Monday, October 28, 2019

O TRIUNFO DA ECONOMIA DA CUECA


- Tem tenazes para apanha de nozes no chão?
- De nozes? 
- Sim, de nozes, de castanhas, que caem das árvores de quem as tem, mas já não tem idade para andar de cócoras a apanhá-las nem lombares para se debruçar.
- Hum! Hum! Já sei do que fala. Já tive, já ... mas esgotaram-se. Posso mandar vir, se quiser, mas só cá chegam daqui a uma semana, pelo menos. 
- Uma semana?
- Uma semana, pelo menos. Vêm da Holanda.
- Da Holanda? As tenazes são feitas na Holanda? 
- Não sei se são lá feitas, só sei que as mandam vir de lá. Custam cinco euros e meio, salvo erro. 
- Uma semana é muito. Entretanto, estragam-se-me as nozes no chão.
- Talvez encontre no chinês, aí em cima, nesta mesma rua.

- Tem tenazes para apanhar coisas do chão?
- Tem, tem. No andar debaixo, no segundo coledor ...ao meio.
Tinha.
- Quanto custa?
- Um euro e meio.

Como é possível produzir na China uma tenaz, transportá-la e vendê-la em Cascais ou em Castelo Branco por um euro e meio?
É fácil entender como.
O arranque da economia chinesa iniciado com a teoria do gato de Deng Xiaoping - não importa se o gato é branco ou preto, desde que cace ratos-, o comunismo chinês adoptou o gato capitalista na casa comunista, montando este sistema híbrido sobre os três pilares negativos (não há democracia, não aos direitos humanos, não há liberdade de expressão) com os quais o actual presidente vitalício Xi Jinping se propõe dominar o mundo até 2049, ano do centésimo aniversário da fundação da República Popular da China. vd. aqui.
 
Há anos, começaram a chegar ao ocidente confecções, inicialmente de contrafacção, a preços que encerraram ou deslocalizaram, o efeito é o mesmo, fábricas como no Vale do Ave. Depois o made in China, mais recentemente crismado made in RPC,  tornou-se corrente no mundo ocidental, agora já prestigiado pelas marcas de renome internacional, e alargou-se, e continua a alargar-se às mais diversas produções, tanto de mão de obra intensiva como de tecnologia altamente sofisticada. 
Para pagar as cuecas e quejandos, os brinquedos. até os pinhões no bolo-rei, vendemos ao estado chinês ou aos bilionários chineses de fresca data o domínio ou quase domínio da EDP, da REN, da Fidelidade, do Hospital da Luz, o BCP, da TAP, entre outros. 
Fomos só nós? De modo algum. O comunismo capitalista chinês está a alargar-se por todo o lado. É inevitável? É recomendável? É bom que assim seja? Há quem diga que sim.
Aceitaria quem diz que sim viver num sistema que repudia a democracia, os direitos do homem, a liberdade de expressão?

O certo é que, para já, a economia chinesa alavancada pela economia da cueca, triunfou.
Poderíamos comprar aos chineses além de cuecas e tantos outros artefactos afins, equipamentos que dinamizassem o crescimento da nossa economia, em estado letárgico?
Comboios de alta, ou mesmo média, velocidade, por exemplo.
Poderíamos mas não temos (não temos mesmo?) recursos para ir além das cuecas.

No Programa do Governo (transcrevo do Publico de 27/10) "são prioridades para a presidência portuguesa (da União Europeia) o Pacto para a Europa Verde, a Europa social, a transição digital e a relação entre a Europa e a África."
Subscrevo.
E quem vai continuar a confeccionar as cuecas? 

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