É incontroverso que o
futebol, enquanto fenómeno de excepcional excitação popular, é, de longe, muito
mais mobilizador das apetências dos portugueses que os problemas da governação,
central ou local, do país.
Desta concorrência resulta,
necessariamente, o decréscimo da participação eleitoral se houver eleições em
dias de jogos. Será esse decréscimo relevante para os resultados finais?
Parece que não.
Muitos
correlacionam democracia com participação eleitoral e, inversamente, menos
democracia com aumento de abstenção eleitoral.
Sabemos que não é
assim.
As participações
eleitorais mais elevadas observam-se geralmente em regimes não
democráticos ou de menoridade democrática. Por outro lado, em democracias
maduras, a abstenção é geralmente elevada, aproximando-se não raramente dos 50%.
O
voto é um direito não é uma obrigação. A abstenção é, implicitamente, um
direito, o direito de não votar, e não uma falha cívica.
A
imposição de voto, legal ou dissimulada, é uma afronta aos direitos dos
cidadãos.
Se
um cidadão prefere ausentar-se da sua área de residência, onde é suposto poder
(não, dever) votar, para assistir a um jogo de futebol, ou outra actividade
qualquer, ninguém pode negar-lhe esse direito ou sequer recriminar a sua
abstenção eleitoral.
Inversamente, a
participação forçada, por qualquer meio, ainda que subtil, constitui uma
denegação desse direito.
Ocorre-me, a este
propósito, o transporte de pessoas debilitadas para as assembleias de voto,
transformadas em eleitores geralmente inconscientes do sentido do voto que
previamente lhes indicaram.
Nos EUA e no Reino
Unido as eleições são realizadas em dias de trabalho e não existem incentivos
(dispensa de trabalho, p.e.) para votar.**
Vota
quem quer votar, quem está (ou pensa que está) consciente das consequências do
seu voto. A abstenção é geralmente elevada mas não é assunto que classifique o
nível democrático.
Tem o nível de
abstenção influência nos resultados finais?
Em
democracias maduras, não.
É
facilmente demonstrável que, estatisticamente, uma amostra de 50% é mais do
que suficientemente representativa do conjunto total de eleitores.
Se todos votassem os
resultados corresponderiam ao padrão votante.
É verdade que por um
voto se ganha e por um voto se perde, a democracia determinada pelo voto
popular não é um sistema perfeito mas, como dizia o outro, é o pior regime com
excepção de todos os outros.
Resumindo:
O futebol (como a missa ...) influencia a participação eleitoral? Sim.
Daí
resulta um enviesamento da genuinidade dos resultados? Não.
Salvo melhor opinião.
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* Comentário colocado aqui
** Ressalva-se a possibilidade de os eleitores norte-americanos depositarem o seu voto antes do dia das eleições.
** Ressalva-se a possibilidade de os eleitores norte-americanos depositarem o seu voto antes do dia das eleições.
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