O Prof. Louçã afirmou, em entrevista publicada aqui, que o plano de negócios da Caixa Geral de Depósitos é errado. E, do meu ponto de vista, é. Mas por algumas razões diferentes das apresentadas por Louçã.
Do que conheço das suas linhas gerais, por terem vindo a público algumas apreciações críticas do documento, o plano de negócios elaborado pelo sr. António Domingues e a sua equipa conforma-se com as exigências do BCE, como condição sine qua non para a recapitalização da Caixa, em grande parte com dinheiros públicos, não ser considerada ajuda do Estado e, portanto, não agravar o défice das contas públicas. E as exigências do BCE impõem que a Caixa seja governada segundo critérios idênticos aos que estão subjacentes à banca privada. Com uma condição espúria: a suposta independência concedida à administração da Caixa sobreleva qualquer outra dominante em bancos de capitais privados, coibindo o governo em funções, enquanto representante do accionista, o Estado, entidade onde convergem os interesses e responsabilidades de todos os portugueses, de decidir em qualquer matéria que restrinja a capacidade pretensamente quase ilimitada da administração proceder como entender. Comentei aqui esta vertente do documento.
Critica Louçã que a seguradora Fidelidade tenha sido vendida (foram as perdas da Caixa que obrigaram esta e outras alienações de activos) e a Caixa amputada de um sector primordial como complemento da actividade bancária. A questão é, no mínimo, discutível e, de momento, inoportuna.
Defende Louçã que a Caixa não deverá reduzir a sua rede balcões, e, se as actividades em Espanha foram um desastre, há balcões no estrangeiro junto de comunidades emigrantes que justificam a presença da Caixa junto dessas comunidades.
O acidente espanhol, sem que o condutor tenha sido julgado e condenado, mas transferido e promovido, deveu-se a arriscados créditos concedidos que se revelaram incobráveis. Se a Portugal faltam recursos financeiros parece absurdo que a Caixa exporte fundos que deveriam promover o crescimento em Portugal. Se a intenção é a canalização das poupanças dos emigrantes para Portugal, a forma mais eficaz é a recuperação da confiança perdida pelo sistema financeiro, tendo a Caixa enormes culpas no cartório. E não é visível, nem Louçã demonstra o contrário, que a Caixa possa sair do atoleiro onde a meteram sem reduzir custos, o mesmo é dizer, sem dispensar os meios excessivos.
Mas é sobretudo a missão da Caixa, que Louçã não aborda nesta entrevista, que deveria merecer um debate avaliador do nível de consenso possível sobre o que se espera de um banco público, administrado como banco privado, que justifique a sua razão de existir. Do ponto de vista de Louçã, a propriedade pública sustenta-se em princípios ideológicos que sobrelevam quaisquer outros, tão inamovíveis quanto os sacrossantos direitos da propriedade privada defendidos pelos ultra liberais. Qualquer discussão balizada por cerradas barreiras ideológicas é inútil.
Louçã poderia, por exemplo, defender que a Caixa, como banco público, fosse exemplar no repúdio de actividades especulativas, as eufemisticamente designadas operações de intermediação em fundos de investimento, ou transacções com offshores. Há muito tempo já, anotei neste caderno de apontamentos a necessidade de criar "bancos verdes", não poluídos, nem susceptíveis de virem a ser, de activos tóxicos; e que só esses poderiam contar, em última instância, do respaldo dos contribuintes.
Poderia, mas nisso cairia em contradição com as suas convicções ideológicas, um chapéu de abas mais largas que as da teoria económica em que Louçã é catedrático.
Critica Louçã que a seguradora Fidelidade tenha sido vendida (foram as perdas da Caixa que obrigaram esta e outras alienações de activos) e a Caixa amputada de um sector primordial como complemento da actividade bancária. A questão é, no mínimo, discutível e, de momento, inoportuna.
Defende Louçã que a Caixa não deverá reduzir a sua rede balcões, e, se as actividades em Espanha foram um desastre, há balcões no estrangeiro junto de comunidades emigrantes que justificam a presença da Caixa junto dessas comunidades.
O acidente espanhol, sem que o condutor tenha sido julgado e condenado, mas transferido e promovido, deveu-se a arriscados créditos concedidos que se revelaram incobráveis. Se a Portugal faltam recursos financeiros parece absurdo que a Caixa exporte fundos que deveriam promover o crescimento em Portugal. Se a intenção é a canalização das poupanças dos emigrantes para Portugal, a forma mais eficaz é a recuperação da confiança perdida pelo sistema financeiro, tendo a Caixa enormes culpas no cartório. E não é visível, nem Louçã demonstra o contrário, que a Caixa possa sair do atoleiro onde a meteram sem reduzir custos, o mesmo é dizer, sem dispensar os meios excessivos.
Mas é sobretudo a missão da Caixa, que Louçã não aborda nesta entrevista, que deveria merecer um debate avaliador do nível de consenso possível sobre o que se espera de um banco público, administrado como banco privado, que justifique a sua razão de existir. Do ponto de vista de Louçã, a propriedade pública sustenta-se em princípios ideológicos que sobrelevam quaisquer outros, tão inamovíveis quanto os sacrossantos direitos da propriedade privada defendidos pelos ultra liberais. Qualquer discussão balizada por cerradas barreiras ideológicas é inútil.
Louçã poderia, por exemplo, defender que a Caixa, como banco público, fosse exemplar no repúdio de actividades especulativas, as eufemisticamente designadas operações de intermediação em fundos de investimento, ou transacções com offshores. Há muito tempo já, anotei neste caderno de apontamentos a necessidade de criar "bancos verdes", não poluídos, nem susceptíveis de virem a ser, de activos tóxicos; e que só esses poderiam contar, em última instância, do respaldo dos contribuintes.
Poderia, mas nisso cairia em contradição com as suas convicções ideológicas, um chapéu de abas mais largas que as da teoria económica em que Louçã é catedrático.
4 comments:
Louçã não disse que a seguradora Fidelidade, responsável por 30% dos negócios da Caixa, foi vendida. Disse que foi dada. E foi (ou até pagou para ficar sem esses activos). Tanto que logo a seguir apareceram lucros chorudos nas contas da Fosun e prejuízos, na mesma proporção, inscritos nas contas da Caixa por conta dessa "transacção". Os pormenores desse negócio catastrófico para o contribuinte português ainda terão que ser bem esmiuçados em público. A historieta da falta de dinheiro não pega pois, como se sabe, o pouco que a Fosun entregou foi pago com dívida comprada pela própria Fidelidade.
Concordo que os pormenores do negócio deveriam ser esmiuçados.
Curiosamente, Louçã não levantou essa questão. Ou, pelo menos, não o fez durante esta entrevista.
Mas obrigado pelo seu contributo.
Rui, sobre a missão que propões para a Caixa bem como a identificação do chamas de bancos verdes estou completamente de acordo.
Mas a predominância das atividades de intermediação e especulação foi a forma que o sistema financeiro encontrou para continuar a crescer com embolso de chorudos prémios para os gestores face ao decréscimo da chamada economia real.
A Caixa terá forçosamente que redimensionar-se para cumprir essa nova missão. Aliás não só a Caixa!
Não dizias outro dia que temos bancos a mais para a economia que temos? É isso! O mercado deveria por si resolver este problema, mas aqui o mercado nunca funcionou. O tbtf continuará e o nosso dinheiro vai pagando. Enquanto o tivermos ou quisermos!
Quanto à entrevista do Louçã, como ainda não a li, não me posso pronunciar. Abrç.
Oh Luciano! Então tu concordas comigo???
Assim não vale.
Tinha-te pedido para discordares ... Assim, não tem piada nenhuma.
Abç
Post a Comment