SINTRA, 13 de abril de 2018
Querida Rosa Morena,
Querida Doralice,
Ontem, depois do jantar, estávamos, eu, o teu avô Rui e a
tua avó Isabel, a ler as notícias nos jornais, ou a ver as que passavam na
televisão aquela hora. Nós não vemos muita televisão, preferimos antes um bom
teatro, um bom filme de cinema, de vez em quando até um jogo de futebol, embora
nenhum de nós seja adepto de um clube qualquer ou perceber grande coisa de futebol.
Para dizer toda a verdade, é frequente
confundirmos quem é que está a jogar de um lado e do outro porque, aí já
chegámos à conclusão, eles mudam muitas vezes de clube e ainda mais
frequentemente de cor das camisolas.
De repente, a vossa avó Isabel disse:
- A Rosa Morena faz anos a 13 de Maio, hoje já são 11 de
Abril, temos que preparar um cartão de boas festas para enviar à Rosa Morena e
não podemos atrasar-nos porque o tempo passa a correr (isto é o que dizem as
pessoas porque até hoje nunca ninguém viu o tempo a correr, vocês já viram?,
pois não, as palavras às vezes são marotas, é preciso ter cuidado com elas), e
os correios andam atrasados.
Ora, nós não somos avós de ir ali à papelaria do lado
comprar cartões iguais aos que os outros compram. E assim, todos os anos, temos
construído nós mesmos os cartões que enviamos aos nossos netos, a vocês Rosa
Morena e Doralice, em Hombrechtikon, na Suíça, e ao Miguel e à Rita, em Reston,
na Virgínia, Estados Unidos da América. E que prazer, que encanto sentimos no
tempo que dedicamos a esses trabalhos manuais em cartolinas de várias cores, com
desenhos, assim uma espécie de origamis inventados por nós dedicados nossos
queridos netos, todos diferentes, todos os anos.
Este ano, disse o avô Rui, vamos mudar completamente de
técnica, de estilo e de tamanho: vamos enviar à Rosa Morena uma mensagem com
sete metros de comprimento. Ela faz sete anos, a mensagem terá sete metros, que
te parece?
Parece-me bem. Vamos a isso.
E fomos! Fomos ao Staples que é uma loja grande onde
vendem muita coisa, e também vendem papeis, cartolinas e outras coisas assim, e
ficámos depois a saber, também imprimem o quer que seja no comprimento que
desejarmos.
O senhor que nos atendeu, para ser mais preciso devo
dizer o jovem que nos atendeu, porque, dizendo senhor vocês poderiam pensar que
estava a referir-me a um homem com muita idade, assim com quarenta ou cinquenta
anos ou mais, mas dizia eu, perguntou-me o jovem para que fim queríamos nós
imprimir um papel com um comprimento tão fora do vulgar.
Dissemos-lhe que era para escrever uma mensagem de
desejos de feliz aniversário para a nossa neta Rosa Morena, que vive em
Hombrechtikon, na Suíça. Ela vai completar sete anos no próximo dia 13 de Maio.
Ah! Agora percebo, perfeitamente. Só perguntei porque
poderia estar a interpreta mal o que pretende. Então para o ano serão oito
metros?
Sim, cada ano a mais, um metro a mais. Para isso é que
que bebo todas as manhãs um copo de água morninha com um pinguinho de limão.
E resulta?
É uma evidência: Enquanto continuar a beber todas as
manhãs um copo de água morninha com um pinguinho de limão, vou poder continuar
a mandar postais a desejar felizes aniversários aos meus netos até, pelo menos
aos cem anos.
O jovem sorriu, e disse: Tem é que nos trazer a mensagem
já dactilografada no computador e nós cá arranjaremos tudo. Papel, impressão, e
um rolo para embalar a mensagem.
E aqui estamos nós, são sete horas da tarde, para começar
a nossa mensagem que, palpita-me seja um pouco longa mas que tu, Rosa Morena e
a tua irmã, Doralice, considerarão interessante um dia mais tarde, só não
sabemos hoje quando será esse dia.
Querida Rosa Morena,
Antes de mais, desejamos-te que passes um dia de
aniversário muito feliz, na companhia de quem tiver sido convidado para a tua
festa. Desejamos-te, querida Rosa Morena, muitas felicidades, muitos sucessos,
muitos anos de vida!
Nós não vamos estar presentes na tua festa, aliás só
estivemos na festa do teu primeiro aniversário, nessa festa também estiveram o
avô Firenzo e a avó Elisabeth, pais da tua mãe, e o teu tio Stephan, irmão da
tua mãe, depois nunca mais fomos convidados para estar presentes na celebração
dos teus anos nem dos da Doralice. Ficámos sempre muito pesarosos nesses dias,
até mais do que naqueles em que nos lembramos de vós, que são todos os dias do
ano. Um dia, espero que haja um dia, que compreenderás as mágoas que nos
causaram, e continuam a causar, as amarguras das nossas ausências e avaliar
quanto vos amamos apesar da distância a que temos sido relegados.
Nas vésperas do teu nascimento, ficámos tão contentes
quando soubemos que nos sentimos os avós mais felizes do mundo. Já tínhamos
dois netos, o Miguel e a Rita nos Estados Unidos, uma neta na Suíça fazia de
nós, mas exagerávamos no entusiasmo, claro, uma família fantástica, com raízes
livres em vários cantos do mundo.
Por essa altura, a tua avó Elisabeth, que vive em
Zurique, encontrava-se adoentada e, nós, a avó Isabel e o avô Rui fomos daqui, de
Sintra, onde nunca estiveste, mas temos a certeza que gostarias de visitar,
para Adliswil, onde, durante um mês,
ajudámos no que pudemos, e ajudámos tanto que até emprestámos aos teus pais a
maioria do dinheiro com que foi construída a casa onde agora vives com a tua
mãe, e a tua irmã Doralice.
Rejubilámos com o ambiente, gostámos imenso de um disco
que os teus pais gravaram em celebração do teu nascimento, a tua mãe cantava
muito bem, o teu pai acompanhava-a à guitarra, salvo erro cantaram e gravaram
dez ou doze canções, a última ou a penúltima cantada por ambos.
Sabes porque te deram o nome de Rosa Morena?
É da primeira canção do disco:
Rosa, Morena!
Onde vais Morena Rosa?
Com essa rosa no cabelo
E esse andar de moça prosa
Morena, Morena Rosa...
Onde vais Morena Rosa?
Com essa rosa no cabelo
E esse andar de moça prosa
Morena, Morena Rosa...
…. Uma canção brasileira de
Dorival Caimmi, cantada por Gilberto Gil.
Os teus pais gostavam muito de
música brasileira, bossa nova, a tua mãe é suíça, mas fala muito bem português,
além de mais quatro ou cinco outras línguas, filha de pai italiano, o teu avô
Firenzo, infelizmente já não é vivo, gostámos dele desde a primeira vez em que
nos encontrámos, era engenheiro, já estava reformado, gostava muito de
cozinhar, todas as semanas ia almoçar com a irmã, que vivia perto, e a tua avó,
Elisabeth, suíça, não sendo expansiva como o marido, sempre nos tratou com
muita cordialidade e atenção, a que correspondemos com não menos apreço e
amizade. Soubemos há dias que está hospitalizada porque terá caído e partido um
fémur, um dos ossos das pernas, esperamos e já lhe desejámos rápida
recuperação. Ela é uma senhora com muita coragem, sofre de Parkinson há vários
anos, mas mantém-se com uma lucidez admirável e gosta muito do nosso filho, do
teu pai, tanto quanto o teu pai, o nosso filho gosta dela. Quem os nossos
filhos beija, nossa boca adoça, costumamos nós dizer por aqui.
A ouvir aquela canção, cantada
pelos teus pais, vieram-nos as lágrimas aos olhos, com tanta comoção. Tal como
agora, quando escrevo esta mensagem … …. ….
Já passou …
Continuaremos amanhã, logo de
manhã, depois do copo com água morninha e a gotinha de limão antes do
pequeno-almoço.
Pouco mais de dois anos
depois, nova alegria! Ia nascer a Doralice!
E mais canções com os teus
pais a celebrar, desta vez em registo na internet, o nascimento da Doralice:
Doralice eu bem que lhe
disse
Amar é tolice, é bobagem, ilusão
Eu prefiro viver tão sozinho
Ao som do lamento do meu violão
Amar é tolice, é bobagem, ilusão
Eu prefiro viver tão sozinho
Ao som do lamento do meu violão
…também do Dorival Caimmi cantada
pelo Gilberto Gil.
Numa das vezes que fomos
ao Brasil, andámos uma tarde inteira para comprar e trazer as partituras e as
letras de várias canções bossa nova que o vosso pai nos pediu para trazer de
lá. Estarão agora ainda aí em casa ou no apartamento dele?, não sabemos, e,
supomos, que nem tu nem a tua irmã devem saber.
Desta vez, aquando do
nascimento da Doralice não foi solicitada a nossa ajuda, antes, pelo contrário,
foi-nos indicado que não deveríamos aparecer enquanto a Doralice não
completasse três meses. Contactos de adultos com bebés antes dos três meses não
eram recomendáveis, disse a vossa mãe. Ficámos surpreendidos mas atribuímos o
facto às alterações que se observam frequentemente nas recomendações médicas;
para uns, hoje é bom uma coisa, para outros, amanhã o contrário.
Fomos mais tarde. E como
sempre tínhamos feito, levávamos rosquilhas, tu ainda te lembras o que são
rosquilhas?, aqueles anéis enrolados de massa e azeite, doces de maçã, de
laranja, de ginja, de nectarinas, de framboesa, de figo, que te encantavam
porque não descansavas enquanto não eram as malas esvaziadas e retiradas as
embalagens por ti. Sabes quem fazia, e ainda faz aqueles doces e muitos outros?
A avó Isabel, com frutas criadas no pomar da aldeia onde o avô Rui nasceu.
Também, estamos muito certos, que gostarias de visitar a nossa aldeia e o nosso
pomar, onde também produzimos tangerinas, kiwis, ameixas, pêssegos, uvas,
peras, limões, nozes, muitas nozes, a avó Isabel não dispensa nozes em quase
todas as refeições que tomamos em casa, e que são quase todas.
A aldeia, onde temos o pomar,
tem um Jardim Escola muito bonito com muitas crianças que ali aprendem a
desenhar, a cantar, a dançar, a moldar o barro, a ler e a contar.
Ainda guardo comigo o livro
que, quando tinha a tua idade, líamos no Jardim-Escola. Ainda tenho esse livro,
o Livro da Capa Verde.
A professora tinha o costume
de colocar a data, a lápis, no fim de cada texto quando ele era lido e
entendido por cada um de nós. É por essa razão que eu sei que o texto “O senhor
Março” foi lido e entendido por mim a 4 de Abril de 1949, tinha então sete
anos, feitos no dia 1 de Fevereiro, o dia do meu aniversário.
É um texto muito curioso
porque trata do cumprimento das obrigações que temos quando aceitamos certos
compromissos. Nele, os pastores, que tinham suportado frio e tempestades, que
muito os tinham prejudicado durante os meses de inverno, prometeram ao senhor
Março que lhes ofereceriam, cada um deles, um borreguinho, se, durante a
primavera, lhes trouxesse bom tempo.
O senhor Março ouviu, e
calou-se.
E durante o mês de Março o
tempo não podia ter corrido melhor aos pastores e aos seus rebanhos. Tão bem,
que nasceram muitos borreguinhos, que cresceram tão depressa como nunca antes
se tinha visto. Então, um dos pastores disse para os outros, irmãos os rebanhos
estão salvos e já não pode haver mau ano. Por que é que havemos de dar agora os
borreguinhos prometidos ao senhor Março? Todos concordaram e decidiram não
entregar borreguinho nenhum ao senhor Março. Quando o senhor Março soube desta
decisão dos pastores, disse: Ah! Faltam ao que prometeram? . Com dois dias que
ainda tenho meus e um que peço emprestado ao meu compadre Abril, eu os ensino.
E o resultado foi desastroso para os pastores. Nos dias 30 e 31 de Março e no
dia 1 de Abril choveu tanto e fez tanto frio que se alagaram os campos e
perderam-se as pastagens, e os rebanhos, porque sem pastagens não há rebanhos.
Nem leite, nem queijo, nem manteiga, acrescento eu agora.
Portanto, querida Rosa Morena,
aceita uma sugestão deste teu avô Rui: nunca faltes ao que prometas, nem
prometas nada que saibas que não poderás cumprir.
Por falar em Jardim-Escola,
quantos meninos andam na tua escolinha? No meu Jardim-Escola éramos trinta e
dois, hoje, deverão ser cerca de oitenta. Há dias passei por lá, e a ouvi-los a
cantar algumas canções que também eu lá cantei, senti-me por momentos voltar
aqueles tempos em que, ainda crianças, éramos tão felizes. Em nossa casa, nos
dias de Natal e da Páscoa, ou nos dias de anos, juntava-se a família toda, e
era uma alegria imensa poder brincar com os nossos primos.
E é também a relembrar-me
desses tempos que recordo os tempos, muito curtos, é certo, mas tão deliciosos,
em que estivemos convosco.
O que nós brincávamos, Rosa
Morena e Doralice! Com a bola, tu gostavas muito de dar pontapés na bola, e
sentarem-se nos pés da avó Isabel que, levantando e baixando as pernas,
estendidas e juntas, para vocês se sentarem, dizia uma lenga-lenga que vocês
adoravam:
“Arre burrito, arre chóchó,
que leva a menina para casa da avó” E vocês sempre queriam mais e mais, até que
as pernas da avó Isabel já não podiam mais e entrava o avô Rui a fazer o “Arre
burrinho, arre chóchó ,que leva a menina para a casa da avó,” enquanto também
as pernas dele pudessem.
Ainda se lembram? Receio que não.
Também não se lembram, quando
se iam deitar, as vezes que vinham junto à cancela na porta ao cimo da escada,
a rirem-se fingindo que iam para a cama, para logo aparecerem, vezes e vezes
sem conta? Tão encantadoramente risonhas!
A Rosa Morena, à mesa,
portava-se lindamente. Comia muito bem e, sendo pequenina eu dizia, se ela
continuar a portar-se assim vamos ter uma linda menina quando for para a
escola.
Tu vais para a escola este ano
não vais? Ouvi dizer que a tua mãe prefere ensinar-te e à Doralice em casa. O
vosso pai, o meu filho não concorda, porque, segundo ele, as crianças precisam
de aprender na escola, porque só na escola aprendem também a conviver em
sociedade, isto é, com as outras pessoas.
Eu, porque o vosso pai é meu
filho, posso ser considerado suspeito se me ponho aqui a realçar as suas
capacidades intelectuais e os seus valores morais. Tenho a certeza que um dia,
tu Rosa Morena, e tu, Doralice, terão a oportunidade de constatar que não faz
sentido nenhum que a tua mãe, faltando aos compromissos assumidos, não vos
deixe, a ti e à Doralice, que o vosso pai vos veja.
Faz já mais de um ano e meio
que ele não vos vê nem nós. Porquê? Não sabemos nem a vossa mãe nos diz.
Tu não sabes porquê, o vosso
pai não sabe porquê, nós não sabemos porquê. O que sabemos, temos a certeza
disso, é que não há nenhuma razão aceitável que justifique o estranho
comportamento da vossa mãe.
No dia deste Natal fomos, eu,
o vosso avô Rui e a avó Isabel, bater à porta de casa com a intenção de vos
desejar boas festas e entregar umas prendinhas, típicas da época natalícia. A
vossa mãe estava em casa convosco e com um casal que o vosso pai também
conhece. Quando nos abriram a porta, primeiro o homem do casal e depois a
mulher, tentámos perceber que razões levavam a vossa mãe a não nos receber, que
mal lhe tínhamos feito nós. Como a conversa no exterior demorou alguns minutos,
apareceu a vossa mãe a ordenar que o casal nos empurrasse fechando-nos a porta
na cara.
Porquê?
Quando naquela noite fria de
fim do Outono o vosso pai nos telefonou, amargurado como nós nunca o tínhamos
ouvido, dizer que ele e a vossa mãe iam separar-se só não ficámos completamente
estupefactos porque há algum tempo, pouco tempo depois de ter nascido a
Doralice começámos a constatar comportamentos estranhos, pelo menos para nós,
da parte da vossa mãe. Não vamos aqui relatar senão um ou outro desses
comportamentos, se fôssemos a registar todos dos que nos lembramos não
chegariam os sete metros combinados.
Sempre respeitámos os horários
a que poderíamos falar com o nosso filho, com a vossa mãe, para poder ter umas
palavrinhas convosco. E estranhávamos que o vosso pai, quando queria falar
connosco, o fazia sistematicamente quando estava fora de casa a passear o
Milagro, aquele cão tão bonito e tão triste por passar os dias inteiros, salvo
nos intervalos de pequenos passeios, sentado naquele canto, imagino que a
pensar tentando adivinhar, como nós, o que se passou para ter havido uma
alteração tão súbita naquela casa.
E porque nos telefonava o
vosso pai de fora de casa, ao vento e ao frio, quando poderia, ou deveria
poder, fazê-lo dentro de casa? Porque a vossa mãe não consentia? Era a única
justificação que encontrávamos. Aliás, coerente, diga-se de passagem, porque um
dia nos tinha dito que encontros com familiares uma vez em cada três anos
seriam mais que suficientes. Naquela altura, engolimos em seco e pensámos que
era reflexo de um momento menos feliz.
De outra vez, estávamos nós os
dois sentados no sofá, naquele sofá bordeaux tão bonito e tão original, depois
de tanto jogar à bola e a outros jogos dentro de casa, quando eu me lembrei de
pegar num lápis e dizer: Um!, isto com a intenção de tu me ensinares a contar
em alemão, porque não sei falar alemão, e tu sabes falar alemão e português,
pelo menos naquela altura sabias, e eu achava delicioso que a minha neta me
ensinasse. Sempre gostei que me ensinassem, peço sempre que me ensinem o que
não sei, aprender com uma netinha que tinha, naquela altura, cinco anos,
considerava uma das maiores maravilhas do mundo.
Peguei no lápis e disse: Um, e
tu respondeste eins, e eu, dois, e tu zwei, e eu, três, e tu, drei, e eu,
quatro, e tu, vier, e eu, cinco, e tu,
fünf, e eu, seis, e tu, sechs, e eu, sete, e tu, sieben, e eu oito, e
tu, acht, e eu nove, e tu, neun …e
ríamos, o que nós ríamos com o prazer de eu, o teu avô Rui aprender o que tu,
querida Rosa, me ensinavas.
Subitamente, a tua mãe, veio a
correr para nós, tirou-nos os lápis, pegou em ti ao colo, e subiu apressadamente
as escadas, foi para o quarto, já de lá não saiu naquela tarde. De cá de baixo,
e enquanto ela subia as escadas, eu perguntava:
Corinne, o que se passa?, o
que é que eu fiz de mal Corinne?
Não obtive resposta, o teu pai
estava na casa de banho no primeiro andar, em frente do quarto, perguntei-lhe:
Pedro, o que é que se passa? Que fiz eu de mal, perguntei com as lágrimas a
escorrerem-me sem que as conseguisse conter. Tens de compreender, disse ele
para me acalmar, que a Corinne está doente. Talvez seja trauma de pós-parto. Às
vezes acontece. Respirei fundo, havia uma razão a que eu era totalmente alheio
e a minha consciência permitiu-me dormir alguma coisa nessa noite.
Mais tarde, foi em Junho, o
mês em que o Miguel faz anos, vieram os teus primos Miguel e Rita com os pais
dos Estados Unidos para vos visitar, afinal nunca nos tínhamos encontrado
juntos num local, apesar de sermos tão poucos, seis adultos e três crianças, a
Doralice ainda não era nascida.
Por proposta do teu pai, sem
que ninguém se opusesse e todos se tenham entusiasmado com a proposta, iríamos
apanhar um teleférico para subir a uma daquelas montanhas fantásticas, e, lá em
cima, celebrássemos o aniversário do Miguel com um almoço de salsichas e Coca
Cola. Quando íamos a sair de casa, a vossa mãe disse que não iria, conhecia
muito bem aquele local, para ela não tinha qualquer interesse ir lá mais uma
vez. Vamos, então, a outro local aqui mais perto, sugeri eu. Podemos até
almoçar naquele restaurante junto ao lago, o Milagro é um tipo bem comportado,
e também pode ir connosco. A vossa mãe, não aceitou, aliás, não aceitou nem
quis sugerir nenhum outro local, poderíamos, disse eu, até almoçar lá em casa.
A vossa mãe recusou.. E nós lá fomos acima, o avô Rui, a avó Isabel, o Miguel,
a Rita e o Milagro. Cantámos os parabéns a você, comemos salsichas, bebemos
Coca Cola, salvo o Milagre que só come ao jantar, parece que por regime adequado
à sua condição, e só bebeu água. Depois voltámos, e não se passou mais nada
digno de registo.
Depois de ter recebido a
informação com voz dramaticamente amargurada do vosso pai, nosso filho de que
iria haver separação da família, e eu lhe pedi que não saísse de casa, que,
aliás, era sobretudo dele, disse-me que não conseguiria suportar por mais tempo
as iras incontroladas da vossa mãe, com reflexos terríveis irremediáveis nas
crianças, e iria procurar um apartamento por perto, telefonei à vossa mãe, e
perguntei-lhe:
O que se passa, Corinne, de
tão grave que justifique uma separação que afectará tão negativamente sobretudo
as vossas filhas? Que fez o Pedro assim
de tão imperdoável que o tenhas obrigado a sair de casa?
Respondeu-me, depois de alguns
instantes em que deixei de a ouvir: O Pedro é mentiroso, e eu não suporto
mentiras.
Mas que mentiras? Podes
dizer-nos? Para uma decisão tão grave as mentiras devem ser gravíssimas …
Foi, lembras-te da última vez
que a Ana cá esteve com o marido e os filhos? Pois o Pedro disse-me que a Ana
não ficaria em nossa casa nessa noite (diga-se em abono da verdade que nunca a
vossa mãe convidou, nem naquela altura nem nunca, a Ana, a nossa filha e a
família, que na totalidade são quatro a ficar lá em casa, sempre alugaram
quartos de hotel nas redondezas) porque ficariam num hotel junto do aeroporto,
mais fácil para apanharem avião para os Estados Unidos no dia seguinte. Mas a
Ana, ao jantar disse, que ficando perto do aeroporto, teria algum tempo para
fazer jogging antes de ir para o aeroporto. O Pedro mentiu porque sabia que a
irmã afinal só tinha que estar no avião à tarde!
Oh! Corinne, e é por isso que
vocês se vão separar??? Perguntei, tão estupefacto com a resposta que nem tive
ideia nem ela me deu tempo para perguntar mais nada.
Corinne, perguntei, quando
liguei mais tarde, que posso eu fazer para evitar uma ruptura de que as vossas
filhas vão ser as principais vítimas? Nada, respondeu ela, tão evasivamente que,
novamente, não me deu oportunidade para perguntar mais nada.
Depois, foi assinado um acordo
de separação por dois anos, o vosso pai obrigou-se a pagar todas as despesas
com o sustento, educação, saúde, vossas e dela, com os direitos de visita e
presença estabelecidos na lei para os pais separados. Disse todas as despesas
porque só o salário do vosso pai suporta todas as despesas, uma vez que, se
saiba, a vossa mãe não exerce trabalho retribuído.
O vosso pai tem cumprido todos
os compromissos assumidos perante os advogados e ratificados pelo tribunal. A
vossa mãe, há um ano e meio que, com escusas de variada ordem mas bem
identificados em casos semelhantes de alienação parental, não tem permitido que
o vosso pai vos veja sequer, apesar de viver perto.
De nós, vossos avós, deixou de
atender chamadas telefónicas, não responde a e-mails, recusa a recepção de
cartas. Como atrás referimos fechou-nos a porta na cara no dia de Natal quando
simplesmente queríamos estar uns breves momentos que fossem com as nossas netas
e entregar-lhes umas simples prendinhas… Alguns dias depois disse a pessoa que
falou com ela, que nos avisasse que, se voltássemos a aparecer junto da casa
para ver as nossas netinhas, chamaria a polícia!
Não vamos voltar a aparecer,
não porque nos prenda qualquer resquício de cobardia, mas porque nunca fomos
gente de apoquentar a polícia fosse por que razão fosse e, sobretudo, porque
queremos acreditar que a justiça, as instituições que na Suíça têm
responsabilidades de defender os interesses das crianças em perigo, seja a
causa qual for, acabarão por repor o cumprimento dos compromissos assumidos,
mas não cumpridos pela vossa mãe, da
custódia partilhada dos filhos de casais desavindos, neste caso, o mais
elementar direito de um pai de estar com os seus filhos e, além do mais, participar
na decisão dos caminhos da sua educação enquanto eles não forem maiores para
decidirem os seus próprios destinos.
Sei que o mais provável é que
esta mensagem, que enviaremos com registo e aviso de recepção, vá ser devolvida
à procedência, à semelhança da carta que enviámos antes do Natal a pedir à
vossa mãe que nos indicasse em que dia poderíamos ver-vos, a vós, de quem
gostamos tanto, e que foi devolvida sem sequer ter sido aberta.
Também sabemos, querida Rosa
Morena que, muito provavelmente, a vossa mãe já vos disse vezes sem conta que o
vosso pai é mau, sem vos dizer nem a ninguém porquê, e que nós, vossos avós seremos
não conseguimos imaginar o que ela vos tenha já dito vezes sem conta de nós.
E sabemos, que, mesmo que esta
mensagem vos chegasse às mãos vocês não a saberiam ler, e muito menos ela a
leria para vós entenderem o que vos transmitimos. Há dois anos, Rosa Morena,
ficávamos espantados como tu falavas português (sabes Rosa Morena que o
português é uma das línguas mais faladas no mundo?), e como a Doralice, então
com menos de três anos nos entendia perfeitamente. Sabemos que a vossa mãe
estará a limpar dos vossos cérebros, há mais de ano e meio, não só as imagens
do vosso pai e dos vossos avós mas também o vocabulário e a gramática na língua
portuguesa que tão facilmente tinham aprendido. Se a limpeza das imagens do
vosso pai e de nós está em curso, há uma limpeza que ela não pode fazer, a
menos que possa demonstrar cientificamente que vocês não são filhas do nosso
filho e, por conseguinte, não são nossas netas. Isto é, por mais voltas que ela
dê, há um obstáculo que ela não pode ultrapassar: vocês não são propriedade
dela, nem de ninguém, aliás. Um dia chegará, se não for antes, em que vocês
assumirão os direitos da vossa maioridade e, no momento em que escrevo isto,
espero muito que o comportamento dela não esteja a perturbar irremediavelmente
a vossa personalidade futura. Esperamos muito fortemente que os actos de
manipulação a que vocês estão sujeitas, e que são característicos em casos
semelhantes, sejam interrompidos antes que a gravidade da sua extensão os torne
irreversíveis. Queremos acreditar que a consciência daqueles que têm em mão a
responsabilidade de mandar cessar esta enorme iniquidade não sossegará enquanto
não der por terminado este aprisionamento, este sequestro, esta violência sobre
vós, as maiores vítimas de uma perturbação sem sentido.
O vosso pai, queridas Rosa
Morena e Doralice, é a única fonte da vossa sustentação e da vossa mãe, porque
só ele trabalha. É ele que tudo paga, incluindo a amortização do empréstimo
bancário que complementou o empréstimo, não remunerado, que nós fizemos para a
construção da casa que vocês habitam. Ele teve que se mudar para um apartamento
por não poder suportar mais as impertinências sem sentido da vossa mãe,
fomentando uma situação que, inegavelmente, psicologicamente vos estava a ferir
e a ele a mortificar.
Ninguém, nenhuma pessoa é um
bloco inerte capaz de resistir a todos os tormentos que lhe infligirem. Nada é
indestrutível, salvo o amor de quem ama. Ao proceder tão perversamente à
destruição do vosso pai, a vossa mãe, consciente ou inconscientemente, está a querer
perturbar as capacidades intelectuais e as resistências físicas do vosso pai.
Que pretende ela com isso? Abalar-lhe a
saúde ou a força anímica? Com que propósito? Sei, porque conheço muito bem o
meu filho, que ele nunca abandonará a luta pela recuperação da convivência com
as filhas que tanto ama. Sei quanto é grande o seu pacifismo e bondade, sei que
a esperança na intervenção das autoridades suíças é a sua única arma, mas não
sei, ninguém sabe até que ponto a perversidade da tua mãe não pode levá-lo um
dia para a cama de um hospital.
Quando, naquele dia, em que eu
falei com a tua mãe, pedindo-lhe que dissesse quais as razões da separação de
que tínhamos sido informados no dia anterior, e ela me deu aquela resposta, sem
qualquer sentido, a propósito de um horário de saída de Zurique para Washington
DC, disse-lhe: Corinne, com a vossa separação serão as vossas filhas que
suportarão incomparavelmente os maiores custos. Estava muito longe de saber a
extensão que esses custos iriam alcançar. Uma extensão que continuamos a
ignorar, mas que sabemos que continuarão aumentar enquanto subsistir uma
atitude que ninguém compreende.
Se o vosso pai ficar
temporariamente impossibilitado de trabalhar, porque ninguém é inabalável, nem
as maiores cidades do mundo o são, pretenderá ela viver da segurança social, e
invocar que o direito de presença e visita do pai junto das suas filhas cessa
porque o pai está doente e impossibilitado de pagar as despesas da casa?
Gostaria muito que ela vos
lesse e explicasse esta mensagem, mas não vai ler e muito menos explicar. Terá
ela pelo menos a honradez de a ler e responder-me, corrigindo-me no que afirmo,
se for caso disso.
Um pensador português disse um
dia que “se não receio o erro é porque estou sempre disponível para o corrigir”
Assim estou eu, totalmente
disponível para mudar de opinião se alguma ou algumas das afirmações que fiz
não tem consistência ou carece de provas.
Disponível, e com alguma
esperança que a honradez, talvez um valor em desuso em algumas mentalidades,
venha ainda a proporcionar a oportunidade leal, franca, de boa-fé, de minimizar
os danos já causados e evitar danos ainda mais gravosos no futuro para ti
querida Rosa Morena e para ti querida Doralice.
É, também, para suscitar essa
disponibilidade que vamos enviar esta mensagem, formalmente original, pensamos
nós, a acompanhar a principal razão que a motivou: enviar os nossos desejos de
muitas felicidades à nossa querida Rosa Morena por ocasião do seu sétimo
aniversário, com muitos beijinhos e muitos abraços que envolvam a nossa querida
Doralice.
Parabéns! Parabéns! Parabéns!
! Queridíssima Rosa Morena!
Muitos
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! beijinhos para ti e para a Doralice.
Tentaremos falar convosco pelo
telefone, para casa, no dia do teu aniversário, querida Rosa Morena.
Entretanto, cá continuo a
beber em cada manhã um copinho de água morna com um pinguinho de limão, antes
do pequeno almoço.
A quem ler esta mensagem
advirto que o que nela está escrito só a mim, Rui Manuel Correia Fonseca,
responsabiliza, porque mais ninguém foi chamado por mim a informar, corrigir ou
de alguma forma influenciar o texto que escrevi. E reservo-me o direito de divulgá-lo
junto de quem sabe dos nossos desgostos, das nossas amarguras, das humilhações
a que estamos a ser sujeitos.
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SINTRA, den
13.April 2018
Liebe Rosa Morena,
Liebe Doralice,
gestern haben wir, dein
Großvater Rui und deine Großmutter Isabel, nach dem Abendessen Zeitung gelesen
und gleichzeitig die Nachrichten im Fernsehen gesehen. Wir sehen sonst
nicht sehr viel fern, wir bevorzugen eher ein gutes Theaterstück, einen guten
Film im Kino und manchmal auch ein Fußballspiel, obwohl wir gar keinen festen
Fußballclub haben und auch nicht viel davon verstehen. Um ganz ehrlich zu sein,
wir verwechseln oft die Mannschaften, die gerade spielen und wir haben schon
festgestellt, dass die Spieler oft den Club wechseln und noch häufiger das
Trikot.
Ganz plötzlich hat eure Großmutter
Isabel gesagt:
- Rosa Morena hat am 13. Mai Geburtstag
und heute ist schon der 11. April, wir müssen Rosa Morena eine Glückwunschkarte
schreiben und wir dürfen keine Zeit vergehen lassen, die Zeit vergeht wie im
Fluge (das sagen die Leute so, aber bis heute hat noch niemand die Zeit fliegen
sehen, oder habt ihr das schon einmal gesehen? Natürlich nicht. Die Worte sind
manchmal hinterlistig, man muss sehr vorsichtig mit ihnen sein) und die Post
verspätet sich immer.
Also, wir sind nicht die Großeltern, die
zum Schreibwarenladen gehen und irgendeine Grußkarte kaufen, so wie alle
anderen das machen. Und so kommt es eben, dass wir jedes Jahr die
Geburtstagskarten basteln, die wir unseren Enkeln schicken, euch Rosa Morena
und Doralice in Hombrechtikon in der Schweiz und auch Miguel und Rita in Reston
in Virgina/ USA. Es macht uns so viel Spaß und bereitet uns so viel Vergnügen
jedes Jahr verschiedene Grußkarten in unterschiedlichen Farben, Materialien und
Zeichnungen, wie eine Art Origami für unsere geliebten Enkelkinder zu basteln.
In diesem Jahr, so sagte ich, euer
Großvater Rui, werden wir unsere Technik, unseren Stil und die Größe komplett
ändern: wir werden Rosa Morena eine 7m lange Nachricht schicken. Sie wird
7Jahre alt, also wird unser Gruß 7m lang sein, was denkst du?
Ich fand die Idee toll – lass uns
anfangen!
Und so haben wir angefangen. Wir sind
zum Staples, ein großes Schreibwarengeschäft, gefahren, wo es unter anderem
auch Papier, Pappe und andere Dinge gibt und wir haben dort erfahren, dass sie
nach Kundenwunsch auch verschiedene Größen und Längen ausdrucken.
Der Mann, der uns beraten hat, ich
sollte lieber sagen, der junge Mann, sonst denkt ihr noch, dass es ein schon
sehr alter Mann um die vierzig oder fünfzig war, hat und gefragt, wofür wir
diese so ungewöhnliche Größe bräuchten. Und so haben wir ihm erzählt, dass wir
unserer Enkeltochter Rosa Morena einen Geburtstagsgruß nach Hombrechtikon in
der Schweiz schicken möchten und, dass sie am 13. Mai sieben Jahre alt wird.
Ah, jetzt verstehe ich, sagte er, ich
wollte nur fragen, damit ich Sie nicht falsch verstehe. Dann werden es wohl im
nächsten Jahr 8m?
Ja, jedes Jahr wird ein Meter
dazukommen. Um das zu schaffen, trinke ich jeden Morgen ein Glas lauwarmes
Wasser mit einem Tropfen Zitronensaft.
Und wirkt es?
Augenscheinlich: so lange ich jeden
Morgen ein Glas lauwarmes Wasser mit einem Tropfen Zitronensaft trinke, werde
ich meinen Enkelkindern bis zu meinem einhundertsten Geburtstag
Glückwunschkarten schicken können.
Der junge Mann lächelte und
sagte: Sie müssen uns die Grüße nur Computer-geschrieben mitbringen, wir
erledigen dann den Rest. Das Papier, den Druck und eine Rolle zum
Verschicken.
Und so sitzen wir hier, es ist sieben
Uhr abends und beginnen unsere Grüße aufzuschreiben, die sicher etwas länger
werden, aber ich glaube, dass du, Rosa Morena, und deine Schwester sie später
einmal interessant finden werden, auch wenn wir heute noch nicht wissen, wann
dieser Moment kommen wird.
Lieben Rosa Morena,
wir wünschen dir vor allem,
dass du einen sehr glücklichen Geburtstag mit deinen Geburtstagsgästen
verbringst. Wir wünschen dir, liebe Rosa Morena, alles Gute, viel
Erfolg und viele weitere Geburtstage!
Wir werden bei deiner Geburtstagsfeier
nicht dabei sein können. Eigentlich waren wir nur bei deinem ersten Geburtstag
dabei. Bei dieser Feier waren auch dein Großvater Firenzo und deine Großmutter
Elisabeth, die Eltern deiner Mutter, sowie dein Onkel Stephan, der Bruder
deiner Mutter anwesend. Danach sind wir leider nie wieder eingeladen worden,
deinen und Doralices Geburtstag mitzufeiern. An diesen Tagen ist uns immer ganz
schwer ums Herz, sogar noch mehr als an den anderen Tagen, an denen wir an euch
denken, und das sind alle anderen Tage des Jahres. Ich hoffe, dass ihr eines
Tages verstehen werdet, welchen Schmerz man uns zugefügt hat und uns auch
weiterhin zufügt, die Bitterkeit unserer Abwesenheit und auch wie sehr wir euch
lieben, auch wenn uns diese Entfernung von anderen auferlegt wurde.
Am Vortag deiner Geburt haben wir uns
wie die glücklichsten Großeltern der Welt gefühlt. Wir hatten zwar schon zwei
Enkelkinder, Miguel und Rita in den USA, und nun sollten wir eine Enkeltochter
in der Schweiz bekommen, die aus uns eine fantastische Familie mit Wurzeln in
allen Ecken der Welt machen würde.
Zu dieser Zeit war deine Großmutter
Elisabeth krank und wir, Großmutter Isabel und Großvater Rui, haben hier in
Sintra, wo du noch nie warst, aber es dir sicher gut gefallen würde, die Koffer
gepackt und sind nach Adliswil gefahren, wo wir einen Monat lang geholfen
haben, wo es nur ging. Wir haben deinen Eltern sogar den größten Teil des
Geldes geliehen, mit dem das Haus gebaut wurde, in dem du jetzt mit deiner
Mutter und deiner Schwester Doralice lebst.
Wir waren in dieser Umgebung sehr glücklich
und uns hat besonders eine CD gefallen, die deine Eltern zur Feier deiner
Geburt aufgenommen haben, denn deine Mutter konnte sehr gut singen und dein
Vater hat sie auf der Gitarre begleitet. Wenn ich mich nicht irre, haben sie
zehn oder zwölf Lieder aufgenommen. Das letzte oder vorletzte haben sie
gemeinsam gesungen. Weißt du, warum du den Namen Rosa Morena bekommen hast?
Es war das erste Lied auf der CD:
Rosa,
Morena!
Onde vais Morena Rosa? Com essa rosa no cabelo E esse andar de moça prosa Morena, Morena Rosa.. |
Rosa,
Morena
Wohin
gehst du, Morena Rosa?
Mit
dieser Rose im Haar,
und
diesem Gang eines Prosamädchens
Morena,
Morena Rosa
|
… das ist ein brasilianisches Lied von
Dorival Caimmi, von Gilberto Gil gesungen.
Deine Eltern hörten gern brasilianische
Musik wie Bossa-Nova. Deine Mutter ist Schweizerin, spricht aber sehr gut
Portugiesisch, neben vier oder fünf anderen Sprachen und sie hat einen
italienischen Vater, dein Großvater Firenzo, der leider nicht mehr lebt. Wir
mochten uns vom ersten Moment an. Er war Ingenieur und war schon berentet,
kochte aber sehr gerne und ging jede Woche mit seiner Schwester, die in der
Nähe wohnte, essen, und deine Großmutter Elisabeth, Schweizerin, die nicht so
aus sich heraus ging, hat uns aber immer sehr höflich und aufmerksam behandelt,
worauf wir mit nicht minderer Zuneigung und Freundschaft reagierten. Wir haben
vor Tagen erfahren, dass sie nach einem Sturz und einem Oberschenkelbruch im
Krankenhaus ist. Wir wünschen ihr eine schnelle Genesung. Sie ist eine sehr
mutige Frau, leidet seit Jahren an Parkinson, hat aber eine bewundernswerte
Klarheit beibehalten und sie mag unseren Sohn, deinen Vater, so sehr wie dein
Vater, unser Sohn, sie mag. Man sagt hier: Wer unsere Kinder küsst, versüßt
unseren Mund.
Wenn wir dieses Lied hören, welches
deine Eltern gesungen haben, kommen uns vor Rührung Tränen in die Augen. So wie
jetzt, da ich diese Nachricht aufschreibe … … …
Es geht schon wieder …
Wir werden morgen gleich früh
weiterschreiben, natürlich nachdem ich mein Glas lauwarmes Wasser mit einem
Tropfen Zitronensaft getrunken habé, aber noch vor dem Frühstück.
Etwas mehr als zwei Jahre später bekamen
wir eine weitere freudige Nachricht! Doralice wurde geboren!
Und so gab es noch mehr Lieder, um die
Geburt von Doralice zu feiern. Diesmal aber als Post im Internet:
Doralice eu bem que lhe disse
Amar é tolice, é bobagem, ilusão Eu prefiro viver tão sozinho Ao som do lamento do meu violão |
Doralice, ich habe dir doch
gesagt,
Lieben ist eine Torheit,
Blödsinn und Ilusion
Ich lebe lieber ganz allein
Zur klagenden Musik meiner
Gitarre
|
… … das ist auch von Dorival Caimmi, von
Gilberto Gil gesungen.
Bei einer unserer Reisen nach Brasilien,
waren wir einmal einen ganzen Nachmittag auf der Suche nach den Partituren und
Texten verschiedener Bossa-Nova-Lieder, um die uns dein Vater gebeten hatte.
Sind die vielleicht noch bei euch oder in seiner Wohnung? Wir wissen es nicht
und wahrscheinlich weißt weder du noch deine Schwester etwas davon.
Als Doralice auf die Welt kam, wurden
wir nicht um Hilfe gebeten, ganz im Gegenteil, uns wurde gesagt, dass wir nicht
kommen sollten, bevor sie 3 Monate alt sei. Laut deiner
Mutter sei der Umgang von Erwachsenen und Babys unter drei Monaten nicht
empfehlenswert. Wir waren sehr überrascht, haben aber alles auf die ständig
wechselnden Empfehlungen der Ärzte geschoben. Heute ist etwas gut und morgen
schon nicht mehr.
Wir sind dann später gefahren. Und wie
immer haben wir auch Rosquilhas mitgenommen, (kannst du dich noch erinnern, was
rosquilhas sind? Das ist das Gebäck in Zopfform aus Olivenölteig) Apfel- Orangen-
Kirsch- Nektarinen- Himmbeer- und Feigenmarmelade, die dich faszinierte und du
hast nie Ruhe gegeben, bis du nicht alle Koffer ausgeräumt und die Päckchen
ausgepackt hattest. Weißt du, wer die Marmelade und vieles mehr machte und auch
heute immer noch macht? Deine Großmutter Isabel macht sie aus dem Ertrag unseres
Obstgartens des Dorfes, aus dem dein Großvater Rui stammt. Wir sind uns sicher,
dass es dir in unserem Dorf und in unserem Obstgarten gut gefallen würde. Wir
bauen auch Mandarinen, Kiwis, Pflaumen, Pfirsiche, Weintrauben, Birnen,
Zitronen und Nüsse an. Deine Großmutter Isabel macht an fast alle unsere
Gerichte Nüsse und die sind fast alle aus unserem Eigenanbau.
Das Dorf, in dem wir unseren Obstgarten
haben, hat auch einen sehr schönen Kindergarten mit vielen Kindern, die dort
malen, singen, tanzen, kneten, lesen und rechnen lernen.
Ich habe sogar noch das
Kindergartenbuch, dass ich gelesen habe als ich in deinem Alter war. Ja, ich
habe das Buch mit dem grünen Umschlag immer noch.
Unsere Lehrerin hatte die Angewohnheit
bei jedem der Schüler mit Bleistift das Datum unter den Text, den wir fertig
gelesen und bearbeitet hatten, zu schreiben. Aus diesem Grund weiß ich, dass
ich den Text “der Herr März” am 4. April 1949 gelesen und verstanden hatte. Ich
war damals also sieben Jahre alt. Mein Geburtstag ist der 1. Februar.
Der Text ist eigenartig, da er vom Einhalten unserer
Pflichten handelt, die wir annehmen, wenn wir Vereinbarungen eingehen. In
diesem Text geht es um Hirten, die Kälte und Stürme überstanden hatten und die
ihnen in den Wintermonaten sehr geschadet hatten. So hatten sie dem Herrn März
versprochen, ihm je ein Lämmchen zu schenken, wenn er ihnen dafür im Frühling
gutes Wetter bescheren würde.
Der
Herr März hörte sie an und schwieg.
Im März hätte das Wetter nicht besser sein können. Es
war so gut, dass viele Lämmchen auf die Welt kamen und so schnell heranwuchsen
wie noch nie zuvor. So sagte einer der Hirten eines Tages zu den anderen:
Brüder, unsere Herden sind gerettet, es kann kein schlechtes Jahr mehr werden.
Warum sollten wir Herrn März jetzt noch unsere versprochenen Lämmchen schenken?
Alle waren einverstanden und verabredeten keine Lämmchen abzugeben. Als Herr
März von diesem Entschluss der Hirten erfuhr, sagte er nur: Ah! Ihr kommt eurem
Versprechen also nicht nach? Ich habe noch zwei Tage und borge mir einen von
meinem guten alten Freund April, und ich werde euch eine Lektion erteilen. Für
die Hirten war der Ausgang der Geschichte desaströs. Am 30. und 31. März sowie am 1. April regnete es so stark und wurde so kalt,
dass die Felder überfluteten und Weiden verloren gingen und damit auch die
Herden, denn ohne Weiden können die Herden nicht leben. Und auch Milch, Käse
und Butter, füge ich jetzt noch hinzu.
Du
siehst, liebe Rosa Morena, lass dir von deinem Großvater Rui einen guten Rat
geben: vergiss deine Versprechen niemals, und versprich nichts, was du nicht
halten kannst.
Da
wir gerade vom Kindergarten sprechen - wie viele Kinder gehen eigentlich in deinen
Kindergarten? In meinem waren wir zweiunddreißig, aber heute sind es bestimmt
an die achtzig. Vor ein paar Tagen bin ich daran vorbeigegangen und habe die
Kinder Lieder singen hören, die auch ich schon gesungen habe und war kurz
wieder in diese Zeit versetzt als ich noch klein war. Wir waren sehr glücklich.
In unserem Haus versammelte sich zu Weihnachten oder Ostern immer die ganze
Familie; es war eine Freude mit unseren Cousins spielen zu können.
Wenn
ich an die Kindheit denke, muss ich auch an die sehr kurze, aber wunderschöne
Zeit denken, die wir bei euch waren.
Rosa
Morena und Doralice, was haben wir gespielt! Es hat dir so viel Spaß gemacht
mit dem Ball zu spielen und dich auf die Füße deiner Großmutter Isabel zu
setzen, die sie dann immer ausgestreckt hoch und runter schwingen ließ, damit
ihr euch wie auf eine Wippe setzen konntet und sie hat dann immer die
Kinderverse gesungen, die ihr so geliebt habt:
"Arre
Burrito, arre burrito, que leva a menina para a casa da avó" Ihr konntet
nicht genug bekommen bis Großmutters Beine nicht mehr konnten und Großvater Rui
einspringen musste und "arre burrito, arre chóchó, que leva a menina para a casa da avó" singen
musste, solange die Beine mitmachten.
Erinnert ihr euch noch? Ich denke mal nicht.
Sicher erinnert ihr euch auch nicht mehr an das Zubettgehen.
Ihr seid immer zum Gittertürchen oben an der Treppe gekommen, habt gelacht, so
getan, als würdet ihr schlafen gehen, um dann gleich wieder dazustehen. So ging
es dann unendlich weiter. Es war ein so entzückendes Gelächter!
Rosa Morena, du hast dich bei Tisch so wunderbar benommen, hast
sehr gut gegessen und ich habe immer gesagt: wenn du dich weiter so gut
benimmst, werden wir später ein wunderschönes Schulmädchen haben.
Und nun kommst du dieses Jahr in die Schule, nicht wahr? Ich
habe gehört, dass deine Mutter dich und deine Schwester Doralice lieber zu
Hause unterrichten will. Euer Vater, unser Sohn ist damit nicht einverstanden.
Er ist der Meinung, dass Kinder in einer Schule lernen sollten, weil man in der
Schule auch das Zusammenleben lernt, also das gesellschaftliche Leben.
Ich bin natürlich suspekt, wenn ich hier seine intellektuellen
Fähigkeiten und moralischen Werte hervorhebe, da euer Vater mein Sohn ist. Ich
bin sicher, dass ihr, du Rosa Morena und du Doralice, verstehen werdet, dass es
keinen Sinn ergibt, dass eure Mutter ihr Versprechen nicht einhält und nicht
zulässt, dass euer Vater euch sehen kann.
Es sind nun schon anderthalb Jahre vergangen, dass er euch
nicht sieht und wir auch nicht. Warum? Wir wissen es nicht und eure Mutter sagt
es uns auch nicht.
Du weißt nicht warum, dein Vater weiß nicht warum, und wir
wissen auch nicht warum. Wir wissen nur, dass es keine akzeptable und plausible
Erklärung für das komische Verhalten eurer Mutter gibt.
Zu Weihnachten haben wir, euer Großvater Rui und eure
Großmutter Isabel, an eure Haustür geklopft, um euch ein frohes Fest zu
wünschen und auch ein paar Geschenke, die doch so typisch für die
Weihnachtszeit sind, zu bringen. Eure Mutter war mit euch und einem
befreundeten Paar, das euer Vater auch kennt, zu Hause. Als uns die Tür
geöffnet wurde, kam zuerst der Mann und dann die Frau an die Tür. Wir wollten
verstehen, warum eure Mutter uns nicht empfangen wollte und was wir falsch gemacht
hatten. Da unser Gespräch an der Haustür ein paar Minuten dauerte, kam auch
eure Mutter, verlangte, dass uns das Paar raus schob und schloss die Tür.
Warum?
Als uns unser Sohn an diesem kalten Oktoberabend anrief,
klang seine Stimme so verbittert, wie wir ihn noch nie gehört hatten und
erzählte uns, dass er und eure Mutter sich trennen würden, was uns nicht
wirklich überraschte, weil wir nach Doralices Geburt nach und nach ein
merkwürdiges Benehmen bei eurer Mutter festgestellt hatten. Wir werden hier
nicht alle wundersamen Erinnerungen aufschreiben, sonst werden die vereinbarten
sieben Meter nicht ausreichen.
Wir haben immer alle mit eurer Mutter abgemachten Zeiten
eingehalten, zu denen wir mit unserem Sohn sprechen konnten, nur um ein paar Worte
mit ihm zu wechseln. Für uns war es merkwürdig,
dass euer Vater, immer wenn er mit uns sprechen wollte, anrief, wenn er mit
“Milagro” außer Haus war und spazieren ging. Dieser Hund war ein so schöner,
aber auch trauriger Kerl, da er, von den kleinen Spaziergängen mal abgesehen,
den ganzen Tag in einer Ecke saß und sicher versuchte, so wie wir auch, zu
verstehen, was vor sich ging, da diese Veränderungen so unvermittelt über uns
alle hereinbrachen.
Wir haben uns die Frage gestellt, warum uns euer Vater immer
anrief, wenn er außer Haus war – warum nicht von zu Hause, was doch normal
gewesen wäre. Hatte eure Mutter etwas dagegen? Es war die einzige Erklärung,
die wir gefunden haben, schon weil sie uns einmal gesagt hatte, dass
Familientreffen alle drei Jahre mehr als ausreichend wären. Damals haben wir
geschluckt, aber die Bemerkung als eher unglücklich eingestuft.
Ein anderes Mal saßen wir zwei nach ausgiebigem Fußballspiel und
anderen Spielen im Haus auf dem Sofa, du weißt schon – das weinrote, schöne und
so originelle Sofa, als ich einen Stift nahm und sagte: “Um!”, ich wollte, dass
du mir die Zahlen auf Deutsch beibringst, weil ich ja nicht Deutsch spreche,
aber du sprichst Deutsch und Portugiesisch, wenigstens zu dieser Zeit und ich
fand es entzücken, dass mir meine Enkeltochter etwas beibringen konnte. Ich
habe immer gerne gelernt und ich bitte immer darum, dass man mir Dinge
beibringt, die ich nicht weiß. Für mich war es das Größte von meiner
fünfjährigen Enkeltochter etwas lernen zu können.
Ich habe einen Bleistift genommen und sagte: “um!” und du hast mir
mit “eins” geantwortet, dann habe ich “dois” gesagt und du “zwei”, ich: “três”
und du “drei”, ich “quatro” und du “vier”, ich “cinco” und du “fünf”, ich
“seis” und du “sechs”, ich sete” und du “sieben”, ich “oito” und du “acht”, ich
“nove” und du “neun”… wir haben so gelacht und hatten so viel Spaß, weil du,
meine liebe Rosa, deinem Großvater Rui die Zahlen beigebracht hast.
Unerwartet kam deine Mutter, hat uns den Bleistift weggenommen,
hat dich hoch genommen und ist die Treppe hinaufgegangen und verschwand im
Zimmer und ist den ganzen Nachmittag nicht wieder herausgekommen. Ich habe noch
von unten gefragt:
Corinne, was ist los, habe ich etwas falsch gemacht?
Aber ich habe keine Antwort bekommen. Dein Vater war im Bad
gegenüber. Ich habe auch ihn gefragt: Pedro, was ist los? Ich hatte Tränen in
den Augen und konnte sie auch nicht zurückhalten. Er hat nur gesagt, dass ich
Verständnis haben soll, da Corinne krank ist. Vielleicht war es eine Depression
nach der Geburt. Das passiert manchmal. Ich musste tief durchatmen, aber es gab
eine Erklärung, die mir jedoch unbekannt war. In dieser Nacht ließ mich mein
Gewissen mehr recht als schlecht schlafen.
Im Mai, in dem Miguel Geburtstag hat, kamen deine Cousins, er,
Rita und die Eltern aus den USA, um euch zu besuchen. Wir hatten uns bis dahin
nie alle zusammen an einem Ort getroffen, obwohl wir gar nicht so viele sind;
nur sechs Erwachsene und drei Kinder (Doralice war damals noch nicht geboren).
Dein Vater machte den Vorschlag, dem sich auch niemand
verweigerte, sondern alle begeistert annahmen, die Seilbahn zu nehmen, um in
die fantastischen Berge zu fahren und Miguels Geburtstag mit Würstchen und Cola
zu feiern. Als wir das Haus verlassen wollten, sagte eure Mutter ab, denn sie
kannte den Ort und empfand kein Interesse ihn noch einmal zu besuchen. Ich
schlug also vor, einen anderen Ort in der Nähe zu besuchen. Wir hätten ja auch
im Restaurant am See zu Mittag essen können. So hätte uns Milagro als gut
erzogener Hund auch begleiten können. Eure Mutter nahm den Vorschlag aber nicht
an und wollte auch keinen weiteren Ort besuchen. Ich sagte noch, dass wir ja
auch zu Hause essen könnten, aber eure Mutter lehnte nur ab. So sind wir auf
den Berg gefahren; Großvater Rui, Großmutter Isabel, Miguel, Rita und Milagro.
Wir haben Miguel das Geburtstagslied vorgesungen, haben Würstchen gegessen und
Cola getrunken, außer Milagro natürlich, der ja nur abends isst und er trinkt
auch nur Wasser. So sind wir dann wieder zurückgefahren und nichts Weiteres ist
passiert.
Nachdem euer Vater uns mit dramatischer und verbitterter Stimme
erzählt hatte, dass sich die Familie trennen würde, bat ich ihn nicht euer Haus
zu verlassen, aber er war es, der die unkontrollierten Wutanfälle eurer Mutter
nicht mehr ertragen konnte, die unauslöschliche Spuren bei euch Kinder
hinterließen. Er wollte sich in der Nähe eine Wohnung suchen. Also habe ich
eure Mutter angerufen und sie gefragt:
Corinne, was ist so schreckliches passiert, dass eine Trennung,
die besonders euren Töchtern schadet, unabwendbar ist? Was hat Pedro gemacht,
was du ihm nicht verzeihen kannst und ihn aus dem Haus jagst?
Sie hat mir nach einigen Augenblicken geantwortet, dass Pedro ein
Lügner ist und sie keine Lügen ertrage.
Aber welche Lügen? Kannst du uns das sagen? Für eine so
schwerwiegende Entscheidung müssen die Lügen wahrlich schlimm gewesen sein…
Kannst du dich erinnern, als Ana mit ihrem Mann und den Kindern
das letzte Mal hier war. Pedro hatte gesagt, dass Ana diese Nacht nicht bei uns
bleiben würde, (wahrheitsgemäß muss man dazu sagen, dass eure Mutter niemals
eine Einladung ausgesprochen hatte und, dass Ana, unsere Tochter, mit ihrer
Familie, die insgesamt vier Personen sind, sich immer Hotelzimmer in der
Umgebung mieteten) da sie in einem Hotel am Flughafen bleiben würde, um am
nächsten Tag schneller ihren Rückflug in die USA nehmen zu können. Aber Ana
sagte beim Abendessen, dass sie so noch Zeit hätte, vor dem Flug etwas laufen
zu gehen. Pedro hatte gelogen, obwohl er wusste, dass Annas Flug erst am
Nachmittag ging.
Oh! Corinne, aus diesem Grund werdet ihr
euch trennen???, fragte ich erstaunt und sie gab mir auch keine Zeit noch
weitere Fragen zu stellen.
Ich habe dann später noch einmal angerufen und gefragt, was eine
Trennung, die hauptsächlich den Töchtern schadete, vermeiden könne, aber sie
sagte nur “nichts” und ließ mir auch diesmal keine Zeit noch weitere Fragen zu
stellen.
Anschließend wurde ein Scheidungsvertrag für zwei Jahre
unterschrieben, in dem sich euer Vater verpflichtete alle Ausgaben des
Lebensunterhalts, der Ausbildung, euer aller Gesundheit zu tragen und so wurden
auch die im Gesetz vorgesehenen Besucherrechte geregelt. Ich sagte “alle
Ausgaben”, weil nur das Einkommen eures Vaters alle Ausgaben begleicht, da eure
Mutter keiner entlohnten Arbeit nachgeht.
Euer Vater ist seinen Pflichten, die er eingegangen ist, immer
nachgegangen. Es ist eure Mutter, die mit verschiedenen Ausreden, die auch bei
ähnlichen Fällen des Kindesentzugs auftreten, eurem Vater den Umgang verbietet,
obwohl er in der Nähe lebt.
Von unserer Seite, euren Großeltern, lehnt sie jegliche Anrufe ab,
antwortet auf keine E-Mails und wehrt Briefe ab. Zu Weihnachten, wie ich schon
erzählt habe, verweigerte sie uns einen Moment mit unseren Enkeltöchtern, um
euch ein paar Weihnachtsgeschenke zu überbringen und schlug uns vor der Nase
die Tür zu. Sie ließ uns durch eine dritte Person wissen, dass sie die Polizei
rufen würde, wenn wir noch einmal versuchten, Kontakt mit unseren Enkeltöchtern
aufzunehmen!
Wir werden nicht wieder auftauchen, nicht aus Feigheit, aber weil
wir die Konfrontation mit der Polizei vermeiden möchten und, weil wir daran
glauben, dass das Recht und die schweizer Institutionen, die das Interesse der
Kinder in Gefahr verteidigen, die eingegangenen Abmachungen, wie zum Beispiel
das gemeinsame Sorgerecht, wieder herstellen werden, das eure Mutter nicht einhält
und somit eurem Vater ein Grundrecht nimmt, mit seinen Kindern zusammen zu sein
oder sich bis zur Volljährigkeit an den Ausbildungsentscheidungen zu
beteiligen.
Ich vermute, dass auch diese Nachricht, die wir per Einschreiben
abschicken werden, an den Absender ungeöffnet zurückgeschickt wird, so wie der
Brief, den wir vor Weihnachten geschickt haben und in dem wir eure Mutter
gebeten haben, uns einen Tag vorzuschlagen, an dem wir euch sehen könnten.
Wir vermuten auch, liebe Rosa Morena, dass eure Mutter euch
wahrscheinlich schon unzählige Male gesagt hat, dass euer Vater böse ist, ohne
euch oder jemand anderem zu sagen, warum und wir wollen uns gar nicht
vorstellen, was sie euch über uns erzählt haben muss.
Wir wissen natürlich auch, dass, selbst wenn dich diese Nachricht
erreicht, du sie nicht lesen kannst und dass deine Mutter sie dir bestimmt
nicht vorliest, damit du verstehen kannst, was wir versuchen zu vermitteln.
Rosa Morena, vor zwei Jahren waren wir so erstaunt, wie gut du Portugiesisch
sprechen konntest (wusstest du, dass Portugiesisch eine der meist gesprochen
Sprachen der Welt ist?) und wie gut Doralice, wenn auch noch nicht ganz drei
Jahre alt, alles verstehen konnte. Wir wissen natürlich, dass eure Mutter alles
daran setzt, aus eurer Erinnerung Bilder eures Vaters und eurer Großeltern zu
löschen, aber eben auch den Wortschatz und die Grammatik der portugiesischen
Sprache, die ihr so leicht gelernt hattet. Wenn auch die Säuberung der
Erinnerungen an euren Vater und an uns im Gange ist, eines vermag sie aber
nicht zu löschen (es sei denn sie kann es wissenschaftlich belegen), und das
ist die Tatsache, dass ihr die Töchter unseres Sohnes seid und somit unsere
Ekeltöchter. So sehr sie sich auch anstrengt, ein Hindernis kann sie nicht aus
dem Weg räumen: ihr seid weder ihr noch irgendjemandem Eigentum. Es wird der
Tag kommen, an dem ihr erwachsen werdet und die Zügel in eure eigenen Hände
nehmt und, so hoffe ich heute, da ich diese Zeilen schreibe, dass ihr Verhalten
eure Persönlichkeit nicht unwiderruflich für die Zukunft zerstört. Wir hoffen
inständig, dass die Manipulation, der ihr ausgesetzt seid und so typisch für
diese Fälle ist, unterbrochen werden kann, bevor die Auswirkungen unwiderrufliche
Schäden hinterlassen. Wir wollen auch daran glauben, dass das Gewissen jener,
die die Verantwortung in den Händen halten, sie nicht eher aufgeben lässt,
bevor dieses Gefängnis, diese Entführung und diese Gewalt, die euch angetan
wird, nicht beendet ist.
Euer Vater, liebe Rosa Morena und Doralice, ist die einzige Quelle
eures Unterhalts, weil nur er arbeitet. Er bezahlt alles, sogar die
Bankanleihe, die unsere Anleihe abrundete, sodass das Haus gebaut werden
konnte, in dem ihr heute lebt. Euer Vater musste in eine Wohnung umziehen, da
er die sinnlosen Frechheiten eurer Mutter, die euch unbestreitbar psychologisch
wehtaten, nicht mehr ertragen konnte und ihn selbst veränderten.
Niemand ist aus Stein und widersteht allen Qualen, denen er
ausgesetzt ist. Nichts und niemand ist unzerstörbar, außer vielleicht die Liebe
der Liebenden. Wer auf so perverse Weise euren Vater bewusst oder unbewusst
zerstört, wie es eure Mutter getan hat, will auch die intellektuellen und
physischen Fähigkeiten eures Vaters zerstören. Was möchte sie damit bezwecken?
Möchte sie seine Gesundheit oder seine seelische Stärke zerrütten? Und aus
welchem Grund? Ich kenne meinen Sohn recht gut und weiß, dass er den Kampf um
seine geliebten Töchter nie aufgeben wird. Ich weiß auch, wie stark sein
Pazifismus und seine Güte ist und ich weiß, dass sein Glaube an die schweizer
Autorität seine einzige Waffe ist, aber ich weiß nicht, ob die Perversion deiner
Mutter ihn nicht irgendwann an ein Krankenhausbett fesseln wird.
An dem Tag, an dem ich mit deiner Mutter gesprochen habe und sie
um Gründe der Trennung bat, von der wir ja erst am Vortag gehört hatten, und
sie mir diese sinnlose Antwort zum Abflug nach Washington DC gegeben hatte,
sagte ich noch zu ihr: Corinne, eure Töchter werden auf unvergleichbare Art und
Weise eure Trennung ertragen müssen und den höchsten Preis bezahlen. Ich konnte
mir im Traum nicht ausmalen, welches Ausmaß dieser Preis annehmen würde und ich
glaube, wir haben immer noch keine Ahnung. Eines ist sicher, er wird von Tag zu
Tag höher, solange diese unverständliche Haltung beibehalten wird.
Was wird passieren, wenn euer Vater vorübergehend arbeitsunfähig
wird, weil niemand unzerstörbar ist, nicht einmal die größten Städte der Welt
sind es? Wird sie dann von Sozialhilfe leben und das Besucherrecht einstellen
lassen, da euer Vater krank und unfähig ist, die Haushaltskosten zu tragen?
Ich wünschte, sie würde euch diese Nachricht erklären, aber ich bin
sicher, dass sie sie euch nicht vorlesen wird und noch weniger erklären. So
hoffe ich doch wenigstens, dass sie so ehrenhaft ist und sie liest und mich in
meinen Fehlern korrigiert.
Ein portugiesischer Philosoph hat einmal gesagt: “wenn ich den
Fehler nicht fürchte, so bin ich doch immer bereit ihn zu korrigieren”
Und so stehe ich zu den Dingen, ich bin vollkommen bereit meine
Meinung zu ändern, sollte eine oder einige meiner Aussagen inhaltslos oder
nicht belegbar sein.
Ich stehe allem ganz und gar offen gegenüber, und das mit einem
Hoffnungsschimmer, dass die Ehre, die vielleicht bei Einigen langsam aus der
Mode kommt, doch noch eine wahre, ehrliche und gut gemeinte Gelegenheit bietet,
den schon entstanden Schaden zu begrenzen sowie noch schlimmeren für eure
Zukunft, liebe Rosa Morena und liebe Doralice, verhindert.
Um dieser Bereitschaft zusätzlich Ausdruck zu verleihen, schicken
wir unsere Geburtstagsgrüße, anlässlich des siebten Geburtstags, der ja der
ursprüngliche Grund war, unserer lieben Rosa Morena, begleitet von viele
Küßchen und Umarmungen, die auch unsere liebe Doralice einschließen.
Alles Gute! Alles Gute! Alles Gute zum
Geburtstag! !Allerliebste
Rosa Morena!
Viele !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Küßchen für dich und Doralice.
Liebe Rosa Morena, wir werden an deinem Geburtstag versuchen am
Telefon mit dir zu sprechen.
Unterdessen trinke ich weiterhin jeden Morgen vor dem Frühstück
mein Glas lauwarmes Wasser mit einem Tropfen Zitronensaft.
Hinweis:
Ich weise etwaige Leser darauf hin, dass ausschließlich
ich, Rui Manuel Correia Fonseca, für das Geschriebene verantwortlich bin, da
sonst weder jemand dazu gezogen oder informiert wurde, noch um Korrektur oder
um eine Meinungsäußerung zum geschriebenen Text gebeten wurde. Ich behalte
mir das Recht vor, den Text mit denen zu teilen, die von unserem Kummer,
unserer Verbitterung und Demütigung zu wissen.
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