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Leio todo este manancial e quase fico de lado, logo de madrugada. Depois recupero e sinto-me gratificado por ter aprendido alguma coisa. Na minha idade, estas coisas contam muito. Sentimo-nos desafiados a não adormecer.
Foi o que me aconteceu.
A mim, sempre me causou alguma confusão o facto de os juristas se reclamarem serem versados em ciências jurídicas, sabido que o direito é o terreno mais escorregadio que pisar se pode. Depois, a Ciência é tão apelativa que, hoje, não há actividade profissional que não suscite um doutoramento. Em artes plásticas, por exemplo. Ou em piano. E porque não em cozinhar bacalhau? Há tempos apareceu na revista do “Expresso” um extenso artigo dedicado a uma investigadora portuguesa que, na Dinamarca, dedicava o seu tempo a uma tese sobre o assunto.
De modo que, á boa maneira de Sócrates, o Caturra, desafiei-me para uns comentários a este post carregado de erudição.
E fui-me ao dicionário, do Houaiss, perdoem a citaçãosinha. E deparei-me com um estendal, que não vou transcrever.
Fiquei a saber que o vocábulo nos entrou, portas adentro, por volta de 1370, não sei por que porta de entrada, mas ainda não tinha acontecido Aljubarrota.
Muito antes, portanto, de ter nascido o célebre Alberto, o Newton e mesmo o Galileo. Esta é que é a verdade pura e dura.
Na primeira entrada do citado léxico, Ciência é o “conhecimento atento e aprofundado de alguma coisa” e, mais a diante, ficamos também a saber que, por exemplo, ciência penitenciária é o “estudo das execuções das penas, das condições em que são executadas as penas”.
É uma pena, concordo. Mas Ciência, mesmo com C grande, é isto.
Comum a todas as ciências parece que só mesmo a paciência. Ilimitada, claro.
Foi o que me aconteceu.
A mim, sempre me causou alguma confusão o facto de os juristas se reclamarem serem versados em ciências jurídicas, sabido que o direito é o terreno mais escorregadio que pisar se pode. Depois, a Ciência é tão apelativa que, hoje, não há actividade profissional que não suscite um doutoramento. Em artes plásticas, por exemplo. Ou em piano. E porque não em cozinhar bacalhau? Há tempos apareceu na revista do “Expresso” um extenso artigo dedicado a uma investigadora portuguesa que, na Dinamarca, dedicava o seu tempo a uma tese sobre o assunto.
De modo que, á boa maneira de Sócrates, o Caturra, desafiei-me para uns comentários a este post carregado de erudição.
E fui-me ao dicionário, do Houaiss, perdoem a citaçãosinha. E deparei-me com um estendal, que não vou transcrever.
Fiquei a saber que o vocábulo nos entrou, portas adentro, por volta de 1370, não sei por que porta de entrada, mas ainda não tinha acontecido Aljubarrota.
Muito antes, portanto, de ter nascido o célebre Alberto, o Newton e mesmo o Galileo. Esta é que é a verdade pura e dura.
Na primeira entrada do citado léxico, Ciência é o “conhecimento atento e aprofundado de alguma coisa” e, mais a diante, ficamos também a saber que, por exemplo, ciência penitenciária é o “estudo das execuções das penas, das condições em que são executadas as penas”.
É uma pena, concordo. Mas Ciência, mesmo com C grande, é isto.
Comum a todas as ciências parece que só mesmo a paciência. Ilimitada, claro.
Há debates que começam tortos. O da Economia enquanto Ciência foi um deles. Mas é um debate que me interessa e para o qual costumo ter pouco feed-back. Aproveito a disponibilidade do random para discutir o assunto.
O texto do random pode parecer um pouco descontextualizado. Quem quiser juntar as pontas terá de ir ver os comentários a esta entrada do João Miranda. Aviso já que é uma entrada que conta com mais de 200 comentários. Os primeiros 100, tal como a própria entrada do João Miranda, são, possivelmente, reacções excessivas a uma entrada infeliz.
Dito isto, penso que o texto do random vale por si mesmo, sem a bengala da contextualização. Publico a opinião dele:
Geralmente não discuto ciência na blogosfera, uma vez que já o faço no dia-a-dia no trabalho, aproveitando o mundo virtual para conversar de coisas diferentes. Contudo gosto de verificar se as minhas ideias sobre as outras disciplinas - neste caso a Economia - estão correctas ou não. Para isso é preciso encontrar pessoas que não só dominem do assunto, mas que estejam dispostas a argumentar com paciência.
III.Agora de volta à questão; que tipo de disciplina é a Economia?Antes de mais é talvez interessante mencionar que a designação "Ciências Humanas (ou Sociais)" surgiu após o impacto que a validação experimental da teoria da Relatividade Geral teve nos intelectuais da época. Formou-se aquilo que hoje é conhecido por "Círculo de Viena"; as famosas discussões de Epistemologia na capital Austríaca. A euforia em torno da Ciência era tanta devido ao sucesso estrondoso de Einstein que os intelectuais pensavam, um pouco ingenuamente, que em breve a Ciência explicaria tudo. Assim, a Psicologia começou a ser denominada de "Ciência Humana"… Infelizmente pouco progresso foi ainda feito em algumas destas áreas. Na Psicologia, apesar das importantes descobertas recentes acerca do cérebro, ainda pouco se sabe; quase tudo é deduzido por comparação (os quadros mentais das pessoas), não havendo qualquer base teórica e de primeiros princípios por de trás destes quadros. A lacuna de um objecto de estudo, ou melhor, a falta de um objecto bem definido faz com que a Psicologia não seja uma Ciência, independentemente do que os Psicólogos chamem àquilo que fazem. Para mim é terapia com base em métodos (racionais e objectivos, obviamente). Para eles é Ciência. Não levo a mal; a influência do Círculo de Viena foi muito grande…A Economia tem um objecto de estudo rigoroso e bem caracterizado.Contudo como havia já referido no comentário que deu origem a esta resposta: existe ainda o método científico.Vou rever o método científico (por palavras minhas);O cientista após ter identificado o objecto de estudo de interesse, estuda-o com as ferramentas teóricas e experimentais que tenha já ao seu dispor, de forma a conhecer algumas das propriedades e fenómenos relacionados com esse objecto; o sistema em estudo.Depois de ter verificado essas propriedades (por exemplo, a resposta do sistema a um estímulo externo, ou simplesmente a sua evolução temporal), propõe-se a explicá-las.Para tal elabora um conjunto de proposições do estilo:o objecto A tem a característica X que implica, devido ao ambiente EXT em que A habita, a característica Y, e por aí fora. Depois, se dispuser de meios para tal, tenta construir um modelo. Neste modelo, dadas as variáveis A e EXT como "input" dá, como "output", a resposta X. A inclusão de X agora como "input" dá Y, e por aí fora. Agora falta o passo mais difícil; propor uma teoria, isto é um conjunto de axiomas que tenham como consequência (isto é, com o uso exclusivo da lógica e matemática) o modelo proposto; os primeiros princípios. (Neste ponto a sua investigação começa a poder ser apelidada de "Ciência exacta".)Para ter chegado a este ponto o Cientista pode ter usado simplesmente papel e caneta e uns dados conhecidos a priori e/ou ter ido para o laboratório fazer experiências. Independentemente do caminho realizado, nesta altura, chega a hora da verdade para a teoria; a previsão de fenómenos novos. O Cientista obtém algumas usando o seu modelo, publica-os resultados e espera (ou faz ele mesmo) que alguém os corrobore em laboratório. A corroboração em laboratório pode ser extremamente exacta (envolvendo imensas casas decimais) ou pode ser a "olho"; depende do sistema em causa. Como imaginam validar a Teoria da Divisão Celular é bem mas simples do que validar a Teoria da Superconductividade, pois envolve (quase) apenas observação a microscópio e o respectivo registo dos dados observados.Isto está muito relacionado com o facto de a Biologia ser uma teoria do "macro-mundo" , i.e. das coisas "grandes" (uma célula pode nos parecer pequena mas é constituída por um número inimaginável de átomos). Já a Física não tem uma escala própria; estuda fenómenos a todas as escalas (sistemas microscópicos, mesoscópicos e macroscópicos).Na Economia (pelo menos na Macroeconomia) existem um conjunto de "axiomas" chamados de "leis" que estão na base de, por exemplo, toda a teoria de mercados financeiros. Uma dessas leis é a "lei do mercado racional" que assume que todos os agentes do mercado têm um conhecimento perfeito acerca do estado do mesmo e actuam de forma perfeitamente racional. Esta "lei" é claramente uma aproximação. Só pode ser levada a sério como "toy model" e pouco mais. Já foi invalidada "experimentalmente" várias vezes. Por exemplo, o desvio médio padrão do retorno dos preços obedece a uma equação incompatível com essa lei em mercados não maduros. Por outro lado, sabemos que os agentes são tudo menos «perfeitamente racionais». Não são robots, mas pessoas como outras quaisquer. No entanto isto não impediu de os Economistas fazerem desta lei o seu "santo graal" e de a repetirem vezes sem conta nos seus manuais.Apesar de os artigos de Econofísica não serem aceites nos jornais de Economia (o que não implica necessariamente que não prestem como LA-C parece ter sugerido) evitam usar estas "leis" duvidosas e tentam antes uma aproximação diferente ao problema "à Físico" (i.e. de primeiros princípios). Acho que o comentário de LA-C foi uma generalização não sendo justo para alguns trabalhos já realizados por Físicos ou em colaboração com estes. Estas pessoas tentam, usando leis mais simples, deduzir as consequências das leis dos mercados racionais bem como os seus desvios. Eu não sei em que ponto está a Econofísica neste momento. Debrucei-me poucos meses nela no último ano da licenciatura, mas recordo-me de ter lido elogios de Economistas ao trabalho que havia sido já feito.Há claramente uma abordagem menos rigorosa e mais prática dos Economistas, mas isto não quer dizer que não tenham resultados rigorosos. São coisas desconexas. É possível fazer-se "previsões" dentro de certos regimes/modelos/economias/etc em Economia. Contudo isto não chega para que seja Ciência. É preciso um estudo (investigação) com a abordagem que expus acima. E para isso é preciso ter-se um "laboratório" (a Economia tem) e a capacidade de fazer experiências e as repetir nas mesmas condições (a Economia terá?).Se eu (Economista) fizer uma experiência hoje que consiste em estudar a reacção dos índices bolsistas à compra de X acções da empresa Y, como posso esperar que a resposta do "mercado" seja a mesma no dia seguinte? Não posso. Não devo, pois não vai ser. O mercado é um sistema complexo (por definição) cujas interacções não são suficientemente conhecidas (dependem de uma data de factores, até mesmo do estado exacto do "ambiente" e não apenas da sua "temperatura") para a noção de "experiência" existir…O que significa fazer uma experiência no mercado financeiro?Para explorar melhor esta questão (no âmbito da Ciência) vamos fazer o seguinte mapa (altamente simplificado);acção da empresa X -> partícula do tipo Xvalor da acção da empresa X -> carga da partícula XSe a Economia é uma Ciência deve ser capaz de determinar (mesmo que estatisticamente, i.e. fornecendo apenas probabilidades) a evolução das cargas das partículas (acções) e de fazer medições das mesmas cargas para ver se a teoria é "boa" ou "não".Mas, em primeiro lugar, como pode a Economia fazer uma experiência (neste caso uma simples medição de uma propriedade) se o simples acto de medir o mercado já interage com este e altera a massa da partícula? (ainda por cima esta alteração depende do estado actual do mercado)Em Física há situações análogas a esta, em que a massa pode mudar, mas esta mudança pode ser determinada mesmo experimentalmente. É sempre possível - por mais "frágil" que seja o que se quer medir - "engendrar" um esquema que o meça. Mais ainda, pode-se sempre inventar um esquema diferente e o resultado que se obtém é o mesmo. Mais ainda, esta "mudança" é prevista pela teoria.Reparem que isto não é um problema conceptual. Um dia que a Economia esteja tão avançada que consigamos ultrapassar este problema, poder-se-á "isolar" a influência do cientista do sistema em estudo em causa. A questões são quanto tempo isto demorará (será já mesmo possível?) e, antes de mais, se isto será possível por princípio… LA-C falou em Economia Experimental. Desconhecia tal campo. Agradecia que escrevesse sobre isto de uma forma didáctica, para tentar perceber se o que eu disse faz sentido ou não.Outra questão importante que me faz alguma confusão quando tento imaginar a Economia como Ciência é o facto de - contrariamente às Ciências naturais - não existir uma realidade objectiva no sentido que a Economia depende das crenças dos "jogadores" (agentes económicos, etc.) e os seus modelos só resultam quando estas crenças não se alteram, i.e. quando a "biologia" envolvente não é seriamente afectada (ex: crashes na Bolsa causados por fortes mudanças sociais). Por isso, gosto mais de imaginar estes modelos como parte integrante de Modelos Sociais muito sofisticados, mais do que parte integrante de uma Ciência (social).Estes são os meus argumentos. Há ainda outro que não vou rebater, mas que de certa forma já mencionei acima; a Economia não se tem preocupado com a origem de muitos conceitos (por exemplo, como são os preços fixados?). Por outras palavras, a Economia não é uma disciplina de primeiros princípios.Como prometido evitei as citações. Contudo, já que LA-C mencionou a Wikipedia, vale a pena ler o artigo: http://en.wikipedia.org/wiki/Economics, onde a ideia de Economia como Ciência é refutada com argumentos diferentes dos meus (diria que argumentos mais "práticos" e feitos por Economistas) e é antes classificada como "valuation theory" ou "soft science", enfim; not science!
random
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