Um dos aspectos mais contrastantes entre Washington DC e a nossa cidade de Lisboa ( todas as nossas cidades, afinal) é, nesta época de Natal e fim-de-ano, a exuberância das iluminações das nossas principais ruas e avenidas e a discreta, quase apagada, iluminação natalícia das cidades americanas e, particularmente, da sua capital. Na principal avenida de Washington DC, a Constitution Av., não foi dependurada uma única gambiarra, a árvore de Natal em frente da Casa Branca é uma parente muito pobre daquela que levou milhares e milhares de admiradores à Baixa de Lisboa. Mesmo Nova Yorque ou San Francisco, tradicionalmente mais garridas que a institucional capital dos EUA, não se comparam, em termos relativos, com a inundação de luz nas nossas cidades. As cidades europeias mais cosmopolitas ficam a anos-luz das nossas luzes de fim de ano.
Talvez tenhamos necessidade de todas estas luzes para nos aquecer o ego tão arrefecido por tantos indicadores deprimentes, talvez os autarcas conservem, deste modo, o caloroso aplauso dos seus eleitores até às próximas eleições, talvez a economia derrapasse ainda mais sem esta baforada quente, talvez se perdessem uns empregos mais, afinal de contas entre armar e desarmar os enfeites gozamos desta atmosfera de festa por uns largos meses.
Quantos portugueses se interrogarão acerca da pertinência de tanta luminosidade? Seguramente, muito poucos. Não me recordo de ter alguma vez lido ou ouvido comentários de espanto mesmo nos media tidos geralmente como mais exigentes ou conservadores.
Alguém pagará a factura, quem vier depois que feche a luz!, é a posição corrente.
E, no entanto, a economia portuguesa vai, previsivelmente, crescer no próximo ano a um ritmo que será o mais baixo de todos os países da OCDE e da EU alargada. A nossa dependência energética é, por outro lado, das mais elevadas das nações que integram aqueles conjuntos, os custos da energia em Portugal são dos mais elevados provocando rombos significativos na competitividade das nossas empresas, a produtividade dos nossos consumos energéticos é baixíssima, os nossos desperdícios energéticos são alarmantes. Mas ninguém se alarma, quantos portugueses saberão isto?
Quantos terão alguma percepção do que é que está em jogo na guerra no Médio Oriente, quantos é que já se interrogaram acerca das consequências de uma retirada americana do Iraque? Para a maior parte os americanos deveriam sair já e a passo acelerado.
E, no entanto, para além de tudo o que se queira acrescentar, há uma realidade que é incontornável e da qual os portugueses, fortemente dependentes da importação de energia e de produtos energéticos deveríamos estar conscientes: cerca dois terços das reservas petrolíferas disponíveis conhecidas em todo o mundo, situam-se naquela parte do globo. Enquanto não forem descobertas fontes alternativas economicamente viáveis, o petróleo é insubstituível e qualquer redução significativa e perdurável dos níveis de abastecimento actuais provocaria uma devastação global dificilmente calculável mas seguramente arrasadora.
Os mais descontraídos deveriam pensar no lago de combustível que abastece as suas viaturas e em quem está a tomar conta dele. O petróleo, enquanto for insubstituível, é tão crítico como o ar e a água nas sociedades altamente complexas em que vivemos. Dispensam-no facilmente as sociedades primitivas ou auto suficientes, não podem viver sem eles os que habitam as cidades dos países desenvolvidos mas, por isso mesmo, petróleo-dependentes. Felizmente para todos, enquanto não o espatifarmos mais, o ar está ainda globalmente disponível e os recursos hídricos, apesar das enormes carências em muitos pontos do planeta, não apresentam a concentração geográfica que caracterizam as reservas de petróleo.
Os EUA não fogem à regra: também eles, apesar dos seus recursos próprios, são inevitavelmente dependentes das reservas petrolíferas do Médio Oriente, os seus poços não lhe garantem já sequer cinquenta por cento das suas necessidades. Há quem pense nos americanos desbaratando energia desalmadamente nas suas banheiras rolantes, mas esse é um filme que foi rodado há muitos anos atrás.
A presença dos americanos no Médio Oriente não foi determinada por George W. Bush, Dick Cheney, Rumsfeld & Cª., por muito antipáticos que estes senhores se apresentam aos olhos do mundo. Pelo menos desde Jimmy Carter, que os EUA definiram as situações de intervenção naquela zona do globo, conhecidas por Doutrina Carter. E não creio que retirem de lá, qualquer que seja a Administração do Executivo, enquanto o petróleo não for substituído.
Se retirassem do Iraque o resto da Região cairia como peças de dominó nas mãos de quem há muito tenta pôr a mão na torneira e, incendiar-se-ia em chamas provavelmente incontroláveis. Ignorar que a Al-Qaeda é, de longe, mais popular entre a população local do que os americanos, é ignorar as linhas por onde se entretecem os interesses vitais das economias mais desenvolvidas.
Que se repudiem muitas atitudes da actual Administração Americana é muito compreensível. Mas se os militares americanos retirarem do Iraque poderemos continuar a iluminar-nos tanto e coalhar de carros a Baixa para ver a tal árvore monumental?
Talvez tenhamos necessidade de todas estas luzes para nos aquecer o ego tão arrefecido por tantos indicadores deprimentes, talvez os autarcas conservem, deste modo, o caloroso aplauso dos seus eleitores até às próximas eleições, talvez a economia derrapasse ainda mais sem esta baforada quente, talvez se perdessem uns empregos mais, afinal de contas entre armar e desarmar os enfeites gozamos desta atmosfera de festa por uns largos meses.
Quantos portugueses se interrogarão acerca da pertinência de tanta luminosidade? Seguramente, muito poucos. Não me recordo de ter alguma vez lido ou ouvido comentários de espanto mesmo nos media tidos geralmente como mais exigentes ou conservadores.
Alguém pagará a factura, quem vier depois que feche a luz!, é a posição corrente.
E, no entanto, a economia portuguesa vai, previsivelmente, crescer no próximo ano a um ritmo que será o mais baixo de todos os países da OCDE e da EU alargada. A nossa dependência energética é, por outro lado, das mais elevadas das nações que integram aqueles conjuntos, os custos da energia em Portugal são dos mais elevados provocando rombos significativos na competitividade das nossas empresas, a produtividade dos nossos consumos energéticos é baixíssima, os nossos desperdícios energéticos são alarmantes. Mas ninguém se alarma, quantos portugueses saberão isto?
Quantos terão alguma percepção do que é que está em jogo na guerra no Médio Oriente, quantos é que já se interrogaram acerca das consequências de uma retirada americana do Iraque? Para a maior parte os americanos deveriam sair já e a passo acelerado.
E, no entanto, para além de tudo o que se queira acrescentar, há uma realidade que é incontornável e da qual os portugueses, fortemente dependentes da importação de energia e de produtos energéticos deveríamos estar conscientes: cerca dois terços das reservas petrolíferas disponíveis conhecidas em todo o mundo, situam-se naquela parte do globo. Enquanto não forem descobertas fontes alternativas economicamente viáveis, o petróleo é insubstituível e qualquer redução significativa e perdurável dos níveis de abastecimento actuais provocaria uma devastação global dificilmente calculável mas seguramente arrasadora.
Os mais descontraídos deveriam pensar no lago de combustível que abastece as suas viaturas e em quem está a tomar conta dele. O petróleo, enquanto for insubstituível, é tão crítico como o ar e a água nas sociedades altamente complexas em que vivemos. Dispensam-no facilmente as sociedades primitivas ou auto suficientes, não podem viver sem eles os que habitam as cidades dos países desenvolvidos mas, por isso mesmo, petróleo-dependentes. Felizmente para todos, enquanto não o espatifarmos mais, o ar está ainda globalmente disponível e os recursos hídricos, apesar das enormes carências em muitos pontos do planeta, não apresentam a concentração geográfica que caracterizam as reservas de petróleo.
Os EUA não fogem à regra: também eles, apesar dos seus recursos próprios, são inevitavelmente dependentes das reservas petrolíferas do Médio Oriente, os seus poços não lhe garantem já sequer cinquenta por cento das suas necessidades. Há quem pense nos americanos desbaratando energia desalmadamente nas suas banheiras rolantes, mas esse é um filme que foi rodado há muitos anos atrás.
A presença dos americanos no Médio Oriente não foi determinada por George W. Bush, Dick Cheney, Rumsfeld & Cª., por muito antipáticos que estes senhores se apresentam aos olhos do mundo. Pelo menos desde Jimmy Carter, que os EUA definiram as situações de intervenção naquela zona do globo, conhecidas por Doutrina Carter. E não creio que retirem de lá, qualquer que seja a Administração do Executivo, enquanto o petróleo não for substituído.
Se retirassem do Iraque o resto da Região cairia como peças de dominó nas mãos de quem há muito tenta pôr a mão na torneira e, incendiar-se-ia em chamas provavelmente incontroláveis. Ignorar que a Al-Qaeda é, de longe, mais popular entre a população local do que os americanos, é ignorar as linhas por onde se entretecem os interesses vitais das economias mais desenvolvidas.
Que se repudiem muitas atitudes da actual Administração Americana é muito compreensível. Mas se os militares americanos retirarem do Iraque poderemos continuar a iluminar-nos tanto e coalhar de carros a Baixa para ver a tal árvore monumental?
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