Thursday, September 30, 2010

VILA DO BISPO

Na Antena 1 discutia-se esta manhã as medidas anunciadas ontem pelo Governo para a redução défice.

Quando ligo o rádio, ouço o depoimento de um membro da Assembleia Municipal de Vila do Bispo:

O concelho de Vila do Bispo tem 4000 habitantes. Destes 4000,
só 1600 são população activa.
Destes 1600,
400 trabalham na Câmara, não contando os nomeados e os eleitos.

Vamos a algum lado por este caminho?

ANGÚSTIA PARA O JANTAR

O anúncio de mais medidas de contenção do défice e da dívida pública chegaram ontem à hora de jantar.
Demasiado duras, porque tardias, segundo a generalidade dos comentadores.
.
O PM decidiu avançar, corajosamente segundo os seus partidários, atrasadamente segundo os seus opositores, para o anúncio de medidas que possam acalmar os credores e baixar os juros. Não tinha alternativa.

Mas tinha dois caminhos para lá chegar. Ou recorria ao Fundo Europeu de Resgate e entrava o FMI, conforme lhe sugeriam de vários lados, ou anunciava medidas à FMI e colocava à oposição (leia-se, neste caso, PSD) a decisão final sobre a sua adopção. Nogueira Leite, outro erro de casting do PSD, apressou-se a, mais uma vez, atribuir as medidas anunciadas à incompetência do Governo e a renovar a recusa de mais impostos. De qualquer modo, do seu discurso meio entaramelado pareceu descortinar-se a abertura para viabilizar a aprovação do OE 2011 sustentado nestas medidas: afirmou que a discussão final deve ser feita no Parlamento, onde o PSD irá abster-se depois de ad nauseam protestar contra mais este aumento de impostos.

Ao avançar pela proposta que implica uma redução da despesa que é mais do que dupla do que o aumento da receita resultante do agravamento do IVA e dos cortes nas isenções fiscais, o PM coloca o imbróglio no campo do PSD, que, agora, dificilmente poderá propor mais reduções na despesa para 2011 que possam evitar o aumento de impostos. Resta ao PSD protestar e abster-se.

Se o não fizer, e o PM não deverá estar particularmente interessado que o faça, não haverá OE 2011, o Governo demite-se, a crise abafa-nos e o PSD será responsabilizado pela opinião pública.  

Por agora o FMI não será convocado. A sua entrada, que determinaria a tomada de medidas idênticas, castigaria o Governo e desresponsabilizaria o PSD. Sócrates não lhes permitiu essa comodidade transitória.

Em todo o caso: Uma coisa é anunciar, outra aprovar e outra executar. Orgulhosamente minoritário, o Governo do PS muito dificilmente escapará à fúria dos atingidos, que são quase todos os eleitores em próximas eleições.

Por outro lado, o PR continua a avançar por entre os pingos na esperança que a tromba de água que se anuncia não desabe tão cedo.

Wednesday, September 29, 2010

OVERDOSE


clicar nas imagens para as aumentar
imagens copy/paste daqui e daqui

 

O primeiro gráfico é tão expressivo da redução dos spreads da dívida pública da República no período de ajustamento cambial de entrada no SME que antecedeu a criação do euro (1995-1999) quanto o segundo da evolução dos juros das obrigações do tesouro a 10 anos após o crescimento imparável da dívida que se seguiu à crise financeira detonada em 2008.

Durante mais de uma década de juros baixos convenceram os portugueses que eles se manteriam baixos e as dívidas expansíveis até ao infinito. Os efeitos perversos desta embriaguez à solta estão aí: a economia produtiva semi destruída, o endividamento sufocante, a banca sem crédito externo para além do apoio circunstancial do BCE.

Quem convenceu?
Também os bancos. Foram, e ainda continuam a ser, os bancos os  grandes responsáveis pelo encaminhamento dos recursos internos e pedidos de empréstimo. De entre eles, um deveria ter, pelo estatuto privilegiado que a sua condição de pertença do Estado lhe concede, e deveria exigir, uma política que o destacasse do rebanho mal comportado. 

Não o faz. Ainda agora, quando o nível de endividamento das famílias excede largamente o suportável, a Caixa Geral de Depósitos vende 50 cartões de crédito e incentiva o consumo, maioritariamente de bens e serviços importados.


A Caixa, não podemos esquecê-lo, é em ainda o maior colector das pequenas poupanças em Portugal. Aplica-as assim.

Para que precisamos de um banco público destes?

Tuesday, September 28, 2010

AMANHÃ, O FMI

No dia em que o PR iniciou conversações com os partidos com representação parlamentar (por ter levado muito a sério as declarações do Ministro da Presidência de que a não aprovação do OE para 2011 abriria uma crise política, segundo Heloísa Apolónia) os juros da dívida portuguesa a 10 anos ultrapassaram a barreira dos 6,5%. (vd. aqui)

Também hoje cinco reputados economistas europeus escrevem no Financial Times* um artigo onde, além do mais, recomendam a Portugal e à Irlanda recorrerem urgentemente ao Fundo Europeu de Resgate o que, implicitamente, implica a intervenção do FMI.  

Conseguirá o PR um acordo que permita a aprovação do OE 2011 pela AR e evitar o recurso ao FER e à vinda do FMI?

Talvez consiga uma paz transitória até Janeiro, se essa paz táctica convencer os credores e os juros baixarem. Mas não conseguirá evitar a continuação da guerra partidária depois das eleições presidenciais. E, nessa altura, o FMI será chamado para disciplinar a rapaziada e acalmar os mercados.

Entretanto esta incapacidade para nos governarmos e a necessidade da vinda de quem nos governe (uma marca muito significativa da diferença que nos separa dos lusitanos que o general romano defrontou) custar-nos-á um aumento do défice e da dívida, contrariamente ao que seria suposto conseguir com a aprovação um dia destes do OE 2011.
-------
*Eurozone needs a permanent bail-out
By Peter Bofinger, Henrik Enderlein, Tommaso Padoa-Schioppa and André Sapir

With two comprehensive stabilisation programmes, one for Greece and one for the whole eurozone, the EU has demonstrated its willingness and ability to defend European monetary union under extremely difficult conditions. This is a resounding success of the European Council.

Yet with major economic challenges persisting, a “wait-and-see” approach for EMU would be a dangerous course. The threats to the stability and cohesion of the eurozone remain high. Budget deficits exceed the 3 per cent limit in most countries and debt is rising dangerously, making fiscal consolidation a priority. Countries with particularly high fiscal and current account deficits – mainly Greece, Ireland, Portugal, which was advised on Monday by the Organisation for Economic Co-operation and Development to increase taxes, and Spain – need especially tough fiscal retrenchment. After years of accumulated losses of competitiveness, several countries require significant wage restraints and/or productivity increases.

These harsh medicines are necessary but carry a risk. They might well trigger a prolonged period of depressed economic activity, with negative repercussions in the rest of the eurozone. Adding to the difficulty, most euro countries enjoying current account surpluses are not in good enough shape to afford fiscal measures boosting growth across the eurozone, and thereby ease the strain in high-deficit countries. The eurozone thus faces a scenario where economic policymaking becomes extremely difficult. Public support for the euro might be undermined. Ultimately, the resulting instability could jeopardise the very existence of EMU.

Given that national economic and budgetary policies in deficit and surplus countries are constrained, and given that major economic, financial and social tensions might threaten or destroy the eurozone, a European solution is required. In fact, it has already been created. Now it needs to be made permanent.

On June 7 2010, the European Financial Stability Facility was established in Luxembourg. The EFSF can and should be mobilised to support deficit countries with loans. By helping deficit countries consolidate successfully, EFSF loans would significantly strengthen the stability of EMU. They would need to rest on two pillars: low interest rates and strict conditionality.

Benefiting from the favourable current situation in bond markets and its likely excellent own rating, the EFSF should be able to borrow at low rates. It should pass these rates on to borrowers with a minimum service charge. By reducing the interest rate burden, the prospects for a successful consolidation in highly indebted euro countries would improve significantly (for the same reasons, lower interest rates should also be applied in the bilateral loan scheme with Greece). In exchange for these loans, borrower countries should commit verifiably and credibly to achieve a return to sound public finances and a competitive economy. The negotiation of a memorandum of understanding with the European Commission, as required under EFSF statutes, would be very important for this.

A successful consolidation in high-deficit countries would help avoid debt restructuring and a crisis of confidence in EMU’s sustainability. Using the EFSF to support such consolidation would therefore be legitimised as a vital step for the eurozone as a whole. As all legal provisions for the EFSF are already in place, the scheme can be activated at short notice. As time matters, action is required now.

Mobilising the EFSF should only be a first step. The eurozone requires long-term solutions. The statute limits EFSF operations to three years. But the recent past has shown that financial market shocks are a fairly common phenomenon, that they may affect the eurozone irrespective of its members’ fiscal discipline, and can endanger the financial stability of the whole area and even the euro. This vulnerability will remain even if the planned reform of the stability and growth pact leads to a considerable improvement of its effectiveness.

A decision to make the EFSF permanent should not exclude sovereign insolvencies in the eurozone. An orderly procedure for sovereign debt restructuring is needed and should be agreed in parallel. But the EFSF should not be temporary. It should be fully integrated into the EU’s institutional framework.

The eurozone must be able to cope with serious market disruption. It requires an effective stabilisation mechanism. The proposals contemplated in the task force led by Herman Van Rompuy, which met on Monday night, will be decisive for the future of EMU. They should include the transformation of the EFSF into a permanent European instrument. Other decisions are needed, but this is the first and easiest to implement – and of critical importance.

Peter Bofinger is a professor of economics at Würzburg University. Henrik Enderlein is a professor of political economy at Berlin’s Hertie School of Governance. Tommaso Padoa-Schioppa is president of Notre Europe think-tank. André Sapir is a professor of economics at the Université Libre de Bruxelles. This text has been endorsed by Jacques Delors, Joschka Fischer, Romano Prodi and Guy Verhofstadt

ALIÁS, JÁ DISSE O MESMO

Comissário dos assuntos económicos quer que a despesa pública não cresça mais que o PIB, leio no Público online de hoje. Há quanto tempo venho a dizer o mesmo!
Ainda, recentemente, aqui.
Mas outras vezes, muito antes, por exemplo aqui.

"Esta tem sido a situação que nos tem conduzido a uma dívida pública crescendo a um ritmo insustentável a médio prazo e a um definhamento do sector que tem de afirmar-se nos mercados internacionais provocando um desequilíbrio da balança comercial que não é resolvido pelas remessas do passado e está a afogar em dívidas a generalidade das famílias e das empresas que não contam com o abrigo do Estado ou da sua contemporização.

Que fazer? Pois muito simplesmente legislar a AR que os aumentos reais da função pública e dos preços regulados não podem exceder o crescimento real da riqueza global do País em cada ano. A correlação desses aumentos com a inflação, que tem sido geralmente invocada, não faz sentido porque, sendo decidida administrativamente, não deve a administração atribuir uma retribuição a alguns que tem de retirar aos outros. Por outro lado, uma decisão destas, retiraria à função pública (e aos monopólios de facto) a capacidade para imporem ao Governo condições que implicam atingir os menos protegidos e reivindicativos. Retiraria também ao governo o ónus das discussões salariais globais mas também a oportunidade de aumentos eleitoralistas."
 
Um âmbito pouco diferente, o mesmo objectivo. 
 
De qualquer modo insisto que também o crescimento dos preços regulados deveriam conter-se a um nível não superior ao do crescimento da riqueza nacional em cada ano.

Monday, September 27, 2010

O ÚLTIMO TANGO

A crise domina os noticiários, as previsões são medonhas, as saídas deprimentes.
O Governo prepara-se para aumentar, mais uma vez, os impostos, as oposições opõem-se, o Presidente da República, tomou a  decisão (a primeira do género) de ouvir, amanhã e depois, os partidos com assento na AR e promover um entendimento que permita o OE para a o próximo ser aprovado.
Vai ser, e o aumento de impostos também.

Porque: i) O PSD não quererá assumir o ónus político de uma crise com que o PM o confronta, ii) e que para o PR  poderia ser comprometedora da sua reeleição, iii) fixando-se numa inflexibilidade que, apesar da sua justeza, não seria geralmente bem entendida pela opinião pública. iv) A abstenção do PSD, acompanhada de um protesto veemente, permitir-lhe-á capitalizar a insatisfação a que o Governo, pela sua obsessão em governar em minoria, não poderá escapar.    

A ajudar a determinação do Governo, a OCDE tornou hoje público o seu relatório que, além do mais, recomenda que o governo português deve estar preparado para aumentar mais os impostos. O mesmo relatório afirma que o potencial de crescimento é fraco e a retoma está em causa. Propõe medidas duras para reequilibrar as contas públicas. Propõe aumento do IVA e impostos sobre a propriedade. Propõe o congelamento de salários até 2013.  E maior flexibilidade da lei laboral. Mas é o aumento de impostos que faz as manchetes noticiosas.

Tudo se conjuga, portanto, para um happy end de conveniência bem apadrinhado. 
Que durará  o tempo de uma rosa, pedindo emprestado o cronómetro ao doutor Mário Soares.

SÃO TODOS CULPADOS

"É interessante verificar que não houve ao longo do período grande distinção entre os diversos governos na promoção não só da despesa pública em geral como da própria despesa social. Embora se tenda a associar governos de centro-direita com políticas ditas "liberalizadoras" e de redução do "peso do Estado" na economia, e governos de esquerda com o seu contrário, não é isso que se tem verificado. Os períodos de contracção da despesa não se relacionaram com governos de determinada cor política mas com momentos de emergência, obrigando ao controlo da despesa, ou então com situações fortuitas permitindo reduzir certas despesas (sobretudo o serviço da dívida), mas mantendo ao mesmo tempo as relacionadas com os itens sociais ou com o funcionalismo público." 

Luciano Amaral - Economia Portuguesa - As Últimas Décadas

Sunday, September 26, 2010

VOTOLOGIA

Com a queda do muro de Berlim, sentenciou-se logo a seguir, acabaram as ideologias.
Terão mesmo acabado?
.
Se não acabaram ficaram estonteadas, sem saber por onde seguiam os caminhos subitamente interrompidos.
E, no entanto, assiste-se hoje a um ressuscitar do conceito criado no final do século XVIII, e que desde logo sofreu evoluções semânticas que o desfiguraram e o deslocaram para o terreiro da política.
.
A propósito desta degeneração conceptual feita ao sabor das circunstâncias de cada tempo político já apontei algumas reflexões neste caderno. Por exemplo, aqui.

Se volto de novo ao tema é porque o momento político do País é dominado por uma escaramuça à volta  da execução do OE em 2010 e do OE para 2011. Uma escaramuça, porque da luta partidária dominante não resultará certamente o aniquilamento de qualquer dos contendores, mas, quanto muito, algumas feridas a lamber. Uma escaramuça feita em nome de ideologias supostamente diferentes. Serão?

De modo algum.
A equação do reequilíbrio das contas públicas é elementar: ou se aumentam os impostos, ou se reduz a despesa pública, ou se doseiam em quantidades variáveis aumentos e reduções. As opções são ideológicas?
São essencialmente votológicas, isto é, são determinadas sobretudo em função dos votos que colocam em risco já que tanto o aumento dos impostos como a redução da despesa pública afectará um numero muito elevado de eleitores. Dito de outro modo: Se o PSD fosse governo imporia a redução da despesa e manteria os impostos? E se o PS fosse oposição seria tão condescendente em facilitar a vida ao governo permitindo o aumento dos impostos?

Mais do que opções ideológicas estão em causa interesses partidários. Ao elevar o IVA para 23% e cortar nas deduções fiscais o governo pretende, sobretudo, não colidir com os interesses dos funcionários públicos reduzindo-lhes os vencimentos nem os suplementos. Ao pretender a redução da despesa, o PSD quer forçar o governo à tomada de medidas que sabe susceptíveis de provocar reacções extremas do funcionalismo.
Porque ainda que atinja mais eleitores, porque os atinge todos, o aumento do IVA é menos sentido porque é muito mais diluído.
.
Independentemente do efeito virtuoso da redução da despesa pública sobre a recuperação económica.
.
Argumenta o PM que o PSD quer abalar a universalidade do Estado Social. O Estado Social não é universal em Portugal. O funcionalismo público dispõe de condições de reforma e assistência médica (ADSE) claramente mais favoráveis que o resto da população portuguesa. Se a opção do governo fosse ideológica o sistema seria único, e não é. É por demais evidente que, também neste caso, preponderam razões de voto e não objectivos ideológicos.

Esta incapacidade sistémica, que caracteriza a governação em Portugal* há muito tempo, decorre da existência, por um lado, de uma "esquerda" comunista ortodoxa e outra "populista" com peso parlamentar conjunto significativo mas sem vocação governativa e, por outro, à direita, de um partido conservador-populista incapaz de progredir eleitoralmente de forma consistente. O governo ao centro encontra-se permanentemente ameaçado pelo populismo dos extremos. É a perseguição dos votos e os compadrios partidários e não as ideologias que comandam os destinos do País.

A clivagem ao centro, reduzindo a propensão para o bloco central que muitos rejeitam, e que poderia tornar a vida política mais transparente em Portugal, passa por um sistema eleitoral que priviligie, mais do que o actual, a formação de maiorias parlamentares. Tal sistema seria menos representativo na AR das diferentes "ideologias" mas garantiria mais capacidade de intervenção de quem governa e menos clientelismo de conivência intrapartidária e interpartidária.
----
* Mesmo dispondo de maioria absoluta na AR, o anterior Governo Sócrates recuou muitas vezes nos seus ímpetos reformistas.  

Saturday, September 25, 2010

PORTUGAL EM NÚMEROS

(Expresso/Economia de hoje)

Há um milhão de casas vazias em Portugal
Valor empatado em casas devolutas pode atingir os 100 mil milhões de euros (cerca de 60% do PIB, segundo os meus cálculos)
Na década de 80 foram construídos em média 28 mil fogos por ano;
Entre 1990 e 1997, 64 mil
Entre 1998 e 2001, 110 mil, o dobro da média europeia
Desde 1970 duplicámos o nosso parque habitacional
Segundo o Banco de Portugal, o endividamento para compra de habitação subiu de 5,8 mil milhões em Dezembro de 1990 para 50 mil milhões em 2000 e 122 mil milhões em Maio de 2010.

Dos 326 mil fogos que, de acordo com o Censo de 2001, precisavam de grandes obras, 100 mil encontravam-se vazias, 100 mil eram residência própria e habitual e só 78 mil eram residência habitual arrendada. 

Quem foi que se lembrou que nos poderíamos governar construindo casas?

Também os bancos.

GRANDES CULPADOS

Grandes culpados da crise que se instalou, e que ninguém sabe como extirpar sem medidas íntragáveis, são os bancos. Os bancos dispõem de poderes quase soberanos sobre a economia dos indivíduos e das nações. De modo inimputável, porque quando a acumulação das suas opções perversas descamba em crise e o risco sistémico apavora todos, os contribuintes são chamados a resgatá-los. É o risco (i)moral a que até agora não se pôs cobro.

Em Portugal não se fala de outra coisa, depois do futebol e dos tombos da justiça quando os arguidos são gente fina: o endividamento das famílias, dos bancos, das empresas, do Estado. Sobretudo do Estado, porque nos endivida a todos, mesmo os mais poupados. 

E, no entanto, a banca, fragilizada segundo o presidente da Associação de Banqueiros, continua imperturbável a enfiar pela garganta abaixo mais e mais endividamento aos cidadãos que, embasbacados com as miríficas sugestões que lhe chegam de todo o lado , abrem a boca e emborcam mais dívidas.

Há dias recebi do banco uma carta que me propunha transferir o "plafond" do meu cartão de crédito para a minha conta DO. Para quê?, perguntei ao funcionário do balcão. Ora para quê? Para poder gastar mais. E o que ganho com isso, se passo a ter menos "plafond" disponível no cartão de crédito?, insisti. Há pessoas que precisam de dinheiro para pagamentos que o cartão não permite, foi a resposta. Se, como é vulgar nestas circunstâncias, o cliente não paga a totalidade da dívida no seu vencimento mensal, sobre o valor não pago serão debitados juros à TAEG de 25,2%.

Um fim-de-semana inesquecível!
Um relógio de sonho!
Uma reviravolta no closet!
Um fim-de-semana com amigos!
Tudo isto e muito mais aqui, por exemplo.

As pessoas são responsáveis e têm de saber governar os meios de que dispõem, defendem aqueles que defendem esta táctica banqueira de casa de penhores. Que não ameaça apenas os endividados mas toda a sociedade.

Que fazer?

Pelo menos informar.
A RTP, para quem todos pagamos para prestar serviço público, que não sabemos qual seja, deveria promover esse esclarecimento. Não o faz. Pelo contrário, alinha ao lado do incentivo desmiolado ao consumo através de programas do tipo "Preço Certo".

Mais valia que fosse privatizada e negociado com os operadores privados espaço para o tal serviço público.
Reduzia-se na despesa e alguma coisa se descontaria na dívida pública.

Friday, September 24, 2010

HABEMUS OE

Sócrates: "Um Governo sem orçamento aprovado não tem condições"

Pois não.
Pelos vistos Sócrates só agora quer reconhecer essa condição elementar da governação.
.
Porque, das duas, uma: Ou o PM, quando constituiu Governo, partiu do princípio que as oposições têm obrigação institucional de aprovarem o orçamento de um governo minoritário, ou o PM concluiu, só agora, que não deveria ter decidido governar sem apoio maioritário na AR.

De qualquer modo, se o Expresso de amanhã está bem informado, o PSD acabará por se abster na votação final do OE.

XEQUE AO REI - 14

Presidente pode provocar governo de coligação se o actual se demitir, considera o constitucionalista Jorge Miranda.

O PR nunca deveria ter dado posse a um governo minoritário na situação de crise dupla em que o País já se encontrava na altura.

A CRISE DOS ECONOMISTAS

Pego no Metro, o diário gratuito, à saída do parque de estacionamento e, enquanto espero pelos outros parceiros de almoço, entretenho-me a ler a opinião de Luciano Amaral, professor de história económica na Universidade Nova de Lisboa, que conclui:

"O FMI não tem à sua disposição na Zona Euro os instrumentos que historicamente fizeram o sucesso dos seus programas de estabilização, combinando austeridade e expansão." ..."A ser assim, o FMI nem sequer seria o provicencial pai tirano com que tantos sonham, pondo a casa em ordem com muita pancada. A ser assim, ter-se-ia de pensar em coisas ainda mais inimagináveis"
.
A ser assim, não é o FMI é o fim.

Na opinião deste professor de economia, muito referido recentemente a propósito do seu livro ( Economia Portuguesa - As últimas décadas) editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, no ponto em que as coisas estão, nem a entrada do FMI nos salva. Ainda, segundo Amaral, a alternativa estará em coisas mais inimagináveis. Quais serão? Não diz.

Quando se esperava uma opinião completa, ainda que necesariamente sintética, Amaral fica-se pela semi-opinião: Nem o FMI nos pode valer, agora mesmo só coisas inimagináveis. O economista é o ilusionista que suspende o truque, arruma o estojo e acaba o espectáculo.

Assim não vale, professor Luciano Amaral. 

O QUE É ISTO?

clicar para aumentar
Equinox and the Harvest Moon

Thursday, September 23, 2010

CALMA, QUE O BARCO AFUNDA-SE!

Ambos recomendaram calma ao PM e ao líder do PSD e o entendimento acerca do OE para o próximo ano, juntando-se ao PR na subscrição da receita para o momento crítico que o País atravessa.

Calminha e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. O que o aforismo não garante é que sejam suficientes. Tal qual o Melhoral: É melhor e não faz mal.
Aliás, para Mário Soares "a despesa pública não é tanta como se faz crer", uma afirmação que, só por si, indicia flagrantemente o seu desfasamento da realidade ou a intenção de a camuflar.

É por demais evidente que não é com o País em alvoroço transmitido pelas televisões de todo o mundo, à grega, que se convencem os investidores a manterem os créditos e a reduzirem os juros. Por cada exibição dessas sobem os spreads da dívida e encolhem-se os credores. Mas, se a calma é boa conselheira, não é com apelos à calma que, só por si, se estabiliza o barco neste mar encapelado, a roçar os baixios, em que navegamos.

O governo desta barca descontrolada (apesar do optimismo de circunstância de Soares sustentado nas recentes declarações do FMI) precisa, para além de calma, de um braço forte, que claramente lhe falta. A despesa pública, contrariamente ao que afirma Soares, é superior aquela que se faz crer. Toda a gente consciente, e não coagida por interesses partidários, sabe que assim é. E também sabe que é forçoso reduzi-la, se queremos cumprir os compromissos assumidos, a frase feita para este momento. Não pode o País chegar a 2013 com o défice abaixo dos 3% sem reduzir a despesa pública. O resto são tretas alegres. Por muito que a comparação repugne a Mário Soares. 

A calma que Cavaco, Soares, Balsemão e vários outros recomendam jamais poderá ser atingida havendo uma luta infernizada pelo poder. Por mais calma que possa haver à superfície é nos porões que se arrombam os barcos.

Repetidamente tenho escrito isto neste caderno:  Só um governo maioritário pluripartidário pode resolver os problemas graves do País*. Uma condição necessária, pelo menos tão necessária como a calma receitada.
---
* O FMI não resolve. Quanto muito imporá uma solução.

Wednesday, September 22, 2010

IMAGENS SURREAIS DE UM PAÍS REAL

Imagine que uma família se dirigia à Câmara pedindo auxílio para a reparação do telhado da casa em ruínas. E que a Câmara lhe respondia que não senhor, não ia auxiliar a reparação mas a construção de uma casa nova.
.
E imagine ainda que, passado algum tempo, já a casa estava demolida, a Câmara chegava à conclusão que, afinal, por causa da crise, não havia mais dinheiro para construir a casa e que, agora, a família se contentasse a viver numa barraca.
.
Pois bem, é o que acontece com o Metro Mondego. Destruída a linha antiga, o Metro Mondego que a iria substituir está condenado a ficar parado por falta de verba.

Isto no dia em que o governo de Espanha reafirma a intenção de completar a ligação TGV entre Madrid e Badajoz e espera que o governo português cumpra os compromissos assumidos no âmbito desse pojecto: o de inaugurar em 2013 a ligação em grande velocidade entre Lisboa e Madrid. Ou será Poceirão-Madrid? 


AVIÃO SOLAR

Avião solar termina com sucesso primeiro voo sobre a Suíça, a 50 kms/hora. 
Nada mau, para começar.

Tuesday, September 21, 2010

ANTES QUE O CRÉDITO SE ESGOTE

Neste momento,
Euro = 1,326 dólares = 1,322 francos suíços. 

Não é a primeira vez que o franco suíço ultrapassa a cotação do dólar, mas no contexto actual esta ultrapassagem, que coincide com a recuperação do euro relativamente às duas outras divisas, decorre do comportamento frouxo da economia norte-americana que poderá levar ao Fed a injectar mais liquidez no mercado voltando à compra massiva de dívida pública*. O franco suíço vê, em consequência, renovada a sua condição de refúgio. 

Já a recuperação da moeda europeia ficará a dever-se, para lá do bom comportamento da economia alemã, à determinação de Angel Merkel em não transigir nas exigências que colocou aos membros do euro mais fragilizados no mercado. 

Amanhã, Portugal vai de novo ao mercado. A evolução recente da moeda única parece poder funcionar favoravelmente baixando as taxas de juro que na emissão de anteontem atingiram o máximo desde a entrada de Portugal no euro. De qualquer modo, a factura dos custos da dívida  continuará a ser insuportável enquanto não for evidente a inflexão no crescimento do endividamento público e privado. 

Ao Governo português não resta alternativa senão avançar rapidamente com uma proposta de OE que, para além de convencer o PSD a aprová-lo ou a abster-se, convença os investidores de que Portugal irá mesmo cumprir os compromissos assumidos. Compromissos que teremos de pagar de qualquer modo porque se a dívida não se reduz, os juros subirão a níveis sufocantes e o crédito esgotar-se-á subitamente.

Angela Merkel pode mandar murros da mesa e não ser ouvida, mas os credores fazem-se ouvir quer queiramos quer não.

----

WALL MARTE



A NASA desvendou hoje o "Curiosity" rover, um robot que explorará o solo de Marte durante a próxima expedição aquele nosso vizinho.

A história é contada aqui, mas quem a quiser ouvir tem de ver antes um spot publicitário.

As semelhanças exteriores do "Curiosity" da NASA com o WALL.E da Pixar são notáveis.

O JOGO DE OUTRA CABRA CEGA


O Banco Vaticano, que na verdade se chama Instituto para as Obras Religiosas, é uma instituição privada com sede da Cidade do Vaticano. Foi fundada em 1942 pelo Papa Pio XII.

Em 1982, o Banco Vaticano viu-se imerso num escândalo financeiro quando ficou provada o seu envolvimento na falência fraudulenta do Banco Ambrosiano, de que o Instituto para as Obras Religiosas era o principal accionista.

 

O QUE É ISTO?


Starry night over the Rhone

Monday, September 20, 2010

FMI AO VIRAR DA ESQUINA


Em meados de Junho deste ano, Teresa Ter-Minassian, que liderou a equipa do FMI que em 1983 esteve em Portugal, afirmava em entrevista ao J Negócios , que o melhor seria o governo português recorrer já ao pacote de 750 mil milhões de euros acordado a nível europeu, o qual conta, também, com financiamento do FMI.
Não recorreu, e hoje um colega da Teresa Ter-Minassian afirma ao mesmo J Negócios que o FMI não conta aparecer por cá. 

Quem parece não valorizar esta última perspectiva do FMI são os credores da República Portuguesa ao colocarem os juros a níveis nunca observados desde a entrada de Portugal no euro.

E, não acreditando os credores, mais dia menos dia o FMI tem de se dar ao trabalho de aterrar na Portela.
Sem ele cá em casa quem é que vai fazer cumprir os compromissos assumidos?
Não o senhor PR, que não foi eleito para isso e quer ser reeleito apesar disso. 

Sunday, September 19, 2010

A GRANDE FARRA

FIDEL DO AVESSO - 2


Today, the U.S. policy of isolating Cuba by means of economic embargoes and travel restrictions serves two Castro goals: It provides an alibi for Cuba's social conditions, and it insulates Cuba from some of the political and cultural forces that brought down communism in Eastern Europe. The 11th president, Barack Obama, who was born more than two years after Castro seized power, might want to rethink this policy, now that even Castro is having second thoughts about fundamentals.*

more

Em finais de Fevereiro de 2008, Raul Castro sucedia ao irmão no trono da monarquia cubana. Nessa altura, escrevi aqui um breve apontamento onde referia que  "a república ficava à espera do fim do embargo norte-americano".

Como refere o autor do artigo que liguei acima, e de que é sintomática a resposta dada pelo PCP ao Expresso na edição de ontem (vd aqui ) a propósito das declarações de Fidel ao "The Atlantic", o regime cubano desmoronar-se-ia rapidamente se os EUA abandonassem a política que tem sustentado os Castros & Cª. no poder em Havana. De outro modo, é imprevisível o tempo de duração da ditadura.

A indecisão de Obama, neste como em outros casos bicudos com que a sua administração se confronta, só pode ser entendida pela limitação da capacidade de decisão do executivo em Washington, uma capacidade muito mais condicionada do que geralmente se supõe.
---
*A não perder, o link para Sartre against Stalinism.
 A história, mesmo quando aparentemente se repete, é sempre um espectáculo original.  

SPECIAL ONE

Queria [mesmo ir para a selecção]. Vou ficar de férias em Madrid dez dias, a treinar com três jogadores”, disse Mourinho à correspondente da RTP em Espanha, após o jogo em San Sebastián, frente à Real Sociedad, que os "merengues" venceram por 2-1.

Não discuto futebol, nunca discuti futebol, não sei porque se discute futebol. O futebol é um espectáculo e um negócio. Gosta-se ou não se gosta. Mas a hipótese de Mourinho treinar em part-time a selecção (no caso concreto que agora se dicute, seria pontualmente) motivou-me a colocar, em Junho, dois apontamentos neste caderno e, recentemente, este outro.

E motivou-me não por se tratar de futebol mas porque ainda estou para perceber as razões (para além das legais que podem não ser razoáveis) que impõem aos clubes a obrigação de dispensarem os seus jogadores (a quem pagam milhões e que muitas vezes se lesionam durante os jogos da selecção, reduzindo, de forma muito elevada a contribuição para quem lhes paga) e não envolvem os treinadores na mesma obrigação legal.

Ontem, ouvia na Antena 1 um comentador desportivo, certamente abalizado, afirmar que a ideia de convidar Mourinho tinha sido peregrina, sem sentido algum.

Pelos vistos, Mourinho pensa de outra forma.

Saturday, September 18, 2010

BEM VISTO

PSD diz que Governo deve mostrar execução orçamental antes de apresentar o orçamento.

Uma exigência que deveria ser uma regra.

Entretanto, Zapatero prepara-se para um road show junto dos investidores norte-americanos. A transparência, nas actuais circunstâncias, é ainda a forma mais eficiente de recuperação de credibilidade. (vd aqui ). 

FIDEL DO AVESSO



Parece inacreditável, e os seus mais fiéis irão, muito provavelmente, negar que possa ter ocorrido, mas Fidel, em entrevista à The Atlantic não foi sinuoso e disse muito claramente que o regime por ele instaurado há 57 anos em Cuba já não presta.

Quem não terá dúvida alguma acerca da súbita reviravolta em Cuba são os 500 mil funcionários públicos que irão ser despedidos em 2011, metade dos quais durante o primeiro trimestre. 

 Ouvido pelo Expresso (edição de hoje), o Partido Comunista Português "garante que uma revolução que tem heroicamente resistido ao criminoso bloqueio dos EUA terá êxito no seu projecto de construção do socialismo" .

Fé para além do fim.

PEDITÓRIO

in J Negócios: António de Sousa diz que banca portuguesa vive pior momento da crise.

Presidente da Associação Portuguesa de bancos diz que a banca portuguesa nunca viveu uma situação tão grave como a actual e que se a situação continuar como está "vai ser muito difícil os bancos portugueses financiarem-se no exterior".

“A continuar assim, mesmo que os mercados internacionais melhorem, vai ser muito difícil os bancos portugueses financiarem-se no exterior. Ou seja, a banca está numa situação em que tem, rapidamente, de aumentar a sua rentabilidade, sob pena de não ter investidores”, afirmou António de Sousa, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, em entrevista à Antena 1.

“A rentabilidade da maior parte dos bancos portugueses no mercado nacional já é negativa. É uma situação complexa e que não se poderá prolongar no tempo”, acrescentou.
...

“Penso que isto é suportável durante um ano, dois anos. Daí que, temo-lo dito publicamente, o essencial para a banca neste momento é que melhore a credibilidade do país”, adiantou, Questionado sobre se a banca portuguesa está com a corda na garganta, o presidente da APB afirmou que “eu não usaria essa expressão nunca, obviamente, mas diria que a situação dos bancos é realmente complicada como nunca foi anteriormente.

Nem mesmo no pico da crise, porque aí não havia um problema específico de Portugal, era um problema genérico. Neste momento é muito um problema apenas de Portugal”.
...

“Eu diria que, com a situação actual, irá ser obrigatório que, ou há uma diminuição substancial do crédito ou há vendas de activos substanciais dos bancos – e não estamos a ver muito bem como – ou há uma mudança de credibilidade do país no estrangeiro”, acrescentou.

Alertou que “se os investidores não voltarem a Portugal, a situação tornar-se-á bastante complexa, porque, pura e simplesmente, os bancos não terão dinheiro para emprestar nessa situação.”

Questionado sobre a possibilidade de o FMI ter que intervir em Portugal, tal como aconteceu na Grécia, António de Sousa afirmou que “eu gostaria muito que isso nunca viesse a acontecer, porque, nesse caso, o processo de reajustamento é geralmente muito mais penoso”.

“Muitos colegas economistas acham que já é inevitável. Eu penso que não é inevitável. Penso é que seria de evitar.”

Friday, September 17, 2010

DROIT DE REGARD

A expressão ouvi-a ontem a Pacheco Pereira durante uns breves minutos em que a televisão esteve ligada cá em casa. Droit de regard é faculdade pretendida pela Comissão Europeia, e, implicitamente a Alemanha, de, no nosso caso, se pronunciar acerca dos objectivos fixados no OE para o próximo ano, independentemente da aprovação pela Assembleia da República.

Este droit de regard, não se sobrepõe nem se antecipa ao voto dos deputados portugueses que são livres de aprovarem ou não o OE que lhes vier a ser apresentado. Mas é óbvio que a política orçamental portuguesa está cada vez mais dependente das recomendações feitas através de Bruxelas. Uma dependência que, pelo que ouvi, incomoda o visceral patriotismo do conhecido comentador político. E não só dele mas de muito mais gente que, por uma razão ou por outra, mas raramente por ignorância das circunstâncias em que o País naufraga, continua a querer fazer-nos crer que nos podemos continuar a endividar sem dar cavaco aos credores. 

Esta repulsa do droit de regard pode ter outra leitura: a de não ser entendida como rejeição da intromissão dos credores mas da política que conduziu a essa submissão. Trata-se, contudo, de uma repulsa serôdia, inconsequente, embalada por uma emoção que não comove quem nos empresta. Nem, pelos vistos, demove quem governa dos caminhos errados por onde nos conduziram.  

Apesar de os alarmes já retinirem por todo o lado o "povo é sereno" e os crescimentos da dívida pública e do endividamento externo continuam a acelerar. Até quando?

Até chegar o FMI, se não funcionar o droit de regard. Porque, nessa altura, o droit de regard passa a imposição.

O FMI, como dizia há tempos Ernâni Lopes, que teve de negociar com ele durante a crise de 1983, não nos vem ensinar nada que nós não saibamos. Vem apenas impor o que, por nossa iniciativa, não fomos capazes de nos impor.

O JOGO DA CABRA CEGA

Todos os arguidos do caso EPUL foram condenados com penas de prisão, mas com penas suspensas

Ninguém vai para a cadeia neste País?

Vai, se roubar pouco.

Thursday, September 16, 2010

NA MOUCHE


Evidentemente que ninguém deu nem dará por isso. Mas é gratificante comparar esta notícia no Público de  hoje com o que escrevi aqui e aqui.

Wednesday, September 15, 2010

A VIA INEVITÁVEL

As desvalorizações competitivas já começaram.
A inflação segue dentro de algum tempo.

Beggar, then sneakily enrich, thy neighbour

AMONG today's big news items is the word that Japan is now actively selling yen in order to improve its exchange rate against other major currencies. The yen has risen sharply in recent months, dealing a blow to Japanese exporters and slowing Japanese recovery. The move has led to some fretting that a period of competitive devaluation is nigh. Here's Tim Duy, for instance:

What it all boils down to is this: There apparently is no motivation for global central banks to stop directing capital inflows at the US in an effort to support mercantilist objectives. If it isn’t China, it will be some other economy. And equally apparent, there is no motivation among US policymakers to address such government directed capital flows. Which will leave politicians falling back on ultimately harmful trade barriers. The absolute inability of US policymakers to seriously address a global financial architecture where a rule of the game is "when in doubt, by Dollars" will ultimately have serious consequences via disruptive adjustment when the system can no longer be maintained, via either external or internal forces.

Doom and gloom, but I feel more positive about this development. Consider Buttonwood's take:

As David Bloom of HSBC points out in a note responding to the move, the costs of intervention to the Japanese are not great. Selling yen and buying dollars results in more yen being created, which might be inflationary, but a bit of Japanese inflation wouild be a good thing.

My thought concerns the general tendency of countries to want their currencies to depreciate. Everyone would like to boost their growth by letting their currencies slide and increasing exports. Of course, not all can succeed. Someone must increase net imports and let their currency appreciate. The obvious candidate is the Chinese, but they are unwilling to let it happen (at least at a pace desired by the rest of the world).

The result is like a game of deflationary pass the parcel in which the countries with appreciating currencies eventually feel the pressure, and try to reverse the trend.


A bit of inflation in Japan wouldn't just be a good thing. It would be a really, really great thing. And if other countries react to Japan's intervention by attempting to print and sell their own currencies in order to toss the deflationary potato to someone else, well then so much the better. As the chart at right indicates, its a rare rich economy that couldn't use a bit more inflation.

Not every country can simultaneously depreciate its currency. But everyone can nonetheless benefit from the attempt, if currency interventions lead to expanded money supplies and rising inflation expectations.

It's worth looking again at this important chart:



Tuesday, September 14, 2010

TICINO

clicar nas imagens para ampliar

Quando, há já muitos anos, visitei pela primeira vez a Suíça, impressionaram-me, além do mais, a ordem e a limpeza e o cheiro a estrume fora das cidades. Aliás, era frequente verem-se estrumeiras ao lado das habitações rurais.

Passados estes anos, e de volta a Suíça, agora também por razões familiares, já não se nota tanto o cheiro a estrume mas a ordem e a limpeza já não é o que eram.

O que, no entanto, persiste é o aproveitamento intensivo da terra arável. No Ticino, por exemplo, a vinha é omnipresente: no adro de uma igreja, no logradouro de um castelo medieval que é património da Unesco, no espaço urbano. Há cultivo de couves, beterrabas, milho, etc. em convivência com stands de automóveis.

Vimos até um campo de uma espécie (última foto) que não consegui identificar*, nem ninguém ali por perto conseguiu.

Lembro-me sempre desta paisagem cultivada quando atravesso Portugal e vejo tanta terra arável abandonada.

Porque é que isto acontece? É certo que a agricultura é fortemente subsidiada na Suíça. Mas não creio que seja só essa a razão deste apego à produção agrícola na Suíça e do desprezo que ela merece entre nós.

Há, certamente, razões culturais que, no caso português, serão de rejeição cultural.

Na Suíça, notoriamente, há uma preferência arreigada por tudo o que é Suíço. Sobretudo por tudo o que é criado localmente. A defesa dos interesses de cada um começa na defesa dos interesses do vizinho. Quem é que pensa em tal em Portugal?


 

----
*É um exemplar de Fagopyrum esculentum. É o trigo-mourisco, planta cultivada de origem asiática.

BASILEIA TRÊS


It took two years to get there, but when international regulators late on Sunday announced the final details of their mammoth overhaul of bank capital and liquidity standards – the so-called Basel III package – there were hopes they were laying to rest the ghost of Lehman Brothers.

Just ahead of Wednesday’s second anniversary of the ignominious Lehman collapse, the Basel Committee on Banking Supervision unveiled a finely-tuned package of reforms – more than tripling capital requirements – to the accompaniment of much back-slapping.

“The combination of a much stronger definition of capital, higher minimum requirements and the introduction of new capital buffers will ensure that banks are better able to withstand periods of economic and financial stress, therefore supporting economic growth,” declared Nout Wellink, the veteran Dutch central bank chief who chairs the committee. The changes “will create a much more resilient banking system in the future”, echoed Lord Turner, head of the UK’s Financial Services Authority. The deal was the key to “a more stable banking system that is less prone to excessive risk-taking”, chorused US regulators.

There have been critics. Initial regulatory proposals have been watered down after industry consultation. Parallel reform proposals from politicians have also been weakened on their way into law. The powerhouses of Wall Street and the City of London lobbied hard to retain their historical sources of high-risk profit in the face of those determined to “de-risk” the system.

But there is real change all the same. The Basel III regime, to be phased in by 2019, comes on top of legal reforms in various parts of the world, notably the US, where the so-called Volcker package implemented via the Dodd-Frank legislation aims to curtail big banks’ risks. Most fundamentally, the practice of pure proprietary trading – whereby banks bet their own money dealing in anything from gold to Greek bonds – is being outlawed in the US within two years




more

Sunday, September 12, 2010

O EURO AINDA NA BERLINDA

By Wolfgang Münchau

Two years after the fall of Lehman Brothers, and a massive bank bail-out agreed by European governments, the eurozone’s financial sector is still fragile. As we have seen in recent weeks, the Irish banking sector is insolvent, and there are questions about the capacity of the Irish state to absorb those losses. Jürgen Stark, in charge of the monetary policy section of the European Central Bank, last week raised questions about the solvency of the German banking sector. Wherever you look, two years have passed and nothing has been resolved. There has been lots of activity – bail-outs, bad banks – but no resolution. It was always clear that this wait-and-see approach would eventually backfire. It may be happening already.

After Lehman’s collapse, Europe’s establishment adopted a dual strategy – if you want to call it that. In the short term, it threw money at the problem, through loan guarantees and generous liquidity provisions, culminating in a huge bail-out facility for sovereign states. The long-term strategy was a prayer for a strong V-shaped recovery.

As long as you make sufficiently optimistic assumptions about future income growth, you can pay off any amount of debt. If you assume a post-reform Greece will miraculously turn into a Aegean tiger, or that Ireland will generate another housing price bubble, the present rate of indebtedness will be no big deal. It all rests on your assumptions about growth. In the summer, it looked as though the strategy might work, as the economic data came in better than expected. That was then.

As we saw last week, this strategy came badly unstuck in Ireland. The Irish government massively underestimated the scale of the problem in its banking sector. On my own back-of-the-envelope calculations, the cost of a financial sector bail-out may exceed 30 per cent of Irish gross domestic product, if you make realistic assumptions about bad debt write-offs and apply a conservative trajectory for future economic growth.

We know from economic history that countries enter into longish phases of stagnation after a financial crisis. Ireland suffered an extreme crisis. In the light of what we know, the safe assumption to make for Ireland – and Greece – is that there will not be much nominal growth in the next five years. If you make that assumption, you realise Greece will almost certainly not be in a position to repay its debts. While Ireland’s situation is marginally better, there are justified doubts about the country’s long-term solvency.

Ireland and Greece are not the only eurozone countries in potential trouble. Portugal is in a predicament similar to that of Ireland. If Spain does not find a way to a sustained increase in productivity, the situation may blow up there as well. Belgium may not be on the radar screen of many investors but the country’s political crisis raises a number of disturbing questions about the country’s underlying solvency, hitherto taken for granted.

You need not make gloomy growth forecasts to reach a pessimistic assessment of underlying solvency. The eurozone will probably not have a double-dip recession. Even so, a sustained global economic slowdown, the start of which we may have just witnessed, is all it would take to derail the do-nothing strategy. In the absence of strong growth, the European banking sector will not be able to generate the excess profits needed to write off the bad assets.

Germany in particular is still under the illusion it can generate a strong and sustainable growth over a long period. Recent data were impressive but economic data tend to be volatile. I find it hard to believe the most recent performance is sustainable, although I do expect Germany to outperform the eurozone average because of the depressed real exchange rate.

The German state is in no danger in terms of solvency. But the health of the country’s banking sector is sensitive to various growth assumptions. I would consider the German banking system, taken as a whole, to be insolvent if you apply the strictest definition of capital – equity capital and retained earnings. The new Basel III capital adequacy rules are supposed to take care of the problem of dodgy categories of core capital. I wrote this before the conclusion of Sunday’s agreement in Basel, which irrespective of the details will take years to implement. In the meantime, there will be no crisis resolution.

In Ireland, the cure would consist of nationalisation and wiping out the bondholders of Irish banks through bond-to-equity conversions. In Germany, it would be a recapitalisation of the banking sector – a polite way of saying closing down, or merging, many public-sector Landesbanken and Sparkassen, local savings banks. Mr Stark was absolutely right. The system is no longer working.

Two years after Lehman’s collapse, the fragility of the European banking sector is still an issue. I would bet we are still talking about it in five years. That, in turn, means the financial crisis will go on and on and on, at least in the eurozone.

CASA ARROMBADA

As dificuldades no endividamento externo preocupam o actual governador do Banco de Portugal
                              
Pena é que no Banco de Portugal não se tenha pensado no assunto antes. Agora é tarde e a margem de manobra, se alguma existe, estreita.  

Segundo noticia o Público, na semana passada, responsáveis do sector financeiro nacional confirmaram que o Banco de Portugal enviou aos bancos uma carta em que é solicitada a apresentação dos planos de diversificação de fontes de financiamento das instituições. Em vésperas da discussão do Orçamento do Estado para 2011, o BdP quer garantir que, com os mercados a penalizar o acesso ao crédito externo por parte dos agentes económicos portugueses e com o BCE a preparar a retirada das medidas de apoio extraordinárias ao sistema financeiro, os bancos nacionais estão já a encontrar alternativas no acesso aos fundos.

Onde? É complicado. Se não fosse não teriam chegado à situação a que chegaram. Em grande medida, por culpa própria, aliás.
Agora que o sistema voltou a uma situação de desconfiança na dívida soberana, os bancos credores são, obviamente, atingidos em cheio. Que alternativas de acesso poderão existir se o BCE quer retirar-se e a desconfiança do sistema financeiro se mantém? Aumento dos capitais próprios? Ou encosto aos credores?

Em todo o caso há pelo menos uma medida que há muito se impõe: a de reduzir o financiamento das importações, públicas e privadas. Estarão os bancos disponíveis, agora, para desviar o financiamento das importações para as actividades produtoras de bens e serviços transaccionáveis nacionais? Ou continuarão obcecados nas margens de negócios que mais tarde ou mais cedo têm de fatalmente acabar por secura extrema?

Faz algum sentido, por exemplo, que os bancos continuem a financiar a compra de automóveis (durante o primeiro semestre deste ano a venda de automóveis novos cresceu 57% relativamente a igual período do ano passado, o melhor registo do sector observado na União Europeia ) quando o endividamento externo do País atinge valores incontroláveis?

Saturday, September 11, 2010

OUTRO

Público: Luís Amado apela à cooperação entre partidos para arrumar a casa.

Apelos, há muitos.

OS MAIS VELHOS





O Teatro Olímpico de Vicenza (1580-1585), em Vicenza, Itália, é o teatro interior mais antigo do mundo.
Quem o visita pela primeira vez dificilmente deixará de se envolver de espanto. O seu criador, que morreu no ano anterior ao da sua abertura, criou um cenário único em todos os sentidos. Único porque é inamovível, mas  único também porque define um ambiente de grandiosidade que, só por si, constitui um espectáculo ímpar.

O Corral das Comédias de Almagro, Espanha, é mais novo 43 anos. Foi construído em 1628.
À magnificência do Olímpico de Vicenza contrapõe-se a singeleza do Corral de Almagro, pelo que se a arte aproximou os seus autores os recursos, num caso e noutro, já eram bem significativos das diferenças da riqueza material, mas sobretudo cultural, acumulada pela  república veneziana, por um lado,  e pela Andaluzia, apesar de o primeiro quartel do Séc XVII corresponder ainda fim do apogeu da Espanha imperial.
Situado numa das "Plaza Mayor" mais originais da Andaluzia, ainda nos dias de hoje é a principal referência para o "Festival de Teatro" que anualmente ali se realiza no mês de Julho.