Sunday, March 17, 2019

OUTRA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Percebi que a sua situação familiar estava desestabilizada desde o momento em que, no decorrer de uma conversa sobre um assunto totalmente diferente, ele, que trabalha nos arredores de Lisboa, me disse que tinha ido ver a filha a Castelo Branco, saíra de lá já era noite, e por essa razão tinha chegado tarde a casa, dormira pouco e mesmo assim tinha-se atrasado para a reunião que marcara connosco.
Dias depois, e no seguimento daquela e de outras reuniões para tratar do assunto que nos levara a conhecê-lo, soube que residia nos arredores de Lisboa, na Parede. 
Não resisti perguntar-lhe:
- Mas não me disse há dias que tinha ido visitar a sua filha que vive em Castelo Branco?
- Vive lá com a mãe. É a minha riqueza. Tem agora nove anos. Vou mostrar-lhe a fotografia dela? Não é um encanto?
...
Não sou casado, vivemos juntos durante seis anos, a minha mãe ia todos os dias levar e trazer a menina da escola, depois, subitamente, ela foi para Castelo Branco, levou a nossa filha, e cortou relações comigo e com a minha família. Os meus pais não vêm a neta há dois anos ...
...
Eu iniciei um caminho de calvário que levou ao tribunal, um caminho que, quase me destroçou mas não me obrigou a desistir. Não têm conta as vezes que tive de me deslocar a Castelo Branco para ver a minha filha e voltar sem conseguir sequer vê-la ao longe. 
Até que o juiz, tendo ouvido e rejeitado todos os argumentos fantasiosos e até infames, apresentados pela mãe para recusar o convívio, previsto na lei, da minha filha comigo, decidiu a meu favor, e, obviamente, mais que a meu favor, a favor da minha filha. Porque destes estúpidos comportamentos de alguns adultos, são os filhos as maiores vítimas. 
...
Ultimamente, as decisões do tribunal têm sido minimamente respeitadas. Mas, não raramente, dez minutos após a entrega, está a telefonar para berrar-me que devo entregar-lhe a filha imediatamente.
Nesta última vez, quando lhe entreguei a nossa filha, à porta do apartamento onde vivem, e comecei a descer o primeiro degrau da escada, deu-me um murro nas costas que quase me fez tombar pelas escadas abaixo. 
Devia retorquir? Pois não devia, e não retorqui. Voltei-me para trás, e sorri-lhe. 
Espero que ela tenha percebido que não é com murros sem testemunhas que me obriga a um gesto que me faça perder a minha filha. O sofrimento com o afastamento da minha filha é muitíssimo  maior do que aquele que uma tentativa dela para me fazer desesperar ou ferir fisicamente  me pode provocar. 

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