Trump disse a quem o quis ouvir e lhe deu ouvidos, que era amigo de Putin e Putin nunca escondeu que era amigo de Trump.
E que fizesse Putin o que quisesse na Europa porque, logo que voltasse à presidência dos EUA, não haveria mais auxílio norte-americano aos europeus.
Em resumo: os europeus que se desenrascassem, os EUA não cumpririam os compromissos assumidos no âmbito da NATO (North Atlantic Treaty Organization) e, nomeadamente o artigo 5º., a pedra angular da Aliança Atlântica: O ataque a um dos seus membros seria considerado um ataque a todos. Este artigo foi invocado apenas uma vez durante os 70 anos da história da Aliança na sequência dos ataques terroristas aos EUA a 11 de Setembro de 2011.
Uns acreditaram, outros não acreditaram, outros ainda, talvez a esmagadora maioria, não quis acreditar que Trump despreza tudo o que possa contrariar a sua ambição para impor a sua vontade sustentado na manipulação e na desobediência a qualquer código de honra.
Chegou agora a hora da Europa tribal sofrer um murro no estômago e sentir-se a cair desamparada.
Pior que desamparada, desprezada.
A intervenção de Vance, vice-presidente dos EUA, não podia ser mais arrasadora: A Europa que se quer democrática não tem como inimigos a Rússia nem a China porque o maior inimigo da Europa é própria Europa, agarrada a valores que deixaram de valer.
E, se as declarações de Vance foram chocantes (O
“choque eléctrico” americano deixou a Europa e a Ucrânia em modo de
emergência ) - Público - 16/02/2025) é lúcido reconhecer que a Europa enquanto realidade política é irrelevante num contexto geopolítico dominado pela maré autocrática que se alastra por todo o planeta.
Sem uma força comum de defesa, na ausência do pilar (a NATO) a que se encostou depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa ficou sem músculo, sem uma representação conjunta externa cada tribo pôs-se a palrar o que e para o lado que unilateralmente lhe convinha.
Quem representa a Europa e, nomeadamente a União Europeia, depois dos bretões, convencidos da sua autossuficiência económica e supremacia militar e financeira, terem brexitado?
O Presidente do Conselho Europeu?
A Presidente da Comissão Europeia?
Não há presidente se não há reconhecida bastante competência delegada por aqueles a que preside.
Perante o "choque eléctrico", Macron pôs-se em bicos de pés (poderia ter dito ao Presidente do Conselho Europeu que o fizesse), e convocou reunião informal de emergência para hoje discutir as questões da segurança na Europa. Vão lá estar representantes dos principais países membros da União Europeia, do Reino Unido, o actual secretário-geral da NATO e, vá lá, ainda o Presidenta do Conselho Europeu e a Presidente da Comissão Europeia.
O que sairá de lá?
Não sabemos.
Zelenzky também estará e sabe que a Europa precisa de um exército europeu.
Trump (e a sua trupe) sabe bem como se dividem as tribos e pergunta: digam lá, europeus, quantos homens destaca cada um de vós para defender as fronteiras da Ucrânia?
Quantos húngaros?
Quantos eslovacos?
Quantos checos?
E, já agora, quantos franceses?
Quantos portugueses?
E ainda, quanto estão dispostos a pagar para as despesas de segurança militar?
É duro para um europeu ouvir isto.
Porque é mais uma provocação de Trump e Companhia: Se os EUA vão sair da carroça (NATO) por que perguntam quem e por quanto vai continuar nela?
Será para informar Putin?
É desnecessário. Viktor Órban não se esquecerá de o fazer.
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