"They're racist, sexist, homophobic, xenophobic, Islamophobic" - Hillary Clinton - 9 de Setembro de 2016
"Make no mistake — democracy is on the ballot for us all. " - Biden - Remarks by President Biden on Standing up for Democracy - 2 de Novembro de 2022
"Os 25 norte-americanos mais ricos quase não pagam impostos" - aqui
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A.,
Perguntaste-me há dias se eu percebia porque é que metade dos brasileiros votaram em Bolsonaro e a outra metade, os mais pobres, em Lula, enquanto, grosso modo, nos EUA, os estados mais desenvolvidos, tanto económico como culturalmente, das orlas leste e oeste, votam nos "democratas", liberais, e os dos estados do interior, mais pobres e menos instruídos, votam nos republicanos, conservadores e ultra-conservadores.
Do meu ponto de vista, tanto no Brasil como nos EUA, a divisão é fortemente determinada pelo nível geral de desenvolvimento económico e social e a geografia do voto reflete essa partilha. No Brasil votaram em Lula os estados onde, por múltiplas razões, são mais elevados os níveis de pobreza e o discurso (e a prática) de Lula é mais direccionado para as necessidades de larga maioria das populações do norte e, principalmente, do nordeste do país.
Bolsonaro,
na recta final da campanha, ainda correu para o norte e nordeste a prometer
políticas assistenciais, mas a promessa tardia já viu o pobre de costas.
No Brasil observou-se voto útil em causa própria.
Nos EUA, pelo contrário, nos estados menos económico e culturalmente desenvolvidos, onde há ressentimento das comunidades rurais contra os privilégios, o cosmopolitismo, dos grandes meios urbanos, a votação volta-se maioritariamente para os republicanos conservadores e ultra-conservadores que exaltam os valores antigos, contra a imigração, a homofobia, a prevalência do homem, a subalternização da mulher, a xenofobia, e, muito sobretudo, a fé num líder iluminado capaz de conduzir o rebanho segundo os desígnios prescritos nas escrituras sagradas. Não lhes importa a fuga dos multimilionários aos impostos, indignam-se com os impostos que pagam. Votam em promessas de retrocesso de um mundo que consideram a percorrer maus caminhos. E, consequentemente, apoiam Trump e os seus acólitos, que rejeita o estado de direito, as decisões dos tribunais, porque ninguém se pode posicionar acima dele, o deus dos deploráveis.
Hillary Clinton considerou deploráveis estes que não votam em causa própria. Arrependeu-se no dia seguinte e Trump não largou o osso até ao fim da campanha. Hillary fez mal e, também por isso, perdeu a eleição em 2016. Deveria ter esclarecido os destinatários, devia-se ter batido pelas razões subjacentes à designação que usou.
Biden, há dias, enfatizou o apelo à defesa da democracia, mas foi um apelo que serviu os interesses de Trump e seus correligionários que sabem que, deploravelmente, a democracia é precisamente aquilo que o deploráveis rejeitam.
Eles, Trump, Bolsonaro, Putin, Xi Jinping, ... e tantos outros porque a mancha do totalitarismo, da autocracia, está a alastrar como há noventa anos.
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