Friday, June 16, 2006

A PRODUTIVIDADE E A IDADE PRODUTIVA

1ª. PARTE


À pergunta:

Até que idade deve ser estendida a vida profissionalmente activa?

o Conselho dos Doze, do “Expresso”, respondeu assim:

um – Tem que se caminhar para um sistema de capitalização em que cada um recebe de acordo com o que descontou…a idade da reforma deve ser flexível,… possível a partir dos 60 anos;

outro – … nenhuma sociedade se devia permitir o desperdício da experiência - o envelhecimento como oportunidade – que também corresponde à necessidade de sustentar o sistema de protecção social – o envelhecimento como ameaça. Como em tudo na vida, deve ser feito com inteligência;

outro – É mais do que tempo para, sem reticências, começarmos a pensar que temos de trabalhar até aos 70 anos;

outro – Será que tem mesmo de haver um limite? …Admitindo que tem de haver uma regra, o limite deve ser fixado nos 75 anos;

outro – Oficial e legalmente até aos 65 anos. Na realidade até que as pessoas queiram trabalhar e encontrem trabalho;

outro – Com a actual demografia …mesmo o limite dos 67 anos acabará por ser ultrapassado, ou a breve prazo as pensões ficarão comprometidas;

outro – Até aos 70 anos, de forma gradual (eg. 1 ano por ano);

outro – A idade activa está naturalmente ligada à esperança média de vida…

outro – Há duas problemáticas antagónicas: por um lado, os ganhos de produtividade de que o país necessita só serão possíveis com a reforma, muitas vezes antecipadas, daqueles que não se actualizaram; por outro, o aumento da longevidade permite que aqueles que não se deixaram ultrapassar pelas mudanças tecnológicas e sociais possam contribuir além da actual idade da reforma;

outro – É uma questão difícil devido à necessidade de aumentar a idade da reforma provocada pelo aumento de esperança de vida;

outro – A extensão da idade activa depende das profissões e das capacidades físicas e opções individuais…O que não é possível é fixá-la por decreto;

Leio estas opiniões no Caderno de Economia, do “Expresso”, de 10 de Junho, e não resisto a confrontá-las com as transcrições, publicadas 6 dias depois, no “Público”, das Conversas Vadias, de Agostinho da Silva, nascido há 100 anos, com Adelino Gomes, para a RTP, em 1990:

“Não podemos pôr de parte a ideia de que o capitalismo domina a nossa vida. E tem que dominar, porque só uma economia capitalista pode levar a um desenvolvimento pleno do mundo e acabar a guerra contra a carência, que vem de longe”

“Um dia, chegaremos a um ponto em que toda a economia desaparecerá e que será apenas uma recordação do passado, como queriam os portugueses do sec XIII (Ilha dos Amores, segundo Luis de Camões) (…) Esses portugueses queriam que a vida se tornasse gratuita, não reclamavam apenas que a vida se tornasse mais barata do que era, mas sim que se fizesse todo o possível para que um dia fosse inteiramente gratuita”

“Continuamos, hoje, a dizer que as pessoas que têm o tempo livre e que talvez nunca mais trabalhem são “desempregados”, como se houvesse emprego para eles. Não há. E nós temos que resolver esse problema de alimentar, educar e instruir os homens com tempo livre, para que eles sejam plenamente os tais poetas à solta”

“Espero que, um dia, tudo o que é obrigatório fazer, hoje, para assegurar a campanha de produção deixe de ser necessário, porque as coisas vão melhorando de tal ordem, que será possível a cada um entrar cada vez menos nesse jogo geral da produção. E, então, cada um pode dar a sua mensagem particular ao mundo e fazer a sua obra, porque é único. Acho que chegaremos a esse tempo, porque, quando se olha para a marcha da história, as aproximações têm acontecido e estão a acontecer hoje de uma forma cada vez mais rápida”

“Eu costumo dizer que a vadiagem é uma das formas de poesia”

“O homem não nasce para trabalhar (mas sim) para criar”

“No futuro, não vai haver emprego para os meninos”


Suponho que já poucos se recordam de Agostinho da Silva, e, desses poucos, a maioria guardará uma imagem de uma personalidade extravagante que adorava gatos. Muito poucos ainda retêm alguns dos traços fortes do seu pensamento não aprisionado. Quantos ainda lêem a sua obra?

Agostinho da Silva, obrigado a exilar-se, só ganhou visibilidade em Portugal, no começo da década de 90, pouco antes da sua morte em 1996, precisamente com a sua aparição na televisão para Conversas Vadias com diversos jornalistas.

Obviamente, o fundamental do pensamento de Agostinho da Silva, não se contem naquelas transcrições, seleccionadas pelo “Público” para ilustrar um artigo intitulado “Internet e tecnologia digital aumentam mundo “gratuito” de Agostinho da Silva” e, muito provavelmente, promover a edição, em DVD, do mesmo jornal, dessas conversas. Mas não deixa de ser impressionante a visão clara de um filósofo, que cultivava o maior desprendimento acerca do lado materialista da vida, acerca de uma questão, que só não é mais perturbante porque, aparentemente, ninguém leva a sério essa visão e muito menos o optimismo da solução que Agostinho da Silva encontra: o capitalismo encaminhará a humanidade para a satisfação de todas as necessidades materiais do homem, com dispensa do trabalho de (quase) todos, voltando a humanidade a desfrutar os prazeres dos Jardins das Delícias, onde, claro está, se situam os canteiros dos Jardim dos Amores.

Se o “Expresso” incluísse Agostinho da Silva no Conselho dos Doze, no lugar de Medina Carreira, que faltou à chamada, muito provavelmente o filósofo teria respondido que a idade da reforma deveria reduzir-se à medida que aumenta a produtividade do factor trabalho. Se não, não há trabalho para os meninos…remataria ele, dando comida aos gatos.

E no entanto, nenhum dos outros onze membros, fez a mínima alusão à questão. Um, que mencionou a produtividade como um dos factores sopesantes, fê-lo por razões inversas: o aumento da produtividade requer que se reformem mais cedo aqueles que não actualizaram os seus conhecimentos e se deixaram ultrapassar pelos avanços tecnológicos ou outros; neste sentido, o sistema expulsará os menos capazes, e a reforma antecipa-se à medida que a incapacidade (por insuficiência de conhecimentos) chega. A bem da produtividade.
E assim tem acontecido em grande parte das empresas portuguesas, que reduziram os seus efectivos, geralmente com a comparticipação da Segurança Social.

Não admira, no entanto, que a questão da inevitabilidade do crescimento da produtividade implicar a redução dos activos necessários, seja omissa no pensamento da generalidade de académicos e gestores por remeter para um futuro que não sabem ou não lhes interessa prever.

Talvez por não lhes parecer que possa ser tão risonho quanto Agostinho da Silva pretendia.

Transcreve-se de “Economics – Making sense of the modern economy”, pag. 71

“Careers in cyberspace

So if IT is going to generate lots of new jobs, where will they be? Nobody really knows. Many of the posts being advertised today did not exist 20 years ago…”

Ninguém pode negar que a aumentos de produtividade no quadro produtivo global actual, corresponderão, necessariamente, reduções de activos envolvidos, independentemente das suas capacidades se adequarem ou não aos perfis de competência exigidos. As deslocalizações a que vimos assistindo, e que neste momento atingem a fábrica da GM, na Azambuja, a favor da fábrica em Saragoça, demonstram, isso mesmo.

Argumenta-se, contudo, que a economia continuará a gerar mais postos de trabalho, promovidos por desenvolvimentos tecnológicos que ninguém pode prever, do que aqueles que a concorrência global inevitavelmente extinguirá.

Um aspecto, no entanto, continua a escapar a todas as apreciações que o assunto suscita: a limitação do tempo de gozo e consumo, fixado irredutivelmente em 24 horas por dia. Para toda a gente.
Como compatibilizar crescimentos exponenciais com consumos, irremediavelmente, assimptóticos?
Não em toda a parte do planeta, evidentemente.

(continua)

1 comment:

Capitão Tony Ventoinha said...

Oh homem que obsessaõ essa com as universidades, caramba que ressabiamento, tem algum negócio com a Moderna? Vim aqui tentar responder ao à sua pergunta no blasfémias. Oiça lá por incrivel que pareça, eu pago parte do meu ordenado... acha isso normal? Já deve ter adivinhado, espero, sou funcionário público, com muito orgulho, e olhe não julgue todo a floresta por uma simples folha. Quanto tiver tempo, que agora estou a ver o PT IRAN lhe tentarei responder em post prório ali no CAOS. Passe bem