O Cartoon de António
Palavras cruzadas para entreter a viagem. "Não há questões filosóficas, há questões de linguagem." - Wittgenstein "Insanity is doing the same thing over and over again, expecting different results" - Albert Einstein
Na origem do 25 de Abril de 1974, esteve este Decreto-Lei assinado por Marcello Caetano e promulgado em 29 de Junho de 1973 - O decreto que esteve na origem do 25 de Abril - , foi publicado aqui, no Diário da República em 13 de Julho de 1973.
"Sabe-se que, historicamente, foi a contestação (corporativa) a este diploma que esteve na génese do movimento dos capitães, que, em menos de um ano, viria a derrubar o Estado Novo".
Monumento a Vasco Gonçalves desenhado por Siza para a Alameda está num limbo.
E logo a Vasco Gonçalves, muito provavelmente o mais desastrado actor na balbúrdia que enxovalhou a pureza da melhor das intenções do movimento popular que fez do 25 de Abril de 1974 um dia de devolução aos portugueses da liberdade encarcerada em 28 de Maio de 1926.
9/Janeiro/76
EM NOME DA REVOLUÇÃO
Fernando Amaral (PPD):
17/Novembro/75
Primeira cena do II acto . – um momento crucial –
A propósito da manifestação promovida pelo PCP, UDP e outras organizações políticas da esquerda revolucionária, Octávio Pato teceu considerações na Assembleia (Constituinte) que o PS e o PPD apuparam.
Disse aquele deputado:
“O nosso país e a Revolução portuguesa atravessam um momento crucial. Os acontecimentos demonstram, de forma inequívoca, que uma viragem à direita na política portuguesa não resolve, antes agrava, a crise político-militar, assim como os conflitos sociais e a situação económica” …
No domingo no Terreiro do Paço, mais uma vez se provou o que por mais de uma vez temos afirmado: no Portugal de hoje não é possível governar sem o Partido Comunista Português, e muito menos contra o Partido Comunista Português”…
…
Segunda cena do II acto . PCP justifica o sequestro
Octávio prosseguiu a sua intervenção referindo-se â manifestação afecta à construção civil que sequestrou os deputados no Palácio de S. Bento durante a noite de 12 para 13 de Novembro e manhã do último dia.
…”É inesquecível o espírito de sacrifício de milhares de trabalhadores que, durante trinta e seis horas, sem dormir …
…
ao frio da noite, sentados ou deitados nas ruas ou nas escadarias junto ao
Palácio de S. Bento. Ali se mantiveram e dali não arredaram pé …”
… O significado dessa luta de dezenas e dezenas de trabalhadores que auferem um
salário de miséria não o quiseram ver os deputados do CDS, do PPD e parte ds
deputados do PS … Não quis ver o dr. Mário Soares, que afirmou que a luta dos
trabalhadores da construção civil era “uma acção de sabotagem económica”…
IV acto . retrospectiva dos acontecimentos
Falou depois José Luís Nunes (PS) que narrou assim os acontecimentos:
Não me venham contar histórias,
já tantas vezes repetidas,
de heróis de intenções generosas e almas puras
que o povo idolatrou,
porque me repugnam as idolatrias.
Não me venham contar histórias de heróis impolutos,
que arriscaram a vida
rumo ao sul
para soltarem a ave encarcerada por outros seus iguais,
igualmente idolatrados,
de norte a sul,
quarenta e seis anos antes.
É verdade, só quarenta e seis anos antes,
uma imensidão de tempo para quem nasceu há menos de cinquenta!
Conheço essas histórias contadas e recontadas como contos de fadas
embrulhadas, enfeitadas, perfumadas de poemas piegas,
discursadas com vozes cheias
de intenções ocas.
Conheço-as todas.
E vi, porque senti, que a avezinha solta naquela manhã de primavera
desenhou no céu puro e limpo um perfeito e único golpe de asa
como eu nunca antes tinha visto.
E que, como um raio me tivesse trespassado,
e emocionalmente tivesse fulminado as minhas congénitas reacções
à irracionalidade das emoções das turbas.
Porque também eu me juntei aos que idolatravam os heróis do dia
que tinham
aberto a gaiola onde outros parecidos,
também idolatrados,
como libertadores do povo,
por terem engaiolado a avezinha quarenta e seis anos antes.
Até me aperceber que a intenção dos heróis daquele dia,
de libertação da avezinha,
não era tão desinteressada e pura como a turba tinha acreditado,
e como, num qualquer catecismo, ainda continua a querer acreditar.
Ainda a avezinha não se tinha regalado de voar,
levou uma chumbada numa asa,
atirada por quem tinha chumbo para atirar,
a avezinha,
deu de lado mas não caiu ao chão,
batendo desesperadamente as asas feridas,
depois de a uma chumbada ter sido atingida por outras,
piando, desesperadamente por clemência,
até pararem as chumbadas quase dois anos e meio depois.
A avezinha sobreviveu, tem-se mantido viva,
ao longo de quase mais quarenta e seis anos,
mas não está garantido que se mantenha sempre solta e viva.
Há sempre alguém à espreita
para ensaiar a pontaria com uma chumbada,
reflectida.