Sunday, February 11, 2024

O INFAME INIMIGO PÚBLICO NÚMERO UM DA EUROPA

Não foi, até agora, abordado o tema nos debates a que assisti, por nenhum dos candidatos às eleições de 10 de Março, nem questionado pelos entrevistadores, as consequências da guerra que, há quase dois anos, é travada nas fronteiras da União Europeia entre a Rússia e a Ucrânia.
Que a Rússia pretende submeter todo o território ucraniano ao seu domínio é inegável, porque Putin tem afirmado e reafirmado esse propósito iniciado com o que ele em 24 de fevereiro de 2022 quando afirmou ao mundo: "Tomei a decisão de realizar uma operação militar especial".  E Vladimir Putin iniciou a invasão da vizinha, Ucrânia, desencadeando o pior conflito no continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial."
 
Do que se passou desde então, todo o mundo viu as imagens tele visionadas do constante massacre, da brutalidade, do horror sem qualificação possível, a que os povos ucranianos foram e, continuam e a estar, sujeitos.
A Ucrânia está defender-se com as armas que tinha, mas também sobretudo com a vontade de se manter livre fora de um regime que a oprimiu durante séculos. Contou com as armas que, de forma insuficiente, porque medrosa, têm sido fornecidas pelos EUA e pela União Europeia e um outro membro da Nato não membro da União Europeia, mas que agora vêm esvair-se porque os partidários de Trump na Câmara de Representantes recusam continuar o auxílio norte-americano. E a União Europeia (Áustria, Irlanda, Chipre e Malta não são membros da Nato)  não tem meios de defesa, nem materiais nem sistemas organizativos para dar à Ucrânia os meios de defesa que a Ucrânia necessita para manter a soberania do seu território e, implicitamente, a soberania dos europeus livres.

Apesar dessa notória insuficiência de meios de defesa, os ucranianos têm resistido de forma que só encontra paralelo possível na, naquela altura, inacreditável, resistência dos bravos finlandeses que enfrentaram os exércitos soviéticos em obediência a Estaline, durante a guerra iniciada pelo ditador soviético às 10:30 da manhã de 30 de novembro, com o bombardeamento massivo de bombas sobre Helsínquia.   
"Nas semanas seguintes, o mundo assistirá com admiração como o pequeno exército de uma pequena república báltica trava uma guerra que inspirará a luta contra os militares invasores, contra o poderio militar da União Soviética" - William R. Trotter - "Inferno Congelado".
 
Em 1940, a Finlândia foi obrigada a ceder parte do seu território após a perda de muitos militares seus, mas infligindo aos soviéticos perdas de vidas e materiais em número muito superior. Manteve a sua soberania e garantiu a sua neutralidade. Até ao ano passado, quando sob tremenda ameaça de Putin, Finlândia e Suécia solicitaram adesão à Nato.

Mas de Putin já são há muito conhecidas as suas ambições de domínio sobre a Europa Livre.
Também já eram conhecidas as intenções de Trump, se for eleito presidente em 8 de novembro.
Agora, ficámos a saber que os contornos da traição de Trump aos compromissos aos europeus, propondo-se terminar a guerra na Ucrânia, oferecendo a Ucrânia Putin, são mais imediatos: 
 
"Donald Trump disse no sábado que, se for reeleito Presidente dos Estados Unidos, avisou os aliados da NATO que encorajaria a Rússia a fazer o que entendesse com países com dívidas à NATO. - Lusa - aqui Trump fez estas declarações enquanto intensificava os ataques à ajuda externa e às alianças internacionais de longa data, ao falar num comício na Carolina do Sul, onde relatou uma história que já antes contara sobre um membro da NATO não identificado que o terá confrontado sobre a ameaça de não defender os Estados que não cumprissem as metas de financiamento da Aliança Atlântica.
O ex-presidente norte-americano critica frequentemente os aliados da organização que não financiam suficientemente a instituição."Um dos presidentes de um grande país levantou-se e disse: Bem, senhor, se não pagarmos e formos atacados pela Rússia, vai defender-nos?", relatou o milionário antes de revelar a resposta: Não, não vou proteger-vos mais. Aliás, vou encorajá-los a fazerem o que quiserem. Vocês têm de pagar as dívidas".
 "Não pagou, é delinquente", disse Trump ao recordar o episódio.
 
Quem é que não paga as dívidas?
Antes tinha afirmado que os aliados da organização não financiam suficientemente a instituição.
São afirmações claramente distintas, se não contraditórias, mas reafirmam a intenção de Trump de continuar a pressionar os seus apoiantes (muito provavelmente, neste momento, uma maioria dos norte-americanos) a continuarem a recusar o apoio dos EUA à Ucrânia e, implicitamente, a incumprirem os seus compromissos na NATO.
 
Voltando ao princípio deste apontamento: Em Portugal a questão da ameaça militar russa parece não ser tema que valha a discussão entre os principais líderes partidários.
Discutem-se, e ainda bem, as políticas nas áreas da saúde, da educação, da desigualdade fiscal, da pobreza e da riqueza extremas,  do crescimento económico, sem o qual não há políticas susceptíveis de vingar, muito pouco, quase nada, na área da justiça, e nada no campo da defesa.
É Portugal, quanto a ausência de discussão de políticas de defesa externa, um caso raro na União Europeia?
Lamentavelmente, tanto quanto sei, não é.
Por medo?
Por cobardia?
Há muitas promessas, muitas visitas de cortesia, muitas palmadas nas costas, mas pouca ajuda, e, sobretudo, uma ausência absoluta de um caminho resoluto para uma União Europeia de Defesa. Uma política que, não nos iludamos, exigirá ainda mais sacrifícios aos europeus, mas que evitará no futuro "sangue suor e lágrimas" dos agora mais jovens.
 
Tornou-se a União Europeia uma união de cobardes onde prepondera a demagogia e a chantagem de um ou outro traidor fiel a Putin e admirador de Trump?
Parece-me que sim. E, se assim continuar, a liberdade europeia será derrotada.
 


c/p Semanário Expresso - 16/02/2024
  

4 comments:

Anonymous said...

Excelente, caro Rui
Abr
APC

Rui Fonseca said...


Obrigado, António.
Abr
Rui

Rogério Silva said...

Gostei Rui.
Abraço.
Ruca

Rui Fonseca said...

Obrigado, Rogério.
abç