Saturday, September 05, 2020

O JOGO DA CABRA CEGA


 Afirma Rui Pinto aqui
 
1. Procurei na contestação apresentada pelos meus advogados transmitir a este tribunal tudo o que me parecia relevante para a descoberta da verdade em resposta à acusação de que sou objecto.
2. Estou aqui neste tribunal numa estranha situação: por um lado, como arguido e, por outro, como testemunha protegida integrada num programa do Estado português.
3. Como sempre disse, não me considero um hacker. Sou um denunciante ou whistleblower porque tornei pública, em total boa-fé, muita informação de manifesto interesse público nacional e internacional que, de outra forma, nunca seria conhecida. 
4. Fiquei surpreendido e indignado com aquilo que descobri e que entendi que devia revelar. Inicialmente através do site Football Leaks, mas também através da colaboração com órgãos de comunicação social a nível mundial.
5. O meu próprio trabalho de análise documental e auxílio directo aos jornalistas é, na minha opinião, um trabalho que contribuiu para reforçar a liberdade de expressão.
6. Colaborei também com várias autoridades estrangeiras, e encontro-me a colaborar activamente com as autoridades portuguesas, que me encorajam nesta colaboração, e espero continuar a fazê-lo no futuro.
7. As revelações de graves irregularidade e crimes são para mim motivo de orgulho e não de vergonha. Vejo hoje que há importantes inquéritos criminais que foram iniciados graças a essas revelações e confio que serão muitos mais. 
8. Constato que, nos últimos anos, os direitos nacionais, o direito europeu e o direito internacional reconhecem, cada vez mais, a importância da contribuição dos whistleblowers na descoberta de várias actividades ilícitas profundamente prejudiciais para os cidadãos e para os próprios Estados. E por, por essa razão, os whistleblowers são cada vez mais protegidos em todo o mundo. 
9. Fui objecto de uma campanha de calúnia, difamação e ameaça com o intuito de afastar a atenção da opinião público e do sistema judiciário das actividades criminais que revelei e que persistem. Mas não me queixo. 
10. Estive quase um ano e meio preso, com sete meses de isolamento total, o que foi um período difícil, mas, também, um período de grande reflexão. O meu trabalho como whistleblower está terminado. 
11. Neste momento, pretendo tão somente reafirmar que nada do que fiz foi por dinheiro e que nunca recebei qualquer verba pelas informações que revelei.
12. A conselho dos meus advogados, limito-me, para já, a fazer esta declaração, reservando-me o direito de prestar declarações posteriormente.

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