João Miguel Tavares,
jmtvares@oulook.com
Escrevo-lhe porque, lendo o seu artigo de hoje, discordo em grande
parte, para não dizer em quase tudo, o que escreve sobre a floresta em
Portugal. O que, para mim, destoa da assertividade que, geralmente,
observo nos seus textos.
1 - Ir a Aquilino
Ribeiro para sustentar as causas do flagelo dos incêndios em Portugal é
usar um argumento requentado invocando uma rebelião dos povos na Beira
pela florestação dos baldios nos finais de 40 do século passado;
portanto, há mais de oitenta anos.
Li o Quando os Lobos
Uivam há sessenta e seis anos e o texto integral da acusação e defesa de
Aquilino Ribeiro, Editora de Liberdade e Cultura de São Paulo,
prefaciado por Adolfo Casais Monteiro.
Se escrevo isto é para
que saiba que me documentei há muitos anos sobre o assunto da
florestação dos baldios, circunstância que também ocorreu nas redondezas
da aldeia onde nasci.
Acrescento, para salvaguarda de
presunção de interesses próprios, que trabalhei no sector da produção de
pasta e papel até há mais de 20 anos e nenhuma ligação pessoal ou outra
mantive com o sector depois de então.
2-
Depreendo do que escreve que o excesso de florestação em Portugal tem as
suas profundas raízes numa política errada do "Estado Novo". Raízes,
certamente robustas para se manterem, crescerem e se
acrescentarem durante mais de oito décadas. Causa primordial desta
política errática: a intromissão do Estado num assunto que não lhe devia
dizer respeito.
3 - Se podemos estar de
acordo que à Estado a mais em vários sectores da actividade económica em
Portugal, não posso estar mais em desacordo consigo do que neste da
estatização da propriedade florestal (mas também da agrícola e, hélas!,
também, em certa medida, da urbana);
Sabe o J M Tavares quantos proprietários florestais existem em Portugal?
Mais de 300 mil, um número semelhante aos Estados Unidos da América.
O
Estado português, ao contrário do sueco, do finlandês, etc., é
proprietário de uma pequeníssima parte da área florestada. Dir-me-á que,
mesmo assim a deixa arder porque não cuida dela, o que é verdade mas
uma condição não implica a outra.
Não, J M Tavares, não
há Estado a mais na floresta portuguesa; há Estado a menos e uma
pulverização da propriedade florestal privada que ninguém defende
porque, sem dimensão económica crítica, é indefensável.
4
- O que há é falta de competência e coragem política para redimensionar
a estrutura fundiária em Portugal de modo a garantir-lhe interesse
económico bastante que possa garantir a sua defesa.
5
- Acrescento ainda que há uma confusão total em Portugal com a inclusão
das plantações de eucaliptos (que não são floresta) com povoamentos
mistos de pinheiro, eucalipto, acácias (ninguém parece reparar no
crescimento das acácias) e outras espécies resinosas ou folhosas.
6
- A terminar diga-me, sff, defende uma propriedade rústica vocacionada
para o pastoreio com erradicação de todas as espécies não autóctones,
como aquela pela qual se bateram os beirões há mais de oitenta anos? Se
não, o quê?
Atentamente
Rui Fonseca
PS - Se tiver pachorra leia o que sobre o tema escrevi há 18 anos, aqui
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