profundas raízes numa política errada do "Estado Novo". Raízes, certamente robustas para se manterem, crescerem e se acrescentarem durante mais de oito décadas. Causa primordial desta política errática: a intromissão do Estado num assunto que não lhe devia dizer respeito. 

3 - Se podemos estar  de acordo que à Estado a mais em vários sectores da actividade económica em Portugal, não posso estar mais em desacordo consigo do que neste da estatização da propriedade florestal (mas também da agrícola e, hélas!, também, em certa medida, da urbana);
Sabe o J M Tavares quantos proprietários florestais existem em Portugal?
Mais de 300 mil, um número semelhante aos Estados Unidos da América.
O Estado português, ao contrário do sueco, do finlandês, etc., é proprietário de uma pequeníssima parte da área florestada. Dir-me-á que, mesmo assim a deixa arder porque não cuida dela, o que é verdade mas uma condição não implica a outra.
Não, J M Tavares, não há Estado a  mais na floresta portuguesa; há Estado a menos e uma pulverização da propriedade florestal privada que ninguém defende porque, sem dimensão económica crítica, é indefensável.

4 - O que há é falta de competência e coragem política para redimensionar a estrutura fundiária em Portugal de modo a garantir-lhe interesse económico bastante que possa garantir a sua defesa.

5 - Acrescento ainda que há uma confusão total em Portugal com a inclusão das plantações de eucaliptos (que não são floresta) com povoamentos mistos de pinheiro, eucalipto, acácias (ninguém parece reparar no crescimento das acácias) e outras espécies resinosas ou folhosas.

6 - A terminar diga-me, sff, defende uma propriedade rústica vocacionada para o pastoreio com erradicação de todas as espécies não autóctones, como aquela pela qual se bateram os beirões há mais de oitenta anos? Se não, o quê?

Atentamente
Rui Fonseca

PS - Se tiver pachorra leia o que sobre o tema escrevi há 18 anos, aqui

No comments: