Saturday, January 04, 2020

DOIS MUSEUS



Washington DC reune no National Mall, uma alameda que desde o Capitólio se prolonga ao longo da Consitution Avenue,  uma  concentração ímpar de museus e monumentos.
Dois deles, os mais recentes, foram instalados no Mall nos últimos 15 anos: o National Museum of the American Indian em Setembro de 2004 e o The National African American History and Culture inaugurado em em Setembro de 2016 pelo Presidente Barack Obama.
Só ontem nos foi possível visitar este último.

São muito diferentes um do outro, salvo na intenção de exorcizar más memórias: no primeiro caso, do genocídio índigena, no segundo da escravatura.
No primeiro, enaltece-se tanto quanto possível a subsistência de reminescências de algumas culturas indígenas mas nenhum líder sobrou para incentivar o seu povo a reeguer-se. Foram todos mortos num tempo em que não havia nem registo de imagens nem de voz. Hollyood elevou o genocídio a uma gesta heróica.
No segundo, o homem reergue-se dos tempos da escravatura, num caminho que sobe do nível mais substerrâneo do edifício, o quinto, para o mais elevado, também o quinto, impulsionado pela luta que durou séculos até ao orgulho de ser negro.

No nível mais baixo, uma informação deprimente para quem sinta ter culpas no cartório: 5,8 milhões de negros terão sido escravizados e transportados em barcos portugueses, atingindo um recorde diabólico.
A história explica-se pelas causas e as consequências de cada momento relevante.
Recentemente, foi objecto de discussão pública a instalação de um museu da escravatura em Lisboa. Não sei em que ponto se encontra a ideia, se ficou bloqueada ou apenas supensa.
Mas é uma má ideia. Porque os pecados, se pecados houve, não se exorcizam com uma exposição pública. Aconteceram porque houve causas, e houve consequências, que só a História pode explicar a quem quiser entender. 



 Se não puder visitá-lo, veja algumas imagens aqui


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É certamente insólito que coloque aqui uma das peças menos representativas do espírito criador do museu: uma instalação a que o autor, B.K. Adams titula "Transformation "Blue Horse".

Só há uma razão: Também eu um dia pintei um burro de verde, que o professor traçou, indignado, com cruz vermelha. 
Não há burros verdes!, disse ele. Mas há. E azuis também ...
Já contei essa história lá bem para trás, que agora não consegui localizar. Ficará para mais tarde.


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