Que as debilidades da educação em Portugal são um factor decisivo da perda de posições no ranking do pelotão do desenvolvimento humano, anualmente publicado pelo PNUD - Programa de Desenvolvimento Humano - das Nações Unidas, ninguém contestará, salvo se colocar em causa a fiabilidade dos relatórios da ONU.
Ouve-se, repetidamente dito, por vários quadrantes de opinião que a actual geração é a mais qualificada de sempre. Mas esquece-se que
1 - não basta continuar no pelotão se o objectivo é o crescimento económico e o desenvolvimento hunano; é forçoso manter ou melhorar o posicionamento relativo dos portugueses não só no conjunto europeu mas também no mundial. E tem sucedido o contrário.
2 - uma parte significativa da juventude mais qualificada de sempre tem emigrado.
3 - o saldo migratório será hoje, certamente, menos qualificado do que era há duas ou três décadas.
Ouve-se também repetidamente que uma das razões pelas quais fomos ultrapassados no ranking do crescimento económico - parcela importante do índice de desenvolvimento humano, IDH - por países de leste que aderiram depois de Portugal à União Europeia, foram, à sua entrada na UE, os níveis de educação desses países, superiores aos observados entre nós.
Comparando os ranking do PNUD respeitantes aos valores observados em 2000 e 2019 (ainda não se encontra disponível o relatório 2021 que publicará os dados respeitantes a 2020) observa-se que:
1 - Em 2019 Portugal ocupava o 38º. lugar do ranking do PNUD, ajustado à desigualdade (IDHAD). Em 2000 ocupava o 28º. lugar no IDH.
Comparando a evolução dos coeficientes componentes (esperança de vida à nascença, educação, rendimento nacional bruto per capita) em todos os países, observa-se que, no pelotão da UE, Portugal caiu no ranking sobretudo pelo coeficiente educação.
2 - Em 2000 apresentava um índice de educação de 0,94, influenciado negativamente pela taxa de alfabetização de adultos: 0,92.
Também em 2000 os índices de educação nos países que nos ultrapassaram nos últimos 20 anos ou progridem para nos ultrapassar, eram:
Eslovénia - 0,94
República Checa - 0,89
Hungria - 0,93
Eslováquia - 0,91
Polónia - 0,94
Estónia - 0,95
Croácia - 0,88
Lituânia - 0,93
Letónia - 0,93
Bulgária - 0,90
Roménia - 0,88
Observa-se que em 2000 Portugal comparava bem com os restantes países em análise. Apenas a Estónia com 0,95 apresentava um índice ligeiramente superior a Portugal (0,94)
Em 2019 houve alteração dos índices de educação, que passaram a comparar os anos de escolaridade esperados com a média de anos de escolaridade.
Portugal - 16,5 - 9,3 = 7,2 anos
Eslovénia - 17,6 - 12,7 = 4,9 anos
República Checa - 16,8 - 12,7 = 4,1 anos
Hungria -15,2 - 12 = 3,2 anos
Eslováquia -14,5 - 12,7 = 1,8 anos
Polónia - 16,3 - 12,5 = 3,8 anos
Estónia -16 - 13,1 = 2,9 anos
Croácia -15,2 - 11,4 = 3,8 anos
Lituânia -16,6 - 13,1 = 3,5 anos
Letónia -16,2 - 13 = 3,2 anos
Bulgária - 14,4 - 11,4 = 3 anos
Roménia - 14,3 - 11,1 = 3,2 anos
Os números falam por si.
Portugal apresentava em 2019 o pior número médio de anos de escolaridade.
Até a Roménia com 11,1 anos está bem acima de Portugal.
Este ano comemoraram-se 48 anos do 25 de Abril.
Tempo mais que suficiente para o presente não admitir a atribuição de culpas ao passado.
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3 comments:
Numa abordagem diferente, o mesmo 'dia de reflexão'.
https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2022/01/um-dos-motores-da-abstencao.html
Bom fim-de-semana.
Muito bom, caro Rui.
Coincidentemente, publiquei hoje no DN/JN/Dinheiro Vivo um artigo em que, com base nas estatísticas europeias, também se evidenciava a sucessiva perda de posições de Portugal em termos de PIB per capita. Dos países do alargamento, os que nos tinham ultrapassado mais se distanciaram e os outros foram-se aproximando. Se nada se alterar, em breve estaremos a ser rebocados pelo carro-vassoura europeu. Deixo o link, no caso de alguns dos leitores deste indispensável Blog estiver interessado
https://www.dinheirovivo.pt/opiniao/tempo-de-balanco-14537587.html
Sobre a questão se é o desenvolvimento económico que traz o desenvolvimento educacional ou se é este que traz o desenvolvimento económico, há teses diferentes. Por exemplo, António Barreto sustenta com boa argumentação a primeira hipótese. Todavia, o que se verifica é que andam irmanados.
O meu texto e o teu não poderiam evidenciar melhor a situação.
Estimado António P C.,
Há, sem dúvida, uma interdependência entre educação e crescimento económico.
Contudo, parece-me evidente que a afirmação frequentemente repetida de que a geração jovem de hoje "é a mais qualificada de sempre" é falaciosa porque o que é relevante é a posição relativa das qualificações da juventude portuguesa de hoje no contexto europeu e mundial. E a nossa não é brilhante.
Depois o argumento de que estamos a ser ultrapassados porque os que nos ultrapassam há vinte anos estavam melhor preparados que nós não parece consistente segundo os relatórios do Programa de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas (PNUD)
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