Thursday, June 27, 2024

QUANTO TEMPO LEVARÁ A CHEGAR A REALIDADE?

Há dias, em novembro de 2023, 

"de um momento para o outro, rebentaram suspeitas de negócios chorudos acerca do hidrogénio verde, do lítio, sobretudo, do Data Center de Sines, levantadas por uma NOTA PARA A COMUNICAÇÃO SOCIAL - Inquérito DCIAP, divulgada pelo Gabinete de Imprensa da Procuradoria-Geral da República, datada de 7 de Novembro de 2023. Poucas horas depois era anunciada uma comunicação do Primeiro-Ministro ao País às 14 horas desse dia" - vid. aqui
.
Hoje, o ex-Primeiro-Ministro que se demitiu retirando consequências políticas do último parágrafo daquela "nota", será, muito provavelmente, nomeado Presidente do Conselho Europeu.
Entretanto, sobre os assuntos objeto daquela "nota" nada se sabe para além daquilo que os procuradores incumbidos de guardar segredo (se não eles, quem?) transmitem clandestinamente aos media com a oportunidade que lhes dá na realíssima gana.
Na União Europeia, e ainda bem, consideram que a Justiça em Portugal é uma farsa que não pode emperrar o funcionamento das suas instituições, e, para António Costa a realidade vai chegar em tempo oportuno.
Já quanto aos projectos alvo das investigações do Ministério Público (e não sei bem de mais quem) os procuradores continuam em roda livre e a senhora procuradora-geral  mantém-se fechada em copas.

Para além da nomeação de António Costa, o projecto "hidrogénio verde", parte do pacote embrulhado na "nota", suscitou-me o interesse em registar neste caderno de apontamentos um artigo publicado hoje no Washington Post - How water could be the future of fuel A new generation of fuels could power planes and ships without warming the planet.
Trata-se de um artigo extenso, ainda que, dada a complexidade do assunto - utilização do hidrogénio como combustível quase gratuito e inesgotável - não responde a muitas questões enfrentadas por quem se dedica à perseguição deste el dorado. 
 
Se os procuradores nada dizem, o certo é que também os investidores envolvidos nos projectos não têm apresentado (que se saiba) reclamações  por perdas e danos causados pela ela indolência da Justiça.
Estaremos, também neste caso, perante um equilíbrio vicioso entre a ficção e a realidade? Entre golpadas e assuntos sérios?
Estão ou não estão em causa projectos que poderão ser importantes para o país?
Suspeitam os senhores procuradores de corrupção porque, eventualmente, algum ou alguns dos investidores interessados falou com com algum ou alguns titulares de cargos com poderes de decisão ou influência?
Se não com eles, que podem decidir ou influenciar a decisão, com quem devem falar os investidores?

A Justiça, dizem, administra-se em nome do povo. 
Clandestinamente?

Wednesday, June 26, 2024

UMA ESPÉCIE DE TENTAÇÃO PARA O SUICÍDIO

"A Europa vive uma espécie de tentação para o suicídio", afirma Bernard-Henry Lévy, BHL, numa entrevista publicada no Semanário Expresso, há dias.

BHL "o intelectual francês que mais anticorpos gera no mundo das letras está perto do desespero perante a escalada dos extremismos, que vê (também) como um falhanço pessoal" ... "Percorre ( ) os perigos de uma segunda presidência de Donald Trump nos Estados Unidos, a guerra em Gaza e na Ucrânia, e a escalada dos populismos na Europa, perante a qual BHL se revela humilde e admite que outros intelectuais como ele falharam ao não conseguir convencer as pessoas que não há soluções nos extremos. A civilização (ocidental), diz, não é mais que uma "fina película" sobre um abismo de ignorância".

Esta entrevista, que considero muito bem conduzida, expõe com suficiente clareza as posições mais  polémicas de BHL com as quais muitos concordam e, talvez, outros tantos discordam, mas, parece-me inquestionável que, passadas apenas oito décadas após o fim da Segunda Grande Guerra, a grande maioria dos povos de cultura ocidental, que não viveu em sociedades oprimidas pelos extremismos que vingaram entre os dois maiores conflitos mundiais, só dará pela falta dos valores democráticos quando a democracia for derrubada e os extremismos impuserem as suas regras autocráticas. 
Só então, perdido o que antes tinha considerado como adquirido, a democracia renascerá movida pela vontade inabalável da espécie humana de assumir a sua condição de ser racional, não necessariamente obediente ao diktat de qualquer ditador e seus sequazes. 
 
Entre a ignorância daqueles que não viveram a ausência da liberdade de expressão do pensamento e as consequências dessa ausência de vivência, há (resume BHL) uma "fina película"  que designamos como civilização ocidental ameaçada de ruptura pelos extremismos outra vez em ascensão. 
E, aqueles, incluindo-se BHL, que, pela sua condição intelectual ou outra, deveriam evidenciar que não há soluções nos extremismos dignas da condição humana, falharam ou estão em vias de falhar, assistindo impotentes à caminhada do Ocidente para uma reposição da hecatombe sofrida no século passado, desta vez em versão provavelmente muito mais devastadora. Até que ponto? Ninguém saberá.
 
Escrevo isto e recordo alguém dizer, invocando, se bem me recordo, a sabedoria chinesa, que "se não podes vencer os teus inimigos junta-te a eles".
Haverá listas de inscrição ou emblemas para colocar na lapela que identifiquem, claramente, quem se passa para o outro lado, não vá o inimigo, sem querer, eliminar quem, por amor à vida, acaba com a cabeça cortada?

Thursday, June 20, 2024

AFINAL, PARECE QUE ELA MOVE-SE

Comentei há dias aqui neste caderno de apontamentos, a propósito do caso envolvido na "Operação Maestro" que
 
"o tempo da justiça é o tempo que os criminosos querem ter porque também os juristas, para abono dos seus réditos, querem o mesmo.
A luta contra a corrupção foi adoptada por todos os partidos concorrentes às últimas legislativas. A senhora Ministra, Jurista Júdice, já convocou os partidos para acertarem processos que reduzam os processos corruptivos? Não dei por isso. A Justiça não está em boas mãos enquanto estiver unicamente em mãos de juristas."
 
Hoje, tenho de reconhecer que estava mal informado e, como eu, certamente muitos portugueses, porque sobre as diligências, entretanto feitas pela senhora Ministra da Justiça não deram conta os media nem se pronunciaram notória e publicamente os partidos envolvidos. 

Até que esta manhã ouvi na rádio do Estado,
(que antes e depois do noticiário das oito, nos obriga a saber tudo o que no mundo do futebol, tanto a nível doméstico como internacional, parece muito relevante aos comentadores/treinadores de bancada,  encantados com os milhões e milhões envolvidos no fabuloso negócio do futebol), 
que será hoje discutida em Conselho de Ministros proposta de um conjunto de medidas anti corrupção. 
Li depois aqui que "Pacote anticorrupção, uma promessa e prioridade assumida pelo Governo de Luís Montenegro desde o primeiro momento, foi aprovada esta quinta-feira em Conselho de Ministros."

Afinal, parece que algo irá mudar na administração da Justiça em Portugal?
Irá mesmo?
Está a aproximar-se uma onda de prescrições por esgotamento dos prazos em que a Justiça seja feita e o que resultar da proposta aprovada hoje em Conselho de Ministros já não influenciará o curso dos processos de corrupção pendentes mais notáveis.
 
Entre prescrições, revogação de prescrições, recursos recorrentes, a mola da Justiça pasma de tanta volta e falta de corda.
 
Ontem, por mero acaso, ouvi num canal televisivo uma entrevista a José Maria Ricciardi, a propósito do julgamento do seu primo, Ricardo Salgado, marcado para 10 de setembro, sendo considerado muito relevante o testemunho de Ricciardi.
Afirmou Ricciardi nesta entrevista, além do mais, que "não desejo mal nenhum a Ricardo Salgado, apesar de estar muito triste": a verdade de Ricciardi sobre o caso BES".
 
Em 1 outubro do ano passado, em entrevista do Observador, o primo de Ricardo afirmou que este “Roubou a própria família”. ... e tentou suborná-lo para esconder gestão do banco"  ... e que não ficou nada surpreendido que Ricardo Salgado tivesse roubado a própria família."
 
Contudo, observou o entrevistador de ontem, Ricardo Salgado terá todos os seus activos apreendidos ...
Não, respondeu Ricciardi, a família vive bem, muito melhor que os portugueses. 
Surpreendente, este personagem muito shakespeariano.

Tuesday, June 18, 2024

EURÓFAGOS

Eurófago não é termo dicionarizado, salvo melhor conclusão que não encontrei em breve procura nas fontes do costume.
Por analogia semântica, eurófago é aquele que, à semelhança do xilófago, se alimenta, e, deste modo, destrói, as estruturas em que se instala e desenvolve a sua actividade.

Xilófagos, vulgo carunchos, são insectos que se alimentam de madeira, perfurando galerias até a estrutura em que se instalam desabar, se, entretanto, não forem detectados pelo pó que rejeitam para o exterior, e eliminados. Não metem o dente em estruturas menos complacentes que a madeira.
 
Ocorreu-me esta actividade xilófaga a propósito das intenções de eurófagos, diferentes dos euro cépticos porque, instalados na Europa da livre expressão do pensamento, uma estrutura complacente,  a querem minar e desmantelar para ser governada por autocratas, arrasando, deste modo os seus valores democráticos.

Quem são os inimigos explícitos da Europa livre, aqueles que não escondem os seus propósitos?
Sem dúvida, Putin e seus amigos ou aliados, e Trump, se, como é muito provável, voltar à presidência dos EUA. São eles  que, visivelmente, movem-se por objectivos declarada e objectivamente arrasadores e animam as actividades de parasitas (os eurófagos) que, por dentro, minam as estruturas em que se vivem e se alimentam, até as desmantelarem.
 
Os resultados das eleições europeias ocorridas este mês de Junho implodiram, pela primeira vez, os principais vectores de estabilidade da União Europeia, reflectidos nesta imagem de reconciliação em 1984, protagonizada por Helmut Khol e François Mitterrand. 
 
 
Cinco anos depois, 1989,  assistir-se-ia à queda do Muro de Berlim.
 
 
No ano seguinte, 1990, reunifica-se a Alemanha e o Marco alemão passa a ser a moeda em toda a República Federal da Alemanha até 2002, ano em que o Marco deu lugar ao Euro, como moeda corrente na generalidade dos países da União Europeia. 
Foi Helmut Khol quem, enfrentando forte oposição do lado ocidental, impulsionou a construção da Alemanha reunificada. 

Em 1991, desintegrava-se, sem causa física exterior, a União Soviética. 
Nazismo, fascismo, comunismo, tinham sido abalados mas não erradicados.
 
Trinta e três anos depois, Macron, defensor intransigente dos valores da União Europeia, sente-se obrigado a convocar eleições legislativas após a evidente emergência de forças políticas extremistas que entalam as posições politicamente moderadas do Presidente francês.  
Na Alemanha, o Chanceler Olaf Scholz, também ele um europeísta convicto, nomeado há dois anos, observa um desaire semelhante a Macron, mas os resultados das europeias não o colocam em situação tão fragilizada quanto a do presidente francês. 
 
Para uma observação da situação em que se encontram os progressos dos eurófagos nestes dois países, determinantes para a sustentação da União Europeia hoje, recorro a um artigo publicado anteontem no Público, de Teresa de Sousa, que considero a jornalista portuguesa melhor informada sobre a situação política na Europa e das influências que podem determinar o futuro: Eleições europeias: de suspiro de alívio em suspiro de alívio.
 
A União Nacional (Rassemblement National) estará com saliente implantação em quase toda a França: exceptua-se uma relativamente pequena área em Paris. 
Se vier a governar retomará todas as vias do nacionalismo, será condescendente com os autocratas e voltará a exibir o seu fascínio pela Grande Rússia.

A Frente Popular de 1935, é a motivação invocada por Jean-Luc Mélanchon, um putinista declarado, que recusa condenar o Hamas, para  reunir as esquerdas extremas com socialistas, ecologistas, (de ideologia europeísta e apoio total à Ucrânia) e comunistas. 

Na Alemanha, o SPD de Olaf Scholz, ficou nas eleições europeias em terceiro lugar, abaixo da AfD, de extrema direita, que domina todas as regiões da antiga RDA. 
Votos da AfD mais os do Die Linke (herdeiro do partido Comunista da RDA e da Aliança Shara Wagenkecht (uma excrescência do SPD com uma ideologia que mistura políticas de extrema esquerda e extrema direita) representam cerca de 25% do total, no país que se cria imune ao regresso do que se assemelhasse ao nazismo.
 
A Europa está hoje rodeada de ameaças e desafios globais, de Putin à China.
Mas a maior preocupação é, obviamente, o apoio à Ucrânia, onde se joga verdadeiramente o futuro da Europa.
 
Talvez os eurófagos se cruzem e se auto eliminem nas galerias que vão minando em sentidos diversos.
 
E em Portugal, num país que, segundo as sondagens publicadas, é na UE dos mais europeístas, quantos, dos que sabem quem ele é, detestam Macron?
 
Pergunto-me e vejo muitas caras conhecidas sorrirem perante o desaire espelhado nos resultados obtidos pelo Presidente francês.

Sunday, June 16, 2024

O MAL AMADO E O BEM AMADO

Há uma semana, logo que foram conhecidos os resultados das eleições para o Parlamento Europeu, o resultado mais inquietante, ainda que não de todo inesperado, foi observado em França com a vitória Marine de Le Pen, 31,3%, mais do dobro do alcançado por Macron, 14,6%.
Macron decidiu, sem demora, dissolver o Parlamento francês (Assemblée Nationale) e convocar eleições para 30 de Junho e a segunda volta para 7 de Julho.
Um terramoto político em França com réplicas ainda não avaliáveis, na União Europeia e no Mundo.
Definitivamente Macron é um mal amado. Porquê?
 
Pelo que é possível retirar, sobre esta questão, as opiniões referidas nos media, via net, o desamor dos franceses por Macron é consequência do seu estilo visto como altivo, arrogante, distante, que não sustenta a sua permanência no poder com uma presença intencionalmente popular junto dos seus compatriotas.
Sendo o sistema semi-presidencial francês de pendor presidencialista, as adversidades resultantes das circunstâncias inerentes a um cargo executivo são imputáveis ao presidente, ao contrário, por exemplo, em Portugal, onde o semi-presidencialismo é de pendor parlamentar e os eleitores avaliam as decisões tomadas pelo governo e os afectos ou os desacertos, agora inconsequentes, do presidente.
 
Macron enfrentou durante este seu segundo mandato as consequências de medidas que os franceses detestaram: nomeadamente as alterações à lei das reformas (pensões), o aumento dos impostos sobre os aumentos dos combustíveis, as restrições impostas pelo covid.19.
Francês, em geral, não admite que lhe mexam nos "direitos adquiridos", encareçam os combustíveis, ainda que façam trinta por uma linha para combater as "alterações climáticas" em grande medida resultantes do aumento do consumo dos combustíveis fósseis. 

Entretanto, Marine Le Pen refreou os seus impulsos racistas e xenófobos, colocou na presidência do partido Jordan Bardella, 28 anos de idade, capaz de prometer aos franceses este mundo e o outro num embrulho onde as inclinações ultra-direitistas de anti-emigração, de nacionalismo exacerbado, de crítica sistemática às instituições europeias, prosseguem a ideologia nuclear do fundador, Jean-Marie Le Pen, que ela expulsou do partido por manifestamente a incomodar o pai dizer o que ela prefere esconder, nomeadamente o anti-semitismo, a negação do holocausto.

Curiosamente, um plumitivo da nossa praça, Miguel Sousa Tavares (MST) que deve o palco e espaço nos media ao nome da família, escrevia há dias "apoiar a Ucrânia é uma coisa; ir para a guerra da Ucrânia é coisa diferente. Não consigo deixar de ver nas retumbantes derrotas de Macron em França e de Scholz na Alemanha — ambos com 15% dos votos e ambos outrora os maiores defensores de uma solução de paz e hoje dos maiores belicistas — uma rejeição do seu aventureirismo. Se não foi isso, foi o quê?"
 
Nunca tinha ouvido tal dislate.
Mas MST é coerente. Desde o momento, já distante, em que se soube que Putin tinha decidido invadir a Ucrânia, MST considerava essa hipótese, logo concretizada, como um delírio, sem sentido dos europeus. da União Europeia.
E, repetidamente, tem vindo a usar a página dupla do semanário onde escreve, para afirmar que não apoia Putin mas a defesa da Ucrânia deve ser deixada ao cuidado dos ucranianos. 
Não é caso único.
A União Europeia está a ser permanente perfurada por muitos carunchos destes, que, enquanto se alimentam dela, insaciavelmente a debilitam.
 
Escreve ainda na mesma página este caruncho anti-pró-Putin: "...a propósito das comemorações. a 6 de Junho, (desembarque na Normandia) foi um pouco ridículo ver o pequeno Macron empertigar-se à altura do grande De Gaulle, Biden no papel de Roosevelt, e Sunak, que só não ensaiou o de Churchill porque o deixou para Zelensky."
Curiosamente, Rishi Sunak, o primeiro-ministro do Reino Unido, o presidente da França, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz,, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky,  apesar das muitas diferenças, todos têm 1,70 m de altura,
 
De Gaulle era alto, 1,96 m., mas não foi grande. Quando as tropas nazis entraram em França, De Gaulle atravessou a mancha para pedir a Churchill abrigo no Reino Unido. Churchill aceitou-o mas o refugiado  general francês nunca lhe mereceu grande respeito. 
Macron, ainda que agora impopular, já garantiu que não se demite se as eleições legislativas antecipadas atribuírem à extrema direita, com a complacência da extrema esquerda a oportunidade de, pela primeira vez, se apoderar do governo numa situação de co-habitação com o Presidente.
 
Quanto à depreciativa comparação de Zelensky com Churchill e de Biden com Roosevelt, MST ignora que Churchill instou, sem resultados junto de Roosevelt o apoio dos EUA à Europa ocupada pelos nazis, excepto o Reino Unido onde o leão britânico prometia ao seu povo apenas sangue suor e lágrimas.
Roosevelt convenceu os norte-americanos a entrarem na guerra porque os japoneses, ao atacarem Pearl Harbour, tornaram inevitável a intervenção norte-americana na guerra.
 
Zelensky não tem tentado menos obter o apoio dos norte-americanos e dos europeus que não apoiam Putin que Churchill tentou junto de Roosevelt. 
E Biden, sem qualquer provocação externa, tem apoiado a Ucrânia tanto quanto as possibilidades do seu cargo permitem, independentemente da ameaça explícita de Trump, seu adversário em Novembro, apoiar Putin. 

Se Trump for em Novembro o bem amado dos norte-americanos, adeus Ucrânia!, adeus Europa livre!, ainda que MST, e outros carunchos nos queiram convencer o contrário.

Wednesday, June 12, 2024

O MAESTRO DA OPERAÇÃO

Terá sido um tal Manuel Serrão, famoso figurão.

 " Operação Maestro, que investiga um esquema de fraude nos fundos comunitários que terá lesado o Estado português em cerca de 40 milhões de euros e que terá o empresário Manuel Serrão como principal mentor, paralisou a Associação Selectiva Moda (ASM) e deixou as empresas do setor têxtil português sem apoios para a participação em feiras e campanhas de promoção internacional. Uma situação que traz prejuízos financeiros “gravíssimos” e que pode tirar centenas de milhões de euros às exportações do setor." - aqui

Mas maestro precisa de instrumentistas. 
Todos envolvidos, para já seis arguidos, segundo as notícias oriundas do sítio do costume, em quatro crimes graves ou gravíssimos, com um quadro de moldura penal que pode ir até doze anos de prisão.

- Vai demorar julgar e penalizar, se for caso disso, os artistas?, pergunta inocente de um jornalista.
- Todos os crimes desta natureza (financeira) são difíceis de provar. Vai ser um processo demorado, não tenho dúvidas, responde um advogado convocado para o efeito.
 
É nestas e noutras operações que leis, congeminadas por juristas e aprovadas por ignorantes ou demasiado  sabidos na matéria, permitem todo o tempo e todas as habilidades para, geralmente, acabarem em águas de bacalhau. 
Mas, se por excepção à regra, alguns arguidos forem julgados culpados e, ainda mais excepcionalmente forem efectivamente presos, o que ganhamos nós com tal sentença?
Nada. 
Pelo contrário, perdemos os gastos de guardar e alimentar os reclusos.
 
É burrice, não é?
Por que não são os arguidos julgados em processos sumários e condenados a pagar os valores que indiciadamente subtraíram?
Em caso de erro de julgamento, que os visados podem em qualquer momento demonstrar, devolvem-se à procedência os valores indevidamente pagos.

Estou a ser ingénuo, pois estou. Tenho consciência disso porque o tempo da justiça é o tempo que os criminosos querem ter porque também os juristas, para abono dos seus réditos, querem o mesmo.
A luta contra a corrupção foi adoptada por todos os partidos concorrentes às últimas legislativas. A senhora Ministra, Jurista Júdice, já convocou os partidos para acertarem processos que reduzam os processos corruptivos?
Não dei por isso. A Justiça não está em boas mãos enquanto estiver unicamente em mãos de juristas.

Há dias, caso real, foi uma doente encaminhada do hospital A para o hospital B porque foi sumariamente julgado no hospital A que no hospital B existiam melhores as condições para salvar uma pessoa em situação de perigo de vida. 
Quem no hospital B decidiu que a doente deveria ser imediatamente operada, decidiu com base no conhecimento dos dados que dispunha naquele momento. Poderia ter errado, felizmente a doente sobreviveu.
O caso referido não é, longe disso, caso único. As "operações médicas" são, geralmente, urgentes e requerem opções dramáticas, porque estão em risco as vidas de seres humanos, sujeitas a erro. 
As "operações jurídicas" não estão sujeitas a quaisquer urgências, têm ao seu dispor "todo o tempo da justiça", e podem, sem quaisquer problemas, sequer de consciência, errar. 
Frequentemente.

Valem mais as vidas dos indiciadamente criminosos que as vidas humanas em perigo de vida? 

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Sunday, June 09, 2024

BRANCO OU TINTO

Valeu o meu apontamento de ontem - O QUE VALE O MEU VOTO? - um comentário, pertinente, que, no entanto, não responde à questão em causa.

"... O voto de cada um de nós vale efectivamente uma quota numericamente  insignificante, mas isso é a essência dos regimes democráticos, onde ninguém, por mais poderoso que seja do ponto de vista político, económico ou religioso, tem um voto com maior significado do  que qualquer um dos outros votos !!!!  Omitir esta verdade, seja a que pretexto for, é como que um convite à abstenção do acto eleitoral !"

Votar é um direito cívico, não é uma obrigação.
Dizendo isto, de modo algum desvalorizo a essência primordial da democracia da liberdade de pensamento e da sua expressão.
O que me repugna é a feira, o leilão, com que, por motivação maior da emoção, a exaltação desvalorize a decisão de voto tomada conscientemente.
Culpa dos partidos e dos média que tendem a arrastar muitos eleitores pela paródia das arruadas para os lados dos seus interesses próprios e não do país.
Foi, e continua a ser, a complacência da democracia com os seus inimigos, que sufragou maiorias intencionalmente autocráticas, a caminho de ditaduras, que eliminaram democracias. 
Hitler foi o monstro que foi porque a democracia estava debilitada pela derrota alemã em 14-18 e os alemães, emocionalmente, engoliram as promessas propagadas a partir das cervejarias de Munique, pelo radicalismo de um fulano, austríaco, candidato frustrado a artista de belas-artes.
Aconteceu há cerca de 100 anos. Está a começar a acontecer agora.

Já votei hoje. 
Serve o meu voto para alguma coisa?
Não sou tão tolo para pensar que sim.
 
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A propósito de eleições europeias, encontrei no meu arquivo de recortes de imprensa alguns comentários sobre o livro de Saramago, publicado há vinte anos - Ensaio sobre a Lucidez - um ano em que Saramago integrou a lista de candidatos da CDU ao Parlamento Europeu "em lugar não ilegível, simplesmente como uma expressão de fidelidade ao PCP ", segundo o secretário-geral do partido nessa altura.   

     
  


 (cartoon de Vasco)

"Mau tempo para votar, queixou-se o presidente da mesa da assembleia eleitoral número catorze depois de fechar com violência o guarda-chuva empapado ..." 
 
Assim começa e prossegue em rame-rame tipicamente saramaguiano "Ensaio sobre a Lucidez" (2004) até chegar onde quer chegar: o temporal não afastou os votantes, a abstenção foi baixa, mas houve oitenta e três por cento de votos em branco, um resultado que exprimia a perda da credibilidade da população nas instituições, nos partidos políticos, da esquerda da direita e do meio e a indignação pelo descalabro praticado por políticos de partidos diferentes, mas de atuações iguais, usufruindo de privilégios que ofendiam a população. 
 
O livro, estruturalmente mal amanhado mas ideologicamente muito direccionado, constituía para a maioria dos críticos o ataque mais evidente à democracia em toda a obra de Saramago, e isso incomodou os fiéis do partido, que logo defenderam que, se por um lado,  oitenta e três por cento tinham votado em branco, por rejeição massiva dos partidos da direita, da esquerda e do meio, por outro lado, dezassete por cento tinham votado no único partido isento de todos os pecados imputáveis ao sistema. E se assim fosse, os dezassete por cento do eleitorado elegeria em 2004, vinte e sete, isto é, a totalidade dos candidatos ao Parlamento Europeu.
Na realidade só elegeu um.
 
Era uma parábola? Era uma anedota?
Fosse o que fosse, Saramago parecia ter descoberto a forma de implodir a democracia "se o voto em branco passasse a dez por cento", afirmava ele em entrevista ao Expresso em Abril de 2004, "isso era o terramoto de 1755 sem vítimas e sem estragos".
Hoje, provavelmente, estaria do lado de Putin, contra a União Europeia. 
Tem candidato sucessor em lugar elegível: perdeu Beja, pode ganhar Bruxelas. Como negócio, nada mau para o candidato.  

Saturday, June 08, 2024

O QUE VALE O MEU VOTO?

Porquê votar? 
Ou, dito de outro modo, o que vale o meu voto?
 
"As probabilidades de o meu voto influenciarem o resultado de uma determinada eleição são muito, muito reduzidas" - Stephen J. Dubner and Steven D. Levitt* - 
(Para quem não consiga acesso ao artigo, transcrevo-o no final, na íntegra, do original)
 
O artigo foi publicado em 2005 e, desde então, a geopolítica mundial alterou-se substancialmente: Putin invade e anexa a península da Crimeia em 2014, dando o primeiro passo para a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.
O grande golpe nas relações com o ocidente, inexplicavelmente surpreendido com as intenções de Putin, garantiu a este o apoio da igreja ortodoxa russa e da maioria do povo russo, e, mais perigoso ainda para a União Europeia, granjeou-lhe a admiração, e o indisfarçado apoio, de pseudo-europeísta que entraram na União com o fito de lhe sugarem as vantagens e atraiçoarem os seus valores. 
Com as eleições para o Parlamento Europeu, este fim-de-semana, os extremistas podem alcançar resultados que poderão demolir as frágeis estruturas europeias.
Putin está, declaradamente, a governar em regime de economia de guerra; na União Europeia, a desunião em matéria de defesa é uma evidência gritante que só pode ser aclamada pelos que têm como intenção o descalabro da democracia e a emergência de regimes autocráticos a caminho de ditaduras.
Nos EUA balança-se também o futuro da Europa e da preservação dos valores ocidentais, porque, também nos EUA o extremismo é atractivo para quem se move pelas emoções de arraial de feira.

Passaram ontem oitenta anos após o desembarque na Normandia de milhares de soldados norte-americanos, muito dos quais deram a vida pela libertação da Europa do regime nazi. 
A Europa viveu, desde a derrota dos regimes totalitários que tinham infectado quase todo o seu território,   a excepção mais evidente foi o Reino Unido, o maior período de paz da sua história. 
Mas, por razões que escapam à racionalidade da espécie humana, a Europa, subjugada novamente pelas vagas de submissão aos autocratas, parece reincidente a prestar-se como presa fácil dos extremismos. 

Dito isto, e voltando à pergunta, o que vale o meu voto?,  não posso deixar de considerar a forma como decorreram as acções de campanha eleitoral quando passaram para a rua e alguma racionalidade observada nas discussões a quatro, em estúdio, deu lugar à excitação de arraial, com o objectivo de arrastar quem se move mais pela emoção que pela razão, e concluir que o meu voto não vale nada. 


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THE WAY WE LIVE NOW: 11-06-05: FREAKONOMICS

Why Vote?     

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By Stephen J. Dubner and Steven D. Levitt

·       Nov. 6, 2005

A Swiss Turnout-Boosting Experiment

Within the economics departments at certain universities, there is a famous but probably apocryphal story about two world-class economists who run into each other at the voting booth.

"What are you doing here?" one asks.

"My wife made me come," the other says.

The first economist gives a confirming nod. "The same."

After a mutually sheepish moment, one of them hatches a plan: "If you promise never to tell anyone you saw me here, I'll never tell anyone I saw you." They shake hands, finish their polling business and scurry off.

Why would an economist be embarrassed to be seen at the voting booth? Because voting exacts a cost -- in time, effort, lost productivity -- with no discernible payoff except perhaps some vague sense of having done your "civic duty." As the economist Patricia Funk wrote in a recent paper, "A rational individual should abstain from voting."

The odds that your vote will actually affect the outcome of a given election are very, very, very slim. This was documented by the economists Casey Mulligan and Charles Hunter, who analyzed more than 56,000 Congressional and state-legislative elections since 1898. For all the attention paid in the media to close elections, it turns out that they are exceedingly rare. The median margin of victory in the Congressional elections was 22 percent; in the state-legislature elections, it was 25 percent. Even in the closest elections, it is almost never the case that a single vote is pivotal. Of the more than 40,000 elections for state legislator that Mulligan and Hunter analyzed, comprising nearly 1 billion votes, only 7 elections were decided by a single vote, with 2 others tied. Of the more than 16,000 Congressional elections, in which many more people vote, only one election in the past 100 years -- a 1910 race in Buffalo -- was decided by a single vote.

But there is a more important point: the closer an election is, the more likely that its outcome will be taken out of the voters' hands -- most vividly exemplified, of course, by the 2000 presidential race. It is true that the outcome of that election came down to a handful of voters; but their names were Kennedy, O'Connor, Rehnquist, Scalia and Thomas. And it was only the votes they cast while wearing their robes that mattered, not the ones they may have cast in their home precincts.

Still, people do continue to vote, in the millions. Why? Here are three possibilities:

1. Perhaps we are just not very bright and therefore wrongly believe that our votes will affect the outcome.

2. Perhaps we vote in the same spirit in which we buy lottery tickets. After all, your chances of winning a lottery and of affecting an election are pretty similar. From a financial perspective, playing the lottery is a bad investment. But it's fun and relatively cheap: for the price of a ticket, you buy the right to fantasize how you'd spend the winnings -- much as you get to fantasize that your vote will have some impact on policy.

3. Perhaps we have been socialized into the voting-as-civic-duty idea, believing that it's a good thing for society if people vote, even if it's not particularly good for the individual. And thus we feel guilty for not voting.

But wait a minute, you say. If everyone thought about voting the way economists do, we might have no elections at all. No voter goes to the polls actually believing that her single vote will affect the outcome, does she? And isn't it cruel to even suggest that her vote is not worth casting?

This is indeed a slippery slope -- the seemingly meaningless behavior of an individual, which, in aggregate, becomes quite meaningful. Here's a similar example in reverse. Imagine that you and your 8-year-old daughter are taking a walk through a botanical garden when she suddenly pulls a bright blossom off a tree.

"You shouldn't do that," you find yourself saying.

"Why not?" she asks.

"Well," you reason, "because if everyone picked one, there wouldn't be any flowers left at all."

"Yeah, but everybody isn't picking them," she says with a look. "Only me."

In the old days, there were more pragmatic incentives to vote. Political parties regularly paid voters $5 or $10 to cast the proper ballot; sometimes payment came in the form of a keg of whiskey, a barrel of flour or, in the case of an 1890 New Hampshire Congressional race, a live pig.

Now as then, many people worry about low voter turnout -- only slightly more than half of eligible voters participated in the last presidential election -- but it might be more worthwhile to stand this problem on its head and instead ask a different question: considering that an individual's vote almost never matters, why do so many people bother to vote at all?

The answer may lie in Switzerland. That's where Patricia Funk discovered a wonderful natural experiment that allowed her to take an acute measure of voter behavior.

The Swiss love to vote -- on parliamentary elections, on plebiscites, on whatever may arise. But voter participation had begun to slip over the years (maybe they stopped handing out live pigs there too), so a new option was introduced: the mail-in ballot. Whereas each voter in the U.S. must register, that isn't the case in Switzerland. Every eligible Swiss citizen began to automatically receive a ballot in the mail, which could then be completed and returned by mail.

From a social scientist's perspective, there was beauty in the setup of this postal voting scheme: because it was introduced in different cantons (the 26 statelike districts that make up Switzerland) in different years, it allowed for a sophisticated measurement of its effects over time.

Never again would any Swiss voter have to tromp to the polls during a rainstorm; the cost of casting a ballot had been lowered significantly. An economic model would therefore predict voter turnout to increase substantially. Is that what happened?

Not at all. In fact, voter turnout often decreased, especially in smaller cantons and in the smaller communities within cantons. This finding may have serious implications for advocates of Internet voting -- which, it has long been argued, would make voting easier and therefore increase turnout. But the Swiss model indicates that the exact opposite might hold true.

Why is this the case? Why on earth would fewer people vote when the cost of doing so is lowered?

It goes back to the incentives behind voting. If a given citizen doesn't stand a chance of having her vote affect the outcome, why does she bother? In Switzerland, as in the U.S., "there exists a fairly strong social norm that a good citizen should go to the polls," Funk writes. "As long as poll-voting was the only option, there was an incentive (or pressure) to go to the polls only to be seen handing in the vote. The motivation could be hope for social esteem, benefits from being perceived as a cooperator or just the avoidance of informal sanctions. Since in small communities, people know each other better and gossip about who fulfills civic duties and who doesn't, the benefits of norm adherence were particularly high in this type of community."

In other words, we do vote out of self-interest -- a conclusion that will satisfy economists -- but not necessarily the same self-interest as indicated by our actual ballot choice. For all the talk of how people "vote their pocketbooks," the Swiss study suggests that we may be driven to vote less by a financial incentive than a social one. It may be that the most valuable payoff of voting is simply being seen at the polling place by your friends or co-workers.

Unless, of course, you happen to be an economist.

THE WAY WE LIVE NOW: 11-06-05: FREAKONOMICS Stephen J. Dubner and Steven D. Levitt are the authors of "Freakonomics: A Rogue Economist Explores the Hidden Side of Everything." More information on the academic research behind this column is at www.freakonomics.com.