Saturday, September 28, 2024

PODE UM (EX) BOMBEIRO INCENDIAR O MUNDO?

A pergunta não tem intuitos sensacionalistas porque decorre do muito diversificado sistema de eleição do presidente dos Estados Unidos da América, que não está sujeito a regras idênticas em todos os EUA e também não são claras as regras de validação da votação sobretudo nos casos de votação antecipada por correspondência, já a decorrer. Em qualquer caso persistem condições para emergirem dos resultados da votação em 5 de novembro confrontos irredutíveis, incompreensíveis na democracia mais antiga da era moderna e, ainda, a maior potência mundial. 

Em 21 de dezembro do ano passado, coloquei uma nota neste caderno de apontamentos -  BIBEN NÃO SERÁ REELEITO, TRUMP TAMBÉM NÃO - sustentada num artigo publicado aqui, "Why neither Biden nor Trump will be the next president".

Para já, metade da previsão (ou profecia?) está cumprida: Biden não será reeleito Cumprir-se-á a outra parte com a não eleição de Trump?
A 37 dias da data das eleições, as sondagens não colocam nenhum dos candidatos, Trump ou Harris, em posição claramente vencedor.
 
Pode ser qualquer um deles, segundo uma longa lista de sondagens publicada ontem em diversos media.
Para cerca de metade dos norte-americanos a incerteza evidenciada nestas sondagens é preocupante para os democratas, favoráveis à continuidade de um sistema democrático-liberal, para cerca de outros tantos, entusiastas de um poder presidencial autocrático, é excitante a expectativa de um retorno de Trump à presidência.
Em qualquer dos casos não é, maioritariamente, sentida pelos norte-americanos a ameaça para o futuro de uma Europa livre de autocracias a eleição de Trump, com a consequente promessa deste de terminar o apoio norte-americano à Ucrânia, entregando-a a Putin e que, faça Putin o que entender aos países  da União Europeia, terá a sua bênção. 

É a propósito desta incerteza que teve repercussão expressiva o facto do senador Michael McDonell, do  Nebraska, com antepassados irlandeses, católicos, democratas, se ter registado recentemente no GOP republicano por discordar dos democratas em temas fracturantes: aborto, opção de orientação sexual, imigração. Como o Nebraska nomeia os seus representantes no Congresso por votação no congresso do Estado, um voto do ex-bombeiro desequilibra o empate e favorece Trump que pretende alterar as regras de votação em vigor naquele Estado.
Este senador terá, entretanto, desiludido Trump, comprometendo o seu futuro político, recusando apoiar alterações quando as eleições se encontram tão próximas.


 
Por outro lado, Trump e as suas tropas já começaram a movimentar-se no sentido de inventar situações para negar a validade dos resultados das eleições se não as vencer. Em causa as regras de votação pelo correio, já em curso, um meio essencialmente utilizado pelos democratas.
Não obstante estas intenções mal disfarçadas de Trump, este está a indicar aos seus apoiantes que utilizem também eles a votação pelo correio.
 
 
Chegados aqui, agiganta-se a probabilidade de, num mundo mais do que nunca antes na história da humanidade, a estupidez humana poder auto destruir-se e destruir todos os seres vivos no planeta Terra. 
O voto do ex-bombeiro, como qualquer outra causa aparentemente irrelevante, pode atiçar o rastilho de uma guerra nuclear de consequências incomensuráveis. 

Ainda anteontem Putin voltou a ameaçar o Ocidente com o uso de armas nucleares.
Ora, declaradamente, Trump apoia Putin. 
E Putin não esconde a sua ambição de submeter a Europa democrática ao seu dicktat.

 
Mas há quem não acredite ou não queira acreditar.
O certo é que, por todo o mundo ocidental, se alarga a mancha dos extremismos, de esquerda e de direita.
Que se tocam, como se sabe. 
Aconteceu o mesmo há mais de cem e há mais de oitenta anos. Com uma enormíssima diferença: a criatividade destrutiva da espécie humana tinha então atingido limites ínfimos quando comparados com os que hoje estão ao dispor da estupidez humana.  
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