Vieira terá comprado uma dívida sua de 54 milhões ao Novo Banco por um sexto do valor
Compra directa da dívida ao Novo Banco por empresário amigo de Vieira foi chumbada pelo Fundo de Resolução, mas tal fez com que o sucessor do BES recebesse menos três milhões pelo negócio.
Dívida acabou por ser comprada indirectamente por Vieira por menos 600 mil euros do que era a oferta inicial.
Foi o próprio Luís Filipe Vieira que esteve por trás da compra realizada no ano passado de uma dívida de 54,3 milhões de euros que uma das suas empresas, a Imosteps, tinha ao Novo Banco, tendo desembolsado por ela apenas um sexto do valor que o Banco Espírito Santo (BES) lhe tinha emprestado mais de seis anos antes. E o negócio ainda veio com dois bónus: por um lado, uma participação de 12,5% que o Novo Banco tinha numa outra sociedade, a Oata, que era o principal activo da Imosteps, que detinha 50% do seu capital; por outro lado, ficou com o direito a receber um reembolso de mais de 17 milhões de euros que o BES injectara nessa empresa, que tem um terreno com aval para construir 102 mil metros quadrados na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Esta é a tese defendida pelo Ministério Público (MP) nos mandados de buscas no âmbito das buscas realizadas na Operação Cartão Vermelho, que esta quarta-feira levou à detenção de quatro pessoas, incluindo o presidente do Benfica, o seu filho e dois empresários amigos.
Os quatro suspeitos foram presentes esta quinta-feira à tarde ao juiz de instrução Carlos Alexandre, que os identificou. A pedido das defesas o magistrado providenciou aos detidos e aos respectivos advogados salas individuais para conversarem e tempo para consultarem o processo até às 22h. Os interrogatórios dos arguidos ficaram marcados para as 9h desta sexta-feira, uma diligência que poderá culminar com o pedido para que o presidente do Benfica fique em prisão preventiva, como se admite nos despachos que suportam os mandados de buscas.
Apesar de, formalmente, quem comprou e financiou a dívida da Imosteps ao Novo Banco ter sido um fundo controlado pelo empresário José António dos Santos, fundador do maior grupo nacional do sector agro-alimentar e amigo do presidente do Benfica, na realidade todo o esquema terá sido montado por Vieira e pelo filho Tiago, sustenta o MP.
Tudo começa em final de 2012 quando por indicação do banqueiro Ricardo Salgado, presidente do BES, a Imosteps compra 50% do capital da Oata à construtora Opway. O contrato é assinado pelo filho de Vieira, em nome da Imosteps. O próprio Novo Banco tinha 12,5% da Oata que tinha, através de outras sociedades, dois negócios: um relativo a terrenos e projectos para dois cemitérios localizados no Rio de Janeiro, dos quais detinha a maioria do capital, e a tal propriedade com aval para construir uma área total de 102 mil metros quadrados na Barra da Tijuca — imóveis sobre os quais, segundo o MP, “havia grandes expectativas de obtenção de grandes lucros”.
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