Hoje lê-se aqui : Merkel critica Portugal por ter aberto a porta aos britânicos
"A chanceler alemã Angela Merkel lamentou esta terça-feira a ausência
de regras comuns na União Europeia, referindo-se especificamente a
Portugal e à decisão tomada pelo Governo português de abrir a porta aos
britânicos quando são cada vez mais os casos de infeção no Reino Unido
provocados pela nova variante do vírus, a variante Delta."
E aqui, no Público de hoje - vd. Um terço dos doentes internados em UCI na região de Lisboa só estava vacinado com a primeira dose
"Número de doentes internados em cuidados intensivos voltou a ultrapassar a centena. Perfil dos doentes mudou e mais de metade têm menos de 55 anos, diz presidente da comissão de acompanhamento da resposta em medicina intensiva.
Cerca de um terço dos doentes com covid-19 internados em unidades de cuidados intensivos (UCI) na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), que actualmente concentra quase 70% do total de casos de pessoas em estado crítico hospitalizadas no país, já tinha iniciado o processo de vacinação mas este estava incompleto, porque tinham recebido apenas a primeira dose e alguns há pouco tempo, revela o presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva, João Gouveia, que se mostra preocupado com a “sobrecarga” que já se faz sentir nos hospitais desta região e pede o reforço das medidas não farmacológicas e o acelerar do processo de vacinação para evitar uma eventual nova vaga de covid-19.
“É preciso acelerar a vacinação e avançar com medidas para reduzir francamente a transmissão, sobretudo dentro de Lisboa”, advoga o médico. A virologista Maria João Amorim, do Instituto Gulbenkian de Ciência, frisou, a este propósito, durante um debate organizado esta terça-feira pelo PÚBLICO, que estudos recentes, nomeadamente um estudo do Instituto Pasteur (França) ainda não revisto por pares, indicam que no caso da variante Delta, que tem já uma prevalência de 70% na região de Lisboa e Vale do Tejo, “apenas se tem uma protecção robusta, a nível de infecção, duas a três semanas após a segunda dose das vacinas”.
Apesar de estarmos a falar de números pequenos - eram cerca de duas dezenas de pessoas nestas condições - estes dados acabam por corroborar a ideia de que uma única dose da vacina não confere um grau de protecção tão elevado e que, por isso, é necessário que as pessoas mantenham todos os cuidados, já mesmo depois de serem inoculadas.
O último boletim da Direcção-Geral da Saúde (DGS) indica que esta segunda-feira o número de doentes internados em unidades de cuidados intensivos voltou a ultrapassar a barreira da centena - eram 101 em todo o país - e mais de dois terços (69) estavam na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), onde os hospitais já receberam instruções para aumentarem os níveis dos seus planos de contingência e estão a reforçar as vagas em UCI para doentes com covid-19.
É preciso recuar até 22 de Abril para encontrar um número mais elevado de doentes internados em unidades de cuidados intensivos (104 pacientes nesse dia). “Este [cem] é um número redondo que chama a atenção das pessoas para a importância de terem consciência de que não podemos ter um Rt [índice de transmissibilidade] acima de um com a incidência actual” e que implica já “uma sobrecarga nos hospitais de Lisboa e Vale do Tejo, ainda que não muito grande e que por enquanto não compromete a resposta habitual”, observa João Gouveia. Recorde-se que, no pico da terceira vaga da pandemia, no início deste ano, Portugal chegou a ter 904 doentes com covid-19 internados em simultâneo em cuidados intensivos.
“O perfil dos doentes mudou com a vacinação”, sublinha o médico que também preside à Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos. Foi um estudo levado a cabo em LVT na semana passada que permitiu ter uma ideia mais precisa desta alteração. A maior parte dos internados, cerca de dois terços, são homens, agora mais jovens do que antes, sobretudo com problemas de hipertensão, obesidade ou diabetes, mas também há pessoas sem doenças associadas a necessitar de cuidados nestas unidades de elevada complexidade, descreve João Gouveia.
"São agora francamente mais jovens"
“Mais de metade dos doentes [internados nesta região] tinha menos de 55 anos. São agora francamente mais jovens e havia mesmo doentes com 25 anos e sem comorbilidades em risco de vida na semana passada”, acrescenta, repetindo que as pessoas “não podem pensar que [a covid-19] é uma gripezinha que não causa doença grave” e devem continuar com as medidas de protecção, usando máscara e evitando grandes aglomerados.
Com o aumento do número de novos casos concentrado sobretudo em LVT, os hospitais da região receberam instruções da comissão de acompanhamento da resposta em medicina intensiva e da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo para aumentarem as vagas em cuidados intensivos e já estão a activar mais camas. Segundo o jornal i, que teve acesso à orientação enviada na semana passada aos hospitais, foi proposto que passassem de uma lotação de 71 camas de UCI dedicadas a covid-19 para 92, reduzindo as camas em UCI para doentes não-covid de 204 para 177.
De acordo com os últimos dados reportados pelos hospitais à ARS de Lisboa e Vale do Tejo, havia esta terça-feira 69 doentes em UCI e 225 em enfermaria. “Os hospitais da região continuam a dar resposta a doentes covid e não covid” e “os planos de contingência são dinâmicos e ajustáveis às necessidades resultantes da realidade epidemiológica”, sublinha a ARS, que garante que a região “possui capacidade instalada” e lembra que “o SNS funciona em rede”, podendo sempre os doentes ser transferidos para outras regiões, como aconteceu no início deste ano.
João Gouveia nota, porém, que a taxa de ocupação nos cuidados intensivos na região ronda os 77 a 78% e se aproxima já do máximo estabelecido para LVT no relatório das linhas vermelhas que traçou o número crítico de camas ocupadas por doentes com covid-19 (84 nesta região) a partir do qual a resposta a outros doentes começa a ficar afectada.
A nível nacional, estamos ainda longe do número crítico de 245 camas que podem estar ocupadas por doentes com covid-19 sem pôr em causa a resposta habitual, mas o médico avisa que a situação actual é mais complicada e que este número poderá eventualmente até ter que ser revisto se a incidência e os internamentos continuarem a crescer. “Apesar de haver capacidade em número de camas, temos vários hospitais muito desfalcados em termos de recursos humanos e o pessoal está cansado, perto do burnout [síndrome de exaustão profissional], desmotivado”, justifica.
A agravar, acrescenta, com o fim do estado de emergência, saíram muitos profissionais dos cuidados intensivos, sobretudo enfermeiros, que tinham pedido transferência para unidades públicas noutras regiões ou para hospitais privados e há ainda hospitais que aproveitaram para fazer obras de melhoramento e que, por isso, não têm actualmente disponíveis algumas das camas."
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