Bárbara Wong,
Leio o seu artigo, quem tem medo das mulheres?, e penso: talvez Bárbara Wong tenha explicação para um paradoxo, penso que seja um paradoxo, que pode ter uma tremenda influência na geopolítica mundial, tão periclitante neste momento, e para a qual o poder do voto das mulheres norte-americanas parece poder continuar a ser decisivo nas eleições de 8 de Novembro.
Segundo notícias de anteontem, Trump foi condenado a pagar 83 milhões de dólares a E. Jean Carroll por difamação - Jury orders Trump to pay E. Jean Carroll more than $83 million for defaming her.
Se vai pagar ou não, veremos.
De qualquer modo está em causa muito dinheiro, mesmo para Trump.
Os escritórios de advogados nos EUA, em casos como este, trabalham à comissão como os agentes imobiliários: se são bem sucedidos pagam-se milionariamente; se não, não recebem, mas batem-se pelo resultado esgotando todas as hipóteses de sucesso que cada caso promete. Se o caso não promete, não aceitam, neste caso aceitaram.
Pelo andar da carruagem, percebe-se que Trump continua, em cada dia que passa, a aumentar as suas possibilidades de voltar a ser eleito e ocupar a Casa Branca, pelo menos, entre 2025 e 2029.
Quem vota em Trump?
Hillary Clinton considerou "deplorables" metade dos apoiantes de Trump, sexista, misógino, racista, Pressionada pelo ambiente politicamente correcto, pouco depois, Hillary retratou-se. Mas, se não era metade, os votos dos "deplorables", foram decisivos para a vitória de Trump em 2016, ainda que Clinton tenha obtido a maioria dos votos mas perdido no Colégio Eleitoral.
Quem apoiou maioritariamente Trump nas eleições de 2016, os homens ou as mulheres.
Resposta inequívoca: as mulheres.
Durante o seu mandato, Trump não só confirmou os comportamentos reprováveis que Hillary Clinton tinha apontado, e só perdeu por ter falado verdade, como acumulou outros, nomeadamente o apoio à insurreição que levou à ocupação do Capitólio, vista em todo o mundo, e à ameaça física a congressistas e senadores reunidos no Colégio Eleitoral para aprovarem os resultados das eleições que tinham elegido Biden.
Trump será, muito provavelmente, eleito em 8 de novembro.
Quem decisivamente apoiará Trump? Os evangélicos.
Mas os evangélicos não serão maioritariamente homens. Admitamos que também não serão maioritariamente mulheres. Admitamos que não sabemos.
O que sabemos é que, segundo as sondagens, o voto das mulheres norte-americanas, evangélicas ou não, em Trump continuará a ser maioritariamente decisivo.
Porquê?
Eu não sei. A Bárbara sabe?
Num almoço de casais amigos, o tema veio à conversa.
- O voto feminino é maioritário porque na população norte-americana, à semelhança do que acontece na generalidade dos países, a população feminina é maioritária; logo o voto reflecte essa maioria. Para mim é essa a explicação.
- Então, se essa explicação for válida, a misoginia não é factor que reequilibre no voto a minoria dos homens na população total. A misoginia não apoquenta a generalidade das mulheres norte-americanas. É isso? A misoginia não é um factor diferenciador decisivo no voto.
- É o que eu penso. Aliás, confirma a votação maioritariamente feminina em Trump no confronto com a primeira mulher candidata ao lugar, Hillary Clinton.
- Pois eu penso que a resposta tem de ser procurada em Freud.
- ?
- Há um comportamento freudiano que explica o voto das mulheres num misógino repetidamente assumido.
- ?
- Se não se percebe a minha explicação, explico melhor, e que ninguém se escandalize ...
- ?
- Trump é tudo isso o que dizem dele, que ele não se exime de confirmar, mas indiscutivelmente Trump é um macho soberbo ... Hei!, hei!, ainda não terminei ... posso terminar, por favor? ... dizia eu que Trump é um macho soberbo, e é, alto. forte, louro, determinado, agressivo, ... enfim, é um touro. E, ainda que eu possa escandalizar as senhoras presentes, não sendo essa a minha intenção, mas a impertinente pergunta que me ocorreu, quantas mulheres norte-americanas não têm em noites de insónia ou sonos excessivos, pensamentos libidinosos com um matulão daqueles ao lado, também certamente, em cima ou em baixo?
- Rafael! Não te estou a conhecer. Estamos casados há cinquenta anos, pensava que te conhecia, afinal não te conheço. A tua observação é simplesmente ... simplesmente ...mete-me nojo! Pensas que as mulheres norte-americanas são estúpidas?
- Não disse nada disso, nem falei de todas as mulheres ... apenas admiti no meu raciocínio que algumas mulheres, não sei quantas, mas certamente muitas, votam em Trump porque ele é fisicamente atraente de modo a subvalorizar a sua brutalidade. Ficaria muito satisfeito se houvesse explicação menos desfavorável para as senhoras, em geral.
- São masoquistas?
- Se for o caso, pior ainda. No entanto, convém recordar que o movimento Me Too acerca do abuso sexual ou do assédio sexual nos locais de trabalho atingiu a maior notoriedade em 2017 em consequência de relatórios de abuso sexual do produtor de filmes norte americano Harvey Weinstein. A torrente de denúncias que se seguiu envolveu figuras públicas que, até esse momento, tinham permanecido caladas, parecia não ter fim. No entanto, que efeito teve esse movimento de denúncia e repulsa na solidariedade feminina norte-americana com Trump?
- As mulheres viveram subjugadas ao poder masculino durante milénios.
- E essa realidade incontestável justifica uma politicamente relevante para os EUA, mas não só, adoração feminina por Trump?
- Cala-te Rafael!
- Calo, mas não é por me calar que as razões dessa adoração, podem chamar-lhe outra coisa, quaisquer que elas sejam, vão deixar de subsistir.
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