Afirma Rui Pinto aqui
1. Procurei na contestação apresentada pelos meus advogados
transmitir a este tribunal tudo o que me parecia relevante para a
descoberta da verdade em resposta à acusação de que sou objecto.
2. Estou aqui neste tribunal numa estranha situação: por um lado,
como arguido e, por outro, como testemunha protegida integrada num
programa do Estado português.
3. Como sempre disse, não me considero um hacker. Sou um denunciante ou whistleblower porque
tornei pública, em total boa-fé, muita informação de manifesto
interesse público nacional e internacional que, de outra forma, nunca
seria conhecida.
4. Fiquei surpreendido e indignado com aquilo que descobri e que entendi que devia revelar. Inicialmente através do site Football Leaks, mas também através da colaboração com órgãos de comunicação social a nível mundial.
5. O meu próprio trabalho de análise documental e auxílio directo aos
jornalistas é, na minha opinião, um trabalho que contribuiu para
reforçar a liberdade de expressão.
6. Colaborei também com várias
autoridades estrangeiras, e encontro-me a colaborar activamente com as
autoridades portuguesas, que me encorajam nesta colaboração, e espero
continuar a fazê-lo no futuro.
7. As revelações de graves
irregularidade e crimes são para mim motivo de orgulho e não de
vergonha. Vejo hoje que há importantes inquéritos criminais que foram
iniciados graças a essas revelações e confio que serão muitos mais.
8.
Constato que, nos últimos anos, os direitos nacionais, o direito
europeu e o direito internacional reconhecem, cada vez mais, a
importância da contribuição dos whistleblowers na descoberta de
várias actividades ilícitas profundamente prejudiciais para os cidadãos
e para os próprios Estados. E por, por essa razão, os whistleblowers são cada vez mais protegidos em todo o mundo.
9.
Fui objecto de uma campanha de calúnia, difamação e ameaça com o
intuito de afastar a atenção da opinião público e do sistema judiciário
das actividades criminais que revelei e que persistem. Mas não me
queixo.
10. Estive quase um ano e meio preso, com sete meses de
isolamento total, o que foi um período difícil, mas, também, um período
de grande reflexão. O meu trabalho como whistleblower está terminado.
11.
Neste momento, pretendo tão somente reafirmar que nada do que fiz foi
por dinheiro e que nunca recebei qualquer verba pelas informações que
revelei.
12. A conselho dos meus advogados, limito-me, para já, a
fazer esta declaração, reservando-me o direito de prestar declarações
posteriormente.
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