O quadro apareceu-me num e-mail enviado por remetente conhecido.
A intenção é óbvia: explicar que a percentagem de votantes depende do OE, dos "dependentes do Estado"
A questão já tinha visto abordada no Polígrafo Sic, os números eram outros a apontar para conclusões diferentes.
Em
qualquer caso, nestes quadros são omitidos todos aqueles que, não tendo
vínculo profissional à administração pública, têm contratos de
fornecimentos de bens e serviços de dimensões que ultrapassam as de
qualquer linha destes mapas.
O
curioso é que muitos que criticam (com ou sem razão) a dimensão da
intervenção pública na economia, são, também eles, pagos pelo OE.
Mas
é aceitável que todos os que trabalham na função pública sejam
pejorativamente considerados como dependentes? Um médico, p.e., ao
serviço do SNS é um dependente do Estado? Não será, pelo contrário, o Estado (toda a população) dependente dos médicos? Quem é dependente: o médico ou o doente?
As palavras têm peso que é
minimamente eticamente exigível ponderar.
No
particular caso dos pensionistas, coativamente obrigados, desde os
tempos de outro senhor, a contribuir para a segurança social, a
dependência só existe porque as contas da segurança social não são, e
deviam ser, autónomas das contas de gestão dos bens e interesses
públicos, isto é, daquilo a que por simplificação e confusão de termos
se designa correntemente por Estado.
Há
anos, ouvi uma senhora historiadora, diz-se ela, perorar, em jeito
crítico, na antena 1 da RTP sobre o elevado número de pessoas
dependentes do Estado incluindo nas suas contas os reformados da
segurança social.
Naquela altura, eu ainda não me encontrava reformado, e como a referida senhora escrevia, e ainda escreve no Blasfémias,
observei-lhe que também ela recebia, certamente mediante contrato que,
pelos vistos ainda se mantém, avença paga por uma entidade pública
encostada ao Orçamento do Estado, sendo, portanto, segundo o mesmo
critério, uma dependente do Estado.
Meteu a viola no saco.
Ontem
comentei o quadro recebido, restringindo as minhas observações à
rubrica " Pensionistas da Segurança" que aparece, mal, adicionada aos
"Pensionistas da Caixa Geral de Aposentações", isto é, do Estado. Quanto
à questão motivadora do quadro, - a dimensão do Estado - seria assunto
que outros destinatários do mesmo quadro se iriam, certamente,
pronunciar.
Caríssimos,
Não contesto nem confirmo os
números apresentados. Há dias, no programa Polígrafo da Sic foram
apresentados números, considerados correctos, muito diferentes destes.
Quais estão correctos, não sei nem vou perder tempo com o tema.
Mas
repudio a ideia de que todos os pensionistas são dependentes do Estado,
um conceito frequentemente usado e abusado para encobrir
irresponsáveis.
Que Estado? O conjunto dos bens e
interesses colectivos ou o aparelho que administra por delegação
democrática esses interesses e bens?
Estado é um conceito abstracto; se fosse um ente concreto aposto que certamente já teria sido abatido.
Durante
a minha vida profissional (45 anos) fui obrigado a pagar mensalmente
contribuições para a segurança social (os nomes variaram ao sabor dos
regimes).
Imagino que alguns dos participantes neste
fórum não tenham sido obrigados a essas contribuições; Sorte deles. Mas,
certamente, que a grande maioria contribuiu.
Somos todos dependentes?
Dependentes de quem e porquê?
Reconheço
que se, por alguma razão, um dia os administradores voltarem a cortar a
minha pensão ou a inflação a corroer de forma galopante, tornar-me-ei
num dependente, na melhor hipótese, das minhas economias. Mas não dos
administradores, que deixaram de honrar os compromissos assumidos.
Encurtando razões: sou credor não sou dependente dessa coisa que mora em parte incerta e que abusivamente chamam Estado.
Ou não?
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