Leio no Expresso de ontem:
“A Rússia diz ter desde esta sexta-feira no seu vasto arsenal de mísseis um que é bem mais potente do que todos os outros existentes no mundo. Vladimir Putin garante que o Avangard pode viajar até 27 vezes mais rápido do que a velocidade do som e chegar a qualquer ponto do planeta.”
Idêntica notícia foi transmitida, pelo menos, pela BBC News, pelo Washington Post e pela Aljazeera.
Aliás o Washington Post publicava na última semana do ano passado a informação de que a Rússia estava prestes a juntar ao seu arsenal atómico um míssil nuclear hipersónico. Putin anunciara que o primeiro ensaio tinha sido bem sucedido.
Não serão fake news.
E, no entanto, não tiveram o impacto na opinião pública que o lançamento do primeiro satélite artificial lançado em 4 de Outubro de 1957 pela, então, União Soviética, levado pelo foguetão Sputnik. Os norte-americanos reagiram com o seu primeiro satélite em 31 de Outubro de 1958, ganhando a corrida espacial com a chegada à lua, com um voo tripulado, em 20 de Julho de 1969, há 50 anos.
É incontestável que a corrida espacial é entusiasmante; já a corrida aos armamentos nucleares uma ameaça tão apocalíptica parece que, por autodefesa do precário equilíbrio mental do mundo, é melhor que não se fale nisso. Com o apocalipse ao virar da esquina o que pode fazer o cidadão comum?
A ameaça de uma destruição maciça da espécie é, pelo menos, tão provável e mais iminente que a destruição do planeta pelas alterações climatéricas mas nenhuma outra Greta Thunberg (para citar a figura mais saliente dos protestos pela destruição da Terra) não suscita qualquer revolta popular global talvez porque, querem acreditar como uma fé inamovível, o terror de um holocausto global continuará a conter aqueles que têm acesso aos comandos dos arsenais nucleares.
Mas se assim continuará a ser, se o equilíbrio do terror manterá os mísseis sossegados, por que razão continuam a crescer os arsenais e as negociações para a sua redução bloqueadas?
Peter Sellers parodiava em 1964 Dr. Strangelove, num filme de Stanley Kubrick, o desencadear de um ataque norte-americano à Rússia por um general enlouquecido. Como comédia, terminava bem.
Enquanto o mundo considerar que o senhor Putin, o senhor Trump, até o supremo líder Kim Jong-un, ou outros quaisquer que lhe sucedam não são mais do que comediantes da treta, talvez um dia a espécie humana se extinga a rebentar de riso.
Paroquialmente, colegas e amigos trocaram entre si anualmente copiadas mensagens de Boas Festas e Feliz Ano Novo. Até que alguém picou com intencional ironia no Orçamento de Estado para 2020 e, como rastilho, pegou fogo, brando, a uma discussão serôdia entre as virtudes visíveis do capitalismo e a ressurreição da boa nova comunista. Como esperável, ninguém arredou pé das suas convicções cristalizadas ou da sua fé impenitente.
Curioso é que, também neste caso de cada qual olhar para o seu umbigo, ninguém reparou que o senhor Xi Jinping é líder até querer de uma ideologia por estudar: o capitalismo comunista ou, para quem preferir, o comunismo capitalista.
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