Lendo o seu artigo "Saúde para todos", publicado anteontem no DIA D, relembrei-me dumas leituras que fiz há algum tempo (mas não tanto que as tenha tornado ultrapassadas) acerca do tema, e das quais aqui lhe deixo alguns tópicos que, porventura, lhe poderão permitir acertar algumas convicções na matéria.
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Começo por me espantar com o facto de um colaborador da Revista Atlântico parecer subscrever uma proposta de uma "grande reforma na área da saúde, no Massachusetts, baseando-se num pressuposto simples: todos os residentes naquele estado norte-americano devem possuir seguro de saúde...sendo penalizadas caso o não façam"Para um liberal (no sentido que lhe damos aqui) não será uma abdicação de princípios aplaudir que uma escolha tão importante seja imposta pelo Estado?
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Eu penso que o Sistema Nacional de Saúde em Portugal poderá funcionar melhor, mas tem algumas virtualidades. Penso que as reformas que este Ministro está a implementar (até porque por razões financeiras não pode deixar de o fazer) vão no bom sentido.·
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Será o sistema norte-americano, e mais concretamente esta proposta de Mitt Romney, uma boa alternativa? O que MR propõe é nem mais nem menos do que alargar compulsivamente o sistema norte-americano a toda a população. Pouco liberal, supunha eu.
Será o sistema norte-americano, e mais concretamente esta proposta de Mitt Romney, uma boa alternativa? O que MR propõe é nem mais nem menos do que alargar compulsivamente o sistema norte-americano a toda a população. Pouco liberal, supunha eu.
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A verdade é que os norte-americanos não estão nada satisfeitos com o modelo que têm. Ainda ontem, no programa "60 minutos", escutámos um cidadão dos EUA, a quem tinha sido diagnosticada a necessidade de fazer uma operação de by-pass múltiplo, não tendo 100 mil dólares para operação no seu país, nem seguro de saúde, foi operar-se à Tailândia por uma quinta parte daquela importância, viagem e estadia, incluídas.
A verdade é que os norte-americanos não estão nada satisfeitos com o modelo que têm. Ainda ontem, no programa "60 minutos", escutámos um cidadão dos EUA, a quem tinha sido diagnosticada a necessidade de fazer uma operação de by-pass múltiplo, não tendo 100 mil dólares para operação no seu país, nem seguro de saúde, foi operar-se à Tailândia por uma quinta parte daquela importância, viagem e estadia, incluídas.
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A literatura que se tem dedicado a esta questão é, nos EUA, muito vasta.
Alguns exemplos:
Alguns exemplos:
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- Critical Condictions: How Health Care in America Became Big Business and Bad Medicine (Donald L Barlett and James B Steel) disseca as consequências da privatização
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- Powerful Medicines: The Benefits, Risks, and Costs of Prescription Drugs
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- The Elephant at the Table (in The Power of Productivity -William Lewis - Founding Director of the Mckinsey Global Institute)
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Transcrevo alguns excertos deste último livro, publicado em 2004:
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"Health care is considered to be the most problematic sector in the US economy. It is huge..." "Our newspapers are full of stories about the inadequacies of our health care system. Many of these stories are about the plight of the 30-some million Americans without health insurance...""So if the United States is more productive in health care than Germany and the United Kingdom, why does it spend so much more?...The result has been doctors operating as thousands of small business, a large health care insurance industry, and micro-management of health care by the government and insurance companies . In the midst all this, patients (and sometimes doctors) feel a great loss of control. They are overwhelmed by the monstrosity we have built. The large care insurance industry and the government health care insurance schemes for the elderly and poor generate tons of paperwork in the reimbursement process..."
Parece, portanto, que se queremos melhorar o nosso sistema, não devemos adoptar o norte-americano. Em Portugal a parte mais bem paga da população já faz seguros de saúde. O SNS, se recorrer em muitos casos ao "outsourcing" para a prestação de cuidados primários, se compensar aqueles que recorrem a clínicas privadas com os valores (custos variáveis) que deixa de suportar, se reformular muita burocracia recorrendo ainda mais aos meios hoje disponíveis, poderá melhorar bastante e reduzir custos.
O sistema alargado norte-americano será ainda melhor para a saúde das seguradoras e das clínicas privadas. Quanto aos doentes verão agravados os sintomas actuais.
Parece, portanto, que se queremos melhorar o nosso sistema, não devemos adoptar o norte-americano. Em Portugal a parte mais bem paga da população já faz seguros de saúde. O SNS, se recorrer em muitos casos ao "outsourcing" para a prestação de cuidados primários, se compensar aqueles que recorrem a clínicas privadas com os valores (custos variáveis) que deixa de suportar, se reformular muita burocracia recorrendo ainda mais aos meios hoje disponíveis, poderá melhorar bastante e reduzir custos.
O sistema alargado norte-americano será ainda melhor para a saúde das seguradoras e das clínicas privadas. Quanto aos doentes verão agravados os sintomas actuais.
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