Sunday, July 31, 2016

LIQUIDAÇÃO TOTAL

Prejuízos do Novo Banco agravaram-se em mais 362,6 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, segundo comunicado (notável, tratando-se de um domingo!)  enviado hoje, 31 de Julho, à Comissão de Mercado de Valores, lê-se nesta notícia publicada há três horas. 

Entre Agosto e Dezembro de 2014, os primeiros cinco meses da sua existência, o Novo Banco registou prejuízos de 467,9 milhões de euros;
Contando com os prejuízos de 362,6 milhões de euros durante o primeiro semestre deste ano, o rombo total já se elevava aos 1810,5 milhões de euros, cerca de metade dos suprimentos que o governo anterior lhe entregou fingindo que a responsabilidade última pelo reembolso compete aos outros bancos através de um fundo de resolução parido à pressa. 

Amanhã, o sr. Stock da Cunha entrega o embrulho mal atado ao sr. António Manuel Palma Ramalho que, nos últimos tempos, se dedicou a presidir a uma coisa chamada Infraestruturas de Portugal, que, mais visivelmente, se entreteve a colocar uns cartazes ( um sector, este dos cartazes, que em Portugal não pode queixar-se da crise)  propagandeando a existência das IdeP e a desejar-nos boa viagem. 

Segundo indícios da sua passagem pelas IdeP, o sr. António Ramalho é um visionário. Propunha-se, nada menos que, com o seu programa Líder 2010, transformar a CP na melhor operadora ferroviária da Península Ibérica. 
Não seria grande tiro mas, ainda assim, saiu-lhe pela culatra. 

Que plano líder terá o sr. António Ramalho para o Novo Banco, a vender ou liquidar dentro de um ano, segundo declarações públicas do primeiro-ministro? 

Agora é que é hora de mandar colocar cartazes.

Saturday, July 30, 2016

PORTUGAL AO NATURAL

A subsistência de edifícios em estado de degradação avançada mesmo em zonas de prestígio de algumas cidades e vilas em Portugal é garantida pela incúria, pela incompetência ou pela conivência, activa ou passiva, dos autarcas mas também pela inconsciência cívica dos cidadãos residentes. Cascais, já o tenho anotado algumas vezes neste bloco de notas, ostenta vários exemplares de prédios abandonados, degradados, as janelas e portas emparedadas, logo à entrada da Vila para quem vem de Lisboa pela Marginal ou desce a Avenida  de Sintra,  à espera há longos anos não sabemos de quê. 

Anteontem, já ao cair da tarde, enquanto aguardava a entrada no Mirita Casimiro, tentei perceber que razões poderiam sustentar o monstro de cimento armado a cair aos pedaços  que ocupa a área do quarteirão  em frente. 



Na Net há várias entradas explicativas do fenómeno mas nenhuma é concludente das razões que continuam a manter o monstro de pé. Curiosamente, o BPI,  proprietário do prédio publicava aqui em Agosto do ano passado uma resenha do passado e do previsível futuro daquelas ruínas.

"Foi o primeiro centro comercial do país, inaugurado em 1951, no Monte Estoril, muito antes de surgir a primeira vaga de shoppings liderada pelo Apolo 70, que só viria a abrir portas em 1971. O centro comercial Cruzeiro era então um fervilhante ponto de encontro de uma classe social privilegiada e cosmopolita que incluía muitos estrangeiros endinheirados, que em Portugal tinham encontrado um refúgio seguro durante a segunda guerra mundial. 

Devoluto há anos, o edifício Cruzeiro que chegou a ter um projeto habitacional previsto pelo banco BPI, proprietário do imóvel, vai afinal ter um outro fim. A Câmara de Cascais já chegou a acordo com o BPI, numa compra avaliada em 100 mil euros, estando agora o processo a seguir os trâmites legais. A ideia, diz o presidente da autarquia, Carlos Carreiras "é fazer do Cruzeiro uma nova centralidade no Estoril, dedicada às artes, caso o edifício tenha condições estruturais para tal, caso assim não seja e no cumprimento do acordo que estabelecemos com o BPI, só poderá ser um espaço público, mais concretamente um jardim". 

À semelhança do Cruzeiro, muitos outros edifícios abandonados há décadas, começam agora a vislumbrar novos usos. O agravamento do IMI para imóveis devolutos, o aumento do turismo e o consequente interesse imobiliário por certas zonas, está a estimular a recuperação do edificado."


Por onde andarão agora as elucubrações camarárias, só eles sabem.
Por agora limitaram-se a colocar cartazes a avisar que andar por ali é perigoso por risco de queda de fragmentos da fachada, e que se encontra em processo de apreciação na Câmara desde Março de 2013 um pedido de demolição.


Registe-se que no rés-do-chão se mantém firme e temerária a "Farmácia Silveira", que poderá eventualmente vender uns pensos se calhar cair um calhau em cima da tola de um confiante cliente ou passante. 

Friday, July 29, 2016

A TEMPESTADE

Shakespeare morreu há 400 anos. 

Terá sido ele o autor da grandiosa obra, geralmente considerada como centro do cânone da literatura ocidental? Não importa. Se não foi Shakespeare foi alguém que não ousou, porque não podia ou não queria, assumir a autoria, mas o legado não é minimamente desvalorizado por isso.
Há quatro séculos, um génio criou aquilo que, por ser tão grandioso, levanta persistentemente a dúvida de ter sido criação de um só indivíduo, de mais a mais assoberbado com múltiplas ocupações no teatro e nos negócios. 

A celebração da efeméride ficou praticamente deserta entre nós. 
Uma das poucas excepções regista-se no Mirita Casimiro, em Cascais.
O desempenho dos (oito) elencos não é notável. A opção pela oportunidade de pisar o palco dada a muita gente nova é louvável mas não beneficia o espectáculo. O ruído do conjunto impede a boa percepção de um texto, que não é fácil, e coloca a declamação num tom excessivamente teatral. 

Mas vale a pena ver.

*** 



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"Última peça escrita por Shakespeare, "A tempestade" é uma história de vingança, é uma história de amor, é uma história de conspirações oportunistas e é uma história que contrapõe a figura disforme, selvagem, pesada dos instintos animais que habitam o homem à figura etérea, incorpórea, espiritualizada de altas aspirações humanas, como o desejo de liberdade e a lealdade grata e servil."

Thursday, July 28, 2016

HÁ ALGO DE ESTRANHO NA TETA DA VACA

"Não há economia para tanta banca. É assim a vida". 
José de Matos admite que o sector vai ter de reduzir a sua presença em Portugal num processo em que o banco público não vai escapar. -  aqui 

Como é que esta gente, inteligente e muito informada, só agora entendeu o óbvio*?
Convinha-lhes o desentendimento. Convinha-lhes que não se desse por isso enquanto retiravam lucros, bónus e vantagens escabrosas. A Ordem era pobre mas os frades engordavam. 
O sobre dimensionamento dos bancos à volta da mesa vem muito de trás. Se o sector estivesse sujeito a leis de concorrência não emboladas, nunca teria embebedado a economia de crédito importado nem a tinha sugado como sugou. 
Sem rei nem roque, os banqueiros fizeram o que lhes deu na real gana e os resultados estão agora à vista. 

E agora?
Agora vamos continuar a assistir ao aumento da conta daquilo que eles consumiram e os tansos de sempre são coagidos a pagar. 

Há dias era publicamente admitido - vd. aqui - que, se o Novo Banco não for vendido até Agosto de 2017 será liquidado. 
Dito isto, está dito que não vai ser vendido até Agosto de 2017, a menos que seja vendido com perdas que os restantes bancos considerarão inaceitáveis, evidenciando o chamado Fundo de Resolução aquilo que nunca deixou de ser:  mau truque de ilusionismo que a assistência pagante será obrigada a engolir sem protestar, desobrigando, efectivamente, os bancos.
Se há banca a mais, a racionalidade económica passaria pela liquidação imediata do Novo Banco - como já deveriam ter passado por processos idênticos o BPN e o Banif - , se a racionalidade económica não se subjugasse à irracionalidade das conveniências políticas. 

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* Óbvio, para mim, que, há dez anos, anotei isto neste bloco de apontamentos, rematando com uma pergunta que saltava aos olhos de quem tem olhos:

Como é que pode, e até quando, uma vaca escanzelada desfazer-se em tanto leite?


Tuesday, July 26, 2016

THE PLOT AGAINST AMERICA*



Putin favorece, de certeza, a eleição de Donal Trumpaqui
Putin veria com bons olhos Donald Trump na presidência dos EUAaqui

Monday, July 25, 2016

É MESMO UMA VERGONHA

Anotei neste bloco de notas as minhas reservas aos méritos dos chamados "orçamentos participativos"  em 22/09/2012 (Portugal ao Natural) e em 22/09/2015 (Democracia Alternativa).
Mais benevolente, João Miguel Tavares concede num artigo no Público de quinta-feira passada que os orçamentos participativos fazem sentido a nível local, mas considera (e bem) uma vergonha a demagogia ridícula do primeiro-ministro quando há dias anunciou o "Orçamento Participativo de Portugal". 

Transcrevo,





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CONSTELAÇÕES

Sinopse

Um homem e uma mulher conhecem-se, apaixonam-se, vivem juntos, separam-se, reencontram-se, reconciliam-se, ou talvez não. Talvez tudo seja, possa ter sido ou venha a ser diferente, conforme as circunstâncias com que se deparam e as escolhas que fazem ou deixam de fazer. Nos múltiplos universos paralelos em que estão, há múltiplas variantes da sua história de amor: talvez nunca mais se voltem a ver ou talvez fiquem juntos até que a morte os separe.
Seguindo uma tese da física teórica, segundo a qual há mais do que três dimensões do espaço e uma dimensão do tempo, Constelações mostra-nos um multiverso onde a vida assume uma miríade de formas em simultâneo e todos os futuros são possíveis. Mas será que aquilo que acontece depende das nossas decisões? Será que depende do acaso? Ou de algo mais que não se vê e não se conhece?




No Teatro Aberto
Uma obra premiada em Londres, um desempenho honroso em Lisboa.
***


Thursday, July 21, 2016

MRS MAY, MRS STURGEON AND MRS MERKEL

“Podemos ir ao fundo da questão? Estará ela (Theresa May) pessoalmente preparada para autorizar um ataque nuclear que possa matar centenas de milhar de homens, mulheres e crianças inocentes?”

A questão foi colocada na segunda-feira, 18 de Julho, por um deputado do Scottish National Party (SNP) durante o debate na Câmara dos Comuns. 
E a resposta de May - vd. vídeo publicado aqui nIndependent -, foi peremptória e imediata:

”Sim. E tenho de acrescentar que o objectivo de um efeito dissuasor é que os nossos inimigos saibam que estamos preparados para isso”

A frota de submarinos nucleares - cf. New York Times -  tem a sua base em Faslane, na Escócia, e o Scottish National Party, que conta com 54 dos 59 deputados escoceses no Parlamento, opõe-se à renovação do programa nuclear. 
Por outro lado, o Brexit foi muito maioritariamente rejeitado na Escócia - 32% pela saída da UE, 68% pela permanência -, e num artigo publicado no mesmo dia 18 no Financial Times é colocada a hipótese de a Escócia poder accionar o direito de veto considerando que o Brexit supõe o acordo das nações que compõem o Reino Unido. 
A completar o arsenal de armas, politicamente nucleares, já que podem provocar a desintegração do Reino Unido, Nicola Sturgeon, a primeira-ministra da Escócia, avisou May - vd. aqui - que está a preparar um novo referendo em 2017 sobre a independência do país se o Governo de Londres não garantir os interesses da Escócia nas negociações com a UE para o Brexit. 

Ontem, May, uma mulher de armas, encontrou-se em Berlim com Merkel, que não tem botão de lançamento de  armas nucleares, mas tem outras, ao seu alcance. 






Quem vai disparar primeiro?

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Mrs. Clinton vai chegar atrasada, se chegar?




Wednesday, July 20, 2016

SINGULARIDADES DE UMA LOURA



"Os meus pais incutiram-me os valores de que é preciso trabalhar muito para alcançarmos o que queremos  na vida. Que a nossa palavra é o nosso vínculo e que fazemos aquilo que dizemos e mantemos as nossas promessas, que tratamos as pessoas com respeito". - Melanija Knavs












"Temos de transmitir essas lições às gerações seguintes, porque queremos
 que os nossos filhos nesta nação saibam que o único limite àquilo que 
podem alcançar é a força dos seus sonhos e a sua vontade de trabalhar 
para alcançá-los" 
Melania Trump
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"O Barack e eu crescemos com muitos valores iguais: que temos de trabalhar 
muito pelo que queremos na vida; que a nossa palavra é o nosso vínculo e
que temos de fazer aquilo que dizemos que vamos fazer; que temos de tratar
as pessoas com dignidade e respeito, mesmo se não as conhecermos, 
e mesmo que não concordemos com elas"

"Eu e o Barack construímos as nossas vidas guiados por estes valores, e 
passámo-los à geração seguinte, porque queremos que os nossos filhos,
e todos os filhos nesta nação, saibam que o único limite para o que podem
conquistar é o alcance dos seus sonhos e a sua vontade de trabalhar para 
concretizá-los". - Michelle Obama, em 2008

Saturday, July 16, 2016

OBRAR EM LISBOA

O eixo central de Lisboa anda há largos meses em obras, que irão, dizem, continuar imediatamente na Segunda Circular e que, grosso modo, consistem na redução das vias de circulação de automóveis e ajardinamento dos espaços retirados. Deste modo, a cidade ficará mais airosa e atraente.
Palmas para a iniciativa!

Tem a concretização da intenção, contudo, um problema bicudo - e não me refiro agora às complicações que as obras estão a causar nem às consequências futuras da redução de espaços,  já escassos para os actuais caudais de trânsito - que, certamente, a Câmara não esqueceu ou fez por esquecer. Refiro-me à manutenção.

É hábito e abuso despenderem os governantes recursos em obras que enchem o olho dos cidadãos, garantem os votos aos promotores nos momentos eleitorais e animam os construtores das obras, que, na altura própria, não deixarão de retribuir a quem lhes fez as encomendas. E depois?

Passadas as eleições, geralmente não há verba nem sequer água para manter os espaços verdes e, aquilo que prometia ser um cenário agradável transforma-se em paisagem de terceiro-mundo pretencioso.
Ontem passei pela Fontes Pereira de Melo (lá continuam as duas enormes ruínas sem que se vislumbrem medidas que as recuperem ou derrubem) e, de cada lado do estreito espaço que será verde dentro de semanas, há espaços verdes antigos a desfalecer com sede e falta de tratamento.




É apenas um exemplo desta política nacional sempre ousada em obrar sem cuidar se há papel para a limpeza.

Friday, July 15, 2016

O JOGO DA CABRA CEGA

Dois anos depois de descoberta a golpada,




(é admissível que os visitados tenham sido avisados)

Wednesday, July 13, 2016

IRONIA E REALIDADE

Enquanto Portugal se indigna com a iniquidade das sanções que estão a chegar da União Europeia e o governo português prepara a lista das atenuantes em defesa da redução da pena, os noticiários económicos relatam o espanto dos economistas de todo o mundo pelo crescimento de 26,3% do PIB da Irlanda em 2015. 



Como é que isto aconteceu?
As respostas são unânimes: A baixa taxa de impostos que a Irlanda cobra às empresas (IRC de 12,5%) continuam a atrair cada vez mais multinacionais. - cf. aquiaquiaquiaqui, por exemplo. 

Entretanto, em Portugal a economia continua balbuciante e o sistema financeiro a naufragar, enredado nas malhas rotas que forjou. 


Não de propósito, recebemos hoje de pessoa amiga uma laracha, via e-mail:



"... Os portugueses já podem ser felizes porque têm quem trate das suas coisas ...

- da banca, os espanhóis;
- da electricidade, os chineses;
- dos combustíveis, os angolanos;
- da TAP, os brasileiros e os chineses;
- dos aeroportos e espaço aéreo, os franceses;
- dos correios, os ingleses, os franceses, os alemães e os noruegueses; (os noruegueses também nos tratam do bacalhau, acrescento eu)
- das comunicações, os angolanos e os franceses;
- da moeda, o Banco Central Europeu;
- do governo, a Comissão Europeia;"

A lista está longe de ser completa (ocorrem-me, por exemplo, os holandeses na Sociedade Central de Cervejas (100%) e os dinamarqueses na Unicer (44%).

É a presença do investimento estrangeiro culpada do nosso arrastamento?
É muito óbvio que não, e o exemplo irlandês é a prova concludente do contrário. 
Sem investimento estrangeiro Portugal não conseguirá atingir níveis de crescimento que o desafoguem das águas estagnadas em que mergulhou. Do que Portugal não precisa é de investimento financeiro, improdutivo, aquele que entra para comprar o que existe e cobrar as rendas dos capitais aplicados em actividades de monopólio de facto. 

Observe-se que a Irlanda não oferece apenas taxas reduzidas de impostos às multinacionais. Oferece-lhes também competências. Ao Reino Unido, após o Brexit, presta-se para oferecer-se como relais nas relações financeiras com a UE. 
E, nós, como vamos de competências futuras?

Porquê?  O ministro Mário Nogueira deve saber. 
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Tuesday, July 12, 2016

TEMPOS DE IDOLATRIA E DESPRENDIMENTO


Na lista da Forbes das celebridades mais bem pagas, Cristiano Ronaldo (Cris para os amigos) ocupa o quarto lugar numa galeria de 100 ídolos globais, que inclui artistas de actividades de entretenimento tão diversas como a música pop, cinema, desporto, ficção policial, entre outras. Venerados em patamares cada vez mais subidos pela explosão mediática das últimas décadas, arrecadaram em conjunto 5,1 milhares de milhões de dólares em 2015.

Pouco mais daquilo que o sr. António Domingues diz precisar que os contribuintes portugueses paguem  para ele fazer da Caixa um banco a preceito. 
Sem manifestações populares de descontentamento.

Monday, July 11, 2016

INDIGNIDADE GERAL

Theresa May deverá ser, já depois de amanhã, o próximo primeiro-ministro do Reino Unido, em sequência da desistência de Andrea Leadsom, a outra candidata, se submeter ao voto dos membros do partido conservador em eleições que estavam previstas para Setembro. Deste modo o sr. David Cameron sai de Downing Street mais cedo do que previra quando anunciou a sua renúncia logo após conhecidos os resultados daquela imbecilidade democrática que foi o referendo.

Boris Johson e Michael Gove, que anunciaram renunciar a liderar o processo de transição e tinham declarado o seu apoio a Andrea Leadsom, defensora do Brexit, já transferiram o seu apoio para Theresa May, que defendeu a presença do Reino Unido na União Europeia. 

A notícia acaba de ser publicada no Financial Times aqui - onde a atitude dos três líderes conservadores que mais destacadamente se empenharam na campanha pelo Brexit, conseguindo que uma maioria escassa votasse pela saída, mas alijando logo de seguida responsabilidades pelas consequências do processo de transição, é considerada a indignidade final. 

Indignidade a que se junta outra não menos evidente, a de Nigel Farage, o líder do UKIP que se propôs, e conseguiu, retirar o Reino Unido da UE e, uma vez conseguido o objectivo, disse entretenham-se com esse bico de obra que eu vou à minha vida.

 A srª. May considera que o capitalismo precisa de ser reformado e que o partido conservador que vai liderar está em melhores condições para operar essa reforma que o trabalhista. Do lado trabalhista já foram reclamadas eleições gerais considerando que a srª. May não dispõe de suporte democrático evidente que lhe permita governar. 

Que fariam os trabalhistas com o Brexit se fossem governo? 
Não tiveram, quando deveriam ter tido, uma posição clara sobre uma questão tão decisiva. 
A pusilanimidade trabalhista, neste caso, é tão indigna quanto a dos poltrões que se bateram por um lado para se esquivarem de cena ainda o drama não começou.


PORTUGAL MAIOR


... à Susana Torres ... vocês deviam conhecê-la! (Éder)


"Foi. Foi uma grande alegria. Sim, os pais dele nasceram em Bissau, mas ele é português. Ficámos muito contentes, afinal também nós somos por Portugal. Sim, fomos ver o jogo, sim, no Rossio. Vi o golo, sim. Foi muito bom para Portugal, para nós também, estamos muito felizes, sim." 
- Lola, de Bissau, há muitos anos em Portugal, trabalhadora em limpezas domésticas. 

Friday, July 08, 2016

THE GOLDMAN

São quase incontáveis aqueles que, depois de alguns anos de exercício em funções públicas, saltam para funções privadas onde cobram rendimentos das relações e informações angariadas durante o período de investimento político. 
É assim em todo o lado? Talvez. 
Neste, como em muitos outros casos que, por envolverem políticos, são notícia, não é a originalidade mas a intensidade da frequência relativa, porque o couto de caça é curto, que mais os distingue. Aliás, para além dos que saltam para o outro campo, há aqueles que, enquanto não saltam, mantêm, clara ou disfarçadamente, um pé em cada lado.

Ainda há poucos dias, despediu-se da política activa, pelo menos por algum tempo, e para aplicação na esfera privada dos conhecimentos adquiridos na esfera pública,  o vice-primeiro-ministro do Governo anterior que, além de outras funções governativas, foi ministro de Estado e da Defesa no XV Governo. 

Mas a notícia de hoje dando conta que o ex-presidente da Comissão Europeia, primeiro-ministro do XV Governo, foi convidado para "chaiman", com funções não executivas, da filial de Goldman Sachs em Londres será certamente a mais retumbante. Segundo o Financial Times, o colosso bancário norte-americano recrutou José Manuel Barroso com funções nominais de "chairman" e efectivas  como consultor para políticas de orientação na execução do Brexit.
Em Janeiro de 2014, vd. aqui, José Luís Arnaut, que foi secretário-geral do PSD, foi nomeado membro do conselho consultivo do Goldman Sachs. 

A propósito, disse esta tarde o chefe de Estado gostar de ver portugueses em lugares cimeiros.
Também eu, se a ascensão não se apoiar nos ombros dos interesses do país.
Barroso, é forçoso relembrar, abandonou o país em situação, segundo ele, de tanga, e foi à sua vida com o beneplácito do chefe de Estado da altura. 

Wednesday, July 06, 2016

VALHA-NOS A BOLA

Qual é maior, um desvio colossal ou um desvio enormíssimo?

O actual ministro das Finanças revelou hoje aos deputados da comissão de orçamento que "há um desvio enormíssimo no plano de negócios e de reestruturação da Caixa Geral de Depósitos que atinge verbas superiores a três mil milhões de euros.

Em meados de Julho, há cinco anos, o ministro das Finanças da altura anunciava a herança de um desvio colossal deixada pelo governo anterior. 

"O ministro disse que ia ser preciso corrigir um excesso de despesa da ordem dos mil milhões. O semanário Expresso somou este montante aos 1024 milhões que o Governo espera conseguir com o novo imposto extraordinário sobre os subsídio de Natal, obtendo assim o desvio mencionado por Passos Coelho, entre 2,1 e 2,3 milhões de euros, nota "A Bola" 

Conclusão: Um desvio enormíssimo é, aproximadamente, trinta por cento maior que um desvio colossal. 
Nota-me a tola.

Monday, July 04, 2016

ACERCA DO ABANDONO DOS RATOS

Leio, e fico confuso nos meandros do seu raciocínio, aqui
O referendo é um dos instrumentos de expressão democrática onde a representatividade das ideias alternativas é subalternizada pelas emoções que as questões em referendo suscitam. 

Nigel Farage e Boris Johnson foram bem sucedidos, se medirmos o sucesso pelo resultado quase tangencial do referendo, com a excitação que conseguiram provocar à volta das emoções nacionalistas que habitam nos povos europeus em geral, e que têm sido a causa de guerras sem fim ao longo dos séculos. 

Tinham, e têm, os srs. NF e BJ consciência das consequências do Brêxit para o Reino Unido e para a União Europeia? 

Se tinham, e agora desistem de liderar o rumo para onde arrastaram os britânicos, é porque procuraram apenas protagonismo popular, e fogem do palco com receio de desabamento do cenário, e são uns poltrões. 

Representaram um papel democraticamente necessário?
Não parece.
Se, chegados à beira da vala, o comandante do pelotão recua e manda saltar os outros, que papel representa o comandante?
E, consequentemente, qual a representatividade do resultado de um referendo que assusta os seus mais destacados propagandistas?

Sunday, July 03, 2016

SERIA BEM ACABADA

Martin Schulz propõe substituir a Comissão Europeia por um autêntico governo europeu.


"O presidente do Parlamento Europeu (PE), Martin Schulz, propõe, num artigo a publicar na segunda-feira pelo diário "Frankfurter Allgemeine", substituir a atual Comissão Europeia por um autêntico governo europeu controlado por um parlamento bicameral.
Uma das câmaras seria o atual Parlamento Europeu (PE), enquanto a segunda seria formada por representantes dos governos dos Estados-membros da União Europeia (UE).
Segundo Schulz, este esquema é conhecido dos cidadãos pela experiência dos respetivos países e ajudaria a tornar mais transparentes as decisões dentro da UE.
Desta forma, qualquer cidadão descontente deixaria de se expressar sobre a União no seu conjunto, abrindo-se, por outro lado, a possibilidade de eleger, a partir das urnas, um governo europeu.
Schulz escreve que um dos problemas que tem atualmente a UE é que os cidadãos não sabem exatamente o que faz e por vezes vê-se responsabilizada por problemas que têm origem em decisões tomadas pelos Estados-membros.
Para Schulz, não se trata de pedir "mais Europa", mas sim de definir com clareza "o que os cidadãos podem esperar da UE".


A União Europeia, segundo Schulz, deve concentrar-se em assuntos que os Estados-membros não podem resolver em separado e não entreter-se com problemas que podem solucionar-se no âmbito regional ou nacional."aqui

Alguém discorda?
Quase todos os outros. Os espíritos nacionalistas estão de tal modo entrincheirados nos habitantes da Europa que são poucos os que se sentem, antes de mais, europeus.
E assim, o caminho percorrido está minado com múltiplas agulhas de oportunidade de reversão.


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Correl. - Bruxelas dá mais três semana a Portugal para evitar sanções



Contra as sanções, marchar!, marchar!


AQUI HÁ GATO

Das três funções primordiais do Estado - educação, saúde e justiça - é na saúde que Portugal mais tem conseguido progredir nas últimas décadas. 
Segundo os relatórios do Desenvolvimento Humano da ONU - vd. aqui - Portugal caiu 15 lugares, de 28º. para 43º, no ranking entre 2000 e 2014, fundamentalmente devido aos maus resultados obtidos na educação. 
Quanto à justiça, a avaliação do seu desempenho caiu há muito tempo na praça pública e as consequências do fracasso são notórias na frequência com que se repetem as notícias desabonadoras. Pelo contrário, são muito positivos os resultados divulgados na área da saúde.

São no entanto incompreensíveis algumas notícias vindas a público.  

Ouço na rádio, há dias, e confirmei aqui, que,

"segundo um inquérito realizado pela secção centro da Ordem dos Médicos em 2015, os clínicos sentem-se pouco realizados e cansados, 25% apresenta sinais de depressão e 16% trabalha 60 a 80 horas semanais" ... "são os clínicos mais jovens, entre os 26 e os 35 anos, que mais sentem os efeitos do burnout" . ... "a maioria dos médicos trabalha em regime exclusivo para o SNS e são estes que apresentam níveis maiores de exaustão emocional e menos realização profissional, 53,2% faz entre 40 a 60 horas  semanais e 15,9  e entre 60 e 80 horas. Mais de metade faz urgências e 44% trabalho nocturno"

Situações destas, pensa o cidadão comum, podem provocar erros médicos. Como é que se explica isto, quando, segundo outras notícias vindas a público recentemente, não estão agora garantidas vagas de acesso às especialidades a todos os candidatos? Como é que se explica a reposição das 35 horas semanais para a função pública ao mesmo tempo que para mesma entidade patronal trabalham profissionais obrigados a horários de trabalho de tal modo esgotantes que podem colocar vidas em perigo? 

Um relatório do FMI, que referi  aqui critica a reposição das 35 horas semanais, mas não há nenhuma alusão ao trabalho extraordinário de médicos que ultrapassa aquele valor e duplica a carga horária semanal considerada adequada para a generalidade da função pública.

Ontem, ouvi a notícia do anúncio de uma greve dos enfermeiros que reclamam, além de mais, a aplicação do horário de trabalho de 35 horas a toda a classe, incluindo aqueles que têm contrato individual de trabalho.

A Ordem dos Médicos, secção centro, faz inquéritos que concluem pela necessidade de mais profissionais mas o sistema (o sistema tem sempre as costas largas) não tem capacidade para os admitir em formação nas especialidades.
Por outro lado, aparentemente, a situação é tolerada, ou até bem recebida, pela generalidade da classe, que assim compõe uma retribuição condigna porque o vencimento base fica muito aquém.
Que pretende a Ordem?