O Parlamento aprovou, na generalidade, o projecto de lei do PS que visa conferir "maior transparência e independência" às ordens profissionais. - aqui
As Ordens Profissionais ou são de índole essencialmente corporativa (tendem a limitar a entrada de novos membros, sendo o caso mais evidente desta prática obstrutiva observado na Ordem dos Advogados), ou corporativa e sindical (p.e, Ordem dos Médicos), normativa (p.e, Ordem dos Engenheiros) ou de casa aberta (entra quem quer entrar e pagar quota). A Ordem dos Economistas é um exemplo acabado de uma Ordem Profissional de casa aberta.
Concorrem a uma eleição próxima duas candidaturas a Bastonário da Ordem dos Economistas. Distinguem-se nos argumentos dos apoiantes de uma e outra no enquadramento político de cada um dos candidatos: um foi nomeados pelo governo de Passos Coelho para presidente da AICEP, o outro foi ministro dos Transportes no governo de José Sócrates. Não há nenhuma motivação corporativa de restrição de entrada de novos membros nem nenhuma motivação de reivindicação sindical. Navega-se num mar bonançoso onde os membros se reúnem em Congressos para, fundamentalmente, confraternizarem e provarem que a Ordem existe.
O que é um economista?
Pereira
de Moura, afirmava em 1964 (Lições de Economia, Clássica Editora, pg.
6), que para esta pergunta, não haverá, talvez, melhor resposta que
uma, aliás tradicional: a Economia é aquilo que fazem os economistas.
Tem pelo menos o mérito de de resistir a todas as críticas (expostas)"
... O que obriga é ter alguma ideia do que os economistas efectivamente
fazem." .
Obs. - Pereira de Moura parece, neste caso, deduzir por equivalência semântica que se um médico pratica medicina e um advogado pratica advocacia um economista pratica (estuda, investiga, analisa) economia.
A seguir vêm alguns exemplos das actividades dos economistas indicados por Pereira de Moura, todos incidindo sobre análise/investigação na área económica/financeira.
Tanto
quanto julgo saber, a inscrição na Ordem dos Economistas requer prova
mínima de sub graduação (licenciatura, agora de três anos) numa das
escolas licenciadas.
Um licenciado em economia (ou gestão
de empresas), recente ou veterano, que exerce um cargo, ou realiza
um trabalho que pode ser realizado sem qualquer restrição legal ou
insuficiência de conhecimentos, com habilitações em outras escolas
(engenharia, direito, medicina, letras, arquitectura, enfermagem, etc.) é
um economista?
Um licenciado em história é, só por isso, um historiador?
Um licenciado em física é, só por isso, um físico?
Um licenciado em matemática, é, só por isso, um matemático?
Um licenciado em geografia, é, só por isso, um geógrafo?
Ser economista é ser detentor de um título como, por exemplo, o major Valentim Loureiro, major para toda a vida?
Dos
dois candidatos ao lugar de bastonário qual deles é economista, no
sentido de que realiza funções que requerem habilitações específicas
para o exercício da função economista, inconfundível com outras funções?
Um foi (ou ainda é) director de um banco. Grande, à
medida das nacionais grandezas. E presidente da AICEP. Directores de
bancos não licenciados em economia, finanças, gestão de empresas, há
muitos ... e bons. Da AICEP, foi presidente o actual presidente da
Câmara Municipal de Sintra, jurista e político, segundo a Wikipédia.
O
outro é um académico, licenciado e doutorado no ISEG. Foi Ministro, mas
para o exercício de cargos ministeriais qualquer habilitação serve,
salvo (sem se saber porquê) se for Ministro da Justiça.
A Ordem dos Economistas é tão aberta, que um candidato a bastonário
pode ser admitido hoje na Ordem e eleito amanhã bastonário dos economistas, sem
nunca ter realizado funções que qualquer outro profissional, com as mais
diversas qualificações académicas, não possa realizar ou ter realizado.
Em conclusão: estas eleições, se não estou mal da vista,
é uma disputa entre a esquerda e a direita, o que, só por si, demonstra
a isenção científica de qualquer dos candidatos.
O português é um nostálgico da monarquia por mais republicano que
se convença ser. Gosta de títulos, e a República não acabou com essa
congénita necessidade de ter ou reconhecer títulos.
AC,
era presidente de uma empresa industrial, provavelmente a maior, medida
pelo VAB, e um dia foi convocado para uma reunião pelo Ministro do
Planeamento da altura.
A conversa discorria amavelmente, mas algo começou a fazer mexer AC na cadeira em que estava sentado.
O ministro tratava-o por senhor engenheiro isto, senhor engenheiro aquilo, senhor engenheiro ... senhor engenheiro ...
AC, quando o ministro deu uma oportunidade a AC para falar, AC disse-lhe: senhor ministro eu não sou engenheiro ...
Não
é engenheiro? perguntou o ministro, que era engenheiro, estupefacto
perante o insólito, para ele, ministro, do presidente da maior empresa
industrial não ser engenheiro. Não é engenheiro? Então o que é que o
senhor é?
AC, um veterano licenciado pelo ISCEF nos anos 50,
respondeu: O que sou, senhor ministro? Não sei, mas sei o que gostava de ser. Gostava de ser Conde.
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