Monday, September 23, 2024

ENGAWA NO CAM GULBENKIAN II

Na visita feita ao Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, vd. aqui, aberta anteontem para o público, depois de quatro anos em que foi encerrado por motivos de ampliação, a nossa apreciação ficou muito aquém das expectativas:

1 - Alargamento do espaço total - Os nossos muitos aplausos.
 
O espaço Gulbenkian prolonga-se agora até à Rua Marquês de Fronteira, em frente, do outro lado da rua, do Palácio Vilalba, onde esteve instalado entre 1946 e 2006 o Quartel General de Lisboa, e agora é sede da Provedoria de Justiça. (A propósito: por que despropósito foi transferida para o Palácio Vilalba a Provedoria da Justiça, certamente o menos relevante e influente na administração da Justiça em Portugal?)

Fica-se por saber que razões impedem a concretização do projecto - muito publicitado com imagens de ante visão dos resultados previstos - de ligação, por viaduto pedonal, do Espaço Gulbenkian ao, agora muito mal cuidado, ajardinamento do outro lado da Avenida Gulbenkian, e deste, também por viaduto pedonal, ao espaço em frente, que já foi parque de estacionamento, e agora é nada, assim como o terreno anexo onde existiu o restaurante Gôndola e uma vivenda, destruída, propriedade da Câmara Municipal.

2 - Ajardinamento do espaço alargado - Aquém do projecto do arquitecto Ribeiro Teles. 
Ainda assim, um aplauso.

3 - Arquitetura do CAM após expansão - Muito aquém das expectativas.
Quem visita o CAM verá muito divulgada a palavra "Engawa". Pronuncia-se, segundo nos disse uma das vigilantes, Engauá, ou sonoridade parecida.
Para saber o que é a (ou o?) Engawa, transcrevo da página do sítio (homepage) do CAM Gulbenkian:
 
"Temporada de arte contemporânea japonesa

Desde 2023 que a Temporada Engawa tem vindo a apresentar aos lisboetas um conjunto de artistas e pensadores do Japão e da diáspora japonesa, reunindo diversas colaborações com artistas e instituições culturais. Este programa investiga o modo como uma nova geração de artistas japoneses, num contexto de pressão social e psicológica, abraça uma diversidade de linguagens interligadas e considera o lugar da inteligência emocional como possibilidade de partilha para habitar o complexo mundo atual.

As obras que se apresentam no culminar desta temporada no CAM articulam-se e dialogam com o projeto do novo edifício, concebido pelo arquiteto japonês Kengo Kuma, e com a ampliação do Jardim Gulbenkian. O título da temporada toma o nome de Engawa, que se manifesta no CAM sob a forma de uma magnífica pala inspirada nas casas tradicionais japonesas, o símbolo deste projeto arquitetónico, e que é visto como um espaço de transição para encontros e transformação.

Engawa pode ser tomado como uma metáfora para um «espaço liminar», uma ideia amplificada na década de 1980 no Japão e no mundo ocidental através do conceito de 間 [ma]. Esta noção de «espaço liminar» ou de transição materializou a possibilidade de um diálogo comum, refletida nos movimentos artísticos multidisciplinares do Japão a partir do pós-guerra, um período em que emergiu uma multiplicidade de histórias paralelas que questionavam a ficção da história oficial que construía a identidade japonesa.

Este capítulo da temporada desenvolve estes temas através de um programa de exposições de arte temporal, projetos site-specific e obras encomendadas a artistas a meio de carreira, cujo trabalho é apresentado pela primeira vez em Portugal. As suas práticas levantam questões fundamentais sobre a nossa coexistência com os mais variados tipos de entidades na presente era de transformações tecnológicas, sociais e políticas, proporcionando perspetivas sobre questões que nos afetam a todos relacionadas com os problemas sociais, históricos e ecológicos que o mundo enfrenta na atualidade.

Num profundo processo colaborativo com o contexto intercultural de Lisboa e Portugal, o programa tem como objetivo refletir sobre o modo como as inter-relações entre perceção e emoção criam outras realidades. Também se relaciona com as principais exposições inaugurais do CAM e outros eventos de artes performativas, abrindo novas vias para a compreensão das ligações entre o Japão e o resto do mundo. No seu conjunto, estas ligações produzem uma circularidade prolífica, entrelaçando significados e narrativas, com destaque para as relações entre Portugal, o Japão e o Brasil.

Em 2023, apresentámos obras do coletivo artístico 目[mé], e dos artistas Ryoji Ikeda e Lei Saito na Fundação Gulbenkian e noutros espaços da cidade. A temporada incluiu um programa de homenagem à participação japonesa no movimento Fluxus internacional, em particular a Mieko Shiomi, importante compositora japonesa deste movimento, bem como uma intervenção no bairro lisboeta de Marvila pelo coletivo Chim↑Pom from Smappa!Group (CPfSG), em parceria com o Alkantara Festival 2023.

Curadoria de Emmanuelle de Montgazon, com Rita Fabiana."

Perceberam? Ainda bem que perceberam. 
Eu também percebi. Só não vejo como é que a vedeta de toda a transformação operada no CAM - "uma magnífica pala inspirada nas casas tradicionais japonesas" - seja tão admirável. 
Problema meu. 
Aquilo não não é uma pala, é uma enormidade, que, além do mais, não descobre porque reduz a visualização do espaço do jardim em frente. 
 
4 - Organização do Espaço Interior do CAM  - Para mim, incompreensível.
É incompreensível que tenham criado um espaço (escavado no solo) destinado à exposição permanente da Colecção de Arte Moderna da Gulbenkian, e acessível no canto esquerdo mais distante, o acervo (supomos que parte dele) da Colecção, em expositores rolantes. Obviamente, não rolantes a pedido de cada curioso.

5 - Exposição temporária de Leonor Antunes, ocupando todo o espaço principal do CAM - É um exagero que, tanto julgo saber, nunca antes tinha sido concedido a outro artista plástico.
Resulta melhor em fotografia que entre os objectos pendurados. 
 

 

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