Saturday, June 30, 2012

O ESTADO É ESTÚPIDO

"Condenados do BPN estão a gerir fundos do Estado".

Esta a notícia em destaque na primeira página do Expresso de hoje. Que acrescenta: Armando Pinto e Jorge Rodrigues foram inibidos de trabalhar em instituições financeiras por cinco anos. Mas gerem activos da nacionalização do BPN ao serviço do Ministério das Finanças.

O Estado é estúpido?
Nenhum empresário privado (passe o pleonasmo, porque não há empresários públicos), tendo conhecimento que um dos seus colaboradores era suspeito de graves irregularidades no exercicício das suas funções, o manteria por mais um segundo nas mesmas funções, em funções idênticas ou em quaisquer funções, sequer. O suspeito seria imediatamente suspenso, e a aguardar os resultados de inquérito disciplinar, independentemente de outros processos judiciais que o caso justificasse.

Obviamente, o Estado não é estúpido nem deixa de ser: São os tutores que, em nome dele, gerem os interesses colectivos, nem sempre em função da defesa dos mesmos. No caso em questão, é por demais evidente que aqueles que, no Banco de Portugal, levaram mais de três anos para concluir pela culpabilidade de 17 dos 23 acusados, foram excessivamente incompetentes para analisar os processos e, sobretudo, assistirem impavidamente à continuação dos suspeitos, alvos das suas averiguações, em funções.

Quanto aos outros, aqueles que no Ministério das Finanças procederam como se nada se tivesse passado, como se o BPN não fosse o maior crime financeiro observado em Portugal, como se as supeitam que sobre os acusados recaiam fossem à priori infundadas, como, no fim de contas, o que estivesse em causa não fosse um rombo que se equivalerá, segundo alguns cálculos recentes, a cerca de 5% do PIB português, como, enfim, se esse roubo não fosse uma das grandes causas da austeridade para a qual alguns de nós(mas não todos) foram convocados a pagar com língua de palmo, esses não são incompetentes nem distraídos, são criminosamente coniventes.

Se um quadro superior de uma empresa privada, no exercício das suas funções, cometesse um acto destes, o empresário colocá-lo-ia imediatamente na rua.

O Estado não é estúpido. Fazem-no estúpido muitos tutores públicos.

Friday, June 29, 2012

OS ABUTRES

Trabalhou durante mais de 40 anos. Algumas poupanças tinha-as confiado a uma sociedade de gestão de activos financeiros, supervisionada pelo Banco de Portugal. Na sociedade trabalhavam algumas pessoas conhecidas, um deles tinha sido professor assistente na universidade onde se licenciou. De um dia para o outro aconteceu-lhe o que aconteceu a muita gente: viu que tinha perdido grande parte das suas poupanças. Mas não tinha perdido tudo. O contrato de gestão que assinara com a sociedade financeira não tinha sido respeitado por esta.
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Recorreu aos tribunais, os tribunais deram-lhe razão. Houve recursos da outra parte, continuou a ter as decisões da justiça do seu lado. Em qualquer parte do mundo onde a justiça seja o que deve ser, ter-lhe-iam sido entregues os valores  a que tinha direito. Não, em Portugal.

O banco central, na qualidade de regulador e supervisor das actividades bancárias e parabancárias, designou um grupo de peritos para proceder à análise e apuramento dos salvados. Já lá vão anos sem resultados apurados nem notícias de quando possam emergir. Entretanto, os custos da liquidação, que incluem os honorários do grupo liquidatário e as rendas das instalações em que se albergam, progridem a passos largos e a carcaça em avaliação desaparece a olhos vistos.

Olha desesperado o desaparecer da esperança em cada dia que passa de reaver alguma parte das poupanças de uma vida inteira de trabalho, que possa sobrar da gula dos liquidatários.

E TIRAR OLHOS?

Noticia o Público online de hoje que o ministro da Economia foi insultado e cercado na Covilhã quando saía do Parque da Ciência e Tecnologia, por algumas dezenas de pessoas que protestavam contra as medidas do Governo e contra o desemprego. O ministro "ainda parou para conversar mas, quando começou a ser insultado, rapidamente entrou para o carro"... "...alguns manifestantes tentaram travar a progressão do veículo com uma mulher, primeiro, e um homem depois e deitarem-se sobre a frente do carro. O carro do ministro acabou por seguir marcha e, pouco depois, os manifestantes desmobilizaram".

Ingenuidade excessiva do ministro, que não conhece o país nem os métodos dos sindicalistas da CGTP, e que classificou mais tarde a manifestação contra o Governo como "legítima"?

As manifestações, geralmente mobilizadas pela CGTP, começam a não poupar nenhum membro do governo nem, o que é gravíssimo, o Presidente da República, que deveria, sobretudo nas actuais circunstâncias, encontrar-se protegido de razões para as invectivas populares sempre que põe o pé na rua. Lamentavelmente, de algum modo por culpa própria, nem ele escapa.

Poder-se-á argumentar que a protecção policial, que não existia de todo, poderia ter evitado o confronto de hoje na Covilhã, e que nem o ministro nem quem o acompanhava se aperceberam que havia ameaças à porta. Discordo.

Quando há uns tempos atrás o PR, quando se dirigia para uma visita à Escola António Arroio, deu meia volta e faltou à chamada, por recomendação da segurança que considerou de risco o ambiente que se observava na AA, foi criticado de alto a baixo. No caso de hoje na Covilhã, se o ministro tivesse ignorado os manifestantes e metesse o rabo no carro protegido pelos casse-têtes da polícia, o que diriam a estas horas os media?

Continuo a considerar que um governo nesta conjuntura gravíssima necessitava de uma maior base de apoio parlamentar; continuo a considerar que o PM fez mal em desobrigar o PS de participar na execução dos compromissos a que obrigou o país; mas considero que não é de modo algum tolerável que um membro do Governo, e muito menos o PR, seja ou venha a ser enxovalhado na praça pública; e que os arruaceiros deveriam ser penalizados.

Ou vale tudo?

Thursday, June 28, 2012

UM PAÍS SEM JUÍZO

O António Pinho Cardão tem referido com alguma insistência, nomeadamente no Quarta República, que em Portugal a liberdade de empreender e investir é um mito. No "Portugal 2020", que sintetiza as conclusões do Projecto Farol, de que fez parte, escreve "Centenas de projectos de investimento acabam por perder o timing, depois de passarem anos e anos nos departamentos oficiais, e outros aguardam tempos infindos os pareceres intermédios e finais que possibilitam uma tomada de decisão. A prática está tão consagrada que, quando o licenciamento é rápido, em vez de se louvar a diligência, logo surgem vozes a acusar de suspeita ou de corrupção quem interveio na autorização".

O APC terá certamente informações acerca do assunto que me escapam.
Há cerca de um ano perguntei a um assessor financeiro num banco de investimento se os objectivos da entidade onde trabalhava se resumiam à venda de produtos financeiros, se o banco, nominalmente de investimento, não direccionava os recursos que captava para o fomento de novos investimentos, e, sobretudo para a economia reprodutiva. O assessor esboçou um sorriso condescendente e respondeu-me que os seus colegas do departamento de financiamento, por não terem projectos para analisar, se entretinham a jogar com uma bola de papel nos corredores.

Por outro lado são frequentes as notícias de novos investimentos estrangeiros que se esvaziaram pouco tempo depois. Toda a gente reclama crescimento económico, porque sem crescimento económico não há crescimento de emprego, mas sem investimento não há uma coisa nem outra. Com o país endividado até ao cocuruto, alguns continuam a exigir investimento público por abstinência de investimento privado, mas esses também não sabem como é possível o investimento público com o Estado no estado em que está.

É neste ambiente desesperado que o APC diz que há quem queira investir, sim senhor!, o diabo é que o condicionamento industrial de facto continua a afundar este país desde o tempo do outro senhor.
Continuo perplexo.

Hoje ouço na rádio que (vd aqui ) "Um fiscal há 17 anos ao serviço da Câmara Municipal de Valongo exigiu 1100 euros a um casal para legalizar o café de que era proprietário. Os comerciantes aceitaram, mas quando exigiram o recibo do dinheiro a pagar, o funcionário da autarquia ameaçou fechar o estabelecimento por falta de licença."
Foi condenado a 30 dias de suspensão sem vencimento. Se respondesse perante um patrão privado teria sido demitido com justa causa.

Temos um Instituto do Investimento Estrangeiro. Não temos Instituto de Investimento Nacional. Por que não se abrevia o nome ao IIE e se alargam as suas atribuições? Por que não Instituto do Investimento, com um departamento que fizesse o follow up dos licenciamentos solicitados aos orgãos incumbidos da matéria?

Que, além do mais, recebesse e averiguasse as reclamações dos investidores, nacionais e estrangeiros?

Alguém é capaz de dizer isto ao Álvaro?

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Cor.- Ministro da Economia insultado e cercado na Covilhã.
Pires de Lima dizia anteontem no programa "Olhos nos Olhos" que nunca foi convidado para ME. E que o Ministério da Economia é o que é porque este ministro não conhece as empresas e o ME sempre foi atribuído ao Bloco Central. Está disponível, portanto, se o PM insiste em governar com o PS fora da execução dos compromissos que assumiu.

Wednesday, June 27, 2012

VÉSPERAS EUROPEIAS

A generalidade dos analistas e colunistas geralmente mais citados mostra cepticismo quanto aos resultados da cimeira europeia que tem início amanhã e se prolonga no dia seguinte. Martin Wolf e Wolfgang Münchau, do FT, entre outros, têm-se desdobrado em múltiplas análises e propostas para a solução da crise, algumas das quais vêm sendo agarradas por alguns líderes europeus sem, contudo, terem conseguido o consenso suficiente para serem adoptadas.

Na edição de hoje do FT, MW afirma logo a abrir o seu artigo - Look Beyond summits for euro salvation -, "Mais uma vez, a UE reune-se para resolver a crise da zona euro. Mais uma vez, é provável que a UE fique longe de uma solução convincente". Por seu lado, o Economist considera o documento de Van Rompuy, divulgado ontem, a que me referi aqui, "uma proposta delicada, e conclui que é muito provável que a cimeira europeia desta semana seja decepcionante, concorrendo para mais uma ronda de pânico nos mercados."
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 US and Eurozone fiscal performance. Eurozone debt
Estes quadros, publicados no artigo de MF que comecei por referir, são bastante elucidativos que não é, antes pelo contrário, o maior endividamento global da UE que coloca o seu sistema financeiro em posição mais fragilizada que o dos EUA. O que é significativamente diferente é a união política norte-americana que garante a união monetária, que não existe na UE, que Angela Merkel diz querer prosseguir, só não diz quando. 

Obviamente, já toda a gente percebeu que não é Angela Merkel que decididamente impede o avanço para uma maior coesão europeia mas os eleitores alemães. Mas, por outro lado, não é adquirido que esse avanço para uma maior integração política seja aplaudido pelos eleitores dos restantes membros da UE de forma maioritária. O referendo para a Constituição Europeia chumbou em França e na Holanda, o Tratado de Lisboa contornou as dificuldades de um consenso unânime mas encravou o processo de integração e, ainda assim, a Irlanda reclamou excepções.

Esse processo está agora a ser prementemente empurrado pelas piores razões: pela crise que se alastra e ameça desmoronar a UE. Sendo uma crise económica e financeira as sucessivas tentativas para a ultrapassar têm sido, até agora, unicamente da mesma natureza. Daí os repetidos fracassos.

A solução ou também é política ou não há solução. E muito menos com um superministro das finanças às ordens de Berlim.

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Act.
Angela Merkel irá a la cumbre europea de Bruselas preparada para pelear por el aumento de los controles fiscales y, según ha insistido este miércoles, contra la colectivización de las deudas de los socios de la Unión. En una declaración gubernamental ante el pleno de la Cámara baja parlamentaria (Bundestag), la canciller federal criticó las recientes propuestas de los líderes de la UE para salir de la crisis asegurando que adolecen de “un claro desequilibrio entre responsabilidad y control”. Merkel ha dicho compartir “la noción de que la unión monetaria necesita cuatro elementos para ser estable: la colaboración integrada de los institutos financieros relevantes; una política fiscal integrada; un marco para armonizar las políticas económicas y de competitividad; la legitimación democrática de esa colaboración reforzada de los Estados de la eurozona”. (El País)

PORTUGAL DE SEMPRE


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e-mail de Rogério Silva

Tuesday, June 26, 2012

O FUTURO DA EUROPA JOGA-SE EM ESPANHA

Num artigo publicado no New York Times (aqui) e no  El País (aqui ) - The Great Abdication -, Krugman afirma a meio do texto: " Vejam como os líderes têm lidado com a crise dos bancos em Espanha (Esqueçam a Grécia, que é uma causa perdida; É em Espanha que se decide o destino da Europa). Como na Áustria em 1931, a Espanha tem bancos que necessitam desesperadamente de mais capital, mas o actual governo de Espanha, como o da Áustria de então, tem problemas de solvência".

Pode discordar-se da política preconizada por Krugman para a solução da crise que envolve as economias dos EUA e da União Europeia, que, no caso da EU, coloca em causa o futuro da própria União, mas é difícil discordar dele quanto ao local para onde a batalha se deslocou, e onde, certamente, se decidirá o futuro da Europa no sec XXI.  

Pouco depois do anúncio de ontem do pedido formal de ajuda externa para recapitalização da banca espanhola - através do estado espanhol -, a Moody´s anunciava que baixava os níveis  de rating a 28 bancos de Espanha (aqui). Não é a primeira vez, aliás, que esta perversa sequência acontece, o que permite supor que o trajecto de Espanha, se nada acontecer, prosseguirá o caminho que os países intervencionados estão a percorrer. Com um senão enorme: o recorde mundial do desemprego no país vizinho não consente mais medidas de austeridade sem que o empurrem para situações socialmente incontroláveis.

Entretanto, há uma hora atrás o El País noticiava que os ministros das finanças da Alemanha, França, Itália e Espanha, reunidos em Paris, prepararam uma proposta para ser discutida na cimeira da UE de quinta e sexta feira próximos que prevê a existência de um superministério das Finanças que terá amplos poderes para modificar os orçamentos nacionais dos estados membros que infrinjam as regras de equilíbrio orçamental.

Comenta-se no El País a propósito desta proposta (vd texto publicado hoje aqui que ela "aposta no avanço para uma união monetária baseada numa maior integração dos sectores financeiro, orçamental e das políticas económicas. Há muito tempo que estes aspectos vêm sendo falados, mas a sensação que o desastre eurropeu está iminente pode levar os líderes a decidirem-se esta semana por estas políticas, sem as quais a união monetária continuará coxa."

A leitura integral do texto publicado por Rompuy, contudo, não é tão animadora quanto o comentário do El País poderá induzir. A experiência observada até agora da existência de um superministro das Relações Externas comunitário tem revelado o que era previsível: um fiasco. Um superministério das Finanças poderá dar mais garantias à Alemanha de observação das suas regras mas não é adquirido que convença os mercados. Poderá não ser um passo em frente para a integração politica mas um passo para o lado, o que, na situação de emergência actual, poderá significar um recuo estrondoso.

Para a semana se verá se a batalha de Espanha se exacerba ou se começa a extinguir-se.

Monday, June 25, 2012

O JOGO QUE A GRÉCIA GANHOU À ALEMANHA



pescado aqui

CAIXEIROS & BANQUEIROS

(continuação do apontamento de ontem, aqui)

Pode o Governo impor condições aos bancos recapitalizados por seu intermédio, obrigando-os a direccionar o crédito concedido neste ou naquele sentido, nomeadamente para o financiamento à produção de bens transaccionáveis? E se puder, deve?

Poder, pode, em princípio, uma vez que a sua capacidade contratual não fica restringida nem pelo facto em que se sustenta (recapitalização) nem pela condição de entidade terceira entre os bancos financiadares e os tomadores dos empréstimos. Mas não deve, a menos que assuma a garantia do cumprimento desses financiamentos. Esta foi, aliás, a proposta avançada há um mês atrás pelo actual presidente do Santander Totta, aqui, para resolver o problema do desemprego:    " ... um programa especial que permita (aos desempregados) apresentar projectos à banca a serem encaminhados para um instituto que prestaria uma garantia pública".

Pior a emenda. Banqueiros e caixeiros, mais que quaisquer outros empresários, não prescindem dos chapéus de chuva do estado (há vários, consoante as intempéries), dos quais, o moral hazard é o mais largo e disponível de todos. 

A recapitalização dos bancos intermediada pelos estados (altamente devedores dos bancos) é uma aberração que radica na obesessão alemã de vincular os estados ao cumprimento dos financiamentos feitos aos respectivos bancos. Como o que está em causa na recapitalização é o aumento da relação entre capitais próprios e crédito concedido, os capitais alheios dirigidos para a recapitalização não determinam na mesma proporção o aumento da capacidade de crédito dos bancos. Por outro lado, aumentam as dívidas públicas dos estados, geralmente intermediadas pelos bancos. Rajoy, que terá enviado hoje o pedido formal de ajuda à UE, tem-se batido pela alteração destas regras, reclamando que a recapitalização seja feita de forma directa aos bancos. Tendo em conta a situação de necessidade em que se encontra o sistema financeiro espanhol e a lentidão das decisões ao nível da UE, não é previsível que as regras em vigor actualmente sejam alteradas no sentido pretendido por Rajoy.

Tudo conjugado conclui-se que a recapitalização dos bancos, ao contrário de permitir a redução da interdependência entre bancos e estados, permitindo que estes paguem parte do que devem aqueles com os capitais provenientes da ajuda externa, reforça essa interdependência e as suas perversidades.

Voltando à Caixa.
Disse no apontamento anterior que a Caixa faz o que sabe e sabe fazer o que vê fazer aos bancos. Financiou, e abusou, a construção civil até ao absurdo, preferiu o financiamento das actividades protegidas, ignorou os sectores transaccionáveis,  financiou o Estado central, regional e local, em projectos de retorno negativo, envolveu-se em lutas accionistas que não lhe diziam respeito, importou dívida para esses financiamentos. Certamente que recebeu e obedeceu às ordens dos governos quando financiou as grandes obras públicas, emprestou às empresas públicas insolventes,  suportou as megalomanias de alguns autarcas.
E se nem sempre recebeu ordens, sentou-se nas garantias implícitas. Aliás, como os bancos.

Quanto ao financiamento da economia reprodutiva quando recebeu algumas indicações nesse sentido foi-lhe associada a garantia do Estado e a assessoria técnica através do tal Intituto Público a que se referia o presidente do Santander Totta.

A relação da banca e o estado deveria pautar-se intransigentemente pela regra da separação entre o estado e a banca. A consumação limite desta deveria começar pela separação entre a banca de depósitos e a banca de investimentos financeiros, garantindo o estado os depósitos daquela, e só daquela, em caso de risco sistémico. Neste sentido, e enquanto nada disto acontece, se o Governo entende que a economia está (como está) a secar por falta de irrigação de crédito, deveria reestruturar a CGD vocacionando-a para o crédito ao investimento reprodutivo, e vender todas as actividades que não se relacionam com aquele objectivo.

Não há hoje em Portugal um banco de investimento. Não há uma equipa competente para esse efeito. Na Caixa não há competências adequadas porque nunca existiram. Se o Governo der instruções à Caixa para direccionarem crédito sem que estes saibam o que estão a fazer, arriscamos-nos mais uma vez a ter de pagar contas arrasadoras mais tarde.   

Sunday, June 24, 2012

BANQUEIROS & CAIXEIROS

Sempre que alguém pergunta por que razão o banco do Estado não se distingue dos concorrentes privados
no financiamento à economia reprodutiva e privilegia os sectores protegidos, as actividades especulativas, favorece o consumo, preterindo o investimento, a resposta, geralmente desculpa a administração da Caixa invocando que esta simplesmente segue os objectivos que o governo lhe determina: maximizar os resultados de cada exercício. 

Ainda que assim não seja, é difícil encontrar outra razão que justifique o seguidismo dos caixeiros públicos na cauda do cortejo dos banqueiros privados. Porque se alguma diferença tem existido, e continua a existir, é a conotação da  administração da Caixa no envolvimento da guerra accionista no BCP, a sua quase ausência no financiamento das PME que caracterizam, por exemplo, pela negativa essa diferença.

"Cansado de ver o Governo a ser apontado como único responsável por uma economia que não descola, o PSD decidiu apontar o dedo à banca pela dificuldade de acesso das empresas ao crédito.

Em menos de uma semana, o primeiro-ministro, o líder parlamentar do PSD e o presidente da comissão parlamentar de economia acusaram os bancos - e em particular a Caixa Geral de Depósitos, o banco do Estado - de não estar a cumprir o seu papel de financiar a economia real. Um problema que há muito tempo está identificado, mas que nas últimas semanas os sociais-democratas decidiram puxar para a primeira linha do debate político.

A dificuldade de acesso ao crédito tem sido tema de conversa ao mais alto nível na direção do PSD, já foi discutido nas reuniões do grupo parlamentar social-democrata, e foi um tema recorrente nas queixas das bases laranja no ciclo de colóquios realizado há duas semanas para assinalar um ano na vitória eleitoral de Passos Coelho. Agora, chegou ao discurso político dos principais responsáveis do partido. O aviso é claro, o destinatário também: o esforço de recapitalização da banca tem de ter reflexo no financiamento às empresas. (aqui)"

Este cansaço do Governo parece desmentir a ideia feita de que os caixeiros (entenda-se administradores da Caixa) obedecem fielmente às ordens do governo em funções. Escapou-se a fera ao domador? Não parece que seja o caso. 

Os caixeiros fazem o que sabem fazer: imitar os banqueiros, que têm por objectivo defender os interesses próprios e dos accionistas de que dependem, subalternizando os interesses da economia envolvente. Mandem os caixeiros apoiar as PME e o mais provável é acontecer um desastre ainda maior porque eles não sabem, genuinamente não sabem, como é que isso se faz.

Quanto aos banqueiros, como é que pode o Governo impor-lhes a tomada de riscos e o trabalho de campo que eles sempre têm enjeitado? Como condição da recapitalização, abrangerá, até mais ver,  apenas dois privados. E os outros? E se os dois recapitalizados com a intervenção do Estado aceitam o ónus mas depois se furtam ao seu cumprimento invocando razões hábeis o que é que acontece?

(continua)

Saturday, June 23, 2012

ATRÁS DAS BALIZAS

Eu nunca lá conseguiria chegar se não me tivesse sido dada uma dica, e ver para crer.

A questão é esta: Faz sentido que uma instituição, mesmo que seja considerada de utilidade pública, receba subsídios do Estado (o mesmo é dizer que eu também pago) quando a referida instituição revela nas suas contas do exercício terminado em 30 de Junho de 2011 que detinha nessa altura (agora poderá ter mais porque não se vislumbram razões para ter menos)

- Depósitos a Prazo .............................. 14,625 milhões de euros
- Depósitos à Ordem ............................   3,434 milhões de euros .................. ?

Pois esta instituição, que é senhora de depósitos bancários que ultrapassavam os 18 milhões de euros, encaixou, entre Julho de 2010 e Junho de 2011, subsídios do Estado (para os quais, é bom não esquecer, também fui obrigado a pagar o couro e o cabelo) no montante de 6 milhões de euros!

As contas estão aqui.

De um modo geral, faz sentido que o Estado subsidie quem não precisa? O caso da FPF é escandaloso pelos montantes envolvidos, mas está muito longe de ser único. Há milhares de casos, menores e maiores.

Da mesma fonte, ouvi o seguinte relato:

Há uns atrás, ainda em Portugal a moeda era o escudo e o conto a medida com que se faziam as contas dos mais abonados, um Presidente da República Portruguesa foi receber "doutoramento honoris causa" numa Universidade num país distante. Como é da praxe, o doutorando fez-se acompanhar de luzidia companhia oficial que incluia alguns dos mais destacados empresários, à conta do Orçamento. Tudo pago e um "pocket money" de 80 contos para cada figurante. 

Evidentemente, por que não?, até o tipo mais rico cá do sítio embolsou os 80 contos para os pequenos gastos.

Pagou o Fonseca, pois claro!


Friday, June 22, 2012

QUEM FOI QUE DISSE QUE PORTUGAL NÃO É A GRÉCIA?

Ouço esta manhã na Antena 1 que (vd aqui) Domingos Duarte Lima foi esta semana constituído arguido no caso da compra dos submarinos portugueses à empresa alemã Ferrostaal, por alegadamente ter recebido um milhão de euros do contra-almirante Rogério d'Oliveira, que também foi constituído arguido no mesmo processo, revela o jornal Sol de hoje. O contra-almirante Rogério d'Oliveira - que já foi inquirido do DCIAP esta semana, assim como Duarte Lima - aparece no processo aberto na Alemanha sobre a compra dos submarinos como consultor técnico do grupo alemão, trabalho onde terá recebido cerca de um milhão de euros entre 200 e 2008, conta o Sol. Em 2001, o contra-almirante emitiu um parecer contra a escolha da empresa francesa para a construção dos submarinos.

Há submarinos e submarinos.
Dos primeiros, há dois, não sabemos para que servem, se estão operacionais, se estão parados por falta de combustível ou por outra contrariedade com os mesmos efeitos. Dos segundos, emergem de quando em quando uns quantos, mas mal se avistam aqui imergem de seguida e voltam a emergir noutros quadrantes e circunstâncias.

A reportagem do Sol descortinou agora Duarte Lima também metido no negócio.
À primeira vista nada parecia poder ligar-se o DDL à compra dos submersíveis. A não ser que tivesse intervindo como advogado de negócios, uma ocupação que se ocupa de tudo. Se assim tivesse sido, contudo, DDL já teria sido identificado no processo nessa qualidade. Se não foi como advogado em que qualidade intervencionou DDL? E se intervencionou junto de quem intercedeu?

Não há intervenções grátis. Mas ainda há, certamente, mais submarinos imersos. 
Contas feitas, o custo médio unitário dos submarinos e dos submarinos deve ter sido francamente baixo. 

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Act. - Noticia o Expresso de hoje (23/6) que DDL nega envolvimento no negócio dos submarinos, nega o contra-almirante ter entregue o milhão a DDL, noticiada ontem pelo Sol. Ouvido o Procurador Geral da República, aos costumes ainda não disse nada.
Quem está certo? O sertão está em toda a parte.

PESTE BANQUEIRA

A Moody´s volta a fazer tremer o sistema financeiro.
E nem a recordação da enormidade dos seus erros de pontaria feitos antes da erupção da crise em 2008 nos EUA reduz o impacto das avaliações que faz agora quando as extensões da crise progressivamente se evidenciam. Basta que sejam notícias de primeira página do Financial Times para estremecerem os monitores financeiros em todo o mundo, afundarem-se as bolsas, subirem os juros. Só os banqueiros, salvo raríssimas execepções, se mantêm, recostados e melhor pagos, nos seus postos. Mas protestam.

Ontem cairam no rating da Moody´s 15 dos maiores bancos do ocidente:
- Morgan Stanley viu o seu rating de crédito a longo prazo cair de A2 para Baa1, três níveis acima de lixo.
As acções do Bank of America, Citigroup e Royal Bank of Scotland caíram mais de 3%, antecipando os downgrades da Moody´s
- Credit Suisse viu o seu rating reduzido em três níveis;
- UBS,
- Barclays,
- BPN Paribas,
- Citigroup,
- Crédit Agricole,
- Deutsh Bank,
- Goldman Sachs,
- JP Morgan,
- Royal Bank of Canada, tiveram redução de dois níveis.
- Bank of America
- HSBC,
- Royal Bank of Scotland,
- Société Générale,
- Lloyds Banking Group, foram reduzidos em um nível.

Apesar do alastramento da mancha, as regras (ou a sua utilização perversamente hábil) que estiveram na sua origem continuam, no que é mais determinante, as mesmas.

Até quando pode o sistema tremer sem se desmoronar?

Thursday, June 21, 2012

OBAMA V ROMNEY



vd vídeo aqui

FADO ANDINO

O PM português deslocou-se à América Latina para assistir à Conferência das Nações Unidas Rio+20 e, de passagem, visita o Peru e a Colômbia, e terá uma reunião com a presidente do Brasil. Com a comitiva do governo portugyuês, foram 60 empresários e a fadista Carminho. O objectivo anunciado para esta visita a dois países atravessados nos Andes é a internacionalização da economia portuguesa fora dos mercados tradicionais. E, além disso, promover o programa de privatizações que faz parte do plano de ajuda externa da troica.

Quando ouvi a notícia perguntei-me, surpreendido com a estratégia - O que é que temos nós para vender ou trocar do lado de lá do continente sul americano? Que capitais peruanos ou colombianos podem interessar-se pela economia portuguesa? -, e não consegui ponta por onde por onde pudesse pegar uma resposta, para além da hipótese inconfessável da lavagem de dinheiro do tráfico de droga, que, obviamente, não passa pelo esforço de uma comitiva tão notada nem pelo fado, por melhor cantado que seja. E não pensei mais no assunto. As numerosas comitivas presidenciais ou do governo que se deslocam ao estrangeiro competem entre si para arejar e dar ao dente. Quanto a resultados, esquece-os o tempo. 

Mas eis que, agora mesmo, leio no JN online que " O contrato de investimento firmado em Março de 2011 com JP Sá Couto acaba de ser "rasgado" pelo Governo. Motivo: a JP Sá Couto, que acaba de anunciar que quer vender 40 mil "Magalhães" ao Peru, está em incumprimento e "não demonstra manter as condições de financiamento" para construir a fábrica de computadores de 10,9 milhões de euros. A JP Sá Couto foi uma de cerca de 50 empresas que estiveram em Lima, capital peruana, para participar num encontro empresarial organizado pela AICEP, que contou com a presença do primeiro-ministro, Passos Coelho."

E a mim, que não me tinha lembrado dos "Magalhães"!, ocorre-me uma sugestão a João Paulo Sá Couto: Arranje um sócio andino, peruano ou, colombiano, chileno ou boliviano, tanto faz, desde que tenha capitais soltos à espera de entrarem no mercado. Quanto à promoção e venda dos "Magalhães", é escusado dizer-lhe, quem percebe disso é o senhor engenheiro Sócrates. Convide-o, e borrife-se nesta transitória contrariedade. Com o senhor engenheiro Sócrates à frente do departamento comercial da JP Sá couto, os "Magalhães" vendem-se como pãezinhos quentes. Quem é o asno do andino que pode ficar indiferente a uma oportunidade destas?

Wednesday, June 20, 2012

A COR DO ÓDIO

Se o ódio tivesse cor, de que cor seria o ódio? Todas, mas a cada qual a sua.

Estivemos a rever Zorba, um retrato de Creta e das suas gentes em meados do século passado, filmado a partir da obra homónima de Nikos Kazantzákis, geralmente considerado o maior escritor e filósofo grego do séc. XX.

Há neste retrato filmado de forma excelente, que é uma ode ao hedonismo helénico, uma cena que brutalmente nos desvia para o pólo oposto, aquele em que a condição humana, subordinada, cultural ou circunstancialmente, à irracionalidade do animal que somos, é capaz de praticar os actos mais abomináveis: a da tentativa de lapidação da viúva seguida do seu assassínio por apunhalamento aplaudido por todos os residentes da aldeia, à excepção do deficiente mental. O contraste entre a dificiência mental, que chora sobre o cadáver da viúva caído no chão, e a irracionalidade extrema de uma sociedade humanamente subdesenvolvida, é inesquecível.

Passaram-se sessenta, setenta anos, quanto muito, mas a humanidade não está hoje menos potencialmente embrutecida que antes, apesar do desenvolvimento económico e social observado, em geral, em todos os cantos do planeta. Há sinais de erupções constantes desse vulcão de ódio semi adormecido que está no lastro de todas as civilizações, mesmo daquelas que se têm por mais desenvolvidas. Se a pressão das circunstâncias é suficiente para detonar a explosão, a corrente de lava de ódio cuspida não se desvia do caminho em que melhor avança.
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Na segunda volta das eleições na Grécia, os partidos dos extremos (nazis de um lado, extrema esquerda do outro) conseguiram 41% dos votos. Nos locais de voto destinados aos agentes da polícia venceu o Aurora, o partido da extrema-direita.

Aristides Hatzis, professor de economia e leis na Universidade de Atenas, descreve no seu blog, aqui, num artigo também publicado no Financial Times de ontem, o clima de terror e ódio que hoje campeia na capital grega, sobretudo contra imigrantes.

Se os líderes europeus não forem capazes de perceber que este tenebroso vulcão entrou em actividade debaixo dos nossos pés, e que não se extingue com mais 750 mil milhões de euros para resgate da Espanha e da Itália, "Paracetamol" segundo Olli Rehn através do seu porta voz, mas por decisões políticas, de elevado risco, tenhamos consciência disso, a corrente cega e brutal de lava de ódio destruirá outra vez a Europa.

POR 29 MILHÕES DE EUROS



‘Peinture (Étoile Bleue)’, 1927, de Joan Miró, foi hoje vendida num leilão da Sotheby’s por 29 milhões de euros, e passa a ser um recorde pessoal deste artista. O preço agora atingido é três vezes superior ao valor a que tinha sido vendido, também em leilão, em 2007. A procura de obras de Miró está em alta desde a grande retrospectiva do artista em Londres, Washington e Barcelona.
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O quadro, que o próprio Miró descreveu como um “ponto de inflexão chave” na sua trajectória, incorpora símbolos e elementos surrealistas que o pintor repetiria em obras posteriores.

Tuesday, June 19, 2012

O BANQUEIRO INOCENTE

O momento é duro, e havia exposição do banco à dívida grega
- Esse problema foi resolvido assumido nas contas do ano passado. Temos é pela frente exigências de recapitalização que não estão cumpridas e existe uma situação do país que não vai resolver-se no curto prazo. Os bancos tiveram um prejuízo grande. Com aquele problema do envolvimento do sector privado no perdão da dívida, que foi feito naqueles termos. (da entrevista a A. Santos Silva por C. Ferreira Alves - Revista Expresso - 9/6/2012)

(Agora, pergunto eu aquilo que a jornalista do Expresso esqueceu. As respostas de A. Santos Silva retiradas da entrevista de CFA e são transcritas em itálico pequeno).
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Mas por que razão arriscou o BPI investir na dívida grega?
- (O BPI) fez o que muitos bancos fizeram depois de 2007 e da falência do Lehman Brothers, depois da crise dos mercados monetáríos, quando o dinheiro deixou de circular entre os bancos, foi investir em dívida soberana do euro, porque era a maneira de terem a sua liquidez a gerar algum rendimento, baixo.

Mas porquê na dívida grega? Se o objectivo era investir em dívida titulada em euros, porquê não noutra dívida soberana? A alemã, por exemplo. 
- As bunds já nessa altura pagavam um rendimento baixíssimo. A dívida grega era a que remunerava melhor.

Essa teria sido uma boa indicação para o BPI ter avaliado melhor o risco que corria, não?
- Nenhum banco da zona euro pensou que podia estar em causa a solvabilidade de qualquer país da zona euro.   

Se assim fosse, se não houvesse esse risco, como é que o BPI, e os outros bancos a que se refere, interpretaram o aumento do prémio de risco da dívida soberana grega?
- As regras que existiam até setembro do ano passado eram que a dívida soberana que tínhamos de forma estável não era desvalorizada de acordo com o mercado, era valorizada pelo capital que no vencimento nos ia ser reembolsado.

Que regras eram essas?
- O cumprimento anterior.

É das regras que "os rendimentos passados não garantem rendimentos futuros". Ou não?
- Em setembro, uma coisa que se chama European Banking Authority, ( ) criou uma nova crise no zona euro, quando admitiu que os bancos podiam ter prejuízos sobre a dívida soberana que tinham nas suas carteiras. E que tinham de forma forma estável, e não especulativa. Isso criou a convicção em todos os que especulam sobre dívida pública que uma série de países iam sofrer mais. 

Nessa altura, contudo, os mercados já cobravam um prémio de risco sobre as dívidas soberanas que eles consideravam mais vulneráveis. De outro modo a Grécia não remuneraria melhor as suas obrigações de dívida pública e o BPI não teria investido nela. O EBA limitou-se a constatar um facto ditado pelos mercados. 

Decisão catastrófica. (observa C. Ferreira Alves) 
- Catastrófica.  Tomada contra a opinião de vários bancos centrais.

Vários bancos centrais são suspeitos de terem sido capturados pelos interesses políticos locais. O Banco de Espanha é o exemplo mais flagrante, também por ser o mais recente, da responsabilidade do banco central no avolumar dos riscos tomados por grande parte da banca espanhola   É, aliás, por essa razão que se fala na centralização da supervisão bancária no BCE. 
- Um Conselho Europeu achou, mal, que uma maneira de dar confiança nos bancos era que eles se recapitalizassem pelo montante necessário para cobrir a diferença entre o valor de mercado da dívida soberana e o valor que inicialmente tinham investido. E pior: além de considerarem  valor da dívida em títulos do Estado, consideraram equiparados à divida soberana os créditos concedidos às autarquias.

As autarquias não são parte do Estado?
- São,  e não são. Neste caso não são.  

Quem é que decidiu nesse sentido, e porquê? 
- A Alemanha, a França a Inglaterra. Porque tinham muita dívida soberana com mais-valias enormes. As menos-valias que tinham por exposição a dívida soberana a países que estavam pior eram superiores às que tinham em dívida própria. Todos os bancos alemães tinham dívida alemã ( ) tinham comprado quando a taxa de mercado estava a três e naquele momento o valor de rendimento da obrigação já só era dois. 

Outros bancos, e em particular o BPI, procederam em sentido contrário. Tramaram-se (tramaram-nos).
- É indiscutível que em 2007 o mundo estava muito alavancado.

Culpa dos bancos.
- Com a crise de 2007 e 2008, os Estados procuraram aquecer a economia para combater a crise de confiança ( ) nos EUA ... na Europa, seguiu-se a mesma linha e passou-se os 3% do limite do défice, inscrito em Maastricht... Com a falência do Dubai e com as eleições da Grécia, a descoberta de que as contas gregas estão mal, a surpresa da dimensão dos problemas, não houve clara consciência do que se impunha fazer.

A prática de sonegar contas na Grécia era conhecida. Hoje toda a gente concorda que a Grécia manipulou as contas (aliás, com a assessoria técnica da Goldman Sachs) e que já o tinha feito para poder entrar na zona euro.   
- A Europa não soube enfrentar a situação. ( ) Os políticos estão obcecados com o que pensam os eleitores do que eles fazem.

O senhor ocupou cargos governativos.  Esteve na génese do PS, através da Acção Socialista. Nunca entrou, porquê?
- Considerava o programa demasiado radical.   

Foi fundador do PSD. Por que saiu no "primeiro apeadeiro"?
- Prefiro ser independenteHouve uma quebra da qualidade da integridade política. É intolerável que alguém vá para o governo sem ser eleito para o Parlamento. Os intelectuais, os cientistas, os criadores que são os "novos descobridores" têm de participar mais e condicionar mais os políticos. 

Tenciona ser candidato a deputado nas próximas eleições legislativas?
- Já dei para esse peditório em 1976.  Agora sou condicionador.

Monday, June 18, 2012

"CADA UM O QUE QUER APROVA"

O comentador tem banca aberta garantida na Antena 1, além do mais, todos os dias úteis, salvo se está constipado, um pouco antes das oito da manhã. Há vários anos. Houve tempo em que no comentário matinal alternavam várias perspectivas da espuma dos dias,  até ao dia que este a que me refiro conseguiu o exclusivo. Porquê, não sabemos mas podemos supor.
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Hoje, depois dos preliminares rebuscados com que sempre começa para enfeitar a prosa, entusiasmou-se com o sucesso dos países intervencionados na zona euro - Portugal, Espanha, Grécia - no Euro 2012. A Irlanda é a excepção, mas os irlandeses não perdem o pio mesmo nas derrotas. Aliás, eluciou ainda o comentador, se a Itália também passa aos quartos de final, e é provável que passe depois do jogo de hoje contra a Irlanda, teremos o sul da Europa, atormentado na zona euro, a bater a Europa do norte no Euro 2012. Safa-se, por agora, a Alemanha, mas a Grécia tem o imperioso dever de fazer o que deve e deitar abaixo os boches. O comentador, diga-se em abono da verdade, não utilizou o termo mas eu interpretei assim a sua fé anti germânica.

Resumindo: Se eles, os do norte, se dizem mais capazes e mais disciplinados, por onde param essas capacidades e essa disciplina dentro das quatro linhas dos estádios de futebol, se baqueiam frente ao sul? Só há uma explicação possível: em matéria de futebol os povos do sul devem ser, para este comentador, genitamente superiores aos do norte.
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"Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães ... o sertão está em toda a parte. " João Guimarães Rosa - Grande Serão : Veredas

O crónico comentador poderia ter feito um raciocínio diverso se correlacionasse o sucesso futebolístico e sucesso económico, do norte do sul. Se o fizesse, e ele é por demais evidente, concluiria que há uma correlação inversa: ao maior sucesso económico corresponde em geral menor sucesso futebolístico, em países com fortes tradições nesse espectáculo. E a explicação é também óbvia: o recrutamento dos ases da bola é feito sobretudo nos meios menos abonados.

Aliás, as equipas de futebol dos países mais ricos tendem a formar-se sobretudo com atletas imigrantes ou descendentes de imigrantes. Não por acaso, a equipa francesa que foi campeã do mundo e da Europa é contituída por africanos e os alemães contam com Gomez, de ascendência espanhola, como o seu principal goleador.

Por outro lado, poderia correlacionar o número de estádios de futebol por milhar de habitantes e, facilmente concluiria que essa relação é em Portugal muito superior à observada na Noruega, na Suécia, na Finlândia (em contrapartida na Finlândia, por exemplo, existem muito mais escolas superiores de música), na Dinamarca, na Áustria e mesmo na Holanda, onde o futebol é também o desporto nacional.   

Poderia, pois poderia, mas interessava-lhe demonstrar não percebi bem o quê. Superioridade genética do sul para o ponta pé na bola?

As convicções de superioridade genética, no futebol e em tudo o mais, estiveram na origem de muitas guerras na história da humanidade. Nas das duas guerras mundiais, por exemplo.    

Sunday, June 17, 2012

HORA DE CONTAS

Mesmo que Alexis Tsipras não ganhe as eleições de hoje na Grécia, é inegável que a  representatividade no Syriza do voto de protesto contra os partidos que têm alternado no poder - socialistas e conservadores, - vai deixar marcas. Porque essa alternância consentiu, e muitas vezes promoveu, a desvalorização dos valores morais que são sustentáculo das democracias consolidadas.

A Tsipras, mesmo que fique fora do próximo governo de Atenas, sobram largas margens de denúncia da subversão dos princípios democráticos levada a cabo pelos eternos partidos do poder. Porque Tsipras sabe que para a derrapagem grega até à beira do precipício concorreram, para além da demagogia que (lá como cá) alimentou a economia da fantasia, iludindo os gregos com crescimentos balofos, muitos negócios que (como cá) continuam por esclarecer, e que ele insiste em ver esclarecidos.  

Só o buraco do BPN pesa, pelo menos, cerca de 5% no total da dívida pública, mas promete pesar mais. As contrapartidas na compra dos dois submarinos que não se sabe para que presisamos deles, por onde param? As vagas de ilegalidades, que somam milhares de milhões, reveladas pelo Tribunal de Contas a quem aproveitaram? Não sabemos porque a justiça dorme o sono dos coniventes.

Na Grécia, foi preso no dia 11 de Abril  Apostolos (Akis) Tsochatzopoulos, um dos fundadores do PASOK, ministro das Obras Públicas (1981–1985), da Presidência (1985–1987), do Interior (1987–1989), Transpostes e Comunicações, num governo de coligação (1989–1990), novamente do Interior (1993–1995), da Defesa (1996–2001), do Desenvolvimento (2001–2004).

Pois este Akis, foi levado de casa, na zona mais prestigiada de Atenas para uma prisão nos arredores, onde também deram entrada a mulher, a filha e um primo, acusados de vários crimes lesivos dos interesses do estado. Pormenores aqui.

Por mais que se receie ou deteste o radicalismo de Tsipras, não podemos deixar de perceber as razões pelas quais tantos gregos se entusiasmam com os seus discursos e a esta hora estão a votar nele.

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Corr. -
- La journée de vote a été assombrie par la découverte de deux grenades au siège de la chaîne de télévision, Skaï TV, dont les locaux ont été évacués. "La démocratie grecque est forte, elle ne se laisse pas impressionner", a réagi le porte-parole du gouvernement intérimaire sortant, qui a estimé que l'incident visait à "troubler la tenue des élections". Les derniers sondages plaçaient en tête les conservateurs de la Nouvelle Démocratie, suivis de très près par la gauche radicale d'Alexis Tsipras. Sauf surprise, les deux partis ne devraient toutefois pas décrocher la majorité absolue au Parlement.
Les autres pays européens sont également suspendus au résultat du vote, crucial pour l'avenir de la Grèce dans la zone euro. La chancelière allemande Angela Merkel a jugé samedi "important" que les Grecs dégagent une majorité respectant les engagements de rigueur. ( Le Monde )

ÚLTIMA HORA - Conservadores e esquerda radical empatam de novo. O empate prolonga a incerteza na Grécia (El País)
- Selon les premières estimations, les conservateurs de la Nouvelle Démocratie devancent très légèrement la gauche radicale d'Alexis Tsipras.(Le Monde)
- Sondagens à boca das urnas dão vantagem apertada à Nova Democracia (Público)

Saturday, June 16, 2012

TOTO EUROS 2


Anotei aqui que uma vitória dos gregos, hoje, sobre os russos favoreceria os partidos do governo, e uma derrota, os extremos, nas eleições de amanhã. Os gregos venceram, e passam aos quartos de final; os russos foram eliminados.

No voto político há mais carga emocional que racional. Segundo sondagens não autorizadas, haverá ainda cerca de 11% de indecisos, aqueles que têm intenção de votar mas só decidem à última hora. Tendo ganho a Grécia, uma aragem de optimismo estará a percorrer a estas horas o país helénico. Esse optimismo beneficiará os conservadores e garantir-lhes-á a vitória por uma escassa margem sobre o Syriza.

Depois se verá se, desta vez, os líderes gregos se entendem e formam governo. Se não, será o caos grego e, eventualmente, o princípio de um irreversível desmoronamento europeu.

AMOREIRAS DRIVING RANGE

Sempre que passo por lá tomo-o como medida da impunidade com que neste país se espatifam os dinheiros públicos e da falta de vergonha com que a sociedade tolera a continuada exibição dessa impunidade. O mostrengo, que até há bem pouco tempo dava pelo nome de bê-pê-ene, por exemplo, é incomparavelmente mais destruidor e incompreensivelmente continuam impunes e bem locupletados os seus autores e beneficiários. Quantos Amoreiras Driving Range nos vai custar o mostrengo? Não nos dizem. Com quanto se governaram cada um  dos patifes e seus coniventes? Menos ainda.

Teireira dos Santos, que afirmou ontem em Coimbra que a discussão sobre o BPN não pode centrar-se na supervisão mas no debate sobre quem aproveitou com o que se passou, começou por garantir, era então ministro das Finanças, que a nacionalização do BPN ainda não tinha custado um euro ao erário público. Faria de Oliveira disse há dias à comissão parlamentar de inquérito à nacionalização do BPN que o custo para (os contribuintes) seria de 2,7 mil milhões de euros, mais os custos que ainda estão por apurar.  Somado o que é até agora conhecido, a maior burla que até hoje aconteceu em Portugal deverá ultrapassar os sete mil milhões de euros. 

Mas Faria de Oliveira disse mais: disse que a CGD não aceitou integrar o BPN porque isso implicaria prejuízos elevados para a Caixa além dos custos reputacionais decorrentes dessa eventual integração. Isto é, Faria de Oliveira sabia o que Teixeira dos Santos não sabia? Teixeira dos Santos faltou à verdade, o que não significa que não tenha razão quando reclama que os que se aproveitaram da fraude gigantesca sejam reconhecidos e compelidos aos reembolsos dos furtos. Mas é imperdoável que ele, Teixeira dos Santos, tenha avançado para uma nacionalização desastrada que deixou escapar pelas suas malhas rotas os burlões e, como ministro das Finanças e de Estado do anterior governo tenha deixado que a gangrena avançasse, os custos para os contribuintes se multiplicassem, os culpados se escapassem até hoje. 

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Quantos Amoreiras Driving Range nos custa o super rombo do mostrengo?
Cinco?, seis?, sete mil ?
Quem foi culpado? Ninguém. No âmbito da irresponsabilidade que assiste aos gestores dos fundos públicos há margem para vários Amoreiras Driving Range.

Resignadamente, de acordo.
Mas mandem retirar da nossa vista o incómodo de nos relembrar que também ali fomos roubados.
Se há tanta gente desempregada da construção civil, a receber fundo de desemprego, porque não se convoca essa gente e se transforma o fundo de desemprego em fundo de emprego?

Friday, June 15, 2012

QUE UNIÃO POLÍTICA, FRAU MERKEL?

Merkel tem vindo a repetir nas últimas semanas a sua proposta de união política da Europa, como se refere neste  resumo da sua intervenção de ontem no Bundestag.

Com Sarkozy, propõs um governo económico. Nunca lhe conhecemos os contornos. Agora, com Hollande na presidência francesa, e a união à beira de estilhaçar-se, parece sondar a sensibilidade alemã e a dos outros europeus a uma ideia que tanto pode ser ambiciosa, talvez até ambiciosa demais se a tomarmos nos seus precisos termos, como não passar de um balão de ensaio. 

Porque, ao mesmo tempo que propõe essa ideia vaga de uma união política, Merkel finca-pé na prioridade à austeridade imposta aos países económica e financeiramente fragilizados, o objectivo de unir politicamente os europeus sem enunciar como nem quando presta-se às mais variadas leituras possíveis.

O que parece estranho, contudo, é que uma ideia destas não mereça uma discussão generalizada e uma pergunta óbvia que ainda não foi feita: Que união política, Angela Merkel? Em vez dessa pergunta óbvia, ouve-se uma conversa de surdos. Merkel apoia a proposta de supervisão dos bancos pelo BCE mas rejeita a globalização das garantias dos depósitos.

Ora sem globalização das garantias bancárias pode ser evitada a corrida generalizada com massivas injecções de liquidez no sistema (previstas se os resultados das eleições gregas do próximo domingo derem a vitória ao Syriza e Tsipras fizer o que prometeu: renunciar unilateralmente os compromissos assumidos como contrapartida da ajuda externa) mas não se evita a continuação da drenagem de depósitos para bancos mais seguros, alemães, sobretudo. Nem se inverte essa situação insustentável que permite à Alemanha financiar-se a taxas de juro negativas enquanto os países fragilizados persistentemente ameaçados também em consequência dessa drenagem os pagam com língua de palmo.

Se Alexis Tsipras promete aos gregos o melhor dos mundos (manter-se no euro e renunciar a dívida externa) todos os outros, por razões diversas ouvem Merkel e assobiam para  o ar, e ninguém pergunta a  Merkel  em que união política, e para quando, está ela a pensar.   

UNIÃO POLÍTICA, DEFENDE MERKEL


Na expectativa dos resultados do próximo domingo na Grécia e diante do alarme da situação em Espanha, Merkel foi ontem ao Bundestag afirmar que*:
- A Alemanha não é uma fortaleza sem fim nem a sua capacidade ilimitada para salvar sozinha a Europa;
- A crise não se soluciona com mais milhares e milhares de milhões, e todas as medidas adopatadas até agora e os fundos de resgate já utilizados se dissolveriam se a locomotiva económica da Europa explodisse;
- Houve decisões irresponsáveis durante estes dez últimos anos, que provocaram a actual situação, como aquelas que permitiram a enorme bolha imobiliária em Espanha. 
- O  pedido de ajuda de Espanha para resgatar a sua economia pressupõe condições para o seu sistema financeiro. (As obrigações da dívida soberana espenhola a 10 anos subiram a níveis nunca antes atingidos depois da introdução do euro);
- As recentes provas de resistência ao sector financeiro pela Autoridade Bancária Europeia não serviram para nada porque os supervisores nacionais tiveram influência excessiva nos resultados. Um exemplo disso é o facto de não ter sido revelado o nível de imparidades dos bancos espanhóis que agora se avalia em cem mil milhões de euros;
- Tudo isto prova que devemos avançar para a união política da Europa para que haja comunhão das responsabilidades e um controle comum; 
- É favorável à atribuição ao BCE  de competências para controlar os sectores bancários da zona euro, de modo a evitar que os interesses nacionais não perturbem a visão das situações.
- Assegurou que a Alemanha colocará todos os seus esforços ao serviço da integração europeia e da economia mundial.
- Atacou aqueles (David Cameron) propõem soluções instantâneas para a crise;
- Repetiu a sua oposição à emissão de dívida europeia conjunta e a criação de um fundo comum de garantias bancárias para toda a zona euro;   
- Insistiu na consolidação orçamental como arma contra os problemas actuais da União Europeia e do euro;
- Congratulou-se com a boa situação da economia alemã mas voltou a referir as limitações objectivas para escorar as economias mais afectadas pela crise;
- Colocou em causa a constitucionalidade de algumas propostas de solução freitas por outros membros da UE. A Europa deve obedecer às suas próprias regras;
- A Europa é o nosso destino e o nosso futuro. Se o euro fracassar, fracassará a Europa;
- O Pacto Fiscal é importante como primeiro passo para a harmonização europeia;

Segundo um estudo recente do Crédit Suisse, a Alemanha arriscará mais de 400 mil milhões de euros nos diversos fundos de estabilidade europeus, dos quais mais de 100 mil milhões já estão comprometidos.
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O líder da oposição, o social democrata Frank-Walter Syeinmeier (SPD), por seu lado, advertiu os alemães que a crise já chegou ao seu país, e acusou Merkel de passividade perante os problemas europeus e não prestar atenção ao segundo pilar da recuperação que é o crescimento e a luta contra o desemprego, esclarecendo, no entanto, que nada têm contra a consolidação orçamental.      
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* Resumo de artigo publicado ontem no El País.

Thursday, June 14, 2012

GOOD BYE SPAIN

À primeira vista a mensagem poderia resultar do aperto financeiro em que se encontra Espanha, e que leva o El País a considerar que o país de se encontra agora perante um novo precipício, em consequência das pressões dos credores observadas após a anúncio do pedido de resgate: "El acoso de los mercados coloca a España ante un nuevo precipicio";
o ministro das Relações Exteriores, García-Margallo a afirmar que o futuro do euro joga-se por estes dias, talvez nas próximas horas; (uma afirmação desastrada porque,  por ser pública, só pode contribuir para a derrocada que Gargallo supostamente quererá evitar). 
e o ministro das finanças, Luís de Guindos a admitir que a pressão sobre a dívida não é sustentável por muito mais tempo.
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Por outro lado, Rubalcaba, o lider socialista, adverte o governo e a UE: "restam poucos dias para actuar" e afirma que Rajoy tem razão quando pede o apoio do BCE.



E, no entanto, o pano enorme pendurado no estádio de Vicente Caldéron por adeptos catalães que assistiam ao jogo entre Barcelona e Atlético de Bilbao para a disputa da Taça do Rei, reclamava "We are nations of Europe". Os mesmos adeptos assobiaram o hino de Espanha, ouvido, como é tradição, antes do início do encontro, de tal forma que a TVE se viu obrigada a censurar a transmissão em directo e a transmitir o hino em diferido.

A Espanha foi sempre um puzzle de nações. Os movimentos autonomistas ou independentistas, abafados durante a ditadura franquista, ganharam ânimo suficiente para garantirem a autonomia que algumas não souberam usar e que hoje enfrentam hoje sérios problemas de solvência financeira.

García-Margallo avisou, a propósito destes incidentes, que repetiram os observados em Valência na edição anterior da Taça do Rei, que os mercados valorizam estes movimentos e isso reflecte-se na desconfiança que a alta de juros exprime.

"We are nations of Europe", uma pretensão que pode transformar-se numa ironia trágica.   

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Act. - A Catalunha é a região autónoma mais endividada de Espanha. Seguem-se Madrid e Valência. 

PREVISÍVEL E INSUSTENTÁVEL


As notícias que inundam os diários sobre a desagregação da União Europeia  já não são notícia mas o registo da evolução esperada dos acontecimentos. O avolumar dos embates entre os seus membros está atingir níveis de magnitude que acabará irremediavelmente por derrubar o edifício que vinha a ser construído sem cálculos de resistência dos materiais das estruturas perante as declarações titubeantes e frequentemente contraditórias dos alemães, a ausência de Monsieur Hollande, mais envolvido com a quadratura do hexógono, as assumidas impotências dos britânicos, que chutam de longe e, assim, não chegam à baliza, a geral abstenção conivente dos  nórdicos, a impotência dos amputados.   

Em Itália, os investidores reagiram negativamente à situação em Espanha após o anúncio do resgate da banca, e os  juros de uma emissão realizada ontem de dívida a um ano rondaram os 4%. Os receios de contágio reflectiram-se imediatamente numa subida dos juros implícitos da dívida soberana portuguesa.
A Moody´s colocou a solvência da dívida espanhola à beira de lixo. A Ficht tinha no dia anterior reduzido o rating a dezoito bancos de Espanha. Bruxelas confirma que o resgate da banca espanhola agravará o défice do estado.

No mesmo dia a Alemanha emitiu dívida a taxa de juro de negativa, confirmando uma tendência que se observa há já algum tempo: o receio da implosão da zona euro está a drenar os depósitos nos países mais fragilizados para o exterior e, sobretudo, para a Alemanha. "Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos", afirmou um dia Porfírio Diaz, presidente mexicano no séc. XIX, e a frase tornou-se popular". A Alemanha, contudo, não é os EUA e o sul da Europa não é mexicano, ainda que se lhes vislumbrem algumas parecenças.  
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Os alemães, pela sua dimensão e por opção, assumiram o leme do barco europeu sem ir a votos, contando impor a disciplina a bordo a todo o custo. Terão as suas razões mas também têm culpas no cartório e um cadastro que é um fantasma que ainda paira sobre o continente. Pode Schäuble, o ministro alemão das finanças, desvalorizar, para efeitos internos, os resultados das eleições do próximo domingo na Grécia mas não pode, com essa basófia, impedir que a corrente mude de rumo se não remover as obstruções atravessadas no caminho.  

Não há negócio que perdure se só um dos contratantes é persistentemente ganhador.

Wednesday, June 13, 2012

TOTO EUROS

Se a Grécia perder ou empatar contra a Rússia no próximo sábado e  não passar à fase seguinte do Euro 2012 a decepção dos eleitores gregos no dia seguinte favorece o voto nos extremos, no centro ou será eleitoralmente inócua? Aritmeticamente, se os gregos vencerem por uma diferença de dois golos, serão eles a passar e os russos a irem para casa mais cedo. Se não, a raiva grega resultante da saída prematura do Euro 2012 contribuirá de algum modo para a saída iminente da zona euro, e da União Europeia? E, por ironia dos acasos, contribuirá também para a aproximação política à Rússia, após a desilusão da solidariedade europeia? Ficção a mais? Admito que sim.
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Mas é um facto provado em cada jornada futebolística que os resultados da bola alteram a razoabilidade dos adeptos e exacerbam os humores dos fanáticos. Também parece demonstrado que as vitórias desportivas das representações nacionais favorecem o governo no momento e que as derrotas adubam os votos de protesto. Se assim for, os extremos gregos sairão reforçados no domingo com a derrota da sua equipa frente à Rússia no dia anterior.
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Ontem, Alexis Tsipras, o grego que olha para Che Guevara todos os dias, disse, numa conferência de imprensa, ontem em Atenas, mais uma vez o que sempre tem dito: (aqui)
"Se a (coligação) Syriza ganhar as eleições legislativas de domingo, irá trabalhar para assegurar a permanência da Grécia na zona Euro;
Formará um governo amplo de esquerda que terá como objectivo reabilitar a economia do país;
Opor-se-á ao memorando de entendimento imposto a Atenas pela Troica;
Se Bruxelas continuar a exigir a aplicação das medidas de austeridade, mesmo depois da vitória da Syriza, isso sigmificará que a UE não reconhece a democracia; (Estranho conceito de democracia)
Uma Europa sem democracia não tem futuro político, nem credibilidade. Uma Europa sem Grécia estará culturalmente inválida;"
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Denunciou ainda "a campanha de terror" desenvolvida pelos partidos que partilharam o poder na Grécia nas últimas décadas (o socialista PASOK e o conservador Nova Democracia)
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"Os que especulam são os partidos que levaram o país à bancarrota, os banqueiros que temem perder o controlo dos bancos que os próprios levaram à bancarrota e os representantes da corrupção política", afirmou Tsipras, quando questionado sobre se a vitória da Syriza poderá provocar um levantamento em massa dos depósitos nos bancos gregos.
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A Nova Democracia, o PASOK e outros partidos gregos, bem como vários líderes europeus, têm vindo a advertir que se a Grécia suspender a aplicação do memorando de entendimento deixará de receber financiamento dos parceiros europeus, obrigando o país, sem acesso ao financiamento a longo prazo nos mercados da dívida, a decretar a suspensão dos pagamentos.

O líder da esquerda radical definiu o programa da coligação como uma "revolução pacífica", que terá como objetivo o acesso de todas as pessoas "a um salário decente, a uma reforma decente e à segurança social".

Para financiar estas medidas e para impulsionar o desenvolvimento, a Syriza pretende aplicar impostos aos mais ricos, combater a evasão fiscal e utilizar melhor os fundos estruturais europeus.
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Perante isto, como irão reagir os gregos se a equipa treinada por Fernando Santos não conseguir uma única vitória em três jogos? Só Fernando Santos será despedido?

Tuesday, June 12, 2012

A ROLETA EUROPEIA

"Almunia dice que España cobrará un 8,5% a la banca por la ayuda" (El País)


Em que situação se encontra um banco quando aceita pagar juros de 8,5%?, perguntará mesmo quem não seja desconfiado.

Quando se esperava que os mercados financeiros, os investidores (os especuladores, para quem preferir) acalmassem, os juros baixassem, e a Espanha saísse da zona vermelha, o prémio de risco, medido em pontos base acima dos juros pagos pela Alemanha, atingiu hoje valores máximos no mercado secundário. 

O fenómeno inesperado só pode ter uma razão óbvia : os investidores perderam a confiança na capacidade dos políticos europeus evitarem que a crise se agudize. Pode Rajoy arrotar as basófias que entender, mas basta uma palavra pronunciada dos lados do Bundesbank para destroçar a euforia  do chefe do governo espanhol perante o golo de Espanha à Itália, depois de ter considerado o problema financeiro espanhol um caso arrumado com a linha de crédito que ele, Rajoy conseguira no sábado, mas incumbira Guindos anunciar.

O Bundesbank reprova a ideia de união bancária, que alguns, entre eles Durão Barroso, já tinham agarrado com ambas as mãos, argumentando que essa união desactivaria a disciplina dos governos pelo cumprimento dos programas de ajustamento. Resultado: volta tudo à estaca zero em vésperas de andar a roleta grega. Os indícios de prosseguimento de uma maior integração política, condição sine qua non da sobrevivência da zona euro e, por tabela, da União Europeia, dados a semana passada em Berlim, esbarram esta semana em Frankfurt. 

E os investidores reagem racionalmente: A banca espanhola (como a banca portuguesa), como algumas outras bancas por aí fora, fica encostada ao estado, que não tem músculo para se aguentar com o encosto. A crise das dívidas soberanas disparou por aí e por aí se manterá enquanto não houver encosto global.

E se não houver? Não sei.
Duvido mesmo que o  Bundeskank já tenha avaliado os estragos globais que poderão resultar dos disparos desta perversa roleta municiada em vários e cruzados sentidos.