Tuesday, June 30, 2009

POSTAL DA SUICA

(Temporariamente, encontro-me com falta de acentos e cedilhas. Agradeco o favor de relevarem o facto e suprirem as deficiencias).

A Suica ja nao e o que era, mas mesmo assim continua a ser muito diferente da Europa circundante, e, sobretudo, da Europa Latina.
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Aquela Suica impecavelmente limpa e organizada, irritantemente, para os olhos meridionais, com tudo no sitio certo, vai cedendo a pouco e pouco aos desleixos e as complacencias que as geracoes do pos guerra, que pagaram as dificuldades mas foram retribuidas com desafios, induziram no comportamento das geracoes seguintes, que chegaram ao mundo quando o mundo ja estava, aparentemente, acabado.
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Ha na Suica cerca de 7,5 milhoes de habitantes, mas quase um quarto sao emigrantes. Do intercambio cultural resulta ainda uma clara preponderancia dos valores culturais helveticos.
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Mas a generalizacao dos grafitti, por exemplo, que nao e de agora mas se tem acentuado em cidades como Zurique, indicia que a permeabilidade a outros impulsos esteticos podera lentamente alterar o equilibrio geometrico e o colorido do Jardim Suico.

Monday, June 29, 2009

CORRELAÇÕES

"Os portugueses são dos europeus que menos reclamam enquanto consumidores, tendo apenas 5% apresentado oficialmente uma queixa contra um vendedor ou fornecedor em 2008, revela um inquérito divulgado na sexta-feira em Bruxelas pelo Eurostat. O estudo do gabinete oficial de estatísticas da União Europeia sobre "os consumidores na Europa" revela que os Estados-membros que registaram menos reclamações no ano passado foram a Bulgária (4%), Portugal e Letónia (5%). As percentagens mais elevadas foram observadas na Suécia (34%) e Holanda (25%), sendo a média comunitária de 16%. Entre as pessoas que apresentaram reclamações na UE a 27, mais de metade (51%) manifestaram satisfação com a forma como a queixa foi tratada, valor em linha com aquele verificado entre os poucos portugueses que se queixaram, tendo 54% dito que ficaram satisfeitos."
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Poucas reclamações, pouca exigência, mau serviço. Haverá outra explicação?
Poderão imaginar-se outras causas para uma disparidade tão grande entre o número de reclamantes na Suécia e em Portugal. Mas há uma que não será, certamente elegível: o nível de serviço. Porque esse nível é, inquestionavelmente, mais elevado na Suécia do que em Portugal.
Paradoxalmente, parece poder concluir-se que quanto mais baixo é o nível de serviço prestado pelos fornecedores aos seus clientes menor é o número de reclamações.
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Somos pouco exigentes, já se sabia. Com os outros e connosco. E essa pouca exigência é a causa primeira do nosso atraso.

Sunday, June 28, 2009

VAMOS À MONTANHA

Porque a montanha não vem até nós.

CUSTOS DO DESEMPREGO

Segundo o INE, "em 2008, o PIB registou uma variação nula em volume, o que compara com a variação de 1,9% verificada no ano anterior. Este comportamento resultou, sobretudo, do intenso contributo negativo da procura externa líquida para o crescimento do PIB, mas também da desaceleração da procura interna. Em termos nominais, o PIB ascendeu a cerca de 166 mil milhões de euros, mais 1,8% que o valor do ano anterior."

Segundo o documento dos 51, "uma taxa de desemprego de 10% é o sinal de uma economia falhada, que custa a Portugal cerca de 21 mil milhões de euros por ano – a capacidade de produção que é desperdiçada, mais a despesa em custos de protecção social".

Mas as contas não podem estar bem feitas. Se não vejamos: Se todos os desempregados (os 10%) passassem (hipótese inverosímil) a trabalhar isso significaria que o PIB aumentaria 21 mil milhões? Não. Quanto muito, e partindo do princípio que os desempregados seriam, em média, tão produtivos quanto os actualmente empregados, aumentaria cerca de 10%, ou seja cerca de 16,6 mil milhões. A diferença (4,4 mil milhões) terão então que ser atribuídos aos custos com a protecção social.
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Contudo, não faz sentido somar o valor da produção com o valor da poupança para calcular a riqueza produzida, ou desperdiçada, consoante o ponto de vista. Se o Estado, por hipótese absurda, não pagasse nenhuma contribuição social, pouparia os tais 4,4 mil milhões que poderia aplicar em investimento, que, por sua vez, poderia gerar mais riqueza, sem criar mais postos de trabalho uma vez que se tinha chegado a uma situação de emprego total.

Em conclusão: O redactor do manifesto dos 51 exagerou nos cálculos, os outros subscritores assinaram de cruz.
Porque não é admissível que não saibam fazer estas contas nem saber que a hipótese considerada, de emprego total, é uma utopia. Além de outras, a começar pelo potencial de emprego esperado dos megaprojectos.

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O Expresso Economia de ontem faz referência a um estudo do IZA, um instituto alemão especializado na área do mercado de trabalho, da autoria de Anabela Carneiro, Paulo Guimarães e Pedro Portugal, que concluíram que, "para quem está a trabalhar, cada ponto percentual de agravamento da taxa de desemprego rouba 1,4% aos salários reais das mulheres e 1,1% dos dos homens. Embora legalmente não possa haver corte de salários nominais, as empresas conseguem travar os custos em termos reais através de congelamentos ou actualizações abaixo da taxa de inflação. Mais afectados são os novos contratos, onde cada ponto percentual de desemprego a mais representa um corte de salário real de 2,8%, se for homem, ou de 2,3% se for mulher..."

Trata-se do ajustamento a longo prazo, referido por VBento em "Perceber a crise...", mais penoso e mais injusto que o corte súbito generalizado.

A OCDE revelou esta semana, refere ainda o Expresso, que o desemprego pode atingir 11,2% em 2010, o que, aplicando as conclusões do estudo do IZA, poderá implicar um corte de 10% nos salários reais dos novos contratos, se forem homens os contratados; se forem mulheres a redução seria de 8%. Para quem está a trabalhar, os cortes são na ordem dos 4% e 5%. De tudo resultará, se nada for feito que contrarie tendência, a contínua degradação dos sectores transaccionáveis, que, a médio prazo, se propagará aos não transaccionáveis.

Olivier Blanchard, que citei no Aliás pela primeira vez aqui , já sugeriu por diversas vezes que a solução para o desemprego português passava por uma redução de 20% dos salários nominais. Seria uma calamidade, claro, mas que, de outro modo, se terá de ingerir durante vários anos.

Saturday, June 27, 2009

ECONOQUÊ?

Depois do Apelo à Reavaliação do Investimento Público, mais conhecido pelo documento dos 28, surgiu ontem o Apelo dos 51 à opinião pública. Subscrito por economistas, sociólogos e politólogos, na sua maior parte professores catedráticos, o manifesto dos 51 é, claramente, um texto de apoio ao programa de investimentos públicos que o actual Primeiro Ministro se propõe executar, se mantiver o cargo após as próximas eleições legislativas. Opõe-se ao documento dos 28, que coloca grandes reservas à oportunidade da execução de alguns dos megaprojectos, e nomeadamento do TGV, considerando a crise económica e financeira com que Portugal se debate no meio do turbilhão de uma crise global de dimensões que só encontram paralelo na Grande Depressão de 29.

Sintetizando, os 51 subscrevem que,

"A contracção da procura é agora geral ... o combate ao desemprego tem de ser o objectivo central da política económica ... Uma taxa de desemprego de 10% é o sinal de uma economia falhada, que custa a Portugal cerca de 21 mil milhões de euros por ano – a capacidade de produção que é desperdiçada, mais a despesa em custos de protecção social... Em cada ano, perde-se assim mais do que o total das despesas previstas para todas as grandes obras públicas nos próximos quinze anos ..., Assim, respondemos propondo um vigoroso estímulo contracíclico, coordenado à escala europeia e global,... Os recursos públicos devem ser prioritariamente canalizados para projectos com impactos favoráveis no emprego, no ambiente e no reforço da coesão territorial e social: reabilitação do parque habitacional, expansão da utilização de energias renováveis, modernização da rede eléctrica, projectos de investimento em infra-estruturas de transporte úteis, com destaque para a rede ferroviária, investimentos na protecção social que combatam a pobreza e que promovam a melhoria dos serviços públicos essenciais como saúde, justiça e educação... (quanto ao documento dos 28)...Trata-se de uma opinião que reflecte uma escolha político-ideológica destinada a impor à sociedade uma noção unilateral e pretensamente científica... temos de pensar sobre os nossos problemas no quadro europeu e global onde nos inserimos. A competitividade futura da economia portuguesa depende também da adopção, pelo menos à escala europeia, de mecanismos de correcção dos desequilíbrios comerciais sistemáticos de que temos sido vítimas..., Precisamos de mais Europa ...Por isso, apelam à opinião pública para que seja exigente na escolha de respostas a esta recessão, para evitar que o sofrimento social se prolongue."

Releio um documento e outro e não vislumbro no segundo, relativamente ao primeiro, mais do que uma acusação de cientismo ideológico, mas sem refutar qualquer dos constrangimentos mais críticos que pesam sobre a economia portuguesa, nomeadamente, o galopante endividamento externo, o crescente desequilíbrio da balança comercial, a estagnação do crescimento económico decorrente da falta de competitividade da nossa economia, as condicionantes, mal geridas, impostas pela adesão ao euro. Tratando-se, em grande parte, de pessoas que ensinam ou ensinaram nas mesmas escolas, esperar-se-ia, se não uma maior convergência de leituras dos dados que caracterizam a conjuntura pelo menos maior respeito deste segundo grupo pelas perspectivas adiantadas pelo outro. O confronto que evita a discussão da realidade económica financeira do país, que, incontornavelmente, condiciona as políticas possíveis mais adequadas ao desenvolvimento económico e social, e à criação de emprego, levando o debate para a chicana ideológica, constitui um péssimo certificado para a ciência económica e para a dignidade da habilitação como economista que a maior dos subscritores indica a seguir ao nome.

Percebem-se mal algumas dos pressupostos que suportam a argumentação do apelo dos 51:

1 - Partem do princípio que, havendo quebra geral da procura, as políticas de emprego passam pela despesa do Estado, nomedamente pelo investimento público. Ora, como facilmente se pode constatar da leitura de dados que são públicos, o crescimento da economia portuguesa não tem sido condicionado pela procura. O problema da economia portuguesa está do lado da oferta, como demonstra V Bento em "Perceber a crise...". É essa insuficiência de competitividade das produções portuguesas que tem determinado o crescente desequilíbrio entre importações e exportações, o crescimento da dívida externa, a estagnação da economia portuguesa. Os portugueses têm procurado muito mais do que oferecido.

2 - No programa de investimentos enunciado, redentor da economia portuguesa, cabem todos os projectos, dos mega aos micro. Esperar que a estagnação da economia portuguesa, a grande responsável pela não criação suficiente de emprego, que dura há mais de 10 anos e é, portanto, muito anterior à crise global, se resolve principalmente através do investimento público, e nomeadamente dos megaprojectos, carece de fundamento. Primeiro, porque não resolve o problema fundamental com que se defrontam, geralmente, as produções de bens e serviços portugueses (competitividade); segundo, porque projectos como o TGV dinamizarão, sobretudo, a procura (e o emprego) nos países fornecedores dos equipamentos que o projecto tem de adquirir e não encontram produtor em Portugal; terceiro, porque, conforme é referido, é preciso optar, e as opções não podem deixar de contar com os meios disponíveis. Ora um programa de investimentos públicos, tão abrangente que não deixa nenhum de fora, é, lamentavelmente, impossível.

3 - Afirmam os 51 que "a competitividade futura da economia portuguesa depende também da adopção, pelo menos à escala europeia, de mecanismos de correcção dos desequilíbrios comerciais sistemáticos de que temos sido vítimas", remetendo a solução dos nossos problemas para decisões a nível da União Europeia. Mas não referem uma única pretensão que deva ser negociada pelo governo português em Bruxelas. Aliás, os 51 vão muito mais longe nas suas propostas e propõem " um vigoroso estímulo contracíclico, coordenado à escala europeia e global" . Nada modestos, estes 51. Esquecem-se, ou parece que se esquecem, que há duas crises: a nossa e a global. E que, ultrapassada a segunda, não há nenhuma garantia, antes pelo contrário, que esteja solucionada a primeira, que é mais antiga.

4 - Mas é o endividamento externo, que não pode crescer indefinidamente, o nó górdio apontado pelos 28 mas soberanamente ignorado pelos 51, que constitui o maior desfasamento entre um documento e outro na definição da linha de partida. É, no mínimo, estranho que tanta gente que faz das contas a base das disciplinas que ensina, passe por cima do principal argumento do outro grupo sem dizer que as contas deles estão erradas e por quê.

Limitam o seu apelo à opinião pública com a distribuição de um credo. Chegará? Sei lá. As religiões têm muita força.

51 VERSUS 28

"O debate deve ser centrado em prioridades: só com emprego se pode reconstruir a economia"
Estamos a atravessar uma das mais severas crises económicas globais de sempre. Na sua origem está uma combinação letal de desigualdades, de especulação financeira, de mercados mal regulados e de escassa capacidade política. A contracção da procura é agora geral e o que parece racional para cada agente económico privado – como seja adiar investimentos porque o futuro é incerto, ou dificultar o acesso ao crédito, porque a confiança escasseia – tende a gerar um resultado global desastroso. É por isso imprescindível definir claramente as prioridades. Em Portugal, como aliás por toda a Europa e por todo o mundo, o combate ao desemprego tem de ser o objectivo central da política económica. Uma taxa de desemprego de 10% é o sinal de uma economia falhada, que custa a Portugal cerca de 21 mil milhões de euros por ano – a capacidade de produção que é desperdiçada, mais a despesa em custos de protecção social. Em cada ano, perde-se assim mais do que o total das despesas previstas para todas as grandes obras públicas nos próximos quinze anos. O desemprego é o problema. Esquecer esta dimensão é obscurecer o essencial e subestimar gravemente os riscos de uma crise social dramática. A crise global exige responsabilidade a todos os que intervêm na esfera pública. Assim, respondemos a esta ameaça de deflação e de depressão propondo um vigoroso estímulo contracíclico, coordenado à escala europeia e global, que só pode partir dos poderes públicos. Recusamos qualquer política de facilidade ou qualquer repetição dos erros anteriores. É necessária uma nova política económica e financeira. Nesse sentido, para além da intervenção reguladora no sistema financeiro, a estratégia pública mais eficaz assenta numa política orçamental que assuma o papel positivo da despesa e sobretudo do investimento, única forma de garantir que a procura é dinamizada e que os impactos sociais desfavoráveis da crise são minimizados. Os recursos públicos devem ser prioritariamente canalizados para projectos com impactos favoráveis no emprego, no ambiente e no reforço da coesão territorial e social: reabilitação do parque habitacional, expansão da utilização de energias renováveis, modernização da rede eléctrica, projectos de investimento em infra-estruturas de transporte úteis, com destaque para a rede ferroviária, investimentos na protecção social que combatam a pobreza e que promovam a melhoria dos serviços públicos essenciais como saúde, justiça e educação. Desta forma, os recursos públicos servirão não só para contrariar a quebra conjuntural da procura privada, mas também abrirão um caminho para o futuro: melhores infra-estruturas e capacidades humanas, um território mais coeso e competitivo, capaz de suportar iniciativas inovadoras na área da produção de bens transaccionáveis. Dizemo-lo com clareza porque sabemos que as dúvidas, pertinentes ou não, acerca de alguns grandes projectos podem ser instrumentalizadas para defender que o investimento público nunca é mais do que um fardo incomportável que irá recair sobre as gerações vindouras. Trata-se naturalmente de uma opinião contestável e que reflecte uma escolha político-ideológica que ganharia em ser assumida como tal, em vez de se apresentar como uma sobranceira visão definitiva, destinada a impor à sociedade uma noção unilateral e pretensamente científica. Ao contrário dos que pretendem limitar as opções, e em nome do direito ao debate e à expressão do contraditório, parece-nos claro que as economias não podem sair espontaneamente da crise sem causar devastação económica e sofrimento social evitáveis e um lastro negativo de destruição das capacidades humanas, por via do desemprego e da fragmentação social. Consideramos que é precisamente em nome das gerações vindouras que temos de exigir um esforço internacional para sair da crise e desenvolver uma política de pleno emprego. Uma economia e uma sociedade estagnadas não serão, certamente, fonte de oportunidades futuras. A pretexto dos desequilíbrios externos da economia portuguesa, dizem-nos que devemos esperar que a retoma venha de fora através de um aumento da procura dirigida às exportações. Propõe-se assim uma atitude passiva que corre o risco de se generalizar entre os governos, prolongando o colapso em curso das relações económicas internacionais, e mantendo em todo o caso a posição periférica da economia portuguesa. Ora, é preciso não esquecer que as exportações de uns são sempre importações de outros. Por isso, temos de pensar sobre os nossos problemas no quadro europeu e global onde nos inserimos. A competitividade futura da economia portuguesa depende também da adopção, pelo menos à escala europeia, de mecanismos de correcção dos desequilíbrios comerciais sistemáticos de que temos sido vítimas. Julgamos que não é possível neste momento enfrentar os problemas da economia portuguesa sem dar prioridade à resposta às dinâmicas recessivas de destruição de emprego. Esta intervenção, que passa pelo investimento público económica e socialmente útil, tem de se inscrever num movimento mais vasto de mudança das estruturas económicas que geraram a actual crise. Para isso, é indispensável uma nova abordagem da restrição orçamental europeia que seja contracíclica e que promova a convergência regional.O governo português deve então exigir uma resposta muito mais coordenada por parte da União Europeia e dar mostras de disponibilidade para participar no esforço colectivo. Isto vale tanto para as políticas destinadas a debelar a crise como para o esforço de regulação dos fluxos económicos que é imprescindível para que ela não se repita. Precisamos de mais Europa e menos passividade no combate à crise. Por isso, como cidadãos de diversas sensibilidades, apelamos à opinião pública para que seja exigente na escolha de respostas a esta recessão, para evitar que o sofrimento social se prolongue.
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Manuel Brandão Alves, Economista, Professor Catedrático, ISEG; Carlos Bastien, Economista, Professor Associado, ISEG; Jorge Bateira, Economista, doutorando, Universidade de Manchester; Manuel Branco, Economista, Professor Associado, Universidade de Évora; João Castro Caldas, Engenheiro Agrónomo, Professor Catedrático, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural do Instituto Superior de Agronomia; José Castro Caldas, Economista, Investigador, Centro de Estudos Sociais; Luis Francisco Carvalho, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; João Pinto e Castro, Economista e Gestor; Ana Narciso Costa, Economista, Professora Auxiliar, ISCTE-IUL; Pedro Costa, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; Artur Cristóvão, Professor Catedrático, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; Álvaro Domingues, Geógrafo, Professor Associado, Faculdade da Arquitectura da Universidade do Porto; Paulo Areosa Feio, Geógrafo, Dirigente da Administração Pública; Fátima Ferreiro, Professora Auxiliar, Departamento de Economia, ISCTE-IUL; Carlos Figueiredo, Economista; Carlos Fortuna, Sociólogo, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; André Freire, Politólogo, Professor Auxiliar, ISCTE; João Galamba, Economista, doutorando em filosofia, FCSH-UNL; Jorge Gaspar, Geógrafo, Professor Catedrático, Universidade de Lisboa; Isabel Carvalho Guerra, Socióloga, Professora Catedrática; João Guerreiro, Economista, Professor Catedrático, Universidade do Algarve; José Manuel Henriques, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; Pedro Hespanha, Sociólogo, Professor Associado, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; João Leão, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; António Simões Lopes, Economista, Professor Catedrático, ISEG; Margarida Chagas Lopes, Economista, Professora Auxiliar, ISEG; Raul Lopes, Economista, Professor Associado, ISCTE-IUL; Francisco Louçã, Economista, Professor Catedrático, ISEG; Ricardo Paes Mamede, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; Tiago Mata, Historiador e Economista, Universidade de Amesterdão; Manuel Belo Moreira, Engenheiro Agrónomo, Professor Catedrático, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural, Instituto Superior de Agronomia; Mário Murteira, Economista, Professor Emérito, ISCTE- IUL; Vitor Neves, Economista, Professor Auxiliar, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; José Penedos, Gestor; Tiago Santos Pereira, Investigador, Centro de Estudos Sociais; Adriano Pimpão, Economista, Professor Catedrático, Universidade do Algarve; Alexandre Azevedo Pinto, Economista, Investigador, Faculdade de Economia da Universidade do Porto; Margarida Proença, Economista, Professora Catedrática, Escola de Economia e Gestão, Universidade do Minho; José Reis, Economista, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; João Rodrigues, Economista, doutorando, Universidade de Manchester; José Manuel Rolo, Economista, Investigador, Instituto de Ciências Sociais; António Romão, Economista, Professor Catedrático, ISEG-UTL; Ana Cordeiro Santos, Economista, Investigadora, Centro de Estudos Sociais; Boaventura de Sousa Santos, Sociólogo, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Carlos Santos, Economista, Professor Auxiliar, Universidade Católica Portuguesa; Pedro Nuno Santos, Economista; Mário Rui Silva, Economista, Professor Associado, Faculdade de Economia do Porto; Pedro Adão e Silva, Politólogo, ISCTE; Nuno Teles, Economista, doutorando, School of Oriental and African Studies, Universidade de Londres; João Tolda, Economista, Professor Auxiliar, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Jorge Vala, Psicólogo Social, Investigador; Mário Vale, Geógrafo, Professor Associado, Universidade de Lisboa.
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TÍTULOS DO DIA

MP quer que ex-gestores do BCP devolvam prémios indevidos
Sistema financeiro está melhor, mas não resolveu todos os problemas, diz Draghi
Palavras do Presidente foram decisivas para forçar Sócrates a vetar compra da TVI

Governo sabia do negócio entre PT e TVI desde o início do ano
Video: É paradoxal que ingerência tenha sido feita em nome do interesse do Governo
Grupo de académicos defende viragem à esquerda na política económica

Mariano Gago desafia cientistas portugueses no estrangeiro a criarem emprego em Portugal
Presidente marca eleições legislativas para 27 de Setembro

Friday, June 26, 2009

OS OUTROS QUE PAGUEM O TGV

Na ressaca da revolução de Abril, era frequente ouvir-se o refrão "os ricos que paguem a crise!".
Não pagaram.
Depois da euforia, a maré baixou, e os pobres ficaram relativamente mais pobres, e os ricos relativa e absolutamente mais ricos.
A crise, qualquer delas, a geral e a nossa, não atingiu (ainda) todos pela mesma medida. Há mesmo quem tenha visto aumentado o seu nível de vida. Daí que, também por esta razão, e consoante o observador, a crise tenha dimensões diferentes.
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Vem isto a propósito da discussão, que promete ser o prato forte durante as estivais campanhas eleitorais, à volta do TGV, do aeroporto, e da terceira autoestrada do centro litoral. Há quem proponha meditação, há quem queira acção.
Quem paga? perguntam os passivos.
"Os outros que paguem a crise!", respondem os activos.
Quais outros?
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É na resposta a esta questão que salta para a liça a "teoria do mau aluno", avançada por alguns activos mais avançados. Segundo esta revelação, o comportamento que fez de Portugal bom aluno na turma da União Europeia não foi gratificante. Agora, que a crise agravou a nossa crise e nos deixou sem margem de manobra, é tempo de lançarmos na realização de projectos que já têm barbas e apresentar as facturas para pagamento em Bruxelas. Afinal de contas, dizem os defensores da nova teoria, são trocos no meio da confusão da crise global, quem é que iria deixar-nos cair com as obras a meio?
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Simplesmente, genial.
Porque é que não nos lembrámos desta mais cedo?

MULTIPLICADOR DE PASSADOS

"Em algum momento na história não foi deixada uma boa e má herança às gerações seguintes?", interroga Brandão de Brito, que dá os exemplos da Ponte 25 de Abril (terminou de ser paga na década de 80), o Centro Cultural de Belém e a Ponte Vasco da Gama. "Não podemos pôr todos os investimentos no mesmo saco: estes já tinham sido discutidos e decididos por governos de cores diferentes e, no último momento, aparece um argumento a reverter tudo para a estaca zero. É preciso decidir", acrescentou. (in novo grupo )
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Há dias, o Primeiro Ministro, em entrevista à Sic Notícias, invocava a Ponte 25 de Abril, construída durante o longo governo de Salazar, como exemplo de um grande investimento, pago e aproveitado pelas gerações seguintes. Do mesmo modo, rematava o Primeiro Ministro, os projectos, que agora se pretende realizar, serão pagos pelas gerações vindouras, mas também serão elas as grandes beneficiários desses investimentos. À primeira vista, este parece um argumento irrebatível, e já o ouvi repetido várias vezes por quem ouviu ou leu a entrevista.
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E não são apenas as pessoas politicamente engajadas, ou de quem não pode esperar-se grandes reflexões acerca da política de investimentos que melhor pode servir o país na actual conjuntura, por falta de preparação ou informação, mas também professores universitários, supostamente mais subordinados às ciências que às ideologias, que repetem o argumento do multiplicador de passados: Se foi assim no passado, deverá ser assim no futuro.
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A admissão do multiplicador de passados deita, obviamente, por terra todos e quaisquer outros argumentos, favoráveis ou não, ao julgamento do interesse de qualquer investimento público de peso. Que importam quaisquer considerações acerca do retorno esperado ou da capacidade para financiar grandes investimentos se sempre se fizeram e sempre se deixaram em todas as épocas da história "boas e más heranças" para as gerações futuras? Esta a lógica inabalável do multiplicador de investimentos passados.
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Contas para quê?

DEBATES

novo grupo
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O debate sobre investimento público em Portugal e os caminhos para sair da crise económica não dividem apenas a classe política - entre os economistas está a ganhar forma uma batalha de ideias sobre os milhões a gastar em obras como o TGV, ou o aeroporto, e o rumo certo para criar empregos numa economia em recessão. O manifesto divulgado na semana passada por 28 economistas, a pedir ao governo socialista para repensar os novos grandes projectos, não tem a concordância de muitos especialistas e já há três iniciativas públicas em marcha de sentido oposto: dois contra-manifestos e um ciclo de debates proposto pela Ordem dos Economistas.
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CONVERSAS AO ALMOÇO

O primeiro,
- Eu, se tivesse de o classificar, numa escala de 1 a 20, dava-lhe 15 em competência e 7 em honestidade.
O segundo,
- E o Cavaco? Em que é que o Cavaco é mais honesto?
O primeiro,
- Mas quem é que estava a falar do Cavaco?
O terceiro,
- Eu prefiro um competente desonesto a um honesto incompetente.
O primeiro,
- Mas isso é partir do princípio que nesta terra todos os competentes são desonestos e todos os honestos incompetentes.
O quarto,
- Atribuir subsídios a muitas pê-eme-és, como quer a Manuela, é deitar dinheiro à rua. A maioria não tem condições para sobreviver. Têm de fechar.
O primeiro,
- E o que se faz às pessoas que nelas trabalham?
O quarto,
- Não sei, não é comigo.
O quinto,
- Portugal tem dos salários mais baixos da UE. Logo o problema da competitividade não é uma questão de salários. Tem de ser outro.
O primeiro,
- Mas tem salários mais altos que a China, por exemplo.
O quinto,
- Pois tem.
O quarto,
- O problema do endividamento não pode ser um problema. Imagine-se que em vez do TGV o país tem de enfrentar uma guerra. Deixa de enfrentar o inimigo por falta de dinheiro?
O primeiro,
- Dependeria da relação dos meios disponíveis. Se os nossos fossem inferiores, e se a Nato não desse a ajuda necessária, a guerra seria perdida por falta de meios. Aliás, todas as guerras são perdidas por falta de meios. O que Portugal não poderia era imprimir moeda para ocorrer ao esforço de guerra. Ou, pior, poderia imprimir, se abandonasse o euro, mas a moeda própria, nessas circunstâncias, não lhe serviria de nada.

INOCÊNCIO


Antigo presidente da câmara de Alcochete é arguido no Freeport
José Inocêncio, antigo presidente da Câmara Municipal de Alcochete, foi constituído arguido no caso Freeport. É a sexta pessoa sobre quem recaem suspeitas. A notícia foi avançada pela SIC Notícias.
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Todo o arguido é presumido inocente.
José Inocêncio é,
mas pode não estar, inocente.
Até lá,
que se aguente.

Thursday, June 25, 2009

LIGAÇÕES PERIGOSAS - 2

State of Play é também, para além de um thriller acerca de lobbies e políticos corruptos, uma história de relações entre políticos, jornalistas e bloggers, e a polícia. Como é esperável nestas histórias, cabe aos jornalistas, e agora também ao bloggers, a perseguição da descoberta dos maus da fita. A polícia já deu o que tinha a dar, o jornalismo tradicional segue pelo mesmo caminho: dependentes das vendas e pressionados por quem detem o poder, os jornalistas são cada vez menos independentes nas suas opiniões e investigações. State of Play não vai por aí mas sugere: sem um obstinado que resiste (Russell Crowe), arriscando a pele, o jornal acabaria por ceder às conivências e ligações espúrias de quem nele manda com os lobbies e os políticos.
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Escaparão a esta teia os bloggers independentes, aqueles que não compram nem facturam?
Em muitos casos, sim. A actividade bloguística ao serviço da resistência no Irão, por exemplo, durante os recentes acontecimentos, tem sido decisiva na transmissão de informação bloqueada nos canais de media tradicionais: a televisão, a rádio e a imprensa.
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A blogosfera independente, aquela que não deve obediência a qualquer media online, tende a ser o refúgio da liberdade de expressão, ainda que, em grande parte, os blogs de abordagem política sejam claramente alinhados com as convicções pessoais ou os interesses próprios dos seus autores.
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Não é credível que o negócio PT/ Media Capital/TVI, que hoje constitui a notícia do dia, depois de ter sido referido ontem por MFLeite na entrevista que concedeu à SIC, não fosse do conhecimento do Governo. Ao negar esse conhecimento, o PM assume o ónus da suspeita de querer dominar o canal televisivo incómodo. Que não tenha interferido no negócio, aceita-se. Que não tenha tido dele conhecimento, é demais.
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PROPOSITADAMENTE


Governo adjudicou sistema de vigilância costeira a empresa suspeita de corrupção
A empresa a quem o Ministério da Administração Interna (MAI) adjudicou, na terça-feira, a proposta de fornecimento e instalação do Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Controlo da Costa Portuguesa (SIVICC) surge referenciada num caso de corrupção num relatório divulgado esta semana pela Transparência Internacional, uma entidade que, anualmente, faz um levantamento deste tipo de criminalidade no mundo.

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35000 ANOS DE MÚSICA


Wednesday, June 24, 2009

TÍTULOS DO DIA

Cinco ex-gestores do BCP acusados de burla e manipulação de mercado
José Manuel Marques é o quinto arguido no caso Freeport
Ferreira Leite diz que seria escandaloso se a PT entrasse na TVI e Moniz saísse

O QUE DIZ MARTIN WOLF

Reform of regulation has to start by altering incentives
Bubbles and crises cannot be eliminated from capitalism. Yet it is hard to believe the risks run by institutions had nothing to do with incentives. The unpleasant truth is that incentives for risky behaviour are, if anything, even bigger than before the crisis, says Martin Wolf

O PREÇO DOS PEANUTS

Há quem argumente, e com alguma razão, que se o Estado não investe em projectos de grande dimensão, e desvia o investimento público para obras de pequeno porte, o dinheiro investido acaba por ser em grande parte desbaratado em projectos sem sentido e sem retorno. E que, ainda pior que isso, se abrem novas oportunidades para uns quantos oportunistas comprarem viaturas de alta cilindrada, entre outros abusos afins.

Sabe-se que assim é, e muitos exemplos deste gastar sem critério, porque o dinheiro é dos outros, estão à vista de quem os queira ver. Em muitos casos, contudo, eles têm defensores ferrenhos, que votaram e continuam a votar naqueles que "fizeram obra", porque a obra lhes enche o olho sem lhes apoquentar directamente a barriga. Muitas dessas obras nascem por imitação, sem qualquer outro critério que as justifique. Se há um polidesportivo em tal parte também queremos um; se há courts de ténis nas cidades, também vamos ter uma coisa dessas aqui, mesmo que não haja quem saiba praticar; se acolá há uma rotunda, nós teremos duas; se os de lá de baixo encomendaram uma estátua a perpetuar os sapateiros, aqui honraremos os nossos padeiros.

Na minha aldeia, que agora é vila, vá lá saber-se porquê, está actualmente em curso a construção de um "anfiteatro ao ar livre, com bancada em circunferência ... numa zona de lazer de eleição para festas, eventos e para as ctuações das colectividades da terra". Estará pronto até final do mês e os trabalhos atingem os 205 mil euros. A vila tem, desde há muitos anos, três clubes de cultura e recreio (na designação antiga) com instalações próprias, duas das quais são mais que centenárias e a outra para lá caminha. Nunca tiveram tão pouca frequência. A cidade fica a meia dúzia de quilómetros, vão longe os tempos em que a aldeia tinha vida própria. Num parque infantil, junto ao local onde constroem o "anfiteatro ao ar livre" e noutro, na parte mais alta da vila, inaugurados há dois ou três anos com pompa e circunstância, não se vêm crianças.
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Ainda assim, há equipamentos que poderão oferecer alguma utilidade. Outros, claramente, não têm nenhuma, salvo os interesses próprios de quem os encomendou.
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Quem passa no IC19, um via rápida entre Sintra e Lisboa, nas imediações da saída para o Hospital Amadora Sintra, encontra instalado um painel (com uns três metros de altura) onde se lê "Amadora - Seja bem vindo" ou mensagem parecida. Dois quilómetros mais à frente, dois minutos de viagem se a via estiver desimpedida, outro painel idêntico "Amadora - Obrigado pela visita". Coisas deste estilo estão um pouco por toda a parte, ainda que o luxo dos painéis não seja o mesmo.
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Dir-se-á: São peanuts. O que é isto tem a ver com os milhares de milhões dos mega projectos?
Muito. Porque estes muitos peanuts (e nem tudo são peanuts) custam, somados todos, muitos milhões. São o indicador mais nítido da forma desbragada como se investem dinheiros públicos em Portugal.

Tuesday, June 23, 2009

LIGAÇÕES PERIGOSAS

State of Play (Ligações perigosas, no título dado em português) é um thriller onde o cruzamento de situações e o inesperado desenrolar da história são condimentos habituais no género. Para além do entretenimento proporcionado pela intriga onde se movem jornalistas e políticos em caminhos de sombras, há dois ou três temas que são os mundos onde a história se desbobina.

Um desses temas é a segurança privada. Trata-se, sem dúvida, de uma actividade que tem vindo a crescer um pouco por toda a parte, motivada por duas razões fundamentais: porque a insegurança, percepcionada pelos indivíduos, é cada vez uma das maiores preocupações das sociedades; porque os Estados se têm mostrado incapazes de responder a esse sentimento alargado de insegurança crescente. Há ainda uma terceira razão que se coloca noutro plano de análise: a emergência do outsourcing oferecendo vantagens económicas e de especialização relativamente aos meios próprios das organizações.
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Em State of Play o outsourcing atinge a intervenção norte-americana em palcos de guerra (Iraque, Afeganistão) em manobras paralelas à das forças armadas. No thriller não é perceptível como e em que medida esse envolvimento ocorre, o que daria, seguramente, matéria para vários outros thrillers. Não sei se a série televisiva que precedeu este filme se alarga a este aspecto.
Do que trata State of Play é da captura do Estado pelas corporações de segurança interna (aliás, disfarçadamente, agregadas numa organização única) que, progressivamente, adivinha-se, acabarão por dominar completamente o Estado. Nessa captura participam os políticos comprados e promovidos por essas (por essa) corporações.
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A questão não é tipicamente norte-americana. Progride um pouco por toda a parte. Se há uma particularidade que coloca este assunto com a dimensão que thriller lhe dá, é o envolvimento militar norte-americano e a participação dos lóbis da segurança no envolvimento de empresas privadas à volta dos teatros de guerra.
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Mas a presença de guardas privados em Portugal, por exemplo, é tão evidente que causa estranheza ninguém dar por isso. Ou então habituámo-nos como o sapo em água a aquecer. Quando dermos por ela estamos cozidos.

INTERNET MATEMÁTICA

A procura inteligente
Por Nuno Crato

O SENHOR A. escreveu-me de Viseu com um pedido. Por razões legais, precisava de saber a cubicagem de um poço existente na sua propriedade e não se lembrava como se calcula o volume de um cilindro. Tinha-o contudo medido e sabia que tinha 2,5 metros de diâmetro e 5 de profundidade. Fiz-lhe com gosto os cálculos, que são muito simples, mas fiquei a pensar como poderia o assunto ser resolvido pelo próprio, sem interferência de outrem.
Evidentemente, o senhor A. sabia bastantes coisas. Sabia que se tratava de um cilindro e que bastava conhecer o diâmetro de uma secção e a sua altura para calcular o volume. Não sabia dar os passos seguintes. (...)Texto integral
[aqui].

O QUE DIZ ROUBINI

Recent CNBC Roubini Interview (Paris)
Clamp Down on Too Big to Fail Banks: Roubini
Oil at $100, Interest Rates May Stifle Recovery: Roubini (Click here for video)

By Nouriel Roubini

In the past three months, global asset prices have rebounded sharply: Stock prices have increased by more than 30 percent in advanced economies and by much more in most emerging markets. Prices of commodities — oil, energy, and minerals — have soared; corporate credit spreads (the difference between the yield of corporate and government bonds) have narrowed dramatically, as government-bond yields have increased sharply; volatility (the “fear gauge”) has fallen; and the dollar has weakened as demand for safe dollar assets has abated.

But is the recovery of asset prices driven by economic fundamentals? Is it sustainable? Is the recovery in stock prices another bear-market rally or the beginning of a bullish trend?

While economic data suggests that improvement in fundamentals has occurred — the risk of a near depression has been reduced; the prospects of the global recession bottoming out by year end are increasing; and risk sentiment is improving — it is equally clear that other, less sustainable factors are also playing a role. Moreover, the sharp rise in some asset prices threatens the recovery of a global economy that has not yet hit bottom. Indeed, many risks of a downward market correction remain.

First, confidence and risk aversion are fickle, and bouts of renewed volatility may occur if macroeconomic and financial data were to surprise on the downside — as they may if a near-term and robust global recovery (which many people expect) does not materialize.

Second, extremely loose monetary policies (zero interest rates, quantitative easing, new credit facilities, emissions of government bonds and purchases of illiquid and risky private assets), together with the huge sums spent to stabilize the financial system, may be causing a new liquidity-driven asset bubble in financial and commodity markets. For example, Chinese state-owned enterprises that gained access to huge amounts of easy money and credit are buying equities and stockpiling commodities well beyond their productive needs.

CORRECTION

The risk of a correction in the face of disappointing macroeconomic fundamentals is clear. Indeed, recent data from the US and other advanced economies suggest that the recession may last through the end of the year. Worse, the recovery is likely to be anemic and sub-par — well below potential for a couple of years, if not longer — as the burden of debts and leverage of the private sector combine with rising public sector debts to limit the ability of households, financial firms and corporations to lend, borrow, spend, consume and invest.

This more challenging scenario of anemic recovery undermines hopes for a V-shaped recovery, as low growth and deflationary pressures constrain earnings and profit margins and as unemployment rates above 10 percent in most advanced economies cause financial shocks to re-emerge, owing to mounting losses for banks’ and financial institutions’ portfolios of loans and toxic assets. At the same time, financial crises in a number of emerging markets could prove contagious, placing additional stress on global financial markets.

The increase in some asset prices may, moreover, lead to a W-shaped, double-dip recession. In particular, thanks to massive liquidity, energy prices are now rising too high too soon. The role that high oil prices played last summer in tipping the global economy into recession should not be underestimated. Oil above US$140 a barrel was the last straw — coming on top of the housing busts and financial shocks — for the global economy, as it represented a massive supply shock for the US, Europe, Japan, China and other net importers of oil.

DEFICITS

Meanwhile, rising fiscal deficits in most economies are now pushing up the yields of long-term government bonds. Some of the rise in long rates is a necessary correction, as investors are now pricing a global recovery. But some of this increase is driven by more worrisome factors: the effects of large budget deficits and debt on sovereign risk, and thus on real interest rates; and concerns that the incentive to monetize these large deficits will lead to high inflation after the global economy recovers from next year to 2011 and deflationary forces abate. The crowding out of private demand, owing to higher government-bond yields — and the ensuing increase in mortgage rates and other private yields — could in turn endanger the recovery.

As a result, one cannot rule out that by late next year or 2011, a perfect storm of oil above US$100 a barrel, rising government-bond yields and tax increases (as governments seek to avoid debt-refinancing risks) may lead to a renewed growth slowdown, if not an outright double-dip recession.

The recent recovery of asset prices from their March lows is in part justified by fundamentals, as the risks of global financial meltdown and depression have fallen and confidence has improved.

But much of the rise is not justified, as it is driven by excessively optimistic expectations of a rapid recovery of growth toward its potential level and by a liquidity bubble that is raising oil prices and equities too fast too soon. A negative oil shock, together with rising government-bond yields — could clip the recovery’s wings and lead to a significant further downturn in asset prices and in the real economy.

Nouriel Roubini is professor of economics at the Stern School of Business, New York University, and chairman of RGE Monitor.

O QUE DIZ OLIVIER BLANCHARD

What is needed for a lasting recovery

Olivier Blanchard

In 2007, worried about the growing size of current account imbalances, the International Monetary Fund organised multilateral consultations to see what should be done about it. There was wide agreement that the solution was conceptually straightforward. To caricature: get US consumers to spend less. Get Chinese consumers to spend more. This would be good for the US, good for China, and good for the world. (There were messages to the other players – Japan, Europe, Saudi Arabia – but they were less important.)
Good for the US: it was clear even then that the consumption binge US consumers had embarked on was unwise, and that many of them would face problems in retirement. Good for China: it was clear that much Chinese saving reflected the absence of a social safety net. Providing health and retirement insurance was desirable on its own, and would naturally lead consumers to spend more.
Good for the world: combined with an appreciation of the renminbi relative to the dollar, the changes in consumption patterns could maintain full employment in both the US and China, and decrease current account imbalances. Lower consumption in the US would be offset by higher US net exports. Higher consumption in China would be offset by lower Chinese net exports. The US current account deficit would be reduced, and the Chinese current account surplus would fall. As this orderly process of adjustment took place, and imbalances were steadily reduced, the risk of a sudden collapse of the dollar would decrease. And the world would be in much better shape.
It was an impressive piece of global macroeconomic planning. But, at least until the crisis, not much happened. Optimistic US consumers were just not in the mood to change their ways. Given the success of its export-led growth strategy and concerns about the need to maintain employment growth, the Chinese government continued to give priority to exports.
As if to prove the sceptics right, the crisis itself was not triggered by global imbalances. The dollar did not collapse, as feared. And, since the beginning of the crisis, dealing with global imbalances has gone down the priority list. Dealing with the state of the financial system has been, rightly, the focus of attention.
As the crisis evolves, however, and we start looking at eventual recovery, the issue of global imbalances is likely to return to the fore. Again, a central role will have to be played by the US and by China.
Half of the adjustment suggested in the multilateral consultations is coming into play: US consumers are, at last, cutting their spending. They have lost a lot of wealth, and it will take them many years of additional saving to undo that loss. And, more importantly, they have learnt a more general lesson. The world is more risky than they thought. Stock and housing prices can go down, and go down a lot. Planning for retirement may require saving a lot more than was thought wise before the crisis hit.
The main unknown is about the other half of the adjustment. In response to the crisis, China has embarked on a major fiscal expansion, with a focus on investment rather than on consumption. This was the right policy given the need to increase spending quickly, but this increase in investment can only last for a while. The question is whether, as time passes, China will allow an increase in consumption. If it does, the 2007 master plan may come into being. Larger US net exports will replace US consumption and help sustain the US recovery. Larger Chinese consumption will compensate for lower Chinese exports and allow China to maintain high growth. The world recovery can proceed and we can emerge with a more balanced world economy.
Will this scenario naturally play out? Maybe, maybe not. China has announced ambitious healthcare reform, which goes in the right direction. But the export-led model that China has so successfully followed will not be abandoned overnight. And, looking beyond China, the crisis may have convinced many countries to accumulate even more reserves, thus running even larger current account surpluses. These countries will not be eager to appreciate against the dollar, and so allow for larger US net exports.
What if there is no rebalancing? Without sustained domestic demand and higher net exports, the US recovery may weaken once the fiscal stimulus is phased out. In normal times, monetary policy could help, by lowering interest rates and increasing demand; these are not normal times and rates can fall no further. Thus, there will be heavy pressure on the US government to maintain a strong fiscal stimulus for as long as private demand is weak, and this may lead to larger and longer deficits than would be wise. While strong fiscal stimulus was and still is needed to fight the crisis, it cannot go on forever; at some stage, debt dynamics become unsustainable, markets react and fiscal deficits become counterproductive. Neither a weak US recovery nor unsustainable US debt dynamics are likely to be good for the world. The first probably means a stalled world recovery; the second probably means mayhem in financial markets.
Sustained recovery requires decreased domestic US spending and increased domestic spending in China and much of the rest of the world, together with adjustments in exchange rates. Global co-operation played a crucial role in the past year in avoiding a worse crisis. More global co-operation, with the US and China playing a leading role, is now needed.
The writer is chief economist of the IMF

O JOGO DA CABRA-CEGA


Lisboa: Tribunal chumba contas dos Executivos de Santana Lopes e Carmona
O Tribunal de Contas (TC) chumbou as contas da Câmara de Lisboa de 2005, apontando sobreavaliação de receitas, irregularidades detectadas no funcionamento dos refeitórios e violação das normas da contratação pública.
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E acontece alguma coisa? Não acontece nada.
Acontece que Santana Lopes, é outra vez candidato, pode ser presidente, novamente.
E, novamente, apresentar contas que poderão ser chumbadas, também.
E assim, per seculum, seculorum.

Monday, June 22, 2009

DEMOCRACIA E CONTAS


O apelo à reavaliação do investimento público, da autoria dos 28 teve, até agora, mais comentários públicos de apreciação dos 28 do que daquilo que eles subscreveram. Por cá, é (quase) sempre assim. Talvez por inabilidade ou preguiça, não se conferem ou fazem outras contas, e passa-se imediatamente à fulanização das questões. Abate-se ou abraça-se conforme o lado em que está, ou se supõe estar, quem arriscou dar uma para a caixa.
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O documento é contituído, para além de uma mensagem relativamente curta que inclui a fundamentação do apelo de reavaliação do investimento público e uma proposta de sequência, por um conjunto de dados adequados à melhor compreensão do que está em causa e por uma selecção de testemunhos individuais dos subscritores. Os dados divulgados são, na generalidade, públicos e alguns dos testemunhos já tinham sido publicados.
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Considerando que se trata de um documento que, apesar das posições inequívocas nele assumidas pelos subscritores, é suficientemente genérico para albergar importantes diferenças de perspectiva quando for apreciado a níveis de maior detalhe, não descortino nele matéria com que possa discordar.
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Mas já discordo quanto à proposta: "Entendemos que o interesse nacional impõe uma reavaliação profunda das prioridades de investimento público na economia portuguesa. Para tanto, justifica-se recorrer ao apoio consultivo de um painel de economistas, engenheiros e gestores, nacionais e estrangeiros, de reconhecida competência e independência do poder político e dos interesses económicos em discussão."
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Penso que não se justifica. Porque constituiria um precedente altamente equívoco: a partir de agora, a política nacional (porque é disso que se trata) passaria a estar subordinada a um conselho consultivo tecnocrático? Compreendo o recurso a consultores quando as acções a analisar e as propostas a formular são de natureza vincadamente técnica e não é pertinente ter o Estado ao seu serviço meios próprios, porque teriam utilização esporádica. Nenhum conselho consultivo, por mais idóneo, imparcial e competente que seja, deve formular aquilo que deve ser derimido entre as forças políticas e avaliado pelos eleitores.
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Os 28 são merecedores do nosso aplauso pela iniciativa. Havia já uma discussão acerca da questão. Conheciam-se já algumas posições, e nomeadamente a do Presidente da República, acerca da necessidade de repensar o programa de mega-investimentos que entusiasmava o actual Governo. A economia global parece ainda longe de estar carrilada, segundo o relatório do Banco Mundial, hoje publicado. No meio do turbilhão mundial, defrontamo-nos com a nossa crise privativa. Precisamos de refazer as contas. Mas precisamos também de contar com os "animal spirits". Uma discussão pública que não seja comandada pela demagogia encontrará a melhor resultante entre as diferentes perspectivas e a forma mais adequada de adesão pública.
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Quanto à demagogia, acredito que possa ser destituída pela evidência das contas.

Sunday, June 21, 2009

GREEN RAY


Obrigado, António

TER OU NÃO TER, EIS A QUESTÃO

"Portugal tem dinheiro para pagar isso. Todo o Portugal, visto como uma economia, isto é. São projectos nacionais e a nação, como um todo, já tem dinheiro para ter um novo aeroporto e um TGV do Porto, a Lisboa, a Madrid. Não percebo como é que se pode pensar de outro modo."

Caro Prof,

Voltei atrás porque estas suas palavras resumem, creio eu, as suas conclusões e posições quanto às questões abordadas neste seu comentário de agora, e a sua total discordância com os signatários do extremamente bem feito documento dos 28.

O que é espantoso, neste caso, pelo menos para mim, não é que haja discordância, que é sempre a agulha oportuna para enviar o comboio para a linha conveniente, mas que essa discordância seja total. Não se trata de concluir entre estar a garrafa meio cheia e a garrafa meio vazia mas entre estar ela inteiramente cheia ou totalmente vazia.

Diz o Professor que "Portugal tem dinheiro...", dizem, pelo menos 28 professores que Portugal está teso, passe o plebeísmo.

É possível que pessoas com a formação mais elevada e intervenção pública relevante façam leituras tão radicalmente diferentes acerca de um assunto, que, mesmo que seja muito complexo, pode ser quantificado?

Ter ou não ter dinheiro, parece-me, (porque eu o que tenho são dúvidas) é uma questão mensurável.
Ou não é?

A adesão ao euro alterou muita coisa nos nossos hábitos mas não alterou outras, que deveria ter alterado, e daí, segundo parece, o imbróglio em que nos metemos.

Há quem tenha sido, ou continue a ser, da opinião que a dívida externa é irrelevante quando se faz parte de uma zona monetária comum.
Esta é, segundo depreendo, também a sua opinião, de onde decorre a "extinção" do país e a emergência de uma região.

Não compreendo.

E não compreendo porque a passagem de país a região não altera em nada, parece-me, a importância do endividamento sobre as políticas de crescimento económico de um país ou de uma região.

Se as pessoas, as empresas ou o Estado, se encontram endividados de modo que os rendimentos recebidos são insuficientes para conter ou reduzir a dívida, o endividamento prosseguirá até onde o consentirem os credores.

No dia em que os credores susterem o crescimento do endividamento as famílias, as empresas, o Estado entram em situação de falência (deixam de pagar aos credores) obrigando as pessoas a emigrarem ou a recomeçarem a partir de patamares de desenvolvimento inferiores.

Há a hipótese de o devedor colocar o credor em posição de este ter de continuar a sustentar o fluxo, por razões políticas, à maneira do AJJardim, ou outras, que, no entanto, só poderão ser transitórias. As árvores não crescem até ao céu e o endividamento também não.

Ou não?

Saturday, June 20, 2009

O QUE É ISTO?


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ÁREAS

A moça teria uns quinze, dezasseis anos, provavelmente o 10º. ano de escolaridade.
Atendia num posto de venda do mercado municipal, um desses locais onde as vendedeiras, geralmente analfabetas, costumavam calcular com tanta rapidez e precisão que deslumbrariam qualquer computador, se naqueles tempos eles já tivessem sido inventados.
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Comprámos cinco artigos, e pedimos a conta. A jovem puxa de um papel e escreve, em coluna para somar, 2,00+ 2,00+1,90+ ... aqui, pegou de uma calculadora, multiplicou 5*1,70 e juntou 8,50. Seguidamente começou a somar pelos de dedos e, com algum custo, totalizou 11,40 euros.
Faltaram-lhe dedos, observámos.
E ela respondeu: sabe, não é a minha área.
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Este, como se sabe, está muito longe de ser um caso isolado, é mesmo um caso típico entre a juventude de hoje. Há tempos, contei aqui no Aliás uma história idêntica tendo como protagonista uma jovem licenciada em Farmácia.
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Dir-se-á que a culpa é da escola. É em parte, mas não totalmente. Se os empregadores fossem minimamente exigentes teriam cuidado de verificar se quem admitem sabe, pelo menos, somar, subtrair, multiplicar e dividir e se, de um relance, se apercebem que 8,5+2+2 nunca poderá ser menor que 12.
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Se o fizessem, a história seria outra.

Friday, June 19, 2009

MOONSTRUCK


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VAMOS A CONTAS

Quando, ontem, escrevi aqui que as contas do TGV ainda estavam por fazer, estava bem longe de saber que um manifesto tinha sido enviado às redacções do Público e do Expresso, e que, muito provavelmente, será publicado nas edições de amanhã, apelando ao Governo que mande fazer as contas que a conjuntura recomenda que sejam feitas.
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Somos todos a favor do TGV, de mais auto-estradas, de um novo aeroporto, e, já agora, de mais tudo quanto todos querem. O problema é saber quem paga. Quando os recursos são escassos (escassíssimos, neste caso), o custo de oportunidade é o critério válido para avaliação da prioridade dos projectos. E é muito provável que o custo de oportunidade do TGV seria, neste momento, elevadíssimo.
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28 economistas querem reavaliação do TGV, auto-estradas e aeroporto de Lisboa

Vinte e oito economistas dos mais diversos quadrantes apelam ao governo que reavalie os grandes investimentos públicos e que faça um travão imediato nos projectos da área de transportes. Em causa está a construção do TGV e de novas auto-estradas, bem como o calendário para a construção do novo aeroporto de Lisboa.Os desequilíbrios estruturais que atingem a economia portuguesa, que têm vindo a piorar na última década, e que se agravaram com a actual crise económica mundial, não são compatíveis com “a insistência em investimentos públicos de baixa ou nula rentabilidade, e com fraca criação de emprego em Portugal”. É esta a principal linha de argumentação de um manifesto, a que o PÚBLICO teve acesso, subscrito por cerca de três de dezenas de economistas, de todos os quadrantes políticos e regiões do país, e que são unânimes em considerar que o plano de investimento público defendido pelo governo deve ser repensado, sobretudo, e desde já, no que aos projectos da área de transportes diz respeito. Estes economistas pedem que se aproveite o “interregno político” que se anuncia nos próximos meses (por causa das eleições legislativas), para que seja dado início a um trabalho de reavaliação dos investimentos públicos anunciados, recorrendo ao apoio consultivo de economistas, gestores e engenheiros, portugueses e estrangeiros, que possam elencar uma nova grelha de prioridades para a próxima década. Estes economistas consideram “duvidoso” que os grandes projectos de investimento público possam ser considerados urgentes, e relembram que a realização destes investimentos em antecipação temporal à procura que os justifica trará uma inevitável destruição de valor económico. O documento é subscrito por uma trintena de nomes de peso no panorama económico, oriundos da esquerda e da direita do espectro político, e muitos deles com experiencia governativa: Luís Campos e Cunha, Daniel Bessa, Augusto Mateus, Eduardo Catroga, Arlindo Cunha, Medina Carreira, Silva Lopes, Mira Amaral, Miguel Beleza, Henrique Neto, Miguel Cadilhe, Sarsfield Cabral, Vitor Bento, João Duque, João Salgueiro e Rui Moreira, entre outros.

Wednesday, June 17, 2009

TGV

Como já era previsível, e eu referi aqui, o TGV vai continuar a ser um dos pratos fortes do debate político, apesar da decisão do Governo de retirar o assunto das brasas eleitorais, por "escrúpulo democrático", na expressão arrevesada do PM durante o debate de ontem na AR.
Ontem, o TGV foi o instrumento mais utilizado pelo PSD para opor à política do Governo de investimentos públicos em mega projectos a sua proposta de apoio às micro e pequenas empresas. E, apesar da insistência dos deputados do PSD, em tentarem, e terem conseguido, obter deste Governo a confirmação de que o próximo não será confrontado com qualquer facto consumado que torne a decisão de investimento a curto prazo irreversível, o assunto não vai ficar estacionado à espera de uma decisão final pós-eleitoral.
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Por duas razões: 1ª. Porque o Governo suspende mas não altera a sua decisão. No caso de ser reeleito, irá colocar o TGV em andamento. 2ª. Porque o PSD tem neste dossier massa crítica para confrontar o PS com políticas de investimento alternativas mais adequadas, segundo entende, às actuais condições conjunturais.
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O que poderia ser salutar se os partidos não se barricassem nos mesmos estafados e tácticos argumentos de sempre: os da extrema esquerda, que não têm hipóteses de vir a participar no governo, continuarão a exercitar na demagogia das utopias que lhes dão os votos, o CDS, àvido de uma parceria com o vencedor relativo, será tão demagogo como o outro extremo mas sem pôr em causa o casamento, PS e PSD esgrimirão acusações mútuas mas nenhum apresentará as contas que fez com prova real.
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R Costa, contava ontem na Sic notícias (Si non è vero, è bene trovato), a propósito da acusação do PS, com algum fundamento, de estar o PSD a querer não honrar os compromissos assumidos pelo Governo Barroso na cimeira com os espanhóis da Figueira da Foz, quando subscreveu o acordo de investir em nada menos que cinco linhas de alta velocidade, e agora rejeitar todas, incluindo a proposta pelo actual Governo, entre Lisboa e Madrid. Contou R Costa que, quando chegaram à Figueira, os espanhóis tinham os dossiers bem estudados e sabiam ao que iam; os portugueses, que continuavam sem ter definida uma política na matéria, sujeitos às pressões dos autarcas por onde eventualmente o TGV poderia passar, optaram por assinar um acordo sem terem as contas feitas.
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Contas, que pelos vistos, continuam por fazer.
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A confirmar que somos, de um modo geral alérgicos a contas, prova-o o facto de os economistas que publicamente têm defendido ou rejeitado o TGV se desentenderem sobretudo com argumentos políticos não quantificados.
Algumas leituras acerca do investimento público em Portugal e na União Europeia, aqui, alguns argumentos a favor aqui, aqui , aqui ,aqui , aqui, alguns argumentos contra aqui, aqui, aqui.

COMPARAÇÕES


Green shoots are bursting out. Or so we are told. But before concluding that the recession will soon be over, we must ask what history tells us. It is one of the guides we have to our present predicament. Fortunately, we do have the data. Unfortunately, the story they tell is an unhappy one.
Two economic historians, Barry Eichengreen of the University of California at Berkeley and Kevin O’Rourke of Trinity College, Dublin, have provided
pictures worth more than a thousand words (see charts).* In their paper, Profs Eichengreen and O’Rourke date the beginning of the current global recession to April 2008 and that of the Great Depression to June 1929. So what are their conclusions on where we are a little over a year into the recession? The bad news is that this recession fully matches the early part of the Great Depression. The good news is that the worst can still be averted.
First, global industrial output tracks the decline in industrial output during the Great Depression horrifyingly closely. Within Europe, the decline in the industrial output of France and Italy has been worse than at this point in the 1930s, while that of the UK and Germany is much the same. The declines in the US and Canada are also close to those in the 1930s. But Japan’s industrial collapse has been far worse than in the 1930s, despite a very recent recovery.
Second, the collapse in the volume of world trade has been far worse than during the first year of the Great Depression. Indeed, the decline in world trade in the first year is equal to that in the first two years of the Great Depression. This is not because of protection, but because of collapsing demand for manufactures.
Third, despite the recent bounce, the decline in world stock markets is far bigger than in the corresponding period of the Great Depression.
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O QUE DIZ SOROS

The three steps to financial reform
George Soros

The Obama administration is expected on Wednesday to propose a reorganisation of the way we regulate financial markets. I am not an advocate of too much regulation. Having gone too far in deregulating – which contributed to the current crisis – we must resist the temptation to go too far in the opposite direction. While markets are imperfect, regulators are even more so. Not only are they human, they are also bureaucratic and subject to political influences, therefore regulations should be kept to a minimum.
Three principles should guide reform. First, since markets are bubble-prone, regulators must accept responsibility for preventing bubbles from growing too big.
Alan Greenspan, the former chairman of the Federal Reserve, and others have expressly refused that responsibility. If markets cannot recognise bubbles, they argued, neither can regulators. They were right and yet the authorities must accept the assignment, even knowing that they are bound to be wrong. They will, however, have the benefit of feedback from the markets so they can and must continually recalibrate to correct their mistakes.
Second, to control asset bubbles it is not enough to control the money supply; we must also control the availability of credit. This cannot be done with monetary tools alone – we must also use credit controls such as margin requirements and minimum capital requirements. Currently these tend to be fixed irrespective of the market’s mood. Part of the authorities’ job is to counteract these moods. Margin and minimum capital requirements should be adjusted to suit market conditions. Regulators should vary the loan-to-value ratio on commercial and residential mortgages for risk-weighting purposes to forestall real estate bubbles.
Third, we must reconceptualise the meaning of market risk
. The efficient market hypothesis postulates that markets tend towards equilibrium and deviations occur in a random fashion; moreover, markets are supposed to function without any discontinuity in the sequence of prices. Under these conditions market risks can be equated with the risks affecting individual market participants. As long as they manage their risks properly, regulators ought to be happy.
But the efficient market hypothesis is unrealistic. Markets are subject to imbalances that individual participants may ignore if they think they can liquidate their positions. Regulators cannot ignore these imbalances. If too many participants are on the same side, positions cannot be liquidated without causing a discontinuity or, worse, a collapse. In that case the authorities may have to come to the rescue. That means that there is systemic risk in the market in addition to the risks most market participants perceived prior to the crisis.
The securitisation of mortgages added a new dimension of systemic risk. Financial engineers claimed they were reducing risks through geographic diversification: in fact they were increasing them by creating an agency problem. The agents were more interested in maximising fee income than in protecting the interests of bondholders. That is the verity that was ignored by regulators and market participants alike.
To avert a repetition, the agents must have “skin in the game” but the 5 per cent proposed by the administration is more symbolic than substantive. I would consider 10 per cent as the minimum requirement. To allow for possible discontinuities in markets securities held by banks should carry a higher risk rating than they do under the Basel Accords. Banks should pay for the implicit guarantee they enjoy by using less leverage and accepting restrictions on how they invest depositors’ money; they should not be allowed to speculate for their own account with other people’s money.
It is probably impractical to separate investment banking from commercial banking as the US did with the Glass-Steagall Act of 1933. But there has to be an internal firewall that separates proprietary trading from commercial banking.
Proprietary trading ought to be financed out of a bank’s own capital. If a bank is too big to fail, regulators must go even further to protect its capital from undue risk. They must regulate the compensation packages of proprietary traders so that risks and rewards are properly aligned. This may push proprietary trading out of banks into hedge funds. That is where it properly belongs. Hedge funds and other large investors must also be closely monitored to ensure that they do not build up dangerous imbalances.
Finally, I have strong views on the regulation of derivatives. The prevailing opinion is that they ought to be traded on regulated exchanges. That is not enough. The issuance and trading of derivatives ought to be as strictly regulated as stocks. Regulators ought to insist that derivatives be homogenous, standardised and transparent.
Custom-made derivatives only serve to improve the profit margin of the financial engineers designing them. In fact, some derivatives ought not to be traded at all. I have in mind credit default swaps. Consider the recent bankruptcy of
AbitibiBowater and that of General Motors. In both cases, some bondholders owned CDS and stood to gain more by bankruptcy than by reorganisation. It is like buying life insurance on someone else’s life and owning a licence to kill him. CDS are instruments of destruction that ought to be outlawed.