De barriga cheia - foram os CEOS que, pessoalmente, mais embolsaram em 2020, ano de pandemia - arrotam.
Cláudia Azevedo e Pedro Soares dos Santos atacam plano de recuperação. "Falta ambição para o país"
Nem Cláudia Azevedo, presidente da Sonae, nem Pedro Soares dos
Santos, presidente da Jerónimo Martins, pouparam nas críticas sobre o
Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
"Falta ambição para o país", atira Cláudia Azevedo, que falava numa
conferência realizada esta quarta-feira, 12 de maio, pela APED
(Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição), em formato
digital. E continuou: "o PRR é uma lista de despesas, não é uma ambição
para o país". Para a presidente do grupo Sonae a educação deve ser o
ponto central no futuro de Portugal, já que é o maior elevador social e,
continua, "só educação nos pode fazer crescer e trazer valor
acrescentado".
Pedro Soares dos Santos colocou a tónica também nos projetos incorporados no PRR. "Não estou a ver que seja preciso muitas mais autoestradas e aeroportos em Coimbra, com isso ganham-se eleições, mas isso é para quem tem um horizonte a 4 anos", assumindo que as empresas, em particular nas familiares, têm horizontes de 10, 20 anos.
O presidente da Jerónimo Martins não baixa o tom das críticas. "Um país
que tem tendência para empobrecer tem dificuldade em requalificação mão
de obra e incorporar desafios no futuro. E Portugal está a empobrecer.
Quem se reforma está condenado a ir para a pobreza".
Para Pedro Soares dos Santos Portugal não é um país competitivo para as
empresas. "Desde 2001 que não cresço, se eu não cresço estou a perder
competitividade". Fala nomeadamente na carga fiscal e recordou, também,
os anos que demorou a ter uma licença para uma fábrica de leite: quatro
anos.
"Eu continuo a investir muito em Portugal", mas "quem não tem o coração
cá? Esse é o problema. Gostamos da terra e lutamos por ela". Mas sem
essa ligação sentimental, o que prende uma empresa a Portugal,
interroga-se. "Ninguém quer tirar-nos da pobreza", lamenta. Corroborado
por Cláudia Azevedo: "temos de investir na educação dos portugueses",
para "tirar de sermos cada vez mais pobres e um país que não cresce". A
responsável da Sonae deu outro exemplo de falha no PRR: em Espanha há
quatro mil milhões para as redes de nova geração; Portugal tem zero.
"Não precisamos de mais betão, precisamos de mais cabeça".
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