A guerra será ganha pela Rússia se, como nesta altura tudo leva a crer que sim, os EUA e a UE traírem os ucranianos.
Uma
traição em vias de gestação.
Nos EUA, Biden não conseguirá fazer passar
no Congresso o apoio militar que os ucranianos precisam e que lhes foi
prometido. A União Europeia não tem poder militar para, sem os EUA,
fazer decidir a guerra a favor das pretensões ucranianas de recuperar a
parte do seu território ocupado pelos russos. E nós, os europeus, que
afirmámos e continuamos a reafirmar continuar ao lado dos ucranianos,
estamos titubeantes porque a guerra exige sacrifícios que não queremos suportar.
Isto, se não é uma traição, é uma enormíssima vergonha.
Há 100 anos germinavam na Europa as sementes de uma guerra, sementes caídas de outra guerra terminada meia dúzia de anos antes, que abalou toda a humanidade, desencadeada por um louco que mobilizou e arrastou atrás de si um povo culturalmente adulto amarrado ao medo de dizer não ao ditador.
Valeu
à Europa, naquela emergência, a coragem inabalável de Churchill e dos povos britânicos.
A grande maioria das nações que hoje fazem parte da União Europeia,
abriu quase sem resistência, as portas de entrada às tropas nazis. Em
Paris aplaudiram-nas em desfile pelos Campos Elíseos. De Gaulle, o
grande De Gaulle, tinha 1,96m de altura, refugiara-se em Londres,
Churchill acolheu-o mas não o considerava; de Itália, Mussolini foi
oferecer ao Führer os seus préstimos e queria dinheiro, Hitler correu
com ele; Franco também precisava de dinheiro mas Hitler não precisava de
Franco. Salazar manobrou nos apoios, Hitler nem queria saber de quem se
tratava.
Putin não é Hitler, é pior, porque Hitler não estava, como está Putin, sentado no maior arsenal nuclear, e na União Europeia
não há outro Churchill. E se houvesse, que faria esse suposto outro
Churchill, quase desarmado, sem potencial nuclear, se do lado
norte-americano não há um Roosevelt, haverá um Trump que, declaradamente, é amigo do peito de Putin? E enquanto Trump não volta
ao Capitólio que, todo o mundo viu, ele incentivou ser assaltado, o
Congresso, maioritariamente trumpista, está já a trair os compromissos
feitos, em nome dos norte-americanos, ao povo ucraniano.
Foi
na Finlândia, com uma fronteira extensíssima com a Rússia, que Estaline, antes da Segunda Grande Guerra, encontrou uma resistência tenaz que, na altura ninguém, senão os finlandeses, acreditava que fosse possível. A "Guerra de Inverno" provocou largos
milhares de mortos e feridos de ambos os lados, mas cinco vezes mais do
lado soviético, até a Finlândia acabar por aceitar terminar os combates
cedendo uma parte do seu território.
Na
população finlandesa ficaram marcas indeléveis desse roubo cometido
pelos soviéticos e a lembrança dos seus mortos em combate ainda
permanece muito viva. Falei, há muitos anos, demoradamente, com alguém
que viveu nessa época de terror.
A Finlândia não pertencia à
NATO até ao momento em que Putin entrou na Ucrânia para a incorporar na
Rússia. Estaline tinha as mesmas intenções quando bombardeou Helsínquia
e começou a "Guerra de Inverno". A Finlândia entrou para a NATO porque se reabriram
as feridas na sua memória colectiva.
A NATO aceitou a Finlândia como seu membro.
Mas Trump, ele o afirmou durante o seu mandato, é anti-NATO.
Estaremos perante uma traição que não se ficará pela Ucrânia mas trairá todos os membros efectivos da NATO?
A traição, está em vias de gestação. Só os norte-americanos a poderão abortar.
1 comment:
Notável texto, caro Rui. Parabéns. Subscrevo por inteiro
Abraço
António
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