Saturday, November 12, 2005

O FIM DAS ESPÉCIES

"Manuais escolares do estado do Kansas vão poder por em causa a teoria da evolução" - Público.

Há uns anos atrás, não teria acreditado, se me tivessem dito que estas seriam notícias de 10 de Novembro de 2005. Teria pensado em ficção de má qualidade, em devaneios irrealistas sobre a decadência ocidental, em cenários desviantes, marginais, em baterias mal apontadas... (AF)

Um Portugal que não se vê todos os dias atravessa neste momento Lisboa

Fora de Fátima, claro. Mas Fátima é um ecossistema. (JPP)
Abrupto


A forma desinformada como muitas vezes se retrata a sociedade norte-americana leva a uma generalizada convicção na Europa que os norte-americanos são geralmente pouco esclarecidos

Vem isto a propósito das notícias que, de vez em quando, aparecem na nossa Imprensa e que, propositadamente ou não, sublinham alguns aspectos aparentemente ininteligíveis do comportamento da sociedade norte-americana. Um dos mais batidos é a questão à volta do evolucionismo versus criacionismo.

Não pretendo divagar sobre o assunto que, aliás, não é susceptível de discussão científica, mas apenas referir o seguinte:

1 – Cerca de 50% dos norte-americanos está consciente que a espécie humana é resultado de um processo de evolução natural, tendo os desenvolvimentos científicos mais recentes concluído que existe uma similaridade genética da ordem dos 98,4% entre humanos e chimpanzés. O próprio Darwin, certamente, se espantaria com tão elevado grau de proximidade.

2 – Darwin, contudo, ficaria não menos espantado se soubesse que, passados 146 anos sobre a publicação da “Origem das Espécies”, cerca de 50% dos norte-americanos e uma percentagem idêntica de europeus ainda, intransigentemente, rejeita a sua teoria. Em Portugal, quantos? Não sabemos, mas a avaliar pelo que se vê à nossa volta, o número é seguramente muito superior.

3 – A principal razão pela qual o assunto é objecto de discussão, tão badalada, nos Estados Unidos decorre do facto da política tradicional de decisão dos conteúdos de ensino serem votados ao nível dos “town councils” e dos “local school boards”, encorajando uma larga variedade de opiniões que, naturalmente, tendem a competir entre si no sentido de ganhar influência e poder de decisão. Esta descentralização extrema não se faz sentir apenas ao nível do ensino e decorre do modo com os Estados Unidos se formaram.

4 – Tendo sido rejeitadas pelo Supremo Tribunal de Justiça diversas tentativas de validar o Criacionismo como Ciência, os adeptos do Criacionismo (e existem diversos ramos com diferentes perspectivas e diferentes nomes) evoluíram para uma plataforma que consiste grosso modo em afirmarem-se utilizando como contra-argumentos alguns aspectos científicos da teoria que ainda se encontram por confirmar.

5 – Em resumo: O criacionismo não é ensinado nas escolas norte americanas como ciência (por não ser legalmente consentido, enquanto tal) mas em algumas escolas de alguns Estados, o criacionismo é indicado como uma proposta que tem os seus defensores.

Não penso que venha grande mal ao mundo por isso.

Uma vantagem da controvérsia pode e está, aliás, a promover o avanço da confirmação da teoria da evolução natural.

E por cá? Quantos é que se preocupam com isto?

E já agora: Quantos se preocupam com o fim das espécies?

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