Monday, June 29, 2015

ESTÃO A CHEGAR OS AMERICANOS!

Escrevi algumas vezes neste bloco de notas que se os europeus deixassem cair a Grécia, apareceriam os norte-americanos  a segurar os gregos do lado de cá antes que eles tombassem para o lado de lá.
As notícias de hoje dão mais relevo ao encerramento dos bancos gregos e da bolsa de Atenas, às restrições de levantamentos de dinheiro e ao controlo de saída de capitais, às filas de pensionistas à espera das pensões,  mas continuo a supor que o factor mais decisivo para o futuro da Grécia e da União Europeia são as conversações entre Obama e Merkel.

Como sempre tem acontecido nos últimos cem anos, quando os europeus não se entendem, e até se matam uns aos outros, vêm os norte-americanos pôr ordem no desconchavo do Velho Continente.
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Briefing Room

The White House

Office of the Press Secretary


Readout of the President’s Call with Chancellor Angela Merkel of Germany

The President spoke today with Chancellor Merkel of Germany regarding developments in Greece.  The two leaders agreed that it was critically important to make every effort to return to a path that will allow Greece to resume reforms and growth within the Eurozone. The leaders affirmed that their respective economic teams are carefully monitoring the situation and will remain in close touch.  The President also offered his condolences for the loss of German citizens in Friday’s tragic attack in Tunisia.- cf. aqui
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Correl .
Merkel disposta a negociar com a Grécia "depois do referendo" 

Juncker pede aos gregos que votem a favor da proposta de Bruxelas 
Mas Christine Lagarde ainda ontem afirmava que a proposta tinha deixado de existir e o referendo, por essa razão, não fazia sentido porque os gregos iriam ser chamados a votar a aceitação de uma proposta  que tinha sido retirada. 
Cavaco Silva: Saindo a Grécia ainda ficam 18 países na zona euro 
Obviamente,  19-1=18! 
Fonte do governo grego confirma que Atenas não vai pagar ao FMI 

NÃO HÁ ÓPERA POR TUTA-E-MEIA

Se há sector em Portugal em que, manifestamente, o público excede em qualidade a generalidade do privado é o ensino superior. Uma regra, que para se cumprir, tem uma honrosa excepção: a Universidade Católica. O resto tem dado sido um descalabro quase completo de negação daquilo que uma Universidade deve ser: um lugar de formação pluridisciplinar superior e investigação científica. 

Pelo que se lê aqui, "(a) maioria dos docentes do superior privado é paga à hora, com valores que, em alguns casos, não passam dos cinco euros. Sindicato exige regime legal para docentes do privado à semelhança do que já existe no ensino público." Com remunerações destas, os diplomas atribuidos pela generalidade das universidades privadas em Portugal só podem conter uma correspondente falta de exigência e de dignidade.
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A actual geração de portugueses, diz-se por aí, é a mais bem formada de sempre. Talvez seja. Mas a competição agora é global e é nesse pelotão mundial onde, havendo agora mais gente portuguesa a pedalar, a maioria deles pedala em pasteleiras nos grupos da cauda.

Sunday, June 28, 2015

QUAIS CREDORES?


Estimado António,

Subscrevo.
Mas depois de subscrever, interrogo-me:
Quem são os credores dos gregos? Quem lhes emprestou a pipa de massa com que eles se embebedaram?
Foi o BCE? Foi o FMI?

Quando o BCE e o FMI entraram em cena, se não estou enganado, eles já estavam afundados em crédito até ao cocuruto, ou não?
E depois foram resgatados pelo BCE e pelo FMI. Se não teriam ficado afogados e, com eles, aqueles que lhes concederam o crédito. Ou estou a ver mal?

Por onde andam esses credores que, em primeira mão, lhe colocaram os fundos nas unhas, quiçá lhes enfiaram até o crédito pelas goelas abaixo?

Quando o FMI entrou em cena, projectou uma evolução do PIB que Krugman publicou aqui


Sei que desconfias do Krugman, por isso não te peço que leias o texto mas que olhes para o gráfico, que não deve estar falseado.
Parece que depois da embriaguez de crédito as medidas do FMI não ajudaram na ressaca. Ou ajudaram e o gráfico está borracho?
Quanto ao resto, tudo bem. Ou tudo mal, se assim o entenderes.

Saturday, June 27, 2015

TSÍPRAS, OS GREGOS, E O PLEBISCITO*


Tsípras talvez tenha anunciado a noite passada o Plano B com que partiu para as negociações com os parceiros europeus na UE logo que ganhou as eleições e assumiu o governo em Atenas. Por onde passa esse plano B, uma vez desencadeado o processo de anúncio da consulta popular, não sabemos, mas espera-se que Tsípras saiba. Ou, pelo menos, saiba por onde quer que ele passe. 

Tsípras, contrariamente ao que o termo que usou significa, e os media estão a replicar, não convocou um referendo, convocou pelo menos três. Que, implicitamente, implicam o plebiscito do regime que defende.

Sabe-se que a opinião pública grega é, por um lado, muito maioritariamente favorável à permanência no euro mas, por outro, a maioria apoia a actução de Tsípras no modo como tem conduzido as alegações de defesa dos interesses e da dignidade dos gregos  em Bruxelas. Acontece, contudo, que a permanência no euro não é compatível com a recusa das propostas dos credores, que o governo de Atenas considera um ultimatum. E Tsípras, ao mesmo tempo que anunciava a consulta popular para 5 de Julho, fez saber que irá fazer campanha pelo Não à aceitação do ultimatum. O mesmo é dizer, pela saída do euro.

Se vencer o Não, abre-se a Caixa de Pandora, e ninguém pode calcular como se propagam os efeitos dos diabos à solta. Saindo do euro, sairá da UE? Sairá da Nato? Ainda é possível algum recuo? Quando Samaras, o anterior primeiro-ministro grego, aventou a hipótese de um referendum na Grécia foi rapidamente dissuadido por Berlim e Bruxelas. Mas nessa altura ainda estavam por parquear no BCE muitos empréstimos de bancos alemães, franceses, holandeses, ... e Samaras não é Tsípras.
Se vencer o Sim, Tsípras não tem alternativa senão demitir-se, provocando eleições legislativas antecipadas.


Segunda-feira começa o teste. Tsípras disse que não imporá controlo de capitais e os bancos abrirão como de costume. Sendo improvável que os gregos, na dúvida de qual será o resultado daí a uma semana,  não corram para lá a sacar os seus depósitos em euros, os bancos abrirão para fecharem pouco depois. A menos que o Plano B de Tsípras, se existe, continue a surpreender-nos.

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 *  vd. aqui,
( ), podemos dizer que plebiscito é uma consulta ao povo antes de uma lei ser constituída, de modo a aprovar ou rejeitar as opções que lhe são propostas; o referendo é uma consulta ao povo após a lei ser constituída, em que o povo ratifica ("sanciona") a lei já aprovada pelo Estado ou a rejeita. Maurice Battelli, de fato, define plebiscito como a manifestação direta da vontade do povo que delibera sobre um determinado assunto, enquanto que o referendo seria um ato mais complexo, em que o povo delibera sobre outra deliberação (já tomada pelo órgão de Estado respectivo).
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Marcello Caetano (  ) definia o referendo como um processo próprio de uma conjuntura governativa instituída, enquanto que o plebiscito seria próprio de tomadas de decisão que visassem alterações profundas na estrutura do regime político governante (em geral, da própria Constituição).
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Pensionista grego e fila de gente junto a ATM

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 (05/07)

Grecia decide hoy el destino del euro y de la Unión Europea 

El resultado del referéndum no garantiza en ningún caso la salida de la crisis. La votación es un plebiscito sobre el primer ministro - cf. aqui

Friday, June 26, 2015

AS RAPOSAS

As Raposas , no Teatro Aberto


A lotação da sala estava razoavelmente preenchida. Quantos "borlas", quantos "pagantes", é melhor não tentar saber. Em todo o caso é sempre motivo de satisfação ver uma plateia assim, mesmo que da população de Lisboa e arredores pudesse  esperar-se mais frequência se houvesse algum gosto pelo teatro. Ou, dito de outro modo, se as companhias de teatro já tivessem induzido no público potencial maior gosto por uma arte que não se confunde com o cinema e muito menos com as telenovelas que os portugueses papam em doses maciças.

Quanto ao espectáculo, que recomendo vivamente, um reparo: resulta menos consistente a adaptação do diálogo ao espaço português. Nenhum espectador minimamente atento sabe que assiste a uma obra escrita por uma autora norte-americana, com acção situada nos EUA. A deslocalização do cenário da acção não a beneficia.

Cenário de António Casimiro/João Lourenço bem conseguido.

ESTA NOITE DORMIMOS JUNTOS

- Tsípras ??? ... Aléxis Tsípras !!!??? ... Como? ... e a que propósito ... entraste no meu quarto ... ? ... às ... às .... às quatro da manhã? ... rua! ... rua! ... rua!... rua, ou ligo imediatamente à recepção do hotel!
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(Christine Lagarde teve um dia arrasador mesmo para uma mulher de aço. As reuniões com os gregos são esgotantes, as intervenções de Varoufakis sufocantes. Nos últimos dias, Christine cede às recomendações da sua amiga Brigitte e toma o xanax que ela lhe dá. Varoufakis não sabe mas ele é o único tipo que até agora teve o condão de a levar a um nível de tensão que lhe retira o sono. Se pudesse esbofeteava-o em público. É insinuante e insolente, arrogantemente melífluo, um convencido imaturo. Resumidamente, um cretino.
São duas da manhã, o xanax demora a produzir efeito, enquanto a droga não lhe entorpece a mente, Christine rememora o que disse, o que não disse, mas sobretudo o que não devia ter dito durante as infindáveis reuniões daquele dia e o que irá dizer na reunião marcada para dentro de seis horas. E, outra vez, sempre, o avantesma, Varoufakis. Boceja, Oh! Yanis, Yanis, volta-se pela enésima vez na cama, alonga-se entre os lençois, e abraça a cabeceira.
Acorda duas horas depois, sobressaltada pelo restolhar dos cortinados, acende a luz, e o seu espanto não tem medida. Alguém entrou no quarto, um homem entrou pela janela que ela deixara aberta para se libertar do sufoco carregado durante as reuniões do dia. É Tsipras, o estupor do Aléxis Tsípras, armado em valet: calça e sapatos pretos, colete preto sobre camisa branca, uma gravata vermelha, vermelho vivo, ao pescoço. Na mão direita um spray de tinta, destes que os árbitros de futebol usam para marcar distâncias no futebol, uma toalha branca no braço esquerdo. Indiferente ao espanto de Christine, Tsípras marca uma linha vermelha ao longo da cama, a meio metro de distância, e perfila-se, mudo e quedo,  atrás dessa linha)

- Que é isto? A que propósito? O que é que pretendes Aléxis??? ... Ouves-me? ... Aléxis, o que é que pretendes de mim?

(A exaltação inicial de Christine esbate-se na mudez e na imobilidade do intruso)

- Ah! Ah! Ah! Pretendes, por acaso, acusar-me de violação a um criado de hotel? Sabes bem que esse é um argumento que raramente funciona ao contrário. E os franceses não sairam todos do mesmo molde. O Dominique será um libertino impenitente com um nome andrógeno, eu não sou, nem nunca fui, mulher de fúrias libidinosas  ocasionais. Sou pérfida, dizem vocês, mas enganam-se. Sou sensível. A Ângela, essa sim, é pérfida. E aquela outra garota, como é que ela se chama?, a portuguesa? Pérfidas e libidinosas, não se nota porque vocês não lhe ouvem as conversas. Se os homens ouvissem o que dizem as  mulheres entre si ... nem todas, bem entendido. Em França temos mais fama mas menos proveito, garanto-te. 
O turbilhão grego atormenta-me profundamente porque não sei como possa amainá-lo. Acusam-me de contradições nos meus discursos, e não posso deixar de reconhecer que entre aquilo que penso e aquilo que as minhas funções me obrigam a fazer vai a distância que me dilacera. Bom, reconheço que gostaria muito de ver renovado o meu mandato e essa renovação só é possível com os votos de muitos, de quase todos, os membros do FMI. Lamento recordar-te, Aléxis, mas a Grécia está quase só. Contas, do teu lado, com quem? Com Putin? Ah! Ah! Ah! Putin prefere, por agora, que os problemas gregos contribuam para a destruição das  instituições europeias. Dar-te-á um caramelo, só te dará um caramelo, e a tua sede aumenta ....
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(Christine faz uma pausa, e olha fixamente para Aléxis, imóvel, mudo, os olhos imóveis nos olhos dela)
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... - Agora que olho mais detidamente para ti, Aléxis, reparo que não és desengraçado de todo, sabes? Não, não vou dizer que és um tipo sexy. O Yanis é sexy, reconheço. É um estupor mas é um homem interessante. Melhor dizendo, é um estupor com certo interesse, de homem terá o que uma mulher vulgar precisa, não mais que isso. Tu tens cabeça, e essa trunfa rebelde atiça, estou certa disso, o interesse feminino mais exigente, aquele que vai além das bolsas de testosterona. Chega-te cá! Vá lá, chega-te aqui mais perto. Passa essa linha vermelha que traçaste e eu juro-te que não chamo a polícia. 

(Aléxis, não mexe, sequer, um músculo da cara)

Dizem-me que já te decidiste a roer a corda e mandar os credores às urtigas. Tens ideia, Aléxis, uma pequena ideia que seja, do sarilho em que te metes se saltas do euro sem para-quedas? És doido?
Amanhã é sábado, terça-feira o dead line. Se não há acordo amanhã, o mais tardar domingo, como é que governas sem euros nem dracmas? Ou já tens rotativas clandestinas a trabalhar ou a Grécia é uma bagunça sem rei nem roque à espera que os militares ponham tudo em sentido. Estás acordado ou a dormir em pé?

(Tsipras lembra uma estátua grega antiga, o movimento suspenso, vestida a preto e branco e um toque encarnado. Christine faz nova pausa no discurso, e para o olhar no olhar dele)

- Afinal, o que vieste cá fazer, monstro? Chegas de lata na mão e toalha no braço, traças uma linha  a vermelho, e não soltas sequer um grunhido por quê? Chega cá, dá-me a tua mão, só a mão, ou nem a mão pode passar essa estúpida linha vermelha? Bom, se a montanha não vai a Maomé ... vai Maomé à montanha. Se não te mexes, levanto-me eu. Upa!

(Christine tenta levantar-se e agarrar Tsipras mas só consegue chegar-lhe à gravata)

- A gravata já cá canta. Esta noite dormimos juntos.


Wednesday, June 24, 2015

A INDIGNAÇÃO DO MARQUÊS

Ouço na rádio e confirmo aqui que 152 diplomas atribuidos, entre outros, a polícias, seguranças e um fadista,  pela Lusófona foram anulados na sequência das diligências efectuadas pelo Ministério da Educação depois das notícias que revelaram ter o então ministro Miguel Relvas ter obtido num ano licenciatura em Ciências Políticas e Relações Internacionais com a realização de quatro exames. Ainda, segundo as mesmas notícias, Nuno Câmara Pereira, o fadista atingido pela auditoria às provas das suas habilitações académicas diplomadas pela Lusófona, está indignado. Por quê?

Aparentemente, ao sr. Nuno Câmara Pereira não falta o brilho dourado de um título brasonado. Sua Excelência é Marquês, 3.º Marquês de Castelo Rodrigo, (de jure), segundo a Wikipédia. Preferirá ele, por razões de imodéstia mal contida, que seja confundido no larguíssimo conjunto de milhares de engenheiros e subalternizar a sua condição aristocrática tão robusta e tão rara, preferindo que o tratem por engenheiro? Ou por Marquês Engenheiro Fadista Câmara Pereira?



Há uns anos atrás o A.C., então presidente de uma grande empresa industrial, teve uma audiência com o Ministro do Planeamento, um engenheiro professor catedrático com pedigree. Durante a conversa, o Ministro, certamente convencido que à frente de uma empresa industrial só poderia estar um engenheiro, começou e insistiu em tratar A.C. por sr. engenheiro. Sr. engenheiro, isto, sr. engenheiro aquilo, até que A.C., aproveitando uma pausa no discurso do ministro, lhe diz em jeito confidencial:

- Sr. Ministro eu não sou engenheiro.
- Não é engenheiro??? Então o que é?
- O que sou, não tenho a certeza. Mas tenho a certeza do que gostava de ser. Gostava de ser Conde.


Vasco Moscoso de Aragão era rico, ainda jovem e bem apessoado. Tinha o favoritismo das mulheres e a amizade desinteressada de uma legião de amigos. Mas um dia deu em andar triste. Por quê? Não tinha um título. Os seus amigos eram doutores, engenheiros, comandantes, ele era só Vasco Moscoso de Aragão, Seu Aragãozinho para os mais íntimos.
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"- Senta aí seu bestalhão. - Quer dizer que se você tiver um título acaba essa tristeza, essa cara trombuda? ... - Pois eu vou arranjar-lhe um, ..." . ( E arranjou)
O título de Vasco era dos verdadeiros, dava-lhe o domínio dos rios, dos grandes lagos e dos mares, estava autorizado e tinha direito a comandar navios de todas as nacionalidades e bandeiras, em todas as rotas, nos cinco oceanos. Armado com o direito internacional marítimo e a ciência da navegação astronómica.
- Agora - disse-lhe o coronel quando terminara e Vasco segurava amorosamente o diploma - vamos comemorar. Comandante Vasco Moscoso de Aragão, leão dos mares, tome do leme, e leve-nos às putas! - Jorge Amado/Os Velhos Marinheiros    

Tuesday, June 23, 2015

CR7 - UMA GALÁXIA BRILHANTE DO COMEÇO DO MUNDO


O registo chega atrasado mas impõe-se: "Uma equipa - liderada por David Sobral do Instituto de Astrofísica e Ciências Espaciais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Observatório de Leiden da Holanda - conseguiu avistar no universo mais remoto, a uma distância de 800 milhões de anos luz após o Big Bang.  Em vez de focar o seu estudo sore uma área reduzida do céu, a equipa alargou o seu objectivo para a mais ampla observação, até agora conseguida, de galáxias muito distantes. "

E encontrou a mais distante e brilhante galáxia, provavelmente da primeira geração de estrelas. Para mais informação vd., p.e., aqui e aqui.