Tuesday, November 03, 2009

A GRANDE GUERRA E A VITÓRIA DE PIRRO

O Governo entregou o seu programa na AR, que é ipsisverbis o programa com que o partido que apoia o governo concorreu às legislativas. Podia ser de outro modo? Não creio.
A alteração do programa só faria sentido se o Governo resultasse de uma coligação pós eleitoral, que não aconteceu. Sendo um Governo monopartidário, o seu programa, coerentemente, só pode corresponder ao programa com que o partido chamado a formar governo se apresentou aos eleitores.
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Não tendo a maioria dos eleitores votado no partido que suporta o Governo, por serem as posições dos partidos da oposição, geralmente, contraditórias entre si, qualquer ajustamento do programa do maior partido minoritário a uma qualquer das diferentes posições dos outros reduziria eventualmente a base de apoio ao programa revisto. Dito de outro modo, qualquer alteração ao programa do partido que apoia o governo antes da discussão na AR para acolher uma qualquer proposta de um partido da oposição reduz a base de apoio popular se o número daqueles que votaram também em função dessa proposta (pelo partido da oposição em causa) for menor do que aqueles que consideraram crítico para o seu voto no partido que apoia o governo a proposta alterada.
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Há uma excepção notável: a da suspensão da avaliação dos professores, relativamente à qual, segundo as notícias, hà uma frente comum das oposições*. Que deve fazer o Governo neste caso? Manter as suas propostas ou ceder à frente comum?
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Muito provavelmente acabará por ceder.
O que constituirá uma vitória de Pirro para os partidos alternativos de governo: quando forem governo, terão de se confrontar com a redobrada força dos sindicatos e a continuação da ausência de exigência nas escolas. Perderá o país.
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*Oposição insiste na suspensão da avaliação
Da esquerda à direita, os partidos da oposição respondem no mesmo tom às declarações de hoje do ministro dos Assuntos Parlamentares: sem a suspensão do actual modelo não é possível construir outro.

4 comments:

António said...

Porque não querem ser avaliados'
Medo da sua ineficácia.
Durante muito tempo, ia para professor quem não conseguia ir para mais nada.
Ou seja, os incapazes iam para o ensino.
o resultado está à vista.Nunca esteve pior e cada vez piora mais.
Avaliação, sim senhor e quem não serve, RUA!!!
Toda a gente tem de ser avaliada, mas com rigor e isenção.
Contra os padrinhos, afilhados e corruptos, marchar,marchar!

Rui Fonseca said...

"... ia para professor quem não conseguia ir para mais nada."

Caro António,

Nem todos, nem todos.

António said...

Claro que nem todos.
Há quem tenha vocação, mas conheci muitos, mesmo muitos que tinham o ensino como ultimo recurso.Nem se importavam muito de serem colocados onde o judas perdeu as botas.
Logo se veria.
Começavam por aí, por sítios para onde ningúem queria ir.
Quem se importava se os coitaditos dos matarruanos sabiam ler coisa de jeito e fazer contas?
Adiante se veria, outro para lá iria e talvez com sorte e uma cunhazita, da próxima vez ficasse mais perto de casa.
Paulativamente, o caminho fazia-se caminhando.
Sempre a subir, quando não, greve!
Por isso a avaliação assusta.
Pudera, podem-se descobrir os podres e que afinal o avaliado fazia melhor em mudar de vida.

António said...

Mesmo em cima da hora:

"O bloco de esquerda propôs hoje um modelo de avaliação em que os professores fazem a sua própria avaliação e em que os resultados dos alunos não contam. É uma proposta revolucionária onde se privileigia a autoestima de cada um."

Quer uma anedota melhor que esta, ou assim está bem?