Saturday, April 30, 2011

DISSE

"... na lota democrática dos votos os lances tendem a ser licitados com promessas frequentemente incumpridas, muitas vezes as mesmas, variando de sentido consoante os licitantes estejam no poder ou na oposição. A perversão é tanto mais acentuada quanto menor for a maturidade democrática dos votantes, isto é a sua capacidade para distinguir por onde se insinuam os cânticos da demagogia. Não se cumprindo as promessas, porque elas impõem mudanças e as mudanças incomodam, os caminhos deixam de ser tentados em frente para se calcarem em círculo.

Como pode, então, romper-se o círculo e arriscar avançar?

Há sempre um momento em que a demagogia se não soçobra enviesa a passada: quando os cofres se esgotam."

14 de Dezembro de 2005, aqui

DETALHES

Um Instituto e uma Comissão, do mesmo Ministério, ocupam o mesmo edifício em Lisboa.
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Passado um guarda vento, à entrada existe, à esquerda, um pequeno  balcão onde um segurança privado exerce as funções de recepcionista. Para quem se dirige ao Instituto, debita o nome e o número do bilhete de identidade que o segurança inscreve num caderno pautado acrescentando a hora de entrada. Depois pergunta: Com quem deseja falar? Respondemos, e o segurança diz: Então não é neste registo, este é para quem quer ir à Comissão. Risca a nossa entrada no primeiro e passa ao alternativo.
Para se ir ao Instituto, o segurança privado preenche uma guia onde coloca o nosso nome, o número do bilhete de identidade e pendura-nos ao pescoço, pendente de uma coleira azul e branca, um cartão com um V de visita que nos chega ao umbigo.  

Pode entrar. Entrei. Só para um pedido de informação. Recebe-me, sorridente, uma segunda segurança privada, pergunta-nos ao que vamos, consulta o ficheiro, e entrega-nos um formulário para preenchimento. Solicito ao presidente do Instituto a marcação de uma reunião com um técnico engenheiro. Entrego, diz-me que espere que me chamem. Já na rua, tenho de voltar para trás para devolver o colar ao primeiro segurança.

Chamaram-me três semanas depois. O mesmo registo, o mesmo colar, o mesmo cartão. Subo de cartão pendurado, recebe-me o engenheiro e a chefe respectiva. Simpáticos. Faça o requerimento, será despachado favoralvelmente, não há razões legais para o contrário.

Requerimento feito, terei de aguardar um mês, nunca menos, avisa-me a segunda segurança, à saída.

Para quê? Para fazer um furo de captação de água para rega de uma pequena superfície. 

Venho a caminho de casa e ouço na rádio que a troica vai exigir a saída de uns milhares de funcionários públicos excedentários.
Que vai ser feito deles?
A melhor ideia que me ocorre é que se empreguem na empresa de segurança privada.

Friday, April 29, 2011

AMANHÃ HÁ MAIS

Silva Pereira e Eduardo Catroga trocam acusações

Prestes a chegar à fase decisiva das negociações com a troika, Governo e PSD dão mostras de não se conseguirem entender. "O PSD impede que o país fale a uma só voz", diz Pedro Silva Pereira. "O Governo de José Sócrates devia ir a tribunal", acusa Eduardo Catroga. (aqui )

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DEPENDENTE, É ELA!

A crónica de Helena Matos aqui, citada aqui,  tem muito que se lhe diga.

Respigo apenas dois pontos:

1 - Há 6 milhões de dependentes do Estado, afirma HM, citando Medina Carreira.
O Estado é grande e todos governos os seus alargadores.
Mas o número peca por algum exagero.

Quando Helena Matos conta os dependentes, ou MC por ela, conta também os reformados que,compulsivamente, pagaram para garantirem uma reforma nos termos prometidos e já várias vezes alterados? Estou certo que sim.

Neste caso, um reformado que tenha descontado durante uma vida profissional de 45 anos mais de 30% do seu ordenado (ele e a entidade patronal, o que em termos aritméticos dá no mesmo) é um dependente do Estado? Deve-lhe favores? Deve favores a alguém?

Mesmo no sistema pay and go, adoptado há já várias décadas, a segurança social não é deficitária.

Mais: Quando a segurança social foi alargada aos não contributivos foram os contributivos da segurança social que suportaram a carga.

Mais: Aqueles, cidadãos de primeira, que se mantiveram em sistemas de segurança social especiais, nunca foram chamados a contribuir com nada. Segundo Vital Moreira, e outros, a diversidade de sistemas é inconstitucional desde que pariram esta Constituição.

Mais: Os beneficiários (é com eufemismos destes que se confundem os desprevenidoss) do sistema da segurança social viram as suas pensões saqueadas, e irão ver mais ainda. E os outros, Helena Matos?
Os bancários, por exemplo? E outros?

Não me vou alongar mas há muito mais para interrogar.

2 - Só para terminar, observo que Helena Matos "Exerce actualmente funções de consultoria e pesquisa histórica para a série Conta-me (RTP 1)". Vd aqui: http://www.ipri.pt/eventos/pdf/CV_HelenaMatos.pdf

A RTP, um grupo de empresas que nos saca uns largos milhões dos bolsos todos os anos, recorre aos serviços de Helena Matos.

Contou Helena Matos com Helena Matos na contagem dos dependentes?

Perguntado de outro modo: Eu, que descontei para a segurança social durante 45 anos mais de 30% do meu ordenado, e que pago impostos para sustentar a RTP onde a Helena Matos cobra,  sou mais dependente do Estado que ela?

APLAUDO

Tribunal Constitucional chumba revogação da avaliação dos professores.

OS TIRADENTES

Está a chegar o Tridente, o segundo submarino.
Aqui, uma visita guiada a bordo.
Das famosas contrapartidas, deixámos de ouvir falar. Mas como se aproximam eleições é bem possível que venham mais uma vez à tona, cumprindo o calendário.


Para aqueles, que como eu, não sabem nada acerca das missões a que vão ser chamados estes bichos, que lhes sirva de lenitivo o facto de  que, só o BPN, já nos custou quatro (4!) submarinos e, muito provavelmente, custará pelo menos mais quatro até que decidam, finalmente, mandá-lo ao fundo.

Nacionalizado há cerca de dois anos e meio, nenhum membro da quadrilha foi até agora responsabilizado nem recuperados os salvados encontrados.

Também não são possíveis visitas a bordo. O segredo, neste caso, é a alma da conivência entre os tripulantes do grandessíssimo logro.

Thursday, April 28, 2011

UM SORRISO TRISTE DOURADO

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E não se podem negociá-las? Dizem-me que não, porque o BCE não deixa. Percebe-se que não deixe, só não se percebe porque razão não toma conta delas ao preço actual de mercado. Um bem não transaccionável é um bem sem valor pecuniário. Pode valer, quanto muito, pelo seu valor estimativo, que não paga dívidas.
Esta questão sugere-me a imagem chocante, para mim e certamente para muita gente também, dos pedintes, moldavos e outros, que, ainda não há muito tempo, nos cruzamentos de algumas ruas de Lisboa estendiam as mãos à caridade de quem  passava, exibindo um sorriso compungido de dentes de ouro.

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Bullion for you

Where the world's gold is held (here)
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THE creditworthiness of a country used to be judged by the level of its gold reserves. Under the gold standard, a fall in reserves would lead to the central bank taking crisis measures. The country with the biggest reserves in the world is, not surprisingly, America, with 8,134 tonnes. But expressed in terms of reserves per person, the picture looks very different. It is no surprise to see Switzerland at the top of the list, but why is Lebanon in second place? Its reserves were purchased when the country was the Middle East’s financial centre in the 1960s and 1970s and safeguarded through the civil war years by legal restrictions and by central-bank governor Edmond Naim, who according to legend slept in the bank to protect the hoard. China does not feature in the list at all; but gold bugs fantasise about what might happen if the people’s republic were to swap just some of its mountain of Treasury bonds for bullion

Wednesday, April 27, 2011

AFIRMA CARLOS COSTA


O Governador do Banco de Portugal defende que os decisores políticos e os gestores públicos devem ser responsabilizados pelo incumprimento de compromissos orçamentais. Carlos Costa só não esclarece se civil, criminalmente ou de outra forma.

“É crucial que os decisores de política e os gestores públicos prestem contas e sejam responsabilizados pela utilização que fazem dos recursos postos à sua disposição pelos contribuintes”, afirmou, à margem de uma conferência sobre os 35 anos da Constituição da República Portuguesa.

Carlos Costa diz que nos últimos 12 anos os Estados e os Governos à frente dos destinos do país não foram prudentes. Endividaram-se e não quiseram cumprir regras europeias, de manter o défice abaixo dos 3%, ou de simples bom senso.

“O objectivo de atingir um saldo orçamental próximo do equilíbrio foi sistematicamente reiterado nos nossos diferentes Programas de Estabilidade e Crescimento mas foi sempre adiado para o final do horizonte do programa seguinte, isto é, não nos esquecemos da regra mas nunca a respeitamos ou aplicamos”, sublinha.

Além do princípio da responsabilização, o governador do Banco de Portugal pede maior e efectiva transparência sobre as actividades do sector público. “Quantos organismos públicos existem. Quantos são os funcionários públicos e quais os respectivos regimes de vinculação. Qual o volume global das garantias conferidas pelo Estado. Quais os encargos futuros com os sistemas de pensões ou com as parcerias público-privadas”, questionou.

Carlos Costa é adepto da inscrição de limites ao endividamento e ao défice no ordenamento jurídico. Deve debater-se se isso deve ser feito através da Constituição da República portuguesa.

O governador do Banco Central considerou ainda que a intervenção do Fundo Monetário Internacional é a oportunidade para virar a página a séculos de indisciplina financeira em Portugal.

AS APARÊNCIAS DOS SUBSÍDIOS

"Ora, aqui está uma coisa que desconhecia em absoluto: os reformados têm subsídio de férias! Deduzo esta maravilha porque o FMI quer acabar com o subsídio de férias dos reformados, logo, tal aberração deve mesmo existir" (aqui)

Já abordei esta questão várias vezes neste caderno. Vd., p.e., aqui
O subsídio de férias dos reformados é um conceito anedótico mas tanto o subsídio de férias como o subsídio de Natal em geral, e não só para os reformados, são práticas que deveriam ser simplesmente abolidas, dividindo-se o valor pago anualmente em catorze meses por doze. É essa a prática corrente em muitos países desenvolvidos.

O que é que se ganharia com isso?

Quatro vantagens, pelo menos:

- Uma para a entidade pagadora, privada ou pública, que não estaria sujeita a uma sobrecarga de tesouraria.

No caso das empresas, este sobrecarga é mais violenta porque corresponde, para muitas, aos meses de menor actividade e, portanto, menores receitas.

- Outra para o país e para as famílias, porque desincentivaria o consumo anormal, frequentemente dirigido a bens e serviços importados.

- Outra porque evitaria que se olhassem para os subsídios como rendimentos extra quando, para muitos, eles fazem parte dos rendimentos com que muito à justa as famílias podem contar.

- Finalmente, outra - Evitaria que, mais uma vez, sejam os rendimentos do trabalho a pagar as favas.

Anedótico, portanto, será apenas na designação obtusa.

Quando é calculado o valor da pensão, esse valor é anual. A opção da segurança social em pagá-lo em 14 meses, e não 12 como seria razoável, não depende da vontade do reformado. Retirar 1/14 da pensão anual não é acabar com um subsídio estranho mas reduzir a pensão anual calculada.
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Admitindo que a intenção do FMI vai avante como é que se processarão as reformas a partir de agora: Dividindo a pensão anual por 13? Dividindo por 14 e retirando um mês?
As coisas são sempre mais complicadas do que parecem.

Tuesday, April 26, 2011

O ESTADO DA NAÇÃO




OS REIS DAS FARÓFIAS

Passos Coelho diz que "fabricar uma espécie de União Nacional é uma perversão" (Público)

Parece cada vez mais evidente que Passos Coelho pretende perder as próximas eleições legislativas, e que Sócrates não desiste de as ganhar.

Depois dos apelos feitos por tanta gente convicta e demonstradamente democrática, Passos Coelho entendeu esses apelos como uma frente promotora de uma união perversa e, portanto, não democrática.

Diz PC,

“Ter a ideia de que, como estamos com um problema muito sério para resolver, temos de fabricar em Portugal uma espécie de União Nacional é uma perversão, ainda para mais a ser invocada num dia como este, porque a União Nacional não é desejada em Portugal, nem pelos que têm memória da que já existiu, nem por aqueles que, com prudência, aprendem lições do passado”.

O remoque acerta em cheio, nomeadamente, em Mário Soares que ainda a semana passada lhe atestou a capacidade de diálogo e que de há uns tempos a esta parte tem insistido na necessidade de um governo forte para enfrentar a crise. Mas atinge, principalmente, Cavaco Silva que fez no seu discurso de ontem um apelo inequívoco à formação de um governo com suporte maioritário no parlamento.

Até agora, Passos Coelho fez uma coligação pré-eleitoral com Fernando Nobre, geralmente considerada  desastrosa a todos os títulos. Apesar de declarações suas anteriores irem no sentido de formar um governo com suporte maioritário, no caso de ganhar as eleições com maioria relativa, as afirmações de PC,  hoje, ou são ininteligíveis ou só podem ser entendidas com o propósito de perder as eleições.

Por outro lado, Sócrates contornou as críticas à auto suficiência à agressividade,  que lhe seriam dirigidas, afirmando a sua inteira disponibilidade de sempre para o diálogo e culpando as oposições pela falta de consensos.

Passos Coelho será um ás em boas farófias mas não há quem como Sócrates para as enfeitar.

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act - Sócrates à boleia do apelo de Cavaco deseja acordo com PSD

Monday, April 25, 2011

A VIDA PARA LÁ DA REPÚBLICA DAS FARÓFIAS

Quando, no último trimestre de 2005, comecei a entreter-me com este caderno, escrevi isto:
...
Pelo menos num ponto estão de acordo os cinco candidatos a Presidente da República: Portugal está em crise, económica, financeira, social, cada um cita a lista que lhe parece mas não se detectam divergências.

Se assim é, se a crise existe e não é um fantasma, a definição de meia dúzia de caminhos consensuais para a sua ultrapassagem pode ser complicada mas tem que ser tentada e não se perde a democracia por isso.
Posto entre a espada do defice e a parede da União Europeia, o actual Governo tem demonstrado grande determinação para romper algumas teias tecidas ao longo de muitos anos e que impedem o caminho do progresso mas também tem abusado, em algumas situações críticas para o funcionamento salutar da democracia, da maioria de votos que recebeu. Pode o Governo continuar a assumir-se auto-suficiente na sua maioria absoluta mas a erosão é incontornável e os riscos de patinar quando os rastos se alisarem terão custos insuportáveis para o País.
E quando os custos são insuportáveis os órgãos entram em falência.
Um País falido é aquele que deixou de ter capacidade para solver os seus compromissos.
Infelizmente não estamos longe disso.
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Passados cinco anos e meio, o Presidente da República convidou os seus três antecessores vivos para uma concelebração do dia da liberdade,  o exorcismo dos fantasmas que nos entorpecem e a convocação ao esforço conjunto para o salto das barreiras que têm de ser ultrapassadas se o objectivo é não descolar de vez do pelotão europeu. 
Voltei ao tema dezenas de vezes ao longo destes anos de entretenimento das meninges. Muitas das prédicas que agora nos zumbem à volta eram demasiado previsíveis para que um observador geralmente mal informado como eu não as antecipasse. Por que acordaram, então, quase todos eles tão tarde?

O actual PM, comentou os discursos, que apelaram ao consenso à volta dos grandes desígnios nacionais e repudiaram os tiques de confronto partidário sistemático, imputando a falta de diálogo e consenso à oposição. Sempre igual a si mesmo, portanto.

Passos Coelho tinha-se afirmado anteontem como especialista em boas farófias.

Se forem mesmo boas sempre serão melhores que as que já temos.

NO SÍTIO DO PICA A BOLA AMARELA

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Pega-azul (Charneco, no Algarve)

Sunday, April 24, 2011

ESTÁ A ANDAR DE MOTA

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A Igreja em Portugal perdeu nos últimos 30 anos 1247 padres (aqui). Haverá neste momento cerca de 3371, um número significativamente inferior ao número de freguesias. A Igreja fala em falta de vocações mas são as restrições, nomeadamente o celibato e a exclusão feminina, que lhe reduzem a competitividade para atrair candidatos mesmo em tempos de crise e desemprego.  

A iniciativa deste padre de Sintra de, em tempos de indiferença fazer a diferença, é um arremedo de sacerdócio com efeitos mediáticos que, sobretudo, realça o lado obtuso de uma tradição que quando se cumpre é medieval - o beijar colectivo de Cristo crucificado - e descamba em acções voluntaristas decalcadas de campanhas eleitorais desmioladas.

Friday, April 22, 2011

A VINGANÇA DO TS


Se acreditarmos na versão do Expresso de hoje, Teixeira dos Santos, na impossibilidade de convencer Sócrates de que a ajuda externa se tornara inadiável e que, consequentemente,  deveria o Governo formalizar o pedido, decidiu, unilateralmente, fazer ele o anúncio, obrigando Sócrates a confirmar uma decisão que  não tinha tomado e relativamente à qual se mantinha obstinadamente contra. 

Mais vale ser ministro por uma hora que secretário toda a vida.

CÉU GERALMENTE MUITO NUBLADO

Passos Coelho, ao convidar Nobre com a promessa de fazer dele presidente da Assembleia da República, conseguiu o pleno do disparate político: nunca Nobre será presidente da AR, não trará votos para o PSD e, pelo contrário, está a afastar apoios internos e votos, colocou Nobre no centro das discussões retirando de cima do Governo a pressão e o desgaste a que estaria sujeito como principal responsável pela situação dramática para onde conduziu o país.

Nobre, por culpa própria e de Passos Coelho & Companhia, ou da Companhia Passos Coelho, tingiu a sua imagem de filantropo com o oportunismo de um troca-tintas. Se lhe restar um mínimo de senso comum, Nobre deveria, para bem dele, do PSD e do país, invocar uma justificação qualquer e retirar-se das lides para as quais não tem jeito.
O contrasenso é tão grande e a benesse tão inesperada que, por detrás da persistência errática de P Coelho, nas hostes passistas já há quem queira vislumbrar uma estratégia maquiavélica de PC querer sair derrotado por pouco nas eleições de modo a continuar a deixar nas mãos de Sócrates o tição que este atiçou.

Seja qual for o resultado de 5 de Junho, dez dias depois Portugal tem de pagar a maior factura do ano,  sete mil milhões de euros*. Por essa altura, as condições da ajuda externa já devem estar subscritas pelos três principais partidos. Se estiverem, haverá uma vitória de Pirro; se não, será um outro alcácer qualquer.

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vd aqui

Thursday, April 21, 2011

SEMANA DE BRÓDIO

Começa hoje à tarde e só termina na terça-feira. Para alguns, e não serão poucos, começou antes e vai prongar-se mais. Chamam-lhe a semana santa, que este ano se junta ao 25 de Abril, permitindo a quem pode tirar férias à pala de uma tradição religiosa e de um fervor libertário que são celebrados apenas por uma minoria.  

Quantos dos que hoje se metem à estrada ou fazem check in nos aeroportos o fazem para celebrar a Páscoa ou dar vivas à liberdade? Uma minoria. A grande maioria aproveita a oportunidade para ripanço e pândega.

Quanto custa a brincadeira? É difícil calcular. Uns calculam mesmo, talvez sarcasticamente, que é tudo lucro: Uma vez fora do local do trabalho por uma semana, ou talvez mais, com a dispensa do funcionário poupa o Estado nos consumíveis. Segundo este princípio, se levado ao extremo, o problema do défice ficava em grande parte resolvido colocando a maioria dos funcionários permanentemente em casa. Bastava que comparecessem os estritamente necessários, que são consideravelmente menos que todos.

Mas não só. As vias de acesso nas zonas de maior densidade urbana ficariam libertas de uns largos milhares de veículos, daí resultando benefícios para o ambiente e para a balança comercial, cronicamente deficitária.

Segundo outros, as perdas  calculam-se  dividindo o número de horas não trabalhadas pelo seu custo efectivo. Há mesmo um maduro que se deu ao trabalho de fazer a aritmética e calculou a perda em 20 milhões de euros só para a tarde do dia de hoje. Segundo o mesmo, os feriados e  pontes associados custam a bela soma de 680 a 850 milhões!

Finalmente, os funcionários públicos querem-nos convencer que não há perdas, porque o que há é  trabalho diferido, o que não se faz hoje à tarde far-se-á na próxima semana. Se assim fosse,  mantendo a produtividade constante, se os cálculos do professor atrás referido estão certos, só para recuperar o trabalho que deixou de ser feito nos dias feriados e pontes correlativas o Estado emprega 10% do efectivo total.

Mas se lhes perguntarmos porque é que tantos serviços andam sistematicamente atrasados responderão que a razão é a falta de meios humanos.

Wednesday, April 20, 2011

FATAL

Investidores exigem mais de 22% de juros para comprarem dívida grega a dois anos. A Portugal já pedem mais de 11%, no mercado secundário, para adquirirem obrigações a cinco anos. Os juros estão a disparar e a razão é a crescente crença de que a Grécia – e a seguir outros países – terão de reestruturar a dívida. (aqui).

Se os investidores pensam (e pensam bem) que a Grécia, e Portugal e mais alguns sobreendividados, não vão conseguir pagar as dívidas e os juros e que as reestruturações são inevitáveis, só há uma solução: dar-lhes razão e reestruturar, quanto mais cedo melhor. 

Adiar o inevitável só pode torná-lo mais inevitável ainda.

A reestruturação não é uma pera doce: nem para os credores, que sofrem o "hair cut", nem para os devedores, que ficam marcados pelo incumprimento. Mas se as condições da ajuda externa ou a incapacidade do ajudado não permitirem, só por si,  a recuperação financeira e económica, a reestruturação é o inevitável remédio maldito.
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Entretanto, o euro continua impante contra o dólar: 1,452 neste momento.
Diziam os analistas financeiros em Junho do ano passado que o euro caminhava para a paridade com o dólar. Viu-se.
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Reestruturação não desvaloriza a moeda, desvaloriza a dívida. A desvalorização da moeda decorre do aumento desproporcionado da liquidez. Entre reestruturar as dívidas e desvalorizar a moeda, na Europa, leia-se sobretudo os alemães, preferirão sempre a primeira. Entretanto, esperam, sem grandes esperanças, não ir por um lado nem outro. Até 2013.

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Relacionado - Reservas de ouro portuguesas já valem 12,5 mil milhões de euros
act - Hoje, 21/4 o euro atinge 1,463 contra o dólar. Nos EUA, democratas e republicanos continuam sem se entenderem acerca dos caminhos para a redução do défice.

Tuesday, April 19, 2011

PERDIDOS NUM MAR DE DÍVIDAS

Faltering in a stormy sea of debt
By Martin Wolf

It is astonishing that Standard & and Poor’s can say anything about the best-known debt class in the world that is deemed to add value. This business is, after all, one of a class whose failures contributed mightily to the financial crisis. Nevertheless, the announcement that it was shifting its long-term rating on US federal debt from stable to negative reminded us all of something vital: the world economy is not on a stable path. On the contrary, to adopt a phrase often applied by the Chinese premier Wen Jiabao to his country, the world economy is “unsteady, unbalanced, unco-ordinated and unsustainable”. The US fiscal position is just one of a number of risks – and far from the biggest.

This may not seem so clear from the forecasts in the latest World Economic Outlook of the International Monetary Fund. At the global level its forecasts are the same as in January: a healthy 4.4 per cent growth in 2011 and 4.5 per cent in 2012. Even at market exchange rates, growth is forecast at 3.5 per cent and 3.7 per cent, respectively. The volume of world trade is forecast to expand 7.4 per cent this year and 6.9 per cent in 2012, after the post-crisis recovery of 12.4 per cent in 2010. Inflation, too, is forecast to be reasonably under control, with consumer prices rising 2.2 per cent in 2011 and 1.7 per cent in 2012 in advanced economies. Even in emerging countries, inflation is forecast to fall from 6.9 per cent this year to 5.3 per cent in 2012.

The WEO also lays out the pattern of divergent growth. Advanced countries are forecast to experience a moderate recovery, with growth of 2.4 per cent in 2011 and 2.6 per cent in 2012. Meanwhile, emerging and developing economies are forecast to expand 6.5 per cent in both years, with developing Asia, led yet again by China and India, forecast to grow 8.4 per cent in both years.

This is a world-transforming. But it is also a time of great uncertainty. The IMF’s Global Financial Stability Report opens with the bold view that “risks to global financial stability have declined” since October 2010. Confidence has indeed improved. But reality is quite another matter.

First, the advanced countries are in no sense back to normality: fiscal deficits remain exceptional; monetary policy is hugely accommodative; the financial sector is fragile, particularly in the eurozone; credit growth has been remarkably slow in the US and eurozone; households of several countries, including the US and UK, remain highly indebted; and there exists the possibility of sovereign defaults, bank failures or both within the eurozone. Moreover, despite the scale of the monetary and fiscal stimuli applied, the recovery in these countries is still expected to be anaemic (see chart).

Second, while advanced countries are in the doldrums, several emerging economies are suffering from excessive credit expansion and overheating. In many countries, particularly in developing Asia and Latin America, output is well above the pre-crisis trends. Particularly disturbing are the positions of Argentina, Brazil, India and Indonesia. “In many of these economies,” notes the IMF, “both headline and core inflation either are rising from low levels or are fairly high already.” The IMF picks out Brazil, Colombia, India, Indonesia and Turkey; over the past five years, credit per head has almost doubled in these economies, in real terms. Much of this flows into real estate. The IMF adds that “such expansions are close to those experienced before previous credit booms and busts”.

Third, complex and disturbing interactions occur between the two sides of our divided world economy.
One of these comes via the emergence of a commodity price boom (see chart). The IMF commodity price index rose 32 per cent between June 2010 and February 2011. Behind this surge lies strong demand in fast-growing emerging economies, particularly China, adverse supply conditions, particularly for food, and political instability in certain oil-producing countries. Some argue that monetary policy is responsible. This is unpersuasive. But ultra-low interest rates lower the cost of financing inventories, while the decline in the US dollar raises the dollar prices.
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Rapidly rising commodity prices help cause high inflation in emerging economies and stagflation in advanced countries. The result is pressure for monetary tightening. A global central bank might be tightening monetary policy sharply, even though such a response to a shift in relative prices would compel other prices, including wages, to fall in nominal terms. Certainly, rising commodity prices create challenges for monetary policy everywhere.

Another interaction comes via capital inflows and consequent upward pressure on exchange-rates in emerging countries. Monetary tightening exacerbates the pressure. But exchange rate pressure does not fall evenly, since China manages its exchange rate so effectively. Many countries are concerned that allowing appreciation and large current account deficits makes their economies vulnerable to shifts in US monetary policy. The IMF suggests that “capital controls may be the only instrument available to the authorities in the short term”. But whether open economies can wield them as well as China is doubtful.

Last, but not least, we have the related issue of rebalancing of global demand. Despite overheating in a number of emerging countries, the IMF concludes that rebalancing has stalled. As it also notes, the adverse demand consequences of fiscal rebalancing in the high-income countries need to be partly offset by rising net exports. Unfortunately, it notes, “a disproportionate burden of demand rebalancing since the beginning of the crisis has been borne by economies that do not have large current account surpluses but attract flows because of the openness and depth of their capital markets”. Such rebalancing – both limited and malign – greatly increases the risks of more financial shocks.

In all, policymakers confront a host of complex and interlocking challenges: fiscal and monetary normalisation in advanced countries; fixing the overhang of excess debt and financial fragility in those economies; managing the overheating in emerging economies; adjusting to big shifts in relative prices; and rebalancing the entire pattern of global demand. Nothing that is now happening suggests any of this will be managed competently, let alone smoothly. In short, those who think we are now looking at the sunlit uplands are fooling themselves. Much disruption lies ahead

TEM FISCO QUE É CEGO!

Mais do que os portugueses só os norte-americanos, os russos e os japoneses. 
Mas são dos que menos gastam quando fazem férias em Portugal.

Óbvio.
Grande parte do turismo endinheirado português  é pago pelas empresas, a título de despesas de deslocação e representação. E não só.
Depois, naturalmente, quem mais gás tem, mais vôo levanta.

Mais uma evidência da desigualdade social e fiscal em Portugal.

Monday, April 18, 2011

O DESASTRE EUROPEU

Intitulam-se verdadeiros finlandeses, são declaradamente xenófobos e racistas e fizeram campanha sustentada na recusa de apoio a Portugal. Conseguiram 19% dos votos.

O ministro das Finanças, Jyrki Katainen, venceu com 20,4%, assegurando ao partido conservador 44 dos 200 lugares no parlamento finlandês, menos seis do que as últimas eleições, realizadas em 2007. Com 19,1%, o Partido Social Democrata conseguiu o segundo lugar, garantindo 42 deputados, menos 3 que em 2007.

 A progressão da extrema-direita na Europa parece imparável perante a passividade dos restantes europeus. Na Áustria, em França, agora na Finlândia, mas também noutros estados membros da União Europeia, a xenofobia tornou-se politicamente apelativa e crescentemente aplaudida.

A anunciada possível recusa da participação da Finlândia na ajuda externa a Portugal é um "fait divers" pontual e ultrapassável que esconde um rancor mais profundo e, esse sim, capaz de destruir a Europa.

Se a Finlândia se recusar a participar, outros colmatarão a falha porque os bancos e os investidores não querem nem ouvir falar em "default" de Portugal. Teixeira dos Santos ao avisar que em Junho fica o Tesouro depenado, depois de durante meses ter garantido que tudo estava sob controlo, só o pode ter feito para apressar a assinatura do acordo. Se não, o reescalonamento da dívida sai mais cedo que o pretendido.

O que é dramaticamente ameaçador, e pouca gente parece dar por isso, é a ameaça que paira sobre a unidade europeia em primeira instância e a guerra logo a seguir. 

A União Europeia é uma construção com alicerces levantados na sequência da Segunda Guerra Mundial para evitar um terceiro conflito que poderá matar a Europa.

Uma perspectiva demasiado trágica? Uma perspectiva possível se continuar a ser ignorada como até aqui, imitando os pusilânimes a alguma distância os extremistas em vez de combatê-los de perto.  

LÍNGUAS

The evolution of languages

WHERE do languages come from? That is a question as old as human beings’ ability to pose it. But it has two sorts of answer. The first is evolutionary: when and where human banter was first heard. The second is ontological: how an individual human acquires the power of speech and understanding. This week, by a neat coincidence, has seen the publication of papers addressing both of these conundrums.


Sunday, April 17, 2011

CASCAIS


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Em 17 de Julho de 2008 escrevi e-mail ao presidente da câmara municipal de Cascais uma carta apontando a degradação  e a falta de higiene que se observada junto à praia da Duquesa (aqui). Dois dias depois, A. Capucho respondeu "que embora sejam (os referidos) imóveis fora da nossa alçada, não deixa de ser nossa obrigação assegurar a higiene e limpeza públicas.
De qualquer modo, aproveito para esclarecer que, se bem identifico os dois edifícios que nos assinala, um deles pertence ao Ministério da Justiça e está em vias de ser alienado em hasta pública para fins hoteleiros, enquanto o outro está sob a jurisdição do Ministério do Ambiente e foi recentemente concessionado para bar e restauração." (aqui).

O edifício pertencente ao Ministério da Justiça (segunda foto) continua sem utilização. Retiraram-lhe grande parte das heras que já lhe recobriam quase toda a fachada. No outro está agora instalado um restaurante-pizeria, melhor, já não cheira a urina à volta dele.  

Mas a entrada de Cascais continua a ser povoada por vários prédios abandonados e em ruínas. A primeira foto é de um de vários desses fantasmas que recebem os que visitam Cascais vindos de Lisboa ou Sintra.

Mas ninguém dá por eles. Habituados a viver entre urbanizações frequentemente degradadas, os portugueses não reparam nestes escombros há décadas à espera de melhor destino.

Para cúmulo do atentado, começou a ser construído junto à estação da CP um prédio que foi promovido por Figo e Catarina Furtado, exaltando o banco promotor: o BPN.
Como o BPN deu no que deu (já tinha dado, aliás) Figo foi promover o Tagusparque e a Catarina a Caixa Geral de Depósitos. O esqueleto do prédio que o banco (?!!!) financiou está em apodrecimento.

Ali ao lado, a CP entendeu instalar portagens de verificação automática dos bilhetes. Quinze! Nunca vi tanta portagem junta em parte alguma do mundo. Nem em Nova Iorque, Washington, Zurique, Lucerna, para citar algumas cidades onde o comboio é um meio de transporte utilizado por muitos milhares de pessoas todos os dias. Quantos passageiros serve a estação de Cascais?
Comparada com a de Lucerna a estação de Cascais é um apeadeiro.

Quem foi que disse que a CP é deficitária se pode permitir-se a este esbanjamento?

À ESPERA DE UM CORTE DE CABELO

Caro H.,

A opinião de Robert M Fishman seria merecedora de mais crédito se fosse menos alinhada: Ao afirmar que a política adoptada não é passível de críticas (Domestic politics are not to blame), Fishman colocou a sua isenção de parte.

Porque, Caro H., o que é que pretende Fishman com esta análise? Denunciar as agências de rating e o perigo que representam para os regimes democráticos? É uma bela intenção, que eu também subscrevo, que não leva a lado nenhum. Porque o sistema financeiro, que tu conheces muito melhor que eu, até porque nele tens feito praticamente toda a tua carreira, continuará a assobiar para o ar. O sistema não se regenera com opiniões didácticas. Está provado que é suficientemente resistente mesmo a um abalo de elevada intensidade. Por outro lado, ao optar por uma observação lisonjeira da nossa realidade, esquecendo-se das nossas debilidades estruturais, da forma tonta como convivemos desbragadamente com o euro, do nosso crescimento mais que débil, da política errada de investimentos sem retorno adequado, do direccionamento dos recursos para os sectores protegidos da concorrência, da embriaguez da economia na construção e obras públicas, na perspectiva vesga da banca em geral e do banco do Estado em particular, que se tem limitado a seguir na cauda do rebanho a calcar-lhe a caca deixada para trás, na anedótica situação da justiça, do analfabetismo que deveria envergonhar-nos, etc., etc., etc.

Mas contenhamos-nos, agora, apenas no título da crónica: Portugal:Um resgate desnecessário (Portugal’s Unnecessary Bailout).

Desnecessário, porquê?

Só seria desnecessário se pudéssemos evitá-lo recorrendo a uma alternativa menos gravosa e, já agora, menos vergonhosa. Havia alternativa? Aparte o fuzilamento das agências de rating, por exemplo? Podemos, e devemos, revoltar-nos contra as agências de rating mas isso não tirará de cima de nós a espada de Damocles.

Robert M. Fishman também não diz como, o que é pena.

Todos nós sabemos que há outra alternativa e que é apenas uma questão de tempo paraa ela ser posta em prática: o reescalonamento da dívida. É por demais evidente que a banca não quer sequer ouvir isso. Mas sabe que ela é, mais tarde ou mais cedo, inevitável.

Só paga quem pode, meu caro H. E nós sabemos que não vamos poder aguentar a carga que nos colocámos em cima. E os investidores, a banca, também sabem. É por isso que carregaram nos juros, à espera do hair cut.

Vai ser complicado, mesmo com as mensagens dos 47, e dos 77*, e dos faroleiros, e de muitos outros que acordaram tarde demais.

O título não condiz com o texto e o texto é-nos lisonjeiro demais. Quanto ao resto, subscrevo.

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*O 7 persegue-nos. 
Teixeira dos Santos afirmou que se as taxas de juro atingissem os 7%, seria de encarar o pedido de ajuda externa. Foi uma declaração desastrada. A partir daí estava feito o convite à valsa uma vez que o tango tinha dado o que tinha a dar. Depressa os juros galgaram os 7% e não pararam de crescer.  Não seria, todavia, a declaração mais desastrada de TS. A declaração mais desastrada observada no hemisfério Norte, segundo o insuspeito António Costa, seria feita pelo mesmo TS na sequência da aprovação do PEC 4 em Bruxelas antes deste ser conhecido em Lisboa. 
Passados poucos dias, já ninguém fala disso: as desastradas declarações de TS foram, entretanto, desastradamente submergidas por um conjunto de declarações de Passos Coelho & Companhia (ou da Companhia de Passos Coelho?).
Pior, é impossível.

UMA AJUDA DESNECESSÁRIA?

Portugal’s Unnecessary Bailout (aqui)
By ROBERT M. FISHMAN

PORTUGAL’S plea for help with its debts from the International Monetary Fund and the European Union last week should be a warning to democracies everywhere.

The crisis that began with the bailouts of Greece and Ireland last year has taken an ugly turn. However, this third national request for a bailout is not really about debt. Portugal had strong economic performance in the 1990s and was managing its recovery from the global recession better than several other countries in Europe, but it has come under unfair and arbitrary pressure from bond traders, speculators and credit rating analysts who, for short-sighted or ideological reasons, have now managed to drive out one democratically elected administration and potentially tie the hands of the next one.

If left unregulated, these market forces threaten to eclipse the capacity of democratic governments — perhaps even America’s — to make their own choices about taxes and spending.

Portugal’s difficulties admittedly resemble those of Greece and Ireland: for all three countries, adoption of the euro a decade ago meant they had to cede control over their monetary policy, and a sudden increase in the risk premiums that bond markets assigned to their sovereign debt was the immediate trigger for the bailout requests.

But in Greece and Ireland the verdict of the markets reflected deep and easily identifiable economic problems. Portugal’s crisis is thoroughly different; there was not a genuine underlying crisis. The economic institutions and policies in Portugal that some financial analysts see as hopelessly flawed had achieved notable successes before this Iberian nation of 10 million was subjected to successive waves of attack by bond traders.

Market contagion and rating downgrades, starting when the magnitude of Greece’s difficulties surfaced in early 2010, have become a self-fulfilling prophecy: by raising Portugal’s borrowing costs to unsustainable levels, the rating agencies forced it to seek a bailout. The bailout has empowered those “rescuing” Portugal to push for unpopular austerity policies affecting recipients of student loans, retirement pensions, poverty relief and public salaries of all kinds.

The crisis is not of Portugal’s doing. Its accumulated debt is well below the level of nations like Italy that have not been subject to such devastating assessments. Its budget deficit is lower than that of several other European countries and has been falling quickly as a result of government efforts.

And what of the country’s growth prospects, which analysts conventionally assume to be dismal? In the first quarter of 2010, before markets pushed the interest rates on Portuguese bonds upward, the country had one of the best rates of economic recovery in the European Union. On a number of measures — industrial orders, entrepreneurial innovation, high-school achievement and export growth — Portugal has matched or even outpaced its neighbors in Southern and even Western Europe.

Why, then, has Portugal’s debt been downgraded and its economy pushed to the brink? There are two possible explanations. One is ideological skepticism of Portugal’s mixed-economy model, with its publicly supported loans to small businesses, alongside a few big state-owned companies and a robust welfare state. Market fundamentalists detest the Keynesian-style interventions in areas from Portugal’s housing policy — which averted a bubble and preserved the availability of low-cost urban rentals — to its income assistance for the poor.

A lack of historical perspective is another explanation. Portuguese living standards increased greatly in the 25 years after the democratic revolution of April 1974. In the 1990s labor productivity increased rapidly, private enterprises deepened capital investment with help from the government, and parties from both the center-right and center-left supported increases in social spending. By the century’s end the country had one of Europe’s lowest unemployment rates.

In fairness, the optimism of the 1990s gave rise to economic imbalances and excessive spending; skeptics of Portugal’s economic health point to its relative stagnation from 2000 to 2006. Even so, by the onset of the global financial crisis in 2007, the economy was again growing and joblessness was falling. The recession ended that recovery, but growth resumed in the second quarter of 2009, earlier than in other countries.

Domestic politics are not to blame. Prime Minister José Sócrates and the governing Socialists moved to cut the deficit while promoting competitiveness and maintaining social spending; the opposition insisted it could do better and forced out Mr. Sócrates this month, setting the stage for new elections in June. This is the stuff of normal politics, not a sign of disarray or incompetence as some critics of Portugal have portrayed it.

Could Europe have averted this bailout? The European Central Bank could have bought Portuguese bonds aggressively and headed off the latest panic. Regulation by the European Union and the United States of the process used by credit rating agencies to assess the creditworthiness of a country’s debt is also essential. By distorting market perceptions of Portugal’s stability, the rating agencies — whose role in fostering the subprime mortgage crisis in the United States has been amply documented — have undermined both its economic recovery and its political freedom.

In Portugal’s fate there lies a clear warning for other countries, the United States included. Portugal’s 1974 revolution inaugurated a wave of democratization that swept the globe. It is quite possible that 2011 will mark the start of a wave of encroachment on democracy by unregulated markets, with Spain, Italy or Belgium as the next potential victims.

Americans wouldn’t much like it if international institutions tried to tell New York City, or any other American municipality, to jettison rent-control laws. But that is precisely the sort of interference now befalling Portugal — just as it has Ireland and Greece, though they bore more responsibility for their fate.

Only elected governments and their leaders can ensure that this crisis does not end up undermining democratic processes. So far they seem to have left everything up to the vagaries of bond markets and rating agencies.

Robert M. Fishman, a professor of sociology at the University of Notre Dame, is the co-editor of “The Year of the Euro: The Cultural, Social and Political Import of Europe’s Common Currency.”

Saturday, April 16, 2011

O JOGO DA CABRA CEGA

O procurador poeta e a juíza sem sentido de humor

Ou apenas mais uma cena de uma interminável peça deste teatro do absurdo em que somos espectadores à força.

RABO DE FORA

Aqui proclama o Ministério das Finanças que "No período entre 1 de Janeiro de 2010 e 31 de Março de 2011, registou-se a diminuição do universo de trabalhadores em funções públicas na Administração Central do Estado em 16.941 trabalhadores."

Aqui é denunciada mais uma habilidade do Governo na manipulação dos factos e dos números: a transformação de orgãos da administração pública em empresas do Estado (hospitais, p.e.) levou à transferência dos funcionários de um sector para outro. Reduziu-se? Claro que não. Deram-lhes um nome diferente.

CONVERSA RECORRENTE


De quem é a culpa de todo este endividamento? De todos, embora alguns sejam mais culpados do que outros. (aqui)

Vale a pena chorar sobre o leite derramado? Não vale a pena.

O que vale a pena é deixar de continuar a entorná-lo.

E se todos somos culpados, há uns que são mais culpados que outros. E se todos podemos e devemos corrigir alguma coisa, há quem possa e deveria corrigir quase tudo.

Quem? Pois muito principalmente os bancos.

Foram os bancos que concederam, e muito frequentemente forçaram, crédito ao Estado e aos particulares para além do que razoavelmente eles poderiam suportar. E não foram, toda a gente sabe, apenas os bancos nacionais. Foram também os bancos espanhóis, alemães, franceses, etc., que, sem medirem convenientemente os riscos, emprestaram muito mais do que deviam para garantir rendimentos colossais aos seus gestores. Nesses tempos as agências de rating eram laxistas e os triple ei abundantes.

Mas hoje, que os tempos são outros e os triple ei desapareceram dos nossos horizontes, as administrações dos bancos continuam a atribuir-se remunerações estratosféricas, a malta afluente continua a debandar para a estranja, o Sporting está em negociações para comprar um israelita por um milhão de euros, Portugal tem três equipas nas semi-finais da Taça Europa, e a gente pergunta-se ainda: Onde é que está a crise? De onde lhes vem o dinheiro?

Com discursos bem intencionados não vamos lá porque há muito que os valores deixaram de valer.

Se queremos que as pessoas poupem os bancos têm de garantir confiança nos depósitos e remunerá-los de forma atractiva; se queremos reduzir as importações e aumentar a capacidade produtiva os bancos deveriam travar a fundo o financiamento das primeiras e tornarem-se parceiros responsáveis da recuperação económica.

Como é que isso se faz? Como é que se induz a banca a trilhar outros caminhos? Em Portugal a Banca está muito concentrada em três ou quatro bancos privados e um público. Não deveria ser difícil obter-se um acordo de regime entre o Estado e a banca para a prossecução de uma política de crédito menos desastrada.

Bem sei que até um acordo de regime partidário é dificílimo em terra onde subsiste o tribalismo.

Mas é forçoso reconhecer que ou a banca muda o vício consumista e o despesismo infrene ou a situação mudará a banca. A começar por aquela, a Caixa, que deveria dar o exemplo e não dá porque se comporta como a ovelha do rebanho na cauda a pisar a caca que as outras vão deixando pelo caminho.

A Caixa tem sido, objectivamente, um dos maiores culpados da situação desastrosa a que chegámos, quando lhe competia ter sido exactamente o contrário. Assim, para que queremos uma Caixa pública? Para emprestar ao BPN e ao BPP, por ordem do Governo, dinheiros que agora o Governo está a pedir a todos?

Friday, April 15, 2011

OUTRO

"Não é provável que nas próximas eleições legislativas um dos partidos consiga uma maioria absoluta. 
Seria, no entanto, um crime que o PR fosse obrigado a dar posse a um governo minoritário por falta de entendimento entre os principais partidos para a constituição de um governo com apoio maioritário na AR. É um absurdo o consentimento constitucional para a existência de governos minoritários." - Marques Mendes /  Antena 2 RTP

Ando a dizer repetidamente mais ou menos o mesmo há largo tempo neste caderno.

Como é que tanta gente politicamente experimentada só agora chega a estas conclusões óbvias, sobretudo quando o país enfrenta dificuldades há mais de uma dezena de anos, e que se acentuaram nos últimos três? 

A desastrada obsessão de Sócrates em governar sozinho tem sido secundada pelos seus fiéis que, também eles, sabe-se lá porquê, acreditaram, e ainda acreditam dogmaticamente, na autosuficiência e na infalibilidade  do seu grande líder, e  pela manifesta incapacidade dos partidos da oposição responsável para se afirmar perante a maioria dos portugueses.

É aquela fé clubista e esta falta de credibilidade que permitem a Sócrates contar com o apoio de mais de um terço dos eleitores nas circunstâncias em que o país se encontra.

Em Julho, na ausência de uma clarificação das respostas constitucionais, a uma situação politicamente idêntica à anterior, o país estará mais destroçado social, económica e financeiramente, juntar-se-á uma confusão política que ninguém sabe em que poderá degenerar.

Lamentavelmente, são pontuais os avisos e nenhuma a discussão pública desta questão primordial: O que deve fazer o PR se os partidos não se entenderem para a constituição de um governo maioritário pluripartidário? O consenso necessário que muitos reclamam tem de começar por aí: no consenso acerca das responsabilidades e competências constitucionais do PR para lidar com um imbróglio partidário numa situação de crise gravíssima.

Como é que ninguém que é convidado para os palcos se lembra disto?

AFIRMA MIRANDA

O RESGATE DA BANCA

aqui

Follow the money
Is Germany bailing out euro-area countries to save its own banks?

IF THE euro zone were an old-fashioned family, Germany would be the stern father telling his wayward children to go to bed early and not to spend all their pocket money at once. It has resisted efforts to ease the conditions attached to the bail-outs of Greece and Ireland, and is insisting that Portugal, which started negotiations on a bail-out this week, also gets licked into shape. (The European Central Bank, too, has a ring of the stern German in its insistence that banks in weaker euro-zone countries, Ireland’s in particular, pay back their debts in full.) That seems fair: Germany is putting more money at risk in funding the errant trio than any other country. But some observers argue that the real bail-out is of Germany’s own banks.

That depends, in part, on the assumptions you make about what might happen if one of the peripheral countries were to default. Start with government debt. Germany’s two biggest banks, Deutsche Bank and Commerzbank, have a surprisingly low direct exposure to Greek, Irish and Portuguese governments. They held less than €6 billion ($8.7 billion) in government debt from the three bail-out recipients at the end of last year, according to company disclosures. But the total exposure of the German banking system is a lot larger, at almost €27 billion.

This suggests that the bulk of these sovereign-debt holdings are buried in small, not very savvy German banks. Germany’s publicly owned Landesbanken would fit that bill nicely. They are already beset by low profitability, so cannot easily earn enough to offset losses, and their capital cushions are thin and partly composed of hybrid debt that under new rules will soon no longer count as capital. Many will have to raise equity to pass the next round of European stress tests. Among the first out of the gate is NordLB, which announced plans this week to convert hybrid capital into equity.

Sovereign defaults would also harm Hypo Real Estate, a bust German property and public-finance bank that is now owned by the state. In July last year it said it was owed almost €8 billion by the Greek government and €10 billion by Ireland.

Sovereign exposures nevertheless look manageable when set against total assets in the German banking system of some €2.5 trillion. Most of the burden of a peripheral default would fall on banks in the defaulting countries themselves. A deep home bias has made many of them the largest holders of their own governments’ debt. Calculations by the Bank of England on losses that would arise from haircuts to Greek, Irish, Portuguese and Spanish debt suggests that a 50% haircut would wipe out 70% of the equity in Greek banks, almost half of it in Portuguese and Spanish banks and about 10% of the equity in German and French banks.

That spells trouble of a different kind. Sovereign defaults would entail much more than just a haircut on German banks’ government-bond exposures. It could easily lead to a slew of bank defaults—and corporate ones, too. German banks are owed twice as much by banks in the three bailed-out countries as they are by governments. Once corporate loans and other exposures are included, Germany’s vulnerability is clear: its banks are owed some €230 billion. These numbers would ratchet up further were Spain to default. German banks have an exposure to Spain that is about three-quarters as great as it is to Portugal, Greece and Ireland combined.

Not all of these debts would be affected by a sovereign default, let alone be wiped out. Derivatives exposures are already marked to market, for example. But compared with the potential costs of full-blown default, the amounts that Germany and other countries are likely to put into the three bail-out packages look like excellent value (see chart). The rescuers need not be quite so sanctimonious.

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Thursday, April 14, 2011

À BEIRA DO DELÍRIO

Ouço na Antena 1 que Portugal se encontra à beira de um sonho: colocar hoje três equipas nas meias finais da Taça Europa. E, mais adiante, que o Sporting pretende contratar jogador israelita, um negócio que poderá atingir 1 milhão de dólares. Ouço ainda que o Sporting tem ainda em vista outro jogador, e outro, e  ainda mais outro, e não sei se ainda outros mais.

Tenho ouvido, por outro lado, que o Sporting se encontra insolvente, e está longe de ser caso único no futebol português. E no mundial, mas com os futebóis dos outros podemos bem. 

De onde vem o dinheiro para estas contratações milionárias por parte de clubes claramente falidos? Dos bancos. Como é que se compreende que um país, também à beira da falência, consiga colocar três equipas, na sua grande maioria constituídas por jogadores quase exclusivamente importados? Como é que se compreende que os bancos continuem a financiar estas importações quando a sua liquidez é escassa e só o BCE lhe tem valido?

... "Os gastos do futebol são imensos e democraticamente repartidos por todos, goste-se ou não de futebol ... Em 1997, José Sócrates, então ministro-adjunto do primeiro-ministro António Guterres, com a tutela do desporto, impingiu-nos a realização do Euro 2004, par o qual foram construídos 10 estádio de futebol que custaram 400 milhões de euros. Nada que não se pagasse com a vinda de outros tantos milhões de turistas e que serviria para relançar a economia portuguesa. Não tardou a recompensa pelos serviços prestados à pátria: José Sócrates foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D.Henrique pelo então Presidente da República Jorge Sampaio, que considerou a realização do Euro 2004 um "desígnio nacional". E convém relembrar as palavras do feliz condecaorado: "A construção de dez estádios não é um odioso, é um bem necessário ao país. Portugal tinha de fazer este trabalho." Passados seis anos, o município de Leiria despeja 5 milhões por ano, Aveiro 4, Coimbra cerca de 2, e o consórcio Faro-Loulé mais de 3 milhões. Junte-se o caso do Boavista, com a equipa na III Divisão. Em suma, estas autarquias estoiram quase 20 milhões de euros por ano num problema sem solução à vista. Acrescente-se os custos de segurança para controlar algumas dúzias de energúmenos que espalham violência e vandalismo por onde passam. E o azar de deixar o carro estacionado perto do estádio em dia de dérbi. Sim, o futebol sai mesmo caro.
Teresa Caeiro/Expresso  

Avisem o FMI!

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Act. - Portugal garante uma equipa na final da Liga Europa: Benfica, Braga e Porto. A outra equipa semi-finalista é espanhola. Como interpretarão os outros europeus, chamados a emprestar, os sucessos  de equipas de futebol a jogarem em países financeiramente fragilizados? A mesma que nós, contribuintes, sentimos quando sabemos da utilização do nosso dinheiro no financiamento destes e doutros clubes. 

Wednesday, April 13, 2011

FADO 4

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 Taxa de poupança bruta entre 1960 - 2010


Emigração portuguesa (milhares de portugueses) entre 1850 e 2008