A imagem da etnia cigana não é favorável para muitos portugueses, sobretudo para os residentes nas suas proximidades. Dizer o contrário é querer saltar por cima de um problema sem o resolver, desvalorizando-o ou tentar solucioná-lo com medidas paliativas. Atribuir-lhes rendimento social de inserção minora as miseráveis condições de vida de muitos ciganos mas não consegue, só por si, integrá-los na sociedade.
Ventura sabe disso e, como exímio demagogo, explora-o.
Com uma pandemia assustadora sem que se lhe vislumbre o fim, a questão é moralmente mesquinha mas politicamente relevante. Tão relevante que Ventura passou a figura central das discussões entre partidários sem que nenhum dos partidos perdedores e, provavelmente, foram todos, admita que Ventura entrou nos seus terrenos. E, no entanto, nenhum dos outros seis candidatos confrontou Ventura com uma questão simples que, e esta era a sua dificuldade, admitindo que o problema existe, que soluções tem o sr. Ventura para o resolver? exterminá-los em câmaras de gás? lançá-los ao mar? condená-los à inanição? encarcerá-los em prisão perpétua?
Ventura desfralda outras bandeiras. A mais proclamada: Chega! metade dos portugueses vive à custa da outra metade.
Que metade?
Os ciganos serão menos que 40 mil e nem o sr. Ventura se atreverá a demonstrar que nenhum trabalha. Os emigrantes, que já representam 7% da população residente, contribuem para a segurança social com valores cinco ou seis vezes superiores aos benefícios que a segurança social lhes atribui.
A grande maioria dos beneficiários são reformados. Mesmo que o sr. Ventura desconsidere os descontos que eles pagaram durante toda a sua vida activa, como pretende o sr. Ventura reduzir a maior parte da metade que fala se a pandemia não os matar todos? Alguém perguntou ao sr. Ventura? Que me recorde, ninguém.
A vantagem dos demagogos é protegerem-se com a pusilanimidade dos outros.
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População cigana mobilizou-se mais do que nunca para votar- c/p Público
Resultados de André Ventura provocam apreensão, sobretudo no Alentejo, onde activistas julgam ter pesado mais a ciganofobia do que qualquer outro factor. -
Apesar do inédito esforço de mobilização, os resultados das eleições presidenciais nem deixaram dormir alguns membros da população cigana, como Luís Romão, da associação Sílaba Dinâmica. “Uma tristeza enorme” saber que só ali, no seu concelho de residência, em Elvas, André Ventura obteve 2086 votos, 28,8% do total.
“Quando um partido fascista, racista, extremista alcança 10% numas eleições nacionais, dois dígitos, é muito mau sinal”, corrobora Bruno Gomes Gonçalves, vice-presidente da Associação Letras Nómadas. “Fico muito triste.”
Inquieta-os, sobretudo, o Alentejo, onde Ventura obteve as maiores percentagens. Apesar do sentimento de abandono, do avanço da agricultura intensiva, do envelhecimento da população local, da afluência de mão-de-obra estrangeira, nada lhes parece ter pesado tanto como a ciganofobia.
Embora haja mais portugueses ciganos a viver nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, no Alentejo as comunidades são mais visíveis – representam uma maior percentagem da população total, enfrentam grande grau de exclusão, algumas ainda são nómadas. “Tenho algum receio do que pode acontecer nas autárquicas”, diz Bruno Gonçalves. “Tenho receio de que [o Chega] possa vir a eleger vereadores, representantes nas assembleias e a ganhar alguma junta.”
Nunca se vira tanta mobilização no seio da população cigana. Activistas de norte a sul procuraram, dentro das suas comunidades, motivar eleitores. A Sílaba Dinâmica fez um vídeo e a Academia de Política Cigana uma animação, que estas e outras associações partilharam nas redes sociais em datas concertadas. Várias pessoas participaram em acções de campanha. Algumas manifestaram-se contra o discurso de Ventura.
Jamais a população cigana se terá sentido tão tomada como alvo, desde que a democracia foi instaurada. Bruno Gonçalves nem usa o verbo atacar, mas “enxovalhar”. A esse propósito ocorre-lhe o dia em que Ventura atacou Ana Gomes dizendo que defender ciganos e polícias é “defender tudo e o seu contrário”. E logo outros exemplos.
Nas redes sociais, Luís Romão cansou-se de ver comentários sobre o recurso ao rendimento social de inserção, quando os poucos estudos feitos pelo Instituto de Segurança Social apontam para 3,8% a 6% de beneficiários de etnia cigana. “É uma gota no oceano, mas o ódio é tanto que cega as pessoas.”
Sentado numa mesa de voto, Osvaldo Grilo, da Associação Cigana de Coimbra, pôde observar a inédita adesão da sua comunidade. “Muitas pessoas votaram neste domingo pela primeira vez.” Vê-las deu-lhe a sensação de que o trabalho de proximidade não fora em vão.
Aquele dirigente foi dormir com um “sentimento de dever cumprido, mas muito desiludido”. “Tenho muito medo”, confessa. “Isto é muito mau. Tanta gente lutou para termos uma democracia e agora há pessoas que querem uma ditadura, um fascismo. Para mim, isso é um movimento, não é política. Política é construção, é democracia, não é incentivo ao ódio e à discriminação.”
“Foi uma grande vitória haver tantos ciganos a votar”, torna Luís Romão. O desfecho, para si, é que mais parece um balde de água fria. Desconfia que, levados pelo discurso da subsidiodependência, até amigos seus “votaram na extrema-direita”. E isso provoca-lhe uma dor com a qual ainda está a aprender a lidar. “Os meus filhos são pequenos. Que futuro podem vir a ter? Sabemos o que tem estado a acontecer noutros países…”
Natália Serrana, a jovem licenciada em artes plásticas e multimédia que desenvolveu o material de animação de incentivo ao voto, revela-se menos pessimista. “Apesar de não ter ganho a pessoa na qual depositei o meu voto, fiquei aliviada”, diz. “Teria sido catastrófico se fosse André Ventura a ganhar.” Não foi. Ficar em terceiro não é ficar em primeiro.
Nota que há um caminho de consciencialização que só agora começa a ser percorrido. Ela própria está a preparar outro material de animação sobre o sistema político, no âmbito da Academia Política Cigana, projecto apoiado pelo Conselho da Europa. “Espero que toda esta situação abra os olhos às pessoas”, suspira. “E que a população cigana se mobilize ainda mais nas próximas eleições.”
Ainda este ano, realizar-se-ão eleições autárquicas. A lógica é distinta, mas Bruno Gonçalves julga haver algumas lições a tirar. Desde logo esta: não responder ao insulto com insulto, procurar, sim, desmontar as mentiras, o discurso. Isso obriga a uma maior preparação. E, neste caso específico, a um maior conhecimento sobre a realidade das comunidades ciganas. “Ele descontextualiza mesmo os estudos”, aponta, alegando que se manterá atento e não hesitará em apresentar queixa contra o que entender ser discurso de incitamento ao ódio e ao racismo. Importante será também forçar a discussão de ideias concretas, em vez de deixar que declarações preconceituosas ou falsas tomem conta dos debates.
“Tem de se trabalhar melhor”, torna Luís Romão. “Tem de haver outras políticas.” E há que agravar a penalização do discurso de ódio, de modo a travá-lo. “Ontem vi uma pessoa que desenhou uma câmara de gás, publicou a fotografia do seu projecto, dizendo: ‘A câmara de gás está preparada para aniquilar os ciganos.’ E não se pune estas pessoas. Podem dizer tudo e mais alguma coisa.” Em seu entender, isto tudo tem de ficar claro e mudar. “Uma pessoa com dois dedos de testa não vota em quem tem como bandeira aniquilar uma comunidade.”
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André Ventura diz que "só 15% dos ciganos vivem do seu trabalho". Confirma-se? .
---act . 27/1
As pessoas simulam que são dotadas de inteligência e coerência, quando, na verdade, são apenas carneirinhos.
O raio é que falta coerência e consistência.
De que adianta pintar os lábios de vermelho em suposta defesa das mulheres, da sua liberdade e da sua honra SE, depois, se diz ser também defensor da etnia cigana e das suas tradições?
Fica fácil e parece bem sermos a favor da etnia cigana. MAS... e é sempre o dito "mas" que lixa tudo... Alguém sabe, mas sabe sabendo, não julgando que sabe... como são tratadas as mulheres e o papel das mesmas dentro da etnia cigana?
Quantas meninas ciganas chegam a terminar o 9º ano?
Quantas meninas ciganas completam o 17º aniversário sem estarem ainda "casadas"?
Quantas meninas ciganas são mães antes da maioridade?
Quantas meninas ciganas têm e sentem igualdade de género dentro da etnia?
Quantas meninas ciganas podem escolher livremente o seu futuro ou até mesmo o seu futuro marido/dono?
Acaso sabem que as próprias famílias espancam e perseguem qualquer menina cigana que desobedeça à "lei" e tradição da etnia?
Acaso sabem que muitas meninas ciganas nem são autorizadas a participar em visitas de estudo ou em aulas de natação em contexto escolar?
Acaso, conseguem, da vossa rua cercada de prédios, ver o estado em que vivem, sobrevivem e se reproduzem os ciganos?
Pois. Se calhar, não sabem, mas eu sei as respostas.
Sei, porque conheço e lido com ciganos desde a infância.
Sei, porque já estive presente em interrogatórios judiciais e julgamentos com ciganos que haviam roubado, agredido, matado... ali, olhos nos olhos... a ouvir os factos e a confissão ou desculpa dos mesmos.
Sei, porque a minha mulher e outras colegas têm tido diversos alunos ciganos, ao longo dos últimos 20 anos. Alunos que têm o máximo de privilégios do Estado e o máximo de atenção e carinho das professoras, mas cujos lideres do acampamento retiram da Escola, quando acham conveniente.
Experimentem a fazer um telheiro no vosso terraço ou a colocar uma casa de madeira num qualquer terreno da vossa propriedade e irão perceber, rapidamente, o peso da fiscalização camarária e o custo da contra-ordenação que serão forçados a pagar.
Enquanto isto, podem verificar que existem autênticos bairros/acampamentos montados sobre terrenos alheios, por parte de ciganos, onde até os serviços de recolha de lixo vão instalar contentores.
Experimentem ir a um Hospital e a incumprir as regras, a agredir os seguranças ou o pessoal médico e vão ver o tempo que estarão sem algemas.
Os ciganos fazem e repetem... e, lá lhes arranjam um mediador, como fizeram no Hospital de Beja e outros, com a desculpa que eles não saberão/compreenderão que agredir quem está a cumprir funções para o Estado que lhes dá subsídios, é algo que não devem fazer.
Experimentem a ter uma hortinha, onde trabalham e vertem suor e esforço, na proximidade de onde viva uma comunidade cigana e irão ver o que conseguem colher da mesma.
Os fachistas, provavelmente, quereriam exterminar os ciganos. Contudo, aqueles muitos, sobretudo no Alentejo, que votaram em André Ventura, não são fachistas, são apenas gente cansada e farta de gente que gosta de tudo e todos, mas vive longe dos problemas.
Os fachistas serão muito poucos, mas as avestruzes serão imensas.
Outro dos temas da moda é ser a favor da Constituição da República Portuguesa, da Liberdade e da Democracia.
E, realmente, todos deveriamos ser a favor disto.
MAS... lá está o dito, novamente... quantos já leram a Constituição? Quantos realmente a conhecem?
E assistir à crescente degradação e humilhação dos agentes da autoridade será ser a favor da Liberdade e da Democracia?
Ver, cada vez mais gente a trabalhar e a não conseguir pagar as suas contas, enquanto outros se regalam, sem nada fazer e a receber parte da riqueza que os primeiros produzem, é ser a favor da Liberdade e da Democracia?
Ver Polícias a ser agredidos, desrespeitados e perseguidos é ser a favor da Liberdade e da Democracia?
Quando alguém bate num Polícia e o Polícia também bate nesse alguém, a tal defesa da Liberdade e da Democracia é ir apenas tirar umas fotos com os que, de facto, bateram na Polícia? Ou seria, no mínimo, manter-se neutro até que se averiguasse o sucedido?
A Liberdade, a Democracia e a defesa da Constituição é querer e defender a Eutanásia, a despenalização das drogas, a liberalização de tudo e mais alguma coisa desde que seja do agrado da malta e atacar a cultura e as tradições das gentes do interior?
Então, em nome da Liberdade e da Democracia devo poder abortar, ser sujeito a eutanásia, casar com uma pessoa do mesmo sexo, consumir droga, não trabalhar e receber um subsído e não posso gostar de touradas, ou ser Caçador?
Posso assistir a uma parada LGBT em horário nobre, nos noticiários, mas as touradas só podem ser transmitidas a partir de determinada hora ou devem até ser proíbidas na televisão?
As crianças devem ser educadas numa agenda radical de loucuras de género, transgénero, multigénero e género da puta que os pariu e não podem acompanhar os pais a uma tourada?
E, tudo isso, em nome da Liberdade(?) e da Democracia(?)!!!???
Acreditam nisso? É coerente?
E o Ambiente? Então, a malta que corre a estudar ou trabalhar em Lisboa ou Porto e por ali se fixa, renegando muitas vezes as origens, e que contribui activamente para grande percentagem da poluição verificada no país é que são a favor do Ambiente???
E querem mandar palpites e fazer Leis para que os que vivem, de forma sustentada, longe dos grandes aglomerados urbanos, sejam forçados a cumprir?
Os cidadãos têm que respeitar quem é laico, mas os laicos não respeitam os que são crentes numa qualquer religião?
A malta acha fino ser vegan, mas isso não lhes basta?
Além de serem vegans acham que a Liberdade e a Democracia é querer forçar todos os outros a também o serem?
Surge este tal de Ventura e é um "Deus nos acuda" que vem aí o papão da extrema direita... e, então a extrema esquerda do BE e o radicalismo louco e insensato do PAN?
Esses não atentam contra a Liberdade e a Democracia?
Esses não são perigosos?
Ainda não perceberam que os "pais" do Ventura são o BE e o PAN?
Eu não me importo que haja vegans, laicos, gays, lésbicas, malta que fuma erva, gente que odeia touradas, gente que é anti-caça, que haja ciganos, pretos, amarelos, chineses ou esquimós, etc.
E, não me importo, porque sou, sinto-me e actuo REALMENTE com respeito pela Liberdade e pela Democracia e porque até conheço, exaustivamente, o teor da Constituição da República Portuguesa.
E, por ser e actuar assim, não permito, nem vou permitir que outros me queiram restringir nos meus direitos e liberdades e me queiram formatar e subjugar aos seus gostos e interesses pessoais.
As pessoas que votaram no André Ventura não são fachistas, são apenas gente farta e social e culturalmente oprimida pelos radicalismos de esquerda e dos amiguinhos dos animais.
A culpa do voto no Ventura é do PS e do PSD que embarcaram nesta coisa das modas, ao invés de manterem o rumo norteado pelo bom senso e pela coerência.
Tanto pisaram, tanto desrespeitam e menosprezaram o português comum, que as pessoas se começaram a revoltar.
Ainda há tempo para evitar males maiores, assim o PS e o PSD consigam ler os sinais e arrepiar caminho.
Caso contrário... a realidade vai encarregar-se de lhes abrir a pestana.
1 comment:
Caro Rui:
O tema dos ciganos não explica a ascensão do Chega. Há outras causas muito mais decisivas que impeliram quase 500.000 portugueses um pouco por todo o país a votar no André Ventura, e que pouco ou nada têm a ver com ciganos, racismo, xenofobia, apoios do estado etc. O que há é um mal-estar larvar que apoquenta muitos portugueses e a que o sistema político-partidário não responde. Ou responde com abstracções, causas fracturantes, neutralidade carbónica , ambiente e transição climática que encerra unidades viáveis, como a Central de Sines ou a Refinaria de Matosinhos, lançando para o desemprego, num tempo de crise e pandemia uns muilhares de trabalhadores, ou vai demolir património construído moderno como a Torre habitacional de Viana do Castelo. A situação da Justiça é um descalabro, a prática nepotista do governo uma afronta.
Esta situação é que explica o Chega e o voto de centenas de milhares no A.V. Lamentavelmente, não vejo nem governo, nem partidos a quererem alterar este estado de coisas,uns porque quanto pior, melhor, outros porque esse é o seu melhor.
Não simpatizo com o Chega, nem com as ideias do Chega, nem com o modo como o A. Ventura as expõe. Mas a inacção do aparelho político a resolver os problemas só vai aumentar a exposição do Chega. Depois, queixamo-nos.
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