Saturday, December 25, 2021

O NATAL, HOJE

A Comissária Europeia para a Igualdade provocou alarido por, além do mais, propor que se passe a designar a quadra natalícia, o Natal, por uma expressão mais englobante da diversidade de religiões que coexistem na União. Mas já recuou e propõe-se rever os termos da proposta : EU advice on inclusive language withdrawn after rightwing outcry Guidelines promoted use of ‘holiday season’ instead of Christmas.

"Deportado o Natal da escrita oficial, reescreve-se a história, banindo porventura as grandes representações inspiradas por esse nome agora proscrito, e condenando ao esquecimento, senão a fogueira póstuma, os seus autores, de Corregio a Tintoreto, de Da Vinci a Rembrandt, de Dickens a Eça e a Pessoa, de Bach a Beethoven ou a Gruber, e a tantos outros."  - aqui.

Muitas obras, muitos autores, pintores, sobretudo, inspiraram-se no poder do dinheiro e de problemas de consciência dos seus patrocinadores. Sem as encomendas desses patronos, provavelmente, a sua inspiração ter-se-ia voltado para outros temas - Da Vinci pintou, p.e.,  Madona e o Menino, mas a sua obra máxima, Gioconda, é uma figura que permanece enigmática, não é de exaltação religiosa.

O Réquiem, de Mozart e muitas obras musicais de grande inspiração espiritual resultaram de encomendas de gente com as arcas a abarrotar de ouro e de problemas de consciência.

Quanto a catedrais, abundam os exemplos magnânimos de cumprimento de promessas. O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, mais conhecido por Mosteiro da Batalha, pretendeu ser um tributo pago a Nossa Senhora por ter alinhado pelo lado dos portugueses. Aliás, o rei D, João I cumpriu a promessa mas tinha-se comprometido com Nuno Álvares Pereira a pagar-lhe competitivamente ... se não ele ter-se-ia passado para o lado contrário.

E hoje? 

O presépio foi substituído pelos abetos de plástico feitos na China, - a propósito, onde  se inspiram os chineses, na criação da tralha com que se trocam prendas natalícias, senão no dinheiro? -  O  Menino Jesus da minha infância é hoje um figurante icónico imaginado pelo marketing da Coca Cola nos anos 30, salvo erro, do século passado. 

Novas "religiões" crescem e multiplicam-se imparavelmente. Por esportularem uma parte significativa dos seus salários pretendem também os seus fiéis comprar a reserva de lugares nos céus. Mas, se na origem de muitas guerras, estão fundamentalismos religiosos, - e a participação das abraâmicas é muito evidente -, não podemos desconsiderar a contínua complicação do mosaico religioso nas sociedades contemporâneas.

Nos EUA, para evitar conflitos religiosos, há muito que foi estabelecido considerarem "Férias de Inverno - Winter Break - este período "natalício".

A União Europeia não pode manter-se unida se não expurgar dos seus documentos oficiais todos os termos que sustentem fundamentalismos que possam quebrar o mosaico que, quer queiramos quer não, já existe, e vai continuar a existir. 

Shalom!

Bom Natal!

Bom Ano Novo!

 

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