O sr. Manuel Alegre opina hoje no Público - Catalunha, uns séculos depois - que
"Enfim, a Catalunha falou através do voto, por certo o fará mais vezes. Penso que nós portugueses, independentemente das simpatias pessoais, devemos ser fiéis à Constituição da República e respeitar a liberdade de escolha onde quer que ela se manifeste."
Enfim, o sr. Manuel Alegre está baralhado ou pretende baralhar-nos.
Porque, segundo se depreende do que opina, o respeito pela lei constitucional devido pelos cidadãos em regimes democráticos é incontestável em Portugal mas redundante em Espanha.
A opinião de MA só é relevante porque é parte do coro da extrema-esquerda trauteando a música do coro na direita extrema, a música da nacional-soberania.
Que os resultados das votações demonstrem que na Catalunha, como no referendo ao Brexit no Reino Unido, o eleitorado se reparta em dois blocos praticamente idênticos, é para eles irrelevante;
Que na Catalunha os independentistas obtiveram maior número de assentos no parlamento mas com um significativo menor número de votos* é para eles irrelevante;
Que, tanto na Catalunha como no Reino Unido, pretendam os secessionistas que um voto apenas é democraticamente suficiente para fixar definitivamente o querer das gerações futuras, é negligenciável.
Que uma eventual independência da Catalunha desencadearia um processo imparável de fragmentação em cadeia da União Europeia, é aplaudida pelos extremos, à esquerda e à direita,
porque sempre viram e continuarão a ver na União Europeia uma ameaça ao nacional-soberanismo, que é o seu feitiço, percebe-se.
Que essa ameaça de fragmentação se potencie por outras linhas de fractura, mais notoriamente a leste, para gáudio do sr. Putin, não relembre ao sr. Manuel Alegre e outros companheiros da alegria o assomar do avantesma da guerra entre europeus, em paz apenas há cerca de 70 anos, é repulsivo.
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* Os mesmos eleitores teriam votado nāo à independência por cerca de 150 mil votos de diferença. Cf . aqui
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4 comments:
Que os arautos catalães da Indep, se pensem seres superiores e de uma raça superior, a roçar um fascismo primário, nada os preocupa.
Um ensaio para a cegueira dos bem instalados.
Parabéns pela análise Rui.
Obrigado Bmonteiro pelo contributo, que subscrevo.
Há nos independentistas Catalães uma sobranceria que reflecte a sua recusa de solidariedade à Espanha do Sul.
Acontece, aliás, o mesmo na atitude do Norte de Itália perante a Calábria, pelo Norte em geral, julgando-se superior porque é mais rico.
Obrigado, João.
BOM ANO 2018!
Forte abraço.
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