No dia 11 de Janeiro de 1890, o governo britânico da Rainha Vitória, chefiado pelo seu primeiro-ministro Lord Salisbury entregou um "memorando" que exigia a Portugal a retirada das suas forças militares do território entre Angola e Moçambique, uma zona (Mapa cor-de-rosa) que Portugal havia reclamado como sua na Conferência de Berlim (de novembro de 1884 a 26 de fevereiro de 1885), invocando a facilitação do intercâmbio comercial entre as duas colónias. A Conferência de Berlim destinara-se a regular o Direito Internacional Colonial. Cinco anos depois, apesar de todos os participantes na Conferência de Berlim terem dado o seu acordo ao projecto apresentado por Portugal, a Inglaterra, subvertendo o acordo de 1386 no Tratado de Windsor, entre os dois países, ameaçava no ultimato declarar guerra a Portugal se a proposta portuguesa apresentada na Conferência não fosse retirada. Portugal cedeu e retirou a proposta, seguramente por inferioridade de capacidade militar.
A cedência de Portugal ao ultimato britânico foi vista como uma humilhação nacional pelos republicanos e a mais escandalosa e infame acção britânica contra o seu antigo aliado.
Em resposta ao ultimato nasceu uma canção de protesto patriótico, A Portuguesa, composta em 1890, com letra de Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, uma marcha que, na segunda estrofe, apelava às armas! às armas! pela Pátria lutar, contra os canhões marchar! marchar! (carne para canhão marchar!marchar!)
O apelo inicial seria contra os bretões, o que faria todo o sentido se houvesse com quê; mudou para a ordem mais absurda de suicídio colectivo para marchar contra os canhões!
No dia 2 de abril de 1903 entrava no Tejo o iate Victoria and Albert, trazendo o abordo o rei de Inglaterra Eduardo VII. Subiu a bordo para receber o monarca britânico o seu primo, o rei Carlos de Portugal. Quando subiu ao trono Eduardo já era sexagenário, a mãe Vitória durara que se fartara; o primo Carlos, vinte e um anos mais novo que o Eduardo, já era o rei há um ano quando Portugal fora obrigado a ceder ao ultimato do reino do Eduardo, ainda este reinava mas como libertino.
Um dia deu ao Eduardo a vontade de ganhar alguma experiência nas forças armadas e integrou manobras militares na Irlanda, durante as quais passou três noites com uma conhecida actriz irlandesa, que tinha sido introduzida no campo de manobras por oficiais seus amigos. O escândalo deu que falar, Vitória ficou furiosa e o marido, o Príncipe Alberto, foi dar uma reprimenda ao filho, morrendo duas semanas depois, em dezembro de 1961. Ficou Vitória viúva durante quarenta anos, inconsolável nunca deixou as roupas de luto, acusou Eduardo da morte do pai. Considerou-o, com desgosto, frívolo, indiscreto e irresponsável. Escreveu para a filha mais velha:
"Eu nunca posso, ou devo, olhar para ele sem estremecer"
O Parque da Liberdade já era naquela época o maior parque de Lisboa.
Foi rebaptizado em 1903 como Parque Eduardo VII. em honra de Eduardo VII do Reino Unido, que havia visitado Lisboa no ano anterior para reafirmar a aliança entre os dois países.
Dom Carlos foi morto em 1908.
A República foi proclamada dois anos depois.
O Parque Eduardo VII continua o Parque Eduardo VII; o Parque da Liberdade sumiu-se para sempre.
Da marcha "A Portuguesa" fez a República hino nacional, contra os canhões marchar!, marchar!, ouvido sobretudo nos estádios, cantado pelas selecções nacionais, talvez ignorando o sentido do que estão a cantar.
Em conclusão: como (quase) sempre, neste país, das revoluções resulta pouco mais que a mudança de nomes.
A ponte ciclopedonal do Trancão aguarda rebaptismo.
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