Friday, January 27, 2012

UM BANCO MEIO AFUNDADO

à espera de outro comandante.

O actual presidente do BCP está de saída e, segundo as notícias, já é conhecido o próximo. Os investidores em campo aberto deram sinal que as notícias não lhes desagradam, as cotações subiram ligeiramente e o volume de transacções deixou de se situar a níveis  de quase desconfiança total. Mas a situação crítica em que se encontra o maior banco comercial português estará agora, na melhor das hipóteses, estacionária.

A entrada de Santos Ferreira, de braço dado com Armando Vara, iniciou mais um acto pouco digno na história de um banco que começara por ser uma referência na estruturação do sistema finaceiro português depois da fase esquizofrénica das nacionalizações, optara depois por políticas de engodo, de licitude duvidosa, por uma base accionista alargada e dispersa. Sem um núcleo accionista estável, Jardim Gonçalves suportou-se em meia dúzia de amigos de conveniência, geralmente empreiteiros de obra públicas, a quem concedia crédito e deles recebia apoio para governar.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e os amigos de Jardim foram à procura de outros apoios quando Jardim saiu e a crise nas obras públicas se anunciava. Sócrates recebeu-os de braços abertos e recomendou-lhes um amigo do peito (Vara) e outro amigo também. Até que a crise falou mais alto, os amigos empresários não pagaram o que deviam (aliás não era suposto que o fizessem, mas enrolassem) e as cotações aproximaram-se da nulidade. A Sonangol, que entretanto havia adquidido uma posição qualificada, deve ter aproveitado com a debandada da passarada assustada.   

Conseguirá o novo presidente desencalhar o barco e colocá-lo a navegar? A bordo continuam aqueles, accionistas/devedores, responsáveis em grande medida pelas avarias. Para governar, Nuno Amado conta com o apoio dos angolanos e, provavelmente, com a entrada de fundos públicos de reforço dos capitais próprios.

E era aqui que eu queria chegar: estando a economia em estado lamentável, a banca começa agora a sentir os efeitos dos abusos que cometeu. E quem paga? Também eu. A entrada de fundos intermediados e avalizados pelo Estado deveria exigir aos bancos intervencionados medidas de emagrecimento mas não ouço ninguém reclamar isso. Quando meio mundo é obrigado a apertar o cinto a outra metade continua com ele desapertado.

Eu não conto voltar a colocar um cêntimo que seja das minhas poupanças no BCP por maior que seja o engenho do senhor Nuno Amado. Não vou, portanto, voltar a contribuir, nem como accionista nem como cliente.

Já só espero apenas que o engenho do senhor Nuno Amado não venha a procurar-me como contribuinte.  

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